Inácio de Antioquia

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Santo Inácio
miniatura
o Teóforo
Arcebispo de Antioquia

Ὁδοὶ δύο εἰσί·
μία τῆς ζωῆς,
ϗ μία τοῦ θανάτου.


Esse artigo faz parte de uma série sobre os
Santos dos Primeiros Séculos
Século I
AbílioDionísioHieroteuLeuco, Calínico e Ciríaco
LídiaNicandroPancrácioProcesso e Martiniano
Torpes e EvélioZenaide e Filonila
Século II
BucólioEleuthériosFelicidadeGlicériaHegésipo
InácioJacintoLeonilaParaskeví
PolicarpoProclo e Hilário
Século III
Dez de CretaÁgataAglaida e BonifácioAlexandre
BabylasCipriano e JustinaEspiridiãoNicéforo
PansófioPerpétua e FelicidadePolieuto e Nearco
TatianaTemístocles
Século IV
Jorge, o Vitorioso
Quarenta de SebasteBárbaraCatarinaCiro e João
ClementeDimitriosElianEufêmiaEugênio
Eulália e JúliaLucianoPanteleimonProcópioTeodoro
Trófimo e Teófilo

O Santo Hieromártir Inácio, Arcebispo de Antioquia (séc. II), portando também o título de O Teóforo, foi um grande Padre Apostólico e hierarca do trono antioquino. Sua festa é celebrada no dia de seu martírio, 20 de dezembro, e no dia da transladação de suas relíquias a Antioquia, 29 de janeiro.[nota 1]

Vida

Conforme relatado pelos santos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas, após a Transfiguração do Senhor, os santos apóstolos perguntavam entre si qual deles seria o maior no Reino dos Céus, mas temiam fazer essa pergunta a Jesus Cristo. Então, adentrando seus pensamentos, o Senhor tomou uma criancinha e os disse:

“Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos Céus. E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe. Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar.”[1]

Segundo a Santa Tradição, esse menino viria a ser Santo Inácio, ordenado pelo próprio Apóstolo Pedro como segundo Bispo de Antioquia. Seu epíteto “Teóforo” (Portador de Deus), deu-se devido a ele possuir Deus em seu coração e manter com sucesso a oração perpétua a Ele.

Santo Inácio foi, juntamente com São Policarpo, Bispo de Esmirna (69–156), discípulo do santo Apóstolo João. Durante a era do Imperador Domiciano (81–96), Santo Inácio alentou muitos confessores na esperança de ganharem a vida eterna, consolou os prisioneiros e compartilhou seu desejo de unir-se a Cristo através do martírio. Mas o bispo não sofreu tormentos durante esse tempo, o que fê-lo sentir-se desiludido pelo fato das perseguições terem chegado ao fim sem que Deus o tivesse chamado. Como Bispo de Antioquia, Santo Inácio era zeloso e não media esforços para expandir a Igreja de Cristo. A partir de uma visão dos anjos no Céu cantando alternadamente louvores ao Senhor, Santo Inácio dividiu seu coral da mesma forma, sendo a ele atribuída a prática das antífonas (canto em dois coros) durante os ofícios litúrgicos.

No tempo de Santo Inácio, existia a heresia do docetismo, a qual proclamava que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente, semelhante ao entendimento islâmico sobre Cristo. Tamanho era seu zelo pelo seu rebanho, que Santo Inácio intitulava os seguidores dessa heresia de “lobos em pele de cordeiro”, “ervas daninhas”, “sementes do maligno” e “bestas antropomórficas”. Suas epístolas aos efésios e aos tralianos conteve muitas de suas refutações contra a heresia.[2][3] O docetismo seria posteriormente anatemizado pelo Primeiro Concílio Ecumênico, em 325.

Já em sua Epístola aos Esmirniotas, Santo Inácio foi o primeiro santo da história a consagrar o termo “Católica” à Igreja. “Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja católica.”[4] Diferente do que se pensa atualmente, o termo nunca foi usado no sentido quantitativo para denotar a expansão geográfica ou a universalidade territorial da Igreja. Foi usado antes para enfatizar a integridade de sua fé e doutrina, a lealdade à tradição original, em oposição aos hereges e sectários que se separaram desta totalidade original, cada um para seguir uma linha particular. Aos magnésios, Santo Inácio já atestava a doutrina de que Cristo era Deus.[5]

Por último, em sua Epístola aos Filadelfos, Santo Inácio comprova aos cristãos atuais o papel da Sagrada Tradição na Igreja: “Ouvi alguns dizerem: ‘Se não o encontro nos documentos antigos, não dou fé ao Evangelho’”[6] Antes da compilação dos Livros canônicos do Novo Testamento, as igrejas dos primeiros séculos possuíam apenas o Antigo Testamento. Todo o Evangelho de Cristo era mantido através da Sagrada Tradição.

No ano 106, o Imperador Trajano (98–117), voltando de suas vitoriosas campanhas militares, ordenou que todo o império desse graças aos deuses pagãos, e morte àqueles que se negassem. No ano seguinte, Trajano passava pela província da Síria, quando foi informado de Inácio, um bispo que confessava abertamente a Cristo e ensinava a desprezar as riquezas, viver virtuosamente e preservar a virgindade. Santo Inácio apresentou-se voluntariamente ao imperador, para adverti-lo da perseguição contra os cristãos em Antioquia, além de negar seus vários pedidos para oferecer sacrifícios aos ídolos.

Com desprezo, Trajano lhe perguntou: “Eras discípulo do Crucificado, na época de Pôncio Pilatos?” E o bispo: “Sim, sou discípulo d’Aquele que apagou meus pecados na Cruz, que derrotou o demônio e seus símbolos sob seus pés.” O imperador ainda perguntou: “Por que te chamas teóforo?” E ele: “Pois trago Cristo vivente dentro de mim.” Trajano ainda tentou seduzi-lo a oferecer sacrifícios aos ídolos, oferecendo-o o cargo de senador de Roma e, mesmo assim, Santo Inácio manteve-se firme em sua confissão. Então, o imperador ordenou que o santo fosse flagelado com bolas de ferro. Logo em seguida, queimaram seus lados com incensários de carvão e óleo, fizeram-no ficar em pé sob carvão aceso e o arranharam com garras de ferro. Pela graça divina, o confessor saiu ileso das torturas.

O imperador, então, decidiu enviá-lo a Roma, dizendo: “Que seja então o portador do Crucificado nas prisões de Roma, e que lá sejas jogado aos leões para diversão do povo.” Santo Inácio alegremente aceitou sua sentença. Sua ansiedade pelo martírio foi atestada por uma testemunha, que o acompanhou até Roma. Segundo ela, Santo Inácio fervorosamente beijava suas pesadas correntes que carregava, chamando-as de “minhas preciosas pérolas espirituais”.

No caminho a Roma, o barco fez uma parada em Esmirna, na costa oeste da Anatólia, onde Santo Inácio se reencontrou com São Policarpo e outros cristãos da região. Lá, ele os exortou em ajudá-lo através de suas orações, para que Deus o desse forças em seu iminente martírio por Cristo. Em um trecho de sua Epístola aos Romanos, lê-se:

“A Ele é que procuro, que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por nossa causa. Aguarda-me o meu nascimento. Perdoai-me, irmãos: não queirais impedir-me de viver, não queirais que eu morra; ao que quer ser de Deus não o presenteeis ao mundo nem o seduzais com a matéria. Permiti que receba luz pura: quando lá chegar serei homem. Permiti que seja imitador do sofrimento de meu Deus. Se alguém o possui dentro de si, há de saber o que quero e se compadecerá de mim, porque conhece o que me impulsiona. […] Meu amor está crucificado e não há em mim fogo para amar a matéria; pelo contrário, água viva murmurando dentro de mim, falando-me ao interior: Vamos ao Pai!”[7]
Martírio de Santo Inácio no Menológio de Basílio II.

De Esmirna, Santo Inácio foi a Trôade (150 quilômetros ao norte), onde recebeu com alegria as notícias do fim da perseguição de cristãos em Antioquia. De lá, foi para Nápoles na Macedônia, Filipos e então Roma. No caminho, Santo Inácio visitou diversas igrejas, instruindo os cristãos de lá, e também escreveu diversas epístolas aos cristãos de Éfeso, Magnésia, Trales, Roma e Filadélfia, além de uma a São Policarpo. Os cristãos de Roma se reuniram com Santo Inácio com grande alegria e profunda lamentação. Alguns tentaram impedir sua execução, mas o santo implorou-os a não fazer isso. De joelhos, ele orou juntamente com os romanos pela Igreja, pelo amor entre os irmãos e pelo fim da perseguição contra os cristãos.

Em 20 de dezembro de 107, durante um festival pagão, quando Santo Inácio foi conduzido até a arena, viram-no repetindo incessantemente o Nome de Jesus Cristo, e o perguntaram o porquê. Ele os respondeu que Seu Nome estava escrito em seu coração. Adentrando na arena como se fosse um Santo Altar, ele se voltou ao povo e disse:

“Homens de Roma, sabeis que minha sentença de morte não se deu por um crime, mas pelo meu amor por Deus, cujo amor aderi. Minha alma almeja estar com Ele, e ofereço-me a Ele como um puro pão, feito de trigo fino moído pelos dentes destes animais selvagens.”

Em seguida, lançaram os leões, que devoraram seu corpo por completo. Dele, só havia restado o coração e alguns ossos, como o crânio. Quando os pagãos abriram seu coração, em letras douradas, lia-se:

Jesus Cristo

Pós-vida

Após seu martírio, o santo bispo apareceu a vários fiéis enquanto dormiam para confortá-los, e alguns o viram orando pela cidade de Roma. Ouvindo a grande coragem do santo, Trajano aboliu a perseguição em todo o império. Mais tarde, suas relíquias foram levadas a Antioquia. Seu venerável crânio existe até os dias de hoje na Grécia.

Hinos

Versos da transladação

Jogado aos leões, ó Inácio, para ser devorado,
teu corpo já não é mais, e é partido entre os fiéis.
No vigésimo nono, a alma de Inácio é levantada.

Notas

  1. No Ocidente, sua festa já chegou a ser comemorada (provavelmente) antes do Grande Cisma no dia 17 de outubro por um motivo hoje desconhecido.

Referências

Ligações externas