Bucólio de Esmirna

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São Bucólio
miniatura
Bispo de Esmirna

Ὁδοὶ δύο εἰσί·
μία τῆς ζωῆς,
ϗ μία τοῦ θανάτου.


Esse artigo faz parte de uma série sobre os
Santos do Cristianismo Primitivo
Século I
AbílioDionísioHieroteuLeuco, Calínico e Ciríaco
LídiaNicandroPancrácioProcesso e Martiniano
Torpes e EvélioZenaide e Filonila
Século II
BucólioEleuthériosFelicidadeGlicériaHegésipo
InácioJacintoLeonilaParaskeví
PolicarpoProclo e Hilário
Século III
Dez de CretaÁgataAglaida e BonifácioAlexandre
Cipriano e JustinaEspiridiãoNicéforoPansófio
Perpétua e FelicidadePolieuto e Nearco
TatianaTemístocles
Século IV
Jorge, o Vitorioso
Quarenta de SebasteBárbaraCatarinaCiro e João
ClementeDimitriosElianEufêmiaEugênio
Eulália e JúliaLucianoPanteleimonProcópioTeodoro
Trófimo e Teófilo

São Bucólio, Bispo de Esmirna (séc. II), foi o quarto hierarca da cidade de Esmirna na Ásia, sendo também discípulo do santo Apóstolo João. A Igreja comemora sua memória no dia 6 de fevereiro. Juntamente com São Policarpo, seu sucessor, São Bucólio é o santo padroeiro da cidade de Esmirna na Turquia e de sua comunidade cristã.

Vida

Bucólio nasceu em meados do século I na Ásia (atual Turquia ocidental), e provavelmente veio a conhecer o Evangelho de Jesus Cristo através do santo Apóstolo Paulo, quando este residia em Éfeso, capital da província, e pregava a Cristo nas sinagogas. Após realizar muitos prodígios lá e trazer muitos judeus e pagãos a Cristo, um ourives pagão de nome Demétrio agitou uma multidão contra São Paulo, temendo que seu povo renunciasse a idolatria para adorar a Deus. Grande foi o protesto, e queriam levá-lo aos magistrados para ser julgado. São Paulo, então, deixou a Ásia para dirigir-se à Macedônia (atual norte da Grécia).

Entre os muitos conversos a Cristo estava Bucólio, que conseguiu purificar-se de suas paixões por amor a Jesus Cristo e tornou seu corpo uma morada adequada para o Espírito Santo. Naquele tempo, já havia uma diocese própria para Esmirna, que ficava cinquenta quilômetros ao norte de Éfeso, e o santo Apóstolo Apeles era seu primeiro bispo. Quando o santo Apóstolo João chegou à Ásia, encontrou uma Igreja muito fortalecida, e tornou-se próximo dos cristãos de lá. São João desenvolveu um afeto muito grande com Bucólio, e ordenou-o sacerdote. Após Apeles partir para guiar o rebanho de Heracleia na Traquínia, ainda vieram outros dois bispos até que São João escolhesse Bucólio para exercer o bispado em Esmirna.

Como hierarca, São Bucólio mostrou-se um piedosíssimo pastor para a sua cidade, e iluminou através do Santo Batismo muitos pagãos que estavam nas trevas da ignorância. Um arauto da verdadeira Fé, Bucólio salvou seu rebanho de muitas heresias surgidas no primeiro século, as quais o bispo publicamente enfrentava e condenava. Pela graça de Deus, ainda mais pessoas recebiam a Cristo através dele, e em pouco tempo a Igreja de Esmirna tornou-se tão imponente como a Igreja de Éfeso, fazendo parte das Sete Igrejas da Ásia. É possível que tenha sido sob São Bucólio que a Sé de Esmirna foi elevada a arquidiocese.

Depois de muitos anos servido a Deus como Bispo de Esmirna, São Bucólio soube de antemão a data de seu repouso. Com a ajuda de São João, São Policarpo foi escolhido para sucedê-lo ao seu rebanho. São Bucólio repousou em paz em 6 de fevereiro de 105, e foi enterrado no jardim do Portão dos Efésios em Esmirna.

Pós-vida

Igreja de São Bucólio em Esmirna. (ver mais)

Após seu sepultamento, Deus fez um ramo de murta crescer de baixo dos seus pés, mas que cresceu tanto que a raiz já alcançava até a sua cabeça. Muitos que vinham até ela com fé e comiam dos seus frutos eram curados de suas doenças no decorrer dos séculos que se seguiram. No século V, uma capela em honra ao santo foi construída para abrigar os peregrinos e ocasionalmente realizar a Divina Liturgia.

Como muitos templos da Anatólia, quase nenhuma igreja de Esmirna resistiu à era otomana, incluindo a Capela de São Bucólio. Em 1663, a área que envolvia o túmulo do santo foi comprada por um islâmico, que desejava terraplanar o lugar e cortar a árvore milenar para que os cristãos não voltassem mais. Enquanto o homem cortava a árvore, o machado escapou de sua mão e cortou seu pé, e o ferimento levou-o a morte. Quando os cristãos souberam disso, passaram a visitar o túmulo com mais frequência ainda e, por não terem mais uma árvore, simplesmente acendiam velas sobre o santo.

Entretanto, depois de um tempo, outro muçulmano comprou o terreno. Após concluir a terraplanagem, o homem abriu o túmulo e jogou as relíquias do santo para fora. Em 6 de fevereiro de 1667, quando os cristãos vieram celebrar sua memória, encontraram as relíquias jogadas por toda a grama, e imediatamente recolheram-nas para depositá-las em outras igrejas. Alguns inclusive ficaram com algumas, guardando-as a salvo em suas casas. Embora vazio, o túmulo continuou realizando milagres naqueles que veneravam São Bucólio.

Foi somente na era do Patriarca Sofrônio III (1863–1866) que o local foi reconquistado e uma nova igreja foi construída em honra a São Bucólio. Ela possuía um rara cúpula de vidro e foi a única a sobreviver à Catástrofe de Esmirna em 1922, quando um grande incêndio por mais de uma semana reduziu a maior parte da cidade a ruínas. Nos dias em que se seguiram, a população cristã sobrevivente foi massacrada pelos islâmicos como parte do Genocídio Grego, mas ainda assim a igreja permaneceu intocada. Dois anos depois, com a Queda do Império Otomano, os republicanos invadiram a igreja e transformaram-na num museu. Nos anos em que se seguiram, o templo serviu também como sala de concertos e teatro, até tornar-se um armazém e posteriormente ser abandonado.

Entre 1996 e 1997, um piedoso homem de Cardítsa na Tessália chamado Costas viu em sonho um ancião que saudou-o e disse: “Quero que tu venhas à minha casa. Eu sou São Bucólio.” Costas não conhecia nenhum santo com esse nome, e perguntou de onde ele era. “Eu venho das profundezas da Ásia Menor. Vem ao Oriente e pergunta aos capadócios, tu achar-me-ás lá.” O sol ainda não tinha raiado quando Costas despertou, e escreveu o que havia visto no sonho para mostrar ao seu pai espiritual. Ele chegou antes da hora terça na igreja, e imediatamente viu um ícone de São Bucólio, nunca visto antes naquele templo por Costas.

Embora seu pai espiritual tivesse aconselhado que ele partisse para a Turquia, problemas familiares postergaram essa viagem até 2004, quando Costas encontrou Jorge, que trabalhava no consulado grego na Turquia e conseguiu levá-lo até a comunidade grega no país. Um deles lembrou-se de um São Bucólio associado à cidade de Esmirna, que possuía uma antiga igreja dedicada a ele. Como o caminho era muito distante, Costas não conseguiu e teve que voltar à Tessália.

No ano seguinte, Costas conseguiu arranjar um grupo de peregrinos liderados por um monge de Cardítsa, e todos viajaram até Esmirna, hospedando-se num hotel. Dois homens que tinham as chaves da igreja permitiram que eles entrassem, mas encontraram-na numa condição horrível — afinal, era um depósito abandonado. Mesmo assim, todos acenderam velas na igreja, e o monge, que também era sacerdote, a incensou. Eles ainda acenderam duas grandes velas com parafina suficiente para quatro horas, e retornaram ao hotel.

Todos se maravilharam quando voltaram na tarde do dia seguinte e viram as duas velas ainda acesas. Assim que entraram na igreja, elas cessaram, e não havia mais uma gota de parafina restante. Após cantarem alguns hinos a São Bucólio, o grupo de peregrinos dirigiu-se a Éfeso, onde Costas informou à comunidade grega sobre o estado da igreja e a necessidade de restaurá-la. Pelas intercessões de São Bucólio, as autoridades turcas milagrosamente consentiram, e os gregos contrataram a restauração do templo.

Em 2009, Costas e o monge cobriram as janelas da igreja e conseguiram realizar em segredo a primeira Divina Liturgia no templo após quase noventa anos. Em maio de 2010, a antiga igreja foi visitada pelo próprio Patriarca Bartolomeu (1991–), o qual cantou “Cristo Ressuscitou” na ocasião e anunciou que o museu retornaria à Igreja. Quanto a Costas, o piedoso homem demoliu seu celeiro para dar espaço à construção de uma nova capela dedicada a São Bucólio, a primeira em toda a Grécia, na qual já foram relatados milagres de cura pelas orações do santo.

Durante os trabalhos de restauro na igreja de Esmirna, afrescos de Cristo e de outros santos foram encontrados nas paredes da igreja. Em 17 de agosto de 2014, a primeira Divina Liturgia foi realizada no templo restaurado e, em 6 de fevereiro de 2015, o patriarca retornou ao local junto com o governador de Esmirna. Nesse dia, um novo ramo de murta foi plantado no local onde ficava o túmulo de São Bucólio. Por ainda estar sob domínio turco, a igreja também é obrigada a sediar apresentações culturais dentro dela, além de suas paredes não poderem conter ícones novos além dos cujos rostos foram apagados pelos turcos. O templo ainda não possui autorização de ter um altar ou um iconostásio.

Hinos

Capela de São Bucólio na Tessália. Costas é o homem de braços cruzados.

Tropário

(Tradução livre)

Tu resplandeceste com os raios da virtude, /
recebidos daquele que se deitou sobre o peito do Senhor. /
Ó hierarca divinamente inspirado, /
tu trouxeste teu rebanho aos pastos da verdade. /
Suplica, então, a Cristo nosso Deus, /
por aqueles que te honram, /
ó pai Bucólio.

Outro tropário

(Tom IV)

Ó Hierarca Bucólio, os teus justos atos mostraram aos fiéis uma lei de Fé, uma imagem de mansidão e um mestre de renúncias. Por isso conseguiste, pela mansidão, a consideração, e pela pobreza, a grande riqueza. Intercede, pois, a Cristo Deus, pela salvação das nossas almas.

Condáquio

(Tradução livre)

Aquele que era amado por Cristo, vendo a pureza presente na tua vida, /
fez-te um pastor da Igreja, e um luzeiro radiante da santidade. /
Ó nosso santo pai Bucólio, tu verdadeiramente replicaste suas virtudes.

Outro condáquio

(Tradução livre)

Nós te aclamamos como um hierarca da Igreja de Cristo, /
e um seguidor do coro dos Seus veneráveis discípulos, /
mas especialmente daquele que por Ele foi amado. /
Ó nosso triplamente sábio pai, roga a Deus pelos que te louvam, /
que nos salve da necessidade e da adversidade, pois a ti clamamos: /
Alegra-te, ó bendito Bucólio!

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo I.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro VI.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas


Bucólio de Esmirna
Precedido por
Aristão de Esmirna
Arcebispo de Esmirna
?–105
Sucedido por
São Policarpo de Esmirna