Glicéria da Trácia

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Santa Glicéria
miniatura
da Trácia

Ὁδοὶ δύο εἰσί·
μία τῆς ζωῆς,
ϗ μία τοῦ θανάτου.


Esse artigo faz parte de uma série sobre os
Santos dos Primeiros Séculos
Século I
AbílioDionísioHieroteuLeuco, Calínico e Ciríaco
LídiaNicandroPancrácioProcesso e Martiniano
Torpes e EvélioZenaide e Filonila
Século II
BucólioEleuthériosFelicidadeGlicériaHegésipo
InácioJacintoLeonilaParaskeví
PolicarpoProclo e Hilário
Século III
Dez de CretaÁgataAglaida e BonifácioAlexandre
BabylasCipriano e JustinaNicéforoPansófio
Perpétua e FelicidadePolieuto e NearcoSpyridon
TatianaTemístocles
Século IV
Jorge, o Vitorioso
Quarenta de SebasteBárbaraCatarinaCiro e João
ClementeDimitriosElianEufêmiaEugênio
Eulália e JúliaLucianoPanteleimonProcópioTeodoro
Trófimo e Teófilo

A Santa Virgem e Megalomártir Glicéria da Trácia (ou de Heracleia; séc. II) foi uma jovem italiana martirizada na Trácia durante o reinado de Marco Aurélio (161–180) juntamente com o Santo Mártir Laodício da Trácia, convertido por ela na prisão. Sua memória é comemorada pela Igreja no dia 13 de maio.

Vida

Glicéria nasceu no final do reinado de Antonino Pio (138–161), vinda de uma nobre família pagã no cais de Bário na Apúlia. Seu pai, Macário, pertencia ao alto escalão de Roma, mas morreu enquanto Glicéria ainda era uma criança. Pobre, mudou-se com a mãe para Trajanópolis na Trácia (atual divisa entre a Grécia e a Turquia), a qual havia sido fundada há poucos anos, mas não tardou até virar órfã também de mãe. Os cristãos da cidade não hesitaram em ampará-la, e em pouco tempo Glicéria já os considerava como sua família. Após ser recebida no Santo Batismo, a jovem passou a frequentar os ofícios litúrgicos diariamente, e sua piedosa vida era um exemplo da espiritualidade cristã.

Certa vez, o prefeito da cidade, Sabino, decretou uma comemoração a Zeus, na qual todos os habitantes haveriam de participar no templo e sacrificar aos ídolos pagãos. Quando soube disso, Glicéria lembrou-se da bravura e coragem dos santos mártires, e entendeu o destino que havia sido traçado a ela. Implorando para que seus irmãos na Fé rogassem a Deus por ela, Glicéria entrou na mais profunda oração a Jesus Cristo, e assim permaneceu até que o dia chegasse.

Chegado o dia, Glicéria fez o sinal da Cruz em sua testa com corante e foi à comemoração. Dentro do templo, enquanto todos adoravam Zeus e outros deuses, a jovem orava mais fervorosamente ainda, rogando para que Deus salvasse-os da ilusão e das trevas e que os demônios fossem derrotados. Quando sentiu que era chegada a hora, Glicéria tirou seu véu, revelando a Cruz, e proclamou-se cristã. Imediatamente, o estrondo de um trovão foi ouvido, e a estátua de Zeus despedaçou-se no chão. O caos tomou conta do templo, e os sacerdotes tentavam apedrejá-la, mas uma força lançava as pedras para longe da santa. Então, Sabino ordenou que ela fosse lançada à prisão. Lá, o sacerdote Filócrates, que também era cristão, ministrou os Santos Mistérios a ela, e encorajou-a a ser persistente em sua confissão de Fé.

Na manhã seguinte, os carrascos penduraram-na num poste pelos cabelos e começaram a rasgar seu corpo com garras de ferro. Quando Santa Glicéria já estava banhada com seu sangue, um anjo apareceu perante os torturadores, e eles paralisaram-se de terror. O prefeito, que também havia visto o anjo, ordenou então que ela fosse retornada à prisão, mas de forma que fosse trancada numa cela escura e deixada para morrer ou dos ferimentos ou de fome.

O anjo permaneceu com ela durante todo o tempo, dando-lhe de comer e curando seus ferimentos. Semanas depois, o prefeito voltou a prisão — afinal, ele havia levado consigo a chave —, e aterrorizou-se quando viu-a completamente sã, com um pão, um cálice de leite e um de água. Sabino então foi ter com o prefeito de Perinto, uma próspera cidade da Trácia, o qual possuía mais experiência que ele, e ambos concordaram em levar a mártir à cidade para o espetáculo do povo. Na prisão em Perinto, Santa Glicéria ficou sob vigia do guarda Laodício que, após uma petição do bispo da região, Domécio, permitiu que ele e seus fiéis entrassem para venerá-la. Domécio intercedeu por ela a Deus para que fosse digna da coroa do martírio.

Então, foi ordenado que a mártir fosse jogada numa fornalha ardente, mas as chamas se extinguiram logo em seguida. Sob as ordens do furioso prefeito, os torturadores esfolaram a pele de sua testa e cabeça e arrancaram seus cabelos. Durante todos esses tormentos, a jovem orava incessantemente a Deus. Quando terminaram, acorrentaram-na pelas mãos e pelos pés numa sala cujo chão eram rochas pontudas, e Santa Glicéria ficou jogada nas pedras à espera do anjo. À meia noite, o anjo veio em seu encontro e a curou de todos os ferimentos, além de afrouxar suas algemas.

Na manhã seguinte, Laodício adentrou a cela e não pôde acreditar que era a mesma pessoa. Pensando que haviam fugido com ela e deixado outra em seu lugar, o guarda tentou se matar, pois o torturariam de forma ainda pior. Ele foi impedido por Santa Glicéria, e imediatamente reconheceu que era ela. Renunciando o paganismo, Laodício implorou para que a santa não se esquecesse dele em suas orações, para que ele também pudesse ser digno da coroa do martírio. Ela aconselhou: “Segue a Cristo, e tu serás salvo!”

Depois disso, Laodício tomou sobre si as correntes de Santa Glicéria e pediu aos outros guardas que levassem-no em julgamento. Eles relutaram, mas ele foi persistente, e finalmente levaram-no perante o prefeito e o povo. Ele declamou a todos sobre o milagre que havia visto, e confessou que agora cria em Jesus Cristo. Logo em seguida, foi sentenciado que São Laodício fosse decapitado, e assim ele entregou sua alma ao Senhor. Seus restos foram depois secretamente enterrados pelos cristãos da Trácia.

No mesmo dia, em 13 de maio de 177, Santa Glicéria foi sentenciada a ser devorada pelas bestas, notícia pela qual a jovem recebeu com grande alegria. Assim que amarraram-na e lançaram a leoa, ela mansamente veio em sua direção, e deitou sobre seus pés. A virgem continuou orando para que fosse ao encontro de seu Esposo, e pôde ouvir uma voz chamando-a ao Céu. Quando a segunda leoa foi lançada, ela pulou em sua direção e Santa Glicéria entregou sua alma ao Senhor.

Pós-vida

Festa de Santa Glicéria em Galatsi.

Depois de seu martírio, o bispo Domécio obteve permissão para sepultar suas relíquias. Seu túmulo verteu mirra por vários séculos, e muitos peregrinavam a Perinto — que agora chamava-se Heracleia — para receberem a cura de suas enfermidades. Seu venerável crânio era levado em procissão por toda a cidade no dia de sua festa, e era mantido numa coluna na qual vertia mirra. Uma grande igreja em Heracleia havia sido dedicada à santa.

Na era de São João IV, Patriarca de Constantinopla (582–595), o bispo de Heracleia havia feito uma viagem à mãe das cidades, e de lá trouxe um magnífico pote de ouro para substituir o de cobre sobre o qual pingava a mirra no túmulo. Entretanto, assim que foi feita a troca, a mirra cessou. O hierarca caiu em lágrimas perante o Senhor, rogando para que Ele o mostrasse qual era o seu erro, e recebeu um sinal de que o pote estava impuro. Levando-o ao patriarca, este descobriu que um feiticeiro de nome Paulino havia derramado sangue de sacrifícios no pote antes de vendê-lo. Quando isso foi relatado a São Maurício, Imperador de Roma (582–602), o mago foi condenado a ser amarrado a um pilar até a sua morte. Além disso, seus filhos foram decapitados como cúmplices da feitiçaria.

No século IX, Santa Glicéria foi honrada com um ofício litúrgico composto pelo hinógrafo São Teófanes, o Assinalado, Bispo de Niceia (842–845). A santa também é padroeira da cidade de Galatsi na Ática, onde uma bela igreja dedicada a ela celebra anualmente o seu dia, 13 de maio. (ver fotos)

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Honremos a preciosa virgem de Cristo, /
que superou a dor da competição. /
Glicéria pisoteou a serpente, /
apesar de ser fraca na carne. /
Por amor a Cristo desprezou os tormentos, /
e assim ela foi glorificada por Deus. /
Clamemos nós à coroada, então: /
“Alegra-te, bendita Glicéria!”

Outro tropário

(Tom IV)

Tua cordeira Glicéria, ó Jesus, clama em alta voz: “Eu Te amo, ó meu Esposo, e competindo em busca de Ti, sou crucificada e sepultada no Teu Batismo. Sofro por Ti, para que possa reinar junta de Ti; e morro por Ti, para que possa viver em Ti. Aceita-me como um sacrifício imaculado, pois ofereço-me em amor a Ti.” Por suas intercessões, ó Misericordioso, salva as nossas almas.

Condáquio

(Tradução livre)

Através do amor por Maria, a Virgem Mãe de Deus, /
tu preservaste tua virgindade, ó Glicéria. /
Entregando-se de coração ao Senhor, /
tu lutaste corajosamente até a morte. /
Pelos teus feitos, Cristo nosso Deus /
concedeu-te uma dupla coroação.

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

“Glicéria, sacrifica aos deuses!” /
Ordenava o cego e insensato juiz. /
“Ou serás consumida pelas chamas!” /
Mas do jurista zombava Glicéria: /
“Deus é Uno, e os teus, demônios, /
“atarantadores de tua fraca mente! /
“Que sacrifício queres, ó insensato? /
“Não houve já um único sacrifício no Gólgota? /
“Um fantástico sacrifício, divino e cruento, /
“para abolir todos os sacrifícios de sangue? /
“Um sacrifício após a Santa Imolação, /
“um sacrifício é o que o Senhor deseja: /
“um coração puro, como um altar de oração, /
“mãos limpas, que realizem a misericórdia, /
“fé, esperança, amor e caridade. /
“Tal sacrifício me empenho em oferecer /
“ao Autor da Vida, Deus meu. /
“Tal sacrifício o Todo Poderoso deseja, /
“e não corpos mortos e ensaguentados.”

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo segundo.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro nono.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume primeiro.

Ligações externas