Apresentação do Senhor

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A Festa da Apresentação de Nosso Senhor Jesus Cristo no Templo (em grego: Υπαπαντή του Κυρίου) é uma das Doze Grandes Festas, comemorada pela Igreja no dia 2 de fevereiro, quarenta dias após o nascimento de Cristo. A festa se estende do dia 1 ao 9 de fevereiro, e baseia-se em um importante evento da vida de nosso Senhor Jesus Cristo, relatado no segundo capítulo do Evangelho de São Lucas (versículos 22–40).

História

Quarenta dias após Seu nascimento, Jesus foi levado ao Templo de Jerusalém, o então centro da vida religiosa em Israel. De acordo com a Lei Mosaica, a mulher que desse à luz um menino era proibida de entrar no Templo de Deus por quarenta dias. Após esse tempo, a mãe viria com o filho, para oferecer um par de rolinhas ou pombas ao Senhor como sacrifício de purificação. A Mãe de Deus não tinha a necessidade de purificar-se, já que ela própria havia dado à luz a Fonte da pureza e da santidade. No entanto, ela humildemente cumpriu os requisitos da Lei.

Naquele tempo, o justo Ancião Simeão vivia em Jerusalém, e a ele havia sido dada a revelação que ele não morreria até que pudesse ver o prometido Messias. Isso porque, três séculos antes, Simeão era um dos setenta membros do Sinédrio escolhidos pelo Faraó Ptolemeu II do Egito para traduzir o Antigo Testamento para o grego, produzindo o que viria a ser conhecido como a Septuaginta.

Enquanto traduzia o começo do Livro do Santo Profeta Isaías, Simeão se deparou com a profecia de que “uma virgem conceberá e dará à luz um filho.”[1] Imaginando ser a palavra “virgem” um equívoco, começou a escrever “mulher” em seu lugar. Antes mesmo que concluísse a palavra, uma mão segurou seu punho, e quando olhou para trás, eis que a mão era de um Anjo.

O Anjo exclamou: “Tu verás essas palavras serem cumpridas. Não morrerás até que contemple a Cristo, o Senhor, nascer de uma pura e imaculada virgem.” Desse dia em diante, Simeão viveu na espera pelo Messias, e após trezentos anos vivendo sem revelar sua idade, foi ao Templo naquele mesmo dia em que a Panagia e São José traziam o infante Jesus para cumprir a Lei, graças à Divina Providência.

Simeão tomou a divina Criança em seus braços, e, dando graças a Deus, disse as palavras repetidas pela Igreja todas as tardes, nas Vésperas:

“Agora, Senhor, despedes em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra; pois já os meus olhos viram a Tua salvação, a qual Tu preparaste perante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações, e para glória de Teu povo Israel.”[2]

A virgem e José maravilharam-se com suas palavras, mas, voltando-se à Mãe de Deus, Simeão a abençoou e disse a maior das profecias: “Eis que este Menino está destinado a ser uma causa de queda e de ascensão para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições —uma espada trespas­sa­rá a tua alma—, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações.”[3]

No Templo estava a viúva Ana, a Profetisa, filha de Fanuel, que, aos seus 84 anos, não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações. Enquanto Cristo era apresentado, Santa Ana se aproximou e começou a dar graças a Deus. Ela chamou a todos os que estavam dentro e fora do templo, mostrando-os Aquele por quem viria a redenção de Jerusalém. Nos ícones da Festa, a santa geralmente aparece segurando um pergaminho, escrito: “Essa Criança fundou os Céus e a terra”.

Antes da Natividade do Senhor, os justos viviam pela fé no prometido Messias, e aguardavam pela Sua vinda. O Justo Simeão e a Profetisa Ana, os últimos justos do Antigo Testamento, foram julgados dignos de conhecer o Salvador no Templo. Naquele mesmo dia, Simeão rendeu sua alma ao Senhor com um sorriso no rosto, partindo em direção ao Reino dos Céus.

Tradição

A Festa da Apresentação do Senhor é uma das mais antigas da Igreja. Sermões dessa festa já foram proclamados pelos santos bispos Methódios de Patara, Cirilo de Jerusalém, Gregório o Teólogo, Anfilóquio de Icônio, Gregório de Nissa e João Crisóstomo (com dúbia exceção de Crisóstomo, todos no século IV).

A festa não seria celebrada tão esplendidamente até o século VI, quando inúmeros hinos foram compostos em sua honra. Em 528, durante o reinado de Justiniano, um terremoto matou várias pessoas em Antioquia, seguido de outras desgraças. Em 541, uma terrível praga aconteceu em Constantinopla, levando vários milhares de pessoas a cada dia. Nesse tempo de sofrimento nasceu a Litania, uma solene procissão pela libertação dos males. Quando foi celebrada na Festa da Apresentação do Senhor, a praga cessou. Como agradecimento a Deus, a Igreja definiu uma celebração mais solene para a Festa.

Ainda em meados do século V, a santa Imperatriz Pulquéria dera início à construção da Igreja da Mãe de Deus de Blaquerna ao norte de Constantinopla. Nos anos seguintes, a igreja foi ricamente ornamentada pelas famílias reais, passando a ter a principal fonte de água benta do império, o relicário do manto e do cinto usados pela Mãe de Deus e um banho de água benta para os imperadores. Era nessa igreja em que o patriarca e todo o clero de Constantinopla se reuniam para oficiar a Festa da Apresentação, com horas e horas de hinografias dedicadas à festa.

Exemplo do ambigrama no Mosteiro da Mãe de Deus de Malevos, no Peloponeso.

Da mesma forma que Cristo havia sido apresentado no Tempo para Sua purificação, os imperadores justos banhavam-se com água benta no dia da festa para igualmente se purificarem. As paredes da câmara de banho eram preenchidas com ícones do teto ao chão, e foram o refúgio de Santa Theodora durante o iconoclasmo. Essa tradição podia se repetir em outras festas do ano a critério do imperador, como na Festa da Dormição. Para os fiéis, havia a fonte de água benta, na qual lavavam seus rostos. Como costume nas fontes de água benta, havia a inscrição Νίψον ἀνομήματα, μὴ μόναν ὄψιν (lava-te as transgressões, não somente o rosto), igualmente um palíndromo e ambigrama.

Hinógrafos da Igreja adornaram essa Festa com seus hinos: Santo André de Creta no século VII; São Cosme de Maiuma, São João Damasceno e São Germano de Constantinopla no século VIII; e São José, Arcebispo de Tessalônica, no século IX.

Nesse dia, também comemoramos o ícone da Santíssima Mãe de Deus, conhecido como “Suavização dos Corações Maus” ou “Profecia de Simeão”. A Virgem Maria é representada sem a Criança, com sete espadas atravessando seu peito: três à esquerda, três à direita, e um de baixo. Um ícone semelhante, “das Sete Espadas”, mostra três espadas à esquerda e quatro à direita. Esses ícones simbolizam o cumprimento da profecia do justo Ancião Simeão: “uma espada transpas­sa­rá a tua alma”.

Hinos

Tropário

(Tom III)

Alegra-te, ó Virgem Mãe de Deus, cheia de graça! Pois de ti resplandeceu o Sol da Justiça, Cristo nosso Deus, iluminando os que estão nas trevas. Alegra-te, ó justo ancião, carregando em teus braços o libertador de nossas almas, Ele que nos concede a ressurreição.

Kontakion

(Tom I)

Por teu nascimento, ó Cristo Deus, o seio virginal santificaste, e as mãos do justo Simeão, como convinha, abençoaste, e a nós, agora, vieste e salvaste. Concede a paz ao Teu povo e fortalece os governantes fiéis, Tu que és o Único Misericordioso.

Versos

As mãos de Simeão que Te carregam,
simbolizam o seio do Pai, ó Cristo meu.
No segundo dia, Simeão recebeu a Cristo nas portas do Templo.

Referências

  1. Isaías 7
  2. Lucas 2:29–32
  3. Lucas 2