Diferenças entre edições de "Theodora, a Augusta"

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[[Imagem:Theodora Augusta.jpg|miniatura|Santa Teodora.]]
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{{ Info/Santo
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| nome = Santa Theodora, Imperatriz
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| títulos = Αγία Θεοδώρα η Αυγούστα
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'''Santa Theodora, Imperatriz e Protetora da Ortodoxia''' (séc. IX) foi imperatriz nos tempos da heresia iconoclasta. É conhecida por ter posto fim à iconoclastia, permitindo que os ícones fossem novamente venerados e, assim, restaurou a Ortodoxia em todo o império. Finalizou seus dias pacificamente em um mosteiro. Sua memória é comemorada pela Igreja em [[11 de fevereiro]], data de seu repouso. É também lembrada no primeiro domingo da [[Grande Quaresma]], o chamado '''[[Domingo da Ortodoxia]]'''.
  
'''A Mais Ortodoxa Santa Imperatriz Teodora III, a Augusta, de Roma''' é comemorada pela Igreja no dia [[11 de fevereiro]].
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== Vida ==
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===Primeiros anos===
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Vinda de uma família nobre que há muito vivia em Constantinopla, Santa Theodora nasceu em 815 em uma vila da Paflagônia,
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Possivelmente a quarta de cinco irmãos - Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene -, Theodora desde cedo se destacava em sua Fé inabalável herdada de sua mãe Theoktista. Dotada de grande beleza física e espiritual, Theodora foi instruída desde a infância por sua mãe e seguiu seus passos ao longo de sua vida. Quando era ainda criança, seu pai - um oficial da corte imperial - faleceu e sua mãe retirou-se do mundo para abraçar o monasticismo.
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No mesmo ano de seu nascimento, o herético imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos. Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o por Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia.
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===Casamento com o imperador===
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Em 829, com a morte do imperador Miguel II (820–829), seu filho Theófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. Conta-se a imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Santa Theodora e [[Cassiani, a Hinógrafa|Santa Cassiani]]. Postas as seis diante de Theófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida.
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Theófilo escolheu a bela [[Cassiani, a Hinógrafa|Cassiani]], mas antes de dar-lhe a maçã quis testá-la, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria da santa, que acentuara o “sim” da [[Mãe de Deus]] — a nova Eva — em detrimento do pecado da velha Eva, Theófilo afastou-se dela e deu o fruto a Theodora, sem saber que sua escolhida era também uma cristã devota, com a diferença que a devoção de Santa Theodora era mansa e paciente. Assim, Theodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiani renunciou ao mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa Cassiani, a Melodista.
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Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Theodora cumpriu fielmente seus deveres de esposa e imperatriz desde os quinze anos.
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=== Vida como mãe e esposa ===
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Em 831, aos dezesseis anos, Theodora deu à luz a Tekla, cujo nome herdou da avô paterna. Até 834, respectivamente, as gêmeas Ana e Anastácia, e Constantino já haviam nascido. Herdeiro do trono imperial, o recém-nascido Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Até 840, o casal teve também Pulquéria, Maria e Miguel.
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Como Theófilo temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de sua filha Maria, ainda recém-nascida, ao patrício Alexios, que já tinha idade o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados. Porém, a menina jamais viria a se casar com ele, uma vez que faleceu aos quatro anos. Pelas mesmas razões políticas, como era comum na época, o imperador ofereceu sua filha Tekla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular. Enquanto Theófilo passava seu tempo exilando cristãos ortodoxos e acumulando fracassos em cada guerra iniciada, Santa Theodora permanecia firme na verdadeira Fé. O pretexto de cuidar de seus filhos permitia-lhe isolar-se nos aposentos imperiais, longe do marido.
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A santa possuía notáveis habilidades como governante, algo que incitava a inveja do marido. Descendendo de uma família de comerciantes navais, Santa Theodora tinha a confiança dos marinheiros, e fomentou o comércio entre as províncias, garantindo a melhora da economia das cidades mais distantes.
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Certa vez, por inveja, Theófilo ordenou que um navio e sua embarcação fossem incendiados após descobrir que ele pertencia a Santa Theodora, dizendo: “Por acaso fizeste de mim, que sou imperador, um comerciante?” Hoje, os achados arqueológicos apontam que a quantidade de moedas com o rosto de Santa Theodora, Theófilo ou seus filhos encontrados nas províncias mais distantes de Constantinopla é maior do que as de qualquer outro governante anterior a eles, provando que a imperatriz ampliou o contato entre as províncias e a capital. Com o auxílio de Santa Theodora, os cristãos também foram capazes de enviar secretamente embarcações com mantimentos às ilhas onde os santos confessores eram exilados, como a Ilha de Afousia no Mar de Mármara.
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Como era o costume dos imperadores naquela época, Santa Theodora e Theófilo visitavam a Igreja da Mãe de Deus de Blaquerna, <small>([https://www.google.com/maps/place/Igreja+de+Santa+Maria+de+Blaquerna/@41.0386934,28.9428138,3a,75y/data=!3m8!1e2!3m6!1sAF1QipPtVJOhZ0nnaOQegmEP5CqxdU0FPbpinqyQSxcI!2e10!3e12!6shttps:%2F%2Flh5.googleusercontent.com%2Fp%2FAF1QipPtVJOhZ0nnaOQegmEP5CqxdU0FPbpinqyQSxcI%3Dw203-h114-k-no!7i4032!8i2268!4m9!3m8!1s0x14caba07b4c0ffe9:0x8057623659aab78b!8m2!3d41.0386738!4d28.9428015!10e5!14m1!1BCgIgAQ!16s%2Fm%2F04f2wyr ver fotos])</small> distante cinco quilômetros do Palácio Imperial, quase que semanalmente nas sextas-feiras, quando os ofícios à Mãe de Deus eram nela celebrados. Blaquerna era o distrito mais setentrional protegido pelos muros de Constantinopla, e tanto Theófilo como seu pai Miguel II trabalharam para fortificar os muros e os portões de Blaquerna <small>([https://www.google.com/maps/place/Blachernai'nin+Duvarlar%C4%B1/@41.0386642,28.9409022,3a,75y,90t/data=!3m8!1e2!3m6!1sAF1QipMymNUalSJfWxltV8fH8LsjiHm3XyjmIQxrg9-7!2e10!3e12!6shttps:%2F%2Flh5.googleusercontent.com%2Fp%2FAF1QipMymNUalSJfWxltV8fH8LsjiHm3XyjmIQxrg9-7%3Dw203-h151-k-no!7i4640!8i3472!4m7!3m6!1s0x14caba062999d7b3:0x14fa3e4ca933f606!8m2!3d41.0386632!4d28.9409062!10e5!16s%2Fg%2F11f50w77mb ver fotos])</small> dos ataques dos búlgaros pagãos. Durante o caminho, Theófilo permitia que aqueles que se sentissem injustiçados em quaisquer assuntos civis pudessem se aproximar dele para suas apelações, como uma forma de manter seu apoio entre o povo e investigar os oficiais do governo que fossem denunciados por eles. Santa Theodora, porém, passava o tempo todo em oração, e adentrava a igreja com reverência e lamentação pelos ícones e mosaicos destruídos pelos iconoclastas, os quais eram substituídos por ídolos pagãos.
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A igreja possuía uma grande sala de banho cuja água vinha da fonte sagrada da Mãe de Deus, na qual somente o imperador ou a imperatriz podiam se banhar. Santa Theodora usava o pretexto do banho para trancar-se na igreja em oração, enquanto Theófilo permanecia com a corte no Palácio de Blaquerna, vizinho à igreja. Talvez Santa Theodora soubesse que o Ícone da Mãe de Deus de Blaquerna havia sido salvo dos iconoclastas e estava escondido dentro da parede da igreja, tal como seria revelado quase duzentos anos depois durante obras de restauração.
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=== Mosteiro feminino de Theoktista ===
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Sua mãe Theoktista havia sido honrada com o título de patrícia pela mãe de Theófilo, e isso permitiu à monja comprar um terreno no porto de Psamátheia na costa sul de Constantinopla, próximo às muralhas erguidas por [[Constantino, o Imperador|São Constantino]] (306–337) para delimitar a cidade no século IV. Esse terreno era conhecido como Gastríon, plural grego para “vasos”, uma vez que, ainda no século IV, [[Helena, a Imperatriz|Santa Helena]] havia descarregado naquele lugar vários vasos contendo os aromas de manjericão encontrados no Calvário de Cristo.
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Após comprar a casa, Theoktista transformou-a de novo num mosteiro feminino ainda na década de 830, e lá era visitada por sua filha, Santa Theodora, e também por suas netas. A imperatriz frequentemente deixava suas filhas com a avó, pois sabia que naquele mosteiro elas seriam educadas na Verdadeira Fé e na veneração secreta dos santos ícones, amparadas pelas intercessões de Santa Helena — a quem Santa Theodora buscava como exemplo de imperatriz — e pela fragrância espiritual da Santa e Vivificante Cruz.
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Eufrosina, a madrasta de Theófilo, também aceitou a tonsura monástica, e provavelmente viveu no mosteiro de Theoktista, visitando até o último de seus dias os confessores aprisionados por Theófilo, servindo-lhes com roupas e alimentos (como foi o caso de São Miguel da Palestina, pai espiritual dos Santos Teófanes e Theodoro, exilado num mosteiro em Constantinopla sob ordens de Theófilo por defender os santos ícones). Poucos anos depois, ambas repousaram no Senhor, e Santa Theodora ordenou que fossem enterradas naquele mesmo mosteiro. Seguindo o exemplo das grandes igrejas de Constantinopla onde as famílias reais desejavam ser sepultadas, Theodora permitiu que toda a sua família pudesse ser enterrada naquele mosteiro.
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===Heresia iconoclasta e veneração em segredo===
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[[Imagem:Skylitze The daughters of Theodora being instructed on the veneration and worth of icons by their grandmother. Public Domain.jpg|thumb|right|Santa Theodora ensinando os filhos à venerar ícones]]
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O imperador Theófilo provava ser mais cruel que seus dois antecessores. Um exemplo da crueldade de Theófilo é o caso dos irmãos [[Teófanes e Teodoro, os Assinalados|Teófanes e Teodoro]] que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Theófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.
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Enquanto os Confessores da Ortodoxia eram perseguidos, torturados e exilados, Santa Theodora mantinha-se prudentemente firme em suas orações, venerando os ícones em segredo. Ensinou cada um de seus filhos a venerá-los em segredo e adotou diversas estratégias para evitar que seus ícones fossem destruídos.
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Uma das formas que encontrou para esconder de Theófilo era chamar seus ícones de bonecas. Santa Theodora tinha uma linda coleção de bonequinhas, que as filhas iam ver e brincar com elas com frequência. O imperador não parecia dar importância a esse aparente capricho da esposa.
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Certa vez, um servo da corte flagrou a imperatriz venerando um de seus ícones, e este se apressou em denunciá-la a Theófilo. Ao ser confrontada, Theodora muito habilmente contornou as acusações e surpreendentemente não sofreu qualquer punição. Percebendo que, apesar de ter se livrado, precisaria ser mais prudente, suas visitas ao mosteiro fundado por sua mãe se tornaram cada vez mais frequentes.
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====O espelho e a Panagia de Kathrepti ====
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[[Imagem:Mirror icon.jpg|thumb|200px|left|Panagia de Kathrepti]]
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Em uma ocasião quando a imperatriz se ausentou, Theófilo permaneceu com as crianças, brincando com elas até decidir mandá-las dormir. Porém, em vez de irem para seus aposentos, elas pediram a Panagitsa, assim poderiam fazer orações à Mãe de Deus. "Não temos ícones aqui!", respondeu o imperador, imaginando que fosse algum descuido infantil. Mas uma das crianças disse que queria o ícone que ficava atrás do espelho. Assim que Theófilo descobriu a existência do ícone, ficou enfurecido e o atirou ao fogo. Naquele momento, Theodora entrou no quarto e foi rápida o suficiente para salvar das chamas o seu ícone.
  
== Vida ==
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Esse ícone que pertencia a Santa Theodora ficou conhecido como "Do espelho", ou formalmente, ''Panagia de Kathrepti'' (gr: Παναγία του Καθρέπτη, literalmente, Panagia do Espelho), e pode ser visto hoje no '''Mosteiro de São Paulo''' no [[Monte Athos]]. Ainda com marcas do fogo. Ao redor do ícone, há pequenas relíquias.
Teodora nasceu em 815 numa pequena vila da Paflagônia, na costa norte da Ásia Menor (atual Turquia), vinda de uma ilustre família de oficiais armênios da corte imperial. Essa vila, não localizada porém conhecida como “Ebissa”, provavelmente correspondia à propriedade rural dessa família, próxima às florestas dos Montes Paríadres e à estrada que levava a Claudiópolis na Honória e, de lá, a Constantinopla, visto que os armênios eram conhecidos naquele tempo como comerciantes navais do Mar Negro. Outra hipótese é a vila de Evessa, próxima à antiga diocese de Terma na Capadócia, o que explicaria a ascendência armênia de Teodora, porém geograficamente incompatível com a Paflagônia.
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O ícone foi levado ao Mosteiro por São Paulo, o construtor daquele mosteiro, após uma de suas visitas a Constantinopla. Trouxe o ícone como um presente. Em 1983, [[Gerásimos (Mikragiannanitis), o Hinógrafo|São Gerásimos]] compôs os ofícios de súplica a este ícone milagroso.
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===Morte de Theófilo ===
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Após doze anos como imperador, Theófilo foi acometido por uma crise forte de disinteria. Sofria alucinações e dores dilacerantes. Apiedando-se do marido, Santa Theodora trouxe um ícone da Mãe de Deus e colocou diante dele, suplicando fervorosamente para que Deus abreviasse seu sofrimento. Ao ver o ícone, Theófilo caiu aos prantos, e teve uma visão terrível que o fez compreender a dimensão de seus erros. À beira da morte, Theófilo arrependeu-se profundamente e confessou a Fé Verdadeira.
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===Triunfo da Ortodoxia===
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[[Imagem:Triunfo da Ortodoxia.jpg|thumb|right|Ícone do Triunfo da Ortodoxia]]
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Uma vez que Miguel, o único filho do casal, ainda não tinha idade suficiente para assumir o trono, Santa Theodora assumiu a regência do trono. Tinha a seu lado os conselhos sábios de Theoktistos ([[20 de novembro]]) e sua primeira ação como imperatriz regente foi convocar um sínodo e restaurar a veneração dos ícones por todo o império, pondo um fim à heresia iconoclasta e aos anos de perseguição aos cristãos ortodoxos. Todos os exilados foram chamados de volta para seu lar, e o império abriu suas portas novamente a Cristo.
  
Dotada de grande beleza física e espiritual, Teodora foi catequizada desde a infância por sua piedosa mãe Florina, que a teve como um presente de Deus no mesmo ano em que o herético Imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos ortodoxos. Naquele mesmo ano, Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o pelo seu fantoche, Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio Ecumênico e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia. Teodora era possivelmente a quarta de seus cinco irmãos — Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene —, mas os superou na piedade e na Fé inabalável herdada de sua mãe, que se tornou viúva ainda na infância de Teodora e aceitou o monasticismo sob o nome de Teoctista.
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Assim, em março de 843, no Primeiro Domingo da [[Grande Quaresma]] o sínodo reunido por Santa Theodora oficialmente depôs o patriarca João VII, e deu as boas-vindas a São Methodios, o Confessor ([[14 de junho]]). Os decretos do Sétimo Concílio foram reafirmados. Os cristãos de todo o império - Santos Padres, confessores, padres, monges, leigos de toda parte, alguns ainda com as cicatrizes abertas pela fúria iconoclasta, reuniram-se para comemorar '''o Triunfo da Ortodoxia'''. Os ícones não mais precisavam ficar escondidos e, assim, todos tiraram seus ícones de suas casas e foram às ruas. Em uma longa procissão, as pessoas erguiam seus ícones e celebravam a vitória de Cristo sobre mais uma heresia.
  
Em 829, com a morte do Imperador Miguel II (820–829), sucessor de Leão, seu filho Teófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. No ano seguinte, quando Teófilo completou dezoito anos, sua madrasta e imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz e esposa de Teófilo. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Teodora e Cassiana. Postas as seis diante de Teófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida. A maçã dourada era um raro fruto, hoje desconhecido, possivelmente vindo de uma distante parte do Mediterrâneo a qual alguns acreditam ser a Mauritânia, dado como presente nupcial desde os tempos antigos.
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Esse dia inaugurou a festa até hoje comemorada anualmente por todos os cristãos ortodoxos no primeiro domingo da Quaresma, que passou a ser conhecido como o [[Domingo da Ortodoxia]].  
  
Teófilo foi até Cassiana, a escolhida, e deu-lhe a maçã, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria de Cassiana, Teófilo afastou-se dela e deu o fruto a Teodora, que o aceitou. Assim, Teodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiana renunciou o mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa Cassiana, a Melodista.
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=== Vida monástica ===
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Com a paz restaurada, Theodora mostrou um talento admirável para o governo, especialmente no âmbito econômico. Além disso, enviou missionários por todo o território da Morávia e da Bulgária. Porém, no âmbito familiar, a situação não era boa. A educação que oferecera a Miguel não triunfou sobre seu coração, que parecia preso aos erros passados de seu pai. Miguel crescia em imoralidade e ingratidão. Além disso, um tio do menino há muito o aconselhava, tão logo o período de regência de Theodora terminasse, obrigasse a mãe e todas as irmãs a se retirarem para um mosteiro. E assim o fez, ascendendo ao trono, Miguel apressou-se a ordenar que a mãe e as irmãs fossem enviadas ao Mosteiro de Gástria (858), ainda que o Patriarca Ignátios se recusasse a tonsurá-las. Longe de ceder ao desespero, a mansa e prudente Theodora aceitava a vontade de Deus e abraçou de bom grado seus dias no mosteiro. Passou-se a dedicar à oração, ao jejum e todas as observâncias de uma vida angélica.  
  
Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Teodora cumpriu fielmente seus deveres como esposa e imperatriz desde os quinze anos de idade. Através de suas orações e seu exemplo de gentileza e paciência, a jovem tentava afastar a crueldade e as blasfêmias cometidas por Teófilo contra os cristãos ortodoxos. Seus rogos, entretanto, não eram ouvidos pelo imperador, que provou ser mais cruel que seus dois antecessores, como no caso dos dois santos irmãos [[Teófanes e Teodoro, os Assinalados|Teófanes e Teodoro]] que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Teófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.
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== Repouso e relíquias ==
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Repousou pacificamente em [[11 de fevereiro]] de 867. Suas santas relíquias permaneceram e permanecem ainda hoje incorruptas. Seu corpo sobreviveu à queda de Constantinopla em 1453, aos ataques dos otomanos e a um bombardeiro durante a Segunda Guerra Mundial. Juntamente às relíquias de [[Espiridião de Trimitous|Santo Espiridion]], suas relíquias hoje permanecem na cidade grega de Corfu.
  
=== Império sob Teófilo ===
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== Codex 565 ==
Em 831, aos dezesseis anos de idade, Teodora deu a luz a Tecla, cujo nome herdou da mãe de Teófilo. Até 834, as gêmeas Ana e Anastácia e Constantino já haviam nascido, nessa ordem. Até 840, o casal teve Pulquéria, Maria e Miguel. Provavelmente sob influência do círculo iconoclasta, Constantino teve seu nome escolhido por Teófilo para honrar o ímpio Imperador Constantino V (741–775). Herdeiro do trono imperial, Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Como Teófilo não cria na Divina Providência e temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de Maria, sua filha recém-nascida, ao patrício Aleixo, velho o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados.
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[[Imagem:Theodora67page1 b.jpg|thumb|right|Codex 565 escrito por Santa Theodora]]
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O '''Codex 565''', ou a Minúscula 565, é um manuscrito em minúsculas gregas dos Quatro Evangelhos (Tetraevangelion) que data o século IX. O codex foi escrito pela própria Santa Theodora. Junto ao codex 1143, é um dos únicos em miníusculas a ser grafado em ouro sobre um pergaminho de folhas da cor púrpura. O texto possui uma coluna e 17 linhas por página.
  
O temor de Teófilo contra os búlgaros justificava-se porque o tratado de paz entre os dois povos, firmado ainda na era de Leão V, acabaria ainda naquele ano. Além dos recorrentes saques dos islâmicos na Capadócia e na Armênia, agora os búlgaros, que já haviam anexado a Mésia para si e detinham partes da Trácia e do Hemimonto até cidades vizinhas a Constantinopla (nas quais a população búlgara fora protegida pelo tratado), poderiam insurgir-se contra o império a qualquer momento. Somava-se a isso o martírio dois anos antes de Santo Enravota, herdeiro do trono búlgaro, por seu irmão Malamir por ter se convertido ao cristianismo. Naquele mesmo ano, Teófilo sofrera uma perda da frota de batalha imperial contra os muçulmanos na Sicília, ilha pela qual seus esforços para mantê-la sob seu domínio envolveram até propor sua filha Tecla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular.
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Em 1829, foi levado a São Petersburgo e hoje está localizado na Biblioteca Nacional Russa nessa mesma cidade.
  
Em 836, Teófilo declarou guerra contra os búlgaros e enviou Aleixo para comandar as tropas. Nessa missão, as terras costeiras do Ródope e da Macedônia Oriental foram retornadas para o império, enquanto que diversas insurreições levaram à anexação búlgara das grandes cidades de Filipópolis na Trácia e Adrianópolis no Hemimonte. Sob temores de que Tessalônica também cairia na mão dos rebeldes, Teófilo pôs um fim à guerra e buscou um acordo com os pagãos em 837. Entretanto, quando navios imperiais foram vistos resgatando prisioneiros de guerra no Danúbio, próximos a Plisca na Mésia, a capital dos búlgaros, o Cã Presiano I (836–852) lançou uma ofensiva às terras capturadas pelo império, anexando até a costa de Filipos na Macedônia e bloqueando a ligação terrestre direta entre o Ródope e toda a parte ocidental do império.
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==Tropário==
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Tropário de Santa Theodora
  
No ano seguinte, uma grande investida islâmica chegou a Tarso na Cilícia e, atacando as grandes Portas da Cilícia, adentrou pelos Montes Tauro, passou pela Capadócia, Galácia e finalmente capturou Ancira na Galácia e Amório na Frígia, a grande capital da Anatólia. Outra frente, partindo da Armênia, passou pelo Helenoponto e reuniu-se com a primeira em Ancira. Isso foi em resposta a uma incursão de Teófilo nas cidades armênias de Arsamósata, Sozopetra e Melitene, possessões dos islâmicos. Somente nessa cidade, registram-se as mortes de mais de setenta mil cristãos, incluindo os Santos Quarenta e Dois Mártires de Amório. De longe, o Saque de Amório foi a mais vergonhosa perda de Teófilo, já que Amório era não somente uma das cidades mais populosas e consideravelmente próxima da província imperial como também o berço da dinastia amoriana, iniciada com seu pai Miguel.
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Ἀπολυτίκιον
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(''Ἦχος πλ. α’. Τὸν συνάναρχον Λόγον'')
  
O Califa Almotácime, líder do Califado Abássida, passou por Amório e cavalgou pessoalmente até Dorileão, distante apenas duzentos quilômetros de Constantinopla na fronteira da Frígia com a Bitínia, para uma missão de reconhecimento. Como não haviam sinais de novas tropas em sua direção, Almotácime cogitou seguir com suas tropas até Constantinopla, algo que não seria tão difícil levando-se em consideração as habilidades de Teófilo. Pela Providência de Deus, uma conspiração envolvendo seu sobrinho Alabas fê-lo retornar com suas tropas e prisioneiros de guerra à Garameia (atual Iraque), poupando centenas de milhares de vidas entre os romanos. Ainda assim, milhares de prisioneiros morreram no caminho devido à aridez da Capadócia. Cinco anos mais tarde, uma invasão marítima pela Lícia resultou no naufrágio e na morte de todos os guerreiros de Almotácime, que morreria enfermo em 842.
+
''Δωρεῶν τῶν ἐνθέων οὖσα ἐπώνυμος, τὴν Ἐκκλησίαν φαιδρύνεις βασιλικαὶς δωρεαίς, ὡς θεόγλυπτος εἰκὼν θείας φρονήσεως, τῶν γὰρ Εἰκόνων τῶν σεπτῶν, τὴν τιμὴν ὡς σχετικήν, ἐτράνωσας Θεοδώρα, τῶν Βασιλίδων ἄκρατης, τῶν Ὀρθοδόξων ἐγκαλλώπισμα
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''
  
===  ===
 
Enquanto Teófilo passava seu tempo exilando cristãos ortodoxos e acumulando fracassos em cada guerra iniciada, Teodora permanecia firme na verdadeira Fé. O pretexto de cuidar de seus filhos permitia-lhe isolar-se nos aposentos imperiais, longe de Teófilo.
 
  
 
== Referências ==
 
== Referências ==
* São Nicodemos, o Hagiorita. ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo I.
+
* [[Nicodemos do Monte Athos|São Nicodemos do Monte Athos]] ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo I.
 
* São Demétrio, Metropolita de Rostóvia. ''A vida dos santos.'' Livro VI.
 
* São Demétrio, Metropolita de Rostóvia. ''A vida dos santos.'' Livro VI.
* São Nicolau, Bispo de Ócrida. ''O prólogo de Ócrida.'' Volume I.
+
* [[Nikolai (Velimirovich)|São Nikolai (Velimirovich) Bispo de Ócrida]]. ''O prólogo de Ócrida.'' Volume I.
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== Notas ==
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<small><references group=nota/></small>
  
 
[[Categoria:Santos]]
 
[[Categoria:Santos]]
Linha 37: Linha 105:
 
[[Categoria:Santos do século IX]]
 
[[Categoria:Santos do século IX]]
 
[[Categoria:Santos gregos]]
 
[[Categoria:Santos gregos]]
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[[Categoria:Santos de fevereiro]]
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[[Categoria:Santas mulheres]]
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[[Categoria:Santas mães]]
  
 
[[en:Theodora (9th century empress)]]
 
[[en:Theodora (9th century empress)]]
 
[[ro:Teodora a II-a]]
 
[[ro:Teodora a II-a]]
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<!----noinclude> '''Trechos são irrelevantes pra hagiografia de Theodora'''
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Em 836, Theófilo declarou guerra contra os búlgaros e enviou Aleixo para comandar as tropas. Nessa missão, as terras costeiras do Ródope e da Macedônia Oriental foram retornadas para o império, enquanto que diversas insurreições levaram à anexação búlgara das grandes cidades de Filipópolis na Trácia e Adrianópolis no Hemimonte. Sob temores de que Tessalônica também cairia na mão dos rebeldes, Theófilo pôs um fim à guerra e buscou um acordo com os pagãos em 837. Entretanto, quando navios imperiais foram vistos resgatando prisioneiros de guerra no Danúbio, próximos a Plisca na Mésia, a capital dos búlgaros, o Cã Presiano I (836–852) lançou uma ofensiva às terras capturadas pelo império, anexando até a costa de Filipos na Macedônia e bloqueando a ligação terrestre direta entre o Ródope e toda a parte ocidental do império.
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No ano seguinte, uma grande investida islâmica chegou a Tarso na Cilícia e, atacando as grandes Portas da Cilícia, adentrou pelos Montes Tauro, passou pela Capadócia, Galácia e finalmente capturou Ancira na Galácia e Amório na Frígia, a grande capital da Anatólia. Outra frente, partindo da Armênia, passou pelo Helenoponto e reuniu-se com a primeira em Ancira. Isso foi em resposta a uma incursão de Theófilo nas cidades armênias de Arsamósata, Sozopetra e Melitene, possessões dos islâmicos. Somente nessa cidade, registram-se as mortes de mais de setenta mil cristãos, incluindo os Santos Quarenta e Dois Mártires de Amório. De longe, o Saque de Amório foi a mais vergonhosa perda de Theófilo, já que Amório era não somente uma das cidades mais populosas e consideravelmente próxima da província imperial como também o berço da dinastia amoriana, iniciada com seu ímpio pai Miguel.
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O Califa Almotácime, líder do Califado Abássida, passou por Amório e cavalgou pessoalmente até Dorileão, distante apenas duzentos quilômetros de Constantinopla na fronteira da Frígia com a Bitínia, para uma missão de reconhecimento. Como não haviam sinais de novas tropas em sua direção, Almotácime cogitou seguir com suas tropas até Constantinopla, algo que não seria tão difícil levando-se em consideração as habilidades de Theófilo. Pela Providência de Deus, uma conspiração envolvendo seu sobrinho Alabas fê-lo retornar com suas tropas e prisioneiros de guerra à Garameia (atual Iraque), poupando centenas de milhares de vidas entre os cristãos. Ainda assim, milhares de prisioneiros morreram no caminho devido à aridez da Capadócia. Cinco anos mais tarde, uma invasão marítima pela Lícia resultou no naufrágio e na morte de todos os guerreiros de Almotácime, que morreria enfermo em 842.
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Somada à vergonha pela queda de Amório foi a morte de  em , à época com quatro anos de idade e caçula da família. o patrício Aleixo,. Theófilo não estava ao todo enganado: Aleixo, que já possuía o título de “César” — inferior em honra apenas ao imperador —, estava defendendo a Sicília dos ataques dos islâmicos e, assim que soube que sua “prometida” havia morrido e suas chances de assumir o império haviam diminuído, passou a negociar com os muçulmanos em busca de apoio para uma conspiração para matar a família imperial.
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Os sicilianos, por sua vez, indignaram-se com o apoio oferecido pelo patrício aos piratas, e seu clamor chegou ao Arcebispo Theodoro de Siracusa, autoridade máxima da Igreja na Sicília. Retornando à sede do Patriarcado, Theodoro reuniu-se com Theófilo na Igreja da Mãe de Deus em Blaquerna e aceitou mediar a extradição pacífica de Aleixo para ser julgado em Constantinopla, articulando com os oficiais da província a prisão de Aleixo e seu deslocamento para Constantinopla. Perante o furioso Theófilo, Aleixo foi privado de todas as suas honrarias, espancado com varas pelos carrascos do imperador e trancado numa prisão.
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O ato de violência levou à quebra da confiança no imperador por parte do Arcebispo Theodoro, que havia-o feito jurar que não empregaria castigos físicos ao envolver a Igreja na extradição do desertor. Após criticar o imperador, Theodoro foi igualmente preso sob ordens de Theófilo, espancado pelos carrascos, deposto da Sé de Siracusa e exilado, assim como acontecia com os confessores. Isso levou à ira do próprio Patriarca João VII (837–843), outro fantoche iconoclasta, que repreendeu Theófilo publicamente pela sua covardia. Cedendo à pressão, Theófilo ultimamente restaurou os direitos a Theodoro e Aleixo.<ref>Não se sabe se Theodoro retornou a Siracusa após o exílio; o próximo Arcebispo de Siracusa de quem se tem registro é Gregório, eleito em 844, após o Triunfo da Ortodoxia. Quanto a Aleixo, terminou os seus dias em arrependimento, aceitando o monasticismo e fundando um mosteiro nas margens orientais do Estreito do Bósforo, ao norte de Calcedônia. Nada mais se soube sobre seu paradeiro após isso.</ref>
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Eles haviam sido depositados lá após Santa Helena retornar de sua expedição em Jerusalém, e era de seu desejo que um mosteiro fosse erguido no terreno perfumado. Cinquenta anos após seu repouso, o terreno finalmente passou a abrigar um mosteiro, porém não resistindo até os tempos de Santa Theodora, quando uma casa já havia sido construída sobre suas ruínas.
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Antes mesmo de se tornar imperador, Theófilo tinha grande estima para com o futuro Patriarca João VII, a quem ele próprio instauraria em 837. João havia sido um iconógrafo e discípulo de São Theodoro, o Estudita (756–826), um firme defensor dos santos ícones e hegúmeno do Mosteiro de São João, o Batista, em Stoudion, distante um quilômetro a sudoeste do Gastrion, onde Teoctista estabeleceria um mosteiro na década seguinte do repouso de São Theodoro.
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Ainda em 814, João foi subornado pelo ímpio Imperador Leão V (813–820), o qual ofereceu-lhe a posição de Hegúmeno do Mosteiro dos Santos Sérgios e Baco, um prestigioso mosteiro ao sul do Hipódromo e próximo ao Palácio Imperial, caso traísse os cristãos e participasse da formulação de um falso concílio que aconteceria no ano seguinte. João, que era conhecido pelo epíteto de “o gramático” pelo extenso conhecimento que possuía, aceitou com orgulho o suborno, para deixar de ser apenas um monge em serviço a Deus e passar a viver com a glória mundana de seu epíteto. Ele utilizou todo o conhecimento que obtivera na biblioteca do mosteiro para subverter os ensinamentos dos Santos Padres e, através de artifícios, fazer com que seus escritos apontassem para o iconoclasmo.
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Em 815, Leão V depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815) e exilou-o em Stoudion, enquanto que João, como um novo Judas, saía daquele mesmo mosteiro para participar do falso concílio. O concílio de 815 reverteu as atas do Sétimo Concílio Ecumênico, falsamente anatemizou os santos ícones e instaurou o ímpio oficial da corte Teódoto como patriarca. Teódoto (815–821) deu início à perseguição dos hegúmenos dos mosteiros fiéis a Cristo, os quais eram presos e privados de comida até morrerem ou traírem a Fé, enquanto que seus monges eram presos no Mosteiro dos Santos Sérgio e Baco, transformado num campo de “reeducação” para o iconoclasmo por João, seu novo hegúmeno.
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No Natal de 820, Leão V foi assassinado por seu antigo amigo Miguel II (820–829) — pai de Theófilo —, e esse tomou o Império para si. Um mês depois, Teódoto entregou sua alma ao demônio, e o ímpio Antônio, Bispo de Silião na Panfília, sucedeu-o como novo patriarca (821–837). Semelhante a João, Antônio também era um iconódulo, mas tornou-se iconoclasta para participar do concílio de 815 e ter uma chance de se tornar o próximo patriarca, o que de fato aconteceu. No ano seguinte, o Patriarca Jó de Antioquia (813–844), um iconódulo, assim que soube o novo imperador era mais um iconoclasta, decidiu reconhecer o comandante militar Tomé, o Eslavo, como imperador. Tomé recebeu o apoio de várias províncias do império após prometer o fim do iconoclasmo, e conseguiu cercar Constantinopla com dezenas de milhares de soldados, porém foi finalmente derrotado e morto de uma forma brutal e desumana por Miguel II. Antônio excomungou Jó, porém essa decisão apenas enfraqueceu a Sé de Constantinopla, uma vez que Jó viveu como Patriarca de Antioquia até ver a Fé sair vitoriosa no Primeiro Domingo da Quaresma de 843.
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Sob a orientação de Antônio, o ímpio João foi tido como o primeiro na linha de sucessão para o Trono de Constantinopla, e tornou-se tutor de Theófilo ainda no primeiro ano do reinado de seu pai. João transmitiu a Theófilo toda a doutrina iconoclasta, bem como o ódio aos santos ícones.
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Edição atual desde as 23h20min de 18 de novembro de 2023

Santa Theodora, Imperatriz
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Αγία Θεοδώρα η Αυγούστα

Santa Theodora, Imperatriz e Protetora da Ortodoxia (séc. IX) foi imperatriz nos tempos da heresia iconoclasta. É conhecida por ter posto fim à iconoclastia, permitindo que os ícones fossem novamente venerados e, assim, restaurou a Ortodoxia em todo o império. Finalizou seus dias pacificamente em um mosteiro. Sua memória é comemorada pela Igreja em 11 de fevereiro, data de seu repouso. É também lembrada no primeiro domingo da Grande Quaresma, o chamado Domingo da Ortodoxia.

Vida

Primeiros anos

Vinda de uma família nobre que há muito vivia em Constantinopla, Santa Theodora nasceu em 815 em uma vila da Paflagônia, Possivelmente a quarta de cinco irmãos - Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene -, Theodora desde cedo se destacava em sua Fé inabalável herdada de sua mãe Theoktista. Dotada de grande beleza física e espiritual, Theodora foi instruída desde a infância por sua mãe e seguiu seus passos ao longo de sua vida. Quando era ainda criança, seu pai - um oficial da corte imperial - faleceu e sua mãe retirou-se do mundo para abraçar o monasticismo.

No mesmo ano de seu nascimento, o herético imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos. Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o por Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia.

Casamento com o imperador

Em 829, com a morte do imperador Miguel II (820–829), seu filho Theófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. Conta-se a imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Santa Theodora e Santa Cassiani. Postas as seis diante de Theófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida.

Theófilo escolheu a bela Cassiani, mas antes de dar-lhe a maçã quis testá-la, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria da santa, que acentuara o “sim” da Mãe de Deus — a nova Eva — em detrimento do pecado da velha Eva, Theófilo afastou-se dela e deu o fruto a Theodora, sem saber que sua escolhida era também uma cristã devota, com a diferença que a devoção de Santa Theodora era mansa e paciente. Assim, Theodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiani renunciou ao mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa Cassiani, a Melodista.

Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Theodora cumpriu fielmente seus deveres de esposa e imperatriz desde os quinze anos.

Vida como mãe e esposa

Em 831, aos dezesseis anos, Theodora deu à luz a Tekla, cujo nome herdou da avô paterna. Até 834, respectivamente, as gêmeas Ana e Anastácia, e Constantino já haviam nascido. Herdeiro do trono imperial, o recém-nascido Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Até 840, o casal teve também Pulquéria, Maria e Miguel.

Como Theófilo temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de sua filha Maria, ainda recém-nascida, ao patrício Alexios, que já tinha idade o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados. Porém, a menina jamais viria a se casar com ele, uma vez que faleceu aos quatro anos. Pelas mesmas razões políticas, como era comum na época, o imperador ofereceu sua filha Tekla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular. Enquanto Theófilo passava seu tempo exilando cristãos ortodoxos e acumulando fracassos em cada guerra iniciada, Santa Theodora permanecia firme na verdadeira Fé. O pretexto de cuidar de seus filhos permitia-lhe isolar-se nos aposentos imperiais, longe do marido.

A santa possuía notáveis habilidades como governante, algo que incitava a inveja do marido. Descendendo de uma família de comerciantes navais, Santa Theodora tinha a confiança dos marinheiros, e fomentou o comércio entre as províncias, garantindo a melhora da economia das cidades mais distantes.

Certa vez, por inveja, Theófilo ordenou que um navio e sua embarcação fossem incendiados após descobrir que ele pertencia a Santa Theodora, dizendo: “Por acaso fizeste de mim, que sou imperador, um comerciante?” Hoje, os achados arqueológicos apontam que a quantidade de moedas com o rosto de Santa Theodora, Theófilo ou seus filhos encontrados nas províncias mais distantes de Constantinopla é maior do que as de qualquer outro governante anterior a eles, provando que a imperatriz ampliou o contato entre as províncias e a capital. Com o auxílio de Santa Theodora, os cristãos também foram capazes de enviar secretamente embarcações com mantimentos às ilhas onde os santos confessores eram exilados, como a Ilha de Afousia no Mar de Mármara.

Como era o costume dos imperadores naquela época, Santa Theodora e Theófilo visitavam a Igreja da Mãe de Deus de Blaquerna, (ver fotos) distante cinco quilômetros do Palácio Imperial, quase que semanalmente nas sextas-feiras, quando os ofícios à Mãe de Deus eram nela celebrados. Blaquerna era o distrito mais setentrional protegido pelos muros de Constantinopla, e tanto Theófilo como seu pai Miguel II trabalharam para fortificar os muros e os portões de Blaquerna (ver fotos) dos ataques dos búlgaros pagãos. Durante o caminho, Theófilo permitia que aqueles que se sentissem injustiçados em quaisquer assuntos civis pudessem se aproximar dele para suas apelações, como uma forma de manter seu apoio entre o povo e investigar os oficiais do governo que fossem denunciados por eles. Santa Theodora, porém, passava o tempo todo em oração, e adentrava a igreja com reverência e lamentação pelos ícones e mosaicos destruídos pelos iconoclastas, os quais eram substituídos por ídolos pagãos.

A igreja possuía uma grande sala de banho cuja água vinha da fonte sagrada da Mãe de Deus, na qual somente o imperador ou a imperatriz podiam se banhar. Santa Theodora usava o pretexto do banho para trancar-se na igreja em oração, enquanto Theófilo permanecia com a corte no Palácio de Blaquerna, vizinho à igreja. Talvez Santa Theodora soubesse que o Ícone da Mãe de Deus de Blaquerna havia sido salvo dos iconoclastas e estava escondido dentro da parede da igreja, tal como seria revelado quase duzentos anos depois durante obras de restauração.

Mosteiro feminino de Theoktista

Sua mãe Theoktista havia sido honrada com o título de patrícia pela mãe de Theófilo, e isso permitiu à monja comprar um terreno no porto de Psamátheia na costa sul de Constantinopla, próximo às muralhas erguidas por São Constantino (306–337) para delimitar a cidade no século IV. Esse terreno era conhecido como Gastríon, plural grego para “vasos”, uma vez que, ainda no século IV, Santa Helena havia descarregado naquele lugar vários vasos contendo os aromas de manjericão encontrados no Calvário de Cristo.

Após comprar a casa, Theoktista transformou-a de novo num mosteiro feminino ainda na década de 830, e lá era visitada por sua filha, Santa Theodora, e também por suas netas. A imperatriz frequentemente deixava suas filhas com a avó, pois sabia que naquele mosteiro elas seriam educadas na Verdadeira Fé e na veneração secreta dos santos ícones, amparadas pelas intercessões de Santa Helena — a quem Santa Theodora buscava como exemplo de imperatriz — e pela fragrância espiritual da Santa e Vivificante Cruz.

Eufrosina, a madrasta de Theófilo, também aceitou a tonsura monástica, e provavelmente viveu no mosteiro de Theoktista, visitando até o último de seus dias os confessores aprisionados por Theófilo, servindo-lhes com roupas e alimentos (como foi o caso de São Miguel da Palestina, pai espiritual dos Santos Teófanes e Theodoro, exilado num mosteiro em Constantinopla sob ordens de Theófilo por defender os santos ícones). Poucos anos depois, ambas repousaram no Senhor, e Santa Theodora ordenou que fossem enterradas naquele mesmo mosteiro. Seguindo o exemplo das grandes igrejas de Constantinopla onde as famílias reais desejavam ser sepultadas, Theodora permitiu que toda a sua família pudesse ser enterrada naquele mosteiro.

Heresia iconoclasta e veneração em segredo

Santa Theodora ensinando os filhos à venerar ícones

O imperador Theófilo provava ser mais cruel que seus dois antecessores. Um exemplo da crueldade de Theófilo é o caso dos irmãos Teófanes e Teodoro que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Theófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.

Enquanto os Confessores da Ortodoxia eram perseguidos, torturados e exilados, Santa Theodora mantinha-se prudentemente firme em suas orações, venerando os ícones em segredo. Ensinou cada um de seus filhos a venerá-los em segredo e adotou diversas estratégias para evitar que seus ícones fossem destruídos.

Uma das formas que encontrou para esconder de Theófilo era chamar seus ícones de bonecas. Santa Theodora tinha uma linda coleção de bonequinhas, que as filhas iam ver e brincar com elas com frequência. O imperador não parecia dar importância a esse aparente capricho da esposa.

Certa vez, um servo da corte flagrou a imperatriz venerando um de seus ícones, e este se apressou em denunciá-la a Theófilo. Ao ser confrontada, Theodora muito habilmente contornou as acusações e surpreendentemente não sofreu qualquer punição. Percebendo que, apesar de ter se livrado, precisaria ser mais prudente, suas visitas ao mosteiro fundado por sua mãe se tornaram cada vez mais frequentes.

O espelho e a Panagia de Kathrepti

Panagia de Kathrepti

Em uma ocasião quando a imperatriz se ausentou, Theófilo permaneceu com as crianças, brincando com elas até decidir mandá-las dormir. Porém, em vez de irem para seus aposentos, elas pediram a Panagitsa, assim poderiam fazer orações à Mãe de Deus. "Não temos ícones aqui!", respondeu o imperador, imaginando que fosse algum descuido infantil. Mas uma das crianças disse que queria o ícone que ficava atrás do espelho. Assim que Theófilo descobriu a existência do ícone, ficou enfurecido e o atirou ao fogo. Naquele momento, Theodora entrou no quarto e foi rápida o suficiente para salvar das chamas o seu ícone.

Esse ícone que pertencia a Santa Theodora ficou conhecido como "Do espelho", ou formalmente, Panagia de Kathrepti (gr: Παναγία του Καθρέπτη, literalmente, Panagia do Espelho), e pode ser visto hoje no Mosteiro de São Paulo no Monte Athos. Ainda com marcas do fogo. Ao redor do ícone, há pequenas relíquias.

O ícone foi levado ao Mosteiro por São Paulo, o construtor daquele mosteiro, após uma de suas visitas a Constantinopla. Trouxe o ícone como um presente. Em 1983, São Gerásimos compôs os ofícios de súplica a este ícone milagroso.

Morte de Theófilo

Após doze anos como imperador, Theófilo foi acometido por uma crise forte de disinteria. Sofria alucinações e dores dilacerantes. Apiedando-se do marido, Santa Theodora trouxe um ícone da Mãe de Deus e colocou diante dele, suplicando fervorosamente para que Deus abreviasse seu sofrimento. Ao ver o ícone, Theófilo caiu aos prantos, e teve uma visão terrível que o fez compreender a dimensão de seus erros. À beira da morte, Theófilo arrependeu-se profundamente e confessou a Fé Verdadeira.

Triunfo da Ortodoxia

Ícone do Triunfo da Ortodoxia

Uma vez que Miguel, o único filho do casal, ainda não tinha idade suficiente para assumir o trono, Santa Theodora assumiu a regência do trono. Tinha a seu lado os conselhos sábios de Theoktistos (20 de novembro) e sua primeira ação como imperatriz regente foi convocar um sínodo e restaurar a veneração dos ícones por todo o império, pondo um fim à heresia iconoclasta e aos anos de perseguição aos cristãos ortodoxos. Todos os exilados foram chamados de volta para seu lar, e o império abriu suas portas novamente a Cristo.

Assim, em março de 843, no Primeiro Domingo da Grande Quaresma o sínodo reunido por Santa Theodora oficialmente depôs o patriarca João VII, e deu as boas-vindas a São Methodios, o Confessor (14 de junho). Os decretos do Sétimo Concílio foram reafirmados. Os cristãos de todo o império - Santos Padres, confessores, padres, monges, leigos de toda parte, alguns ainda com as cicatrizes abertas pela fúria iconoclasta, reuniram-se para comemorar o Triunfo da Ortodoxia. Os ícones não mais precisavam ficar escondidos e, assim, todos tiraram seus ícones de suas casas e foram às ruas. Em uma longa procissão, as pessoas erguiam seus ícones e celebravam a vitória de Cristo sobre mais uma heresia.

Esse dia inaugurou a festa até hoje comemorada anualmente por todos os cristãos ortodoxos no primeiro domingo da Quaresma, que passou a ser conhecido como o Domingo da Ortodoxia.

Vida monástica

Com a paz restaurada, Theodora mostrou um talento admirável para o governo, especialmente no âmbito econômico. Além disso, enviou missionários por todo o território da Morávia e da Bulgária. Porém, no âmbito familiar, a situação não era boa. A educação que oferecera a Miguel não triunfou sobre seu coração, que parecia preso aos erros passados de seu pai. Miguel crescia em imoralidade e ingratidão. Além disso, um tio do menino há muito o aconselhava, tão logo o período de regência de Theodora terminasse, obrigasse a mãe e todas as irmãs a se retirarem para um mosteiro. E assim o fez, ascendendo ao trono, Miguel apressou-se a ordenar que a mãe e as irmãs fossem enviadas ao Mosteiro de Gástria (858), ainda que o Patriarca Ignátios se recusasse a tonsurá-las. Longe de ceder ao desespero, a mansa e prudente Theodora aceitava a vontade de Deus e abraçou de bom grado seus dias no mosteiro. Passou-se a dedicar à oração, ao jejum e todas as observâncias de uma vida angélica.

Repouso e relíquias

Repousou pacificamente em 11 de fevereiro de 867. Suas santas relíquias permaneceram e permanecem ainda hoje incorruptas. Seu corpo sobreviveu à queda de Constantinopla em 1453, aos ataques dos otomanos e a um bombardeiro durante a Segunda Guerra Mundial. Juntamente às relíquias de Santo Espiridion, suas relíquias hoje permanecem na cidade grega de Corfu.

Codex 565

Codex 565 escrito por Santa Theodora

O Codex 565, ou a Minúscula 565, é um manuscrito em minúsculas gregas dos Quatro Evangelhos (Tetraevangelion) que data o século IX. O codex foi escrito pela própria Santa Theodora. Junto ao codex 1143, é um dos únicos em miníusculas a ser grafado em ouro sobre um pergaminho de folhas da cor púrpura. O texto possui uma coluna e 17 linhas por página.

Em 1829, foi levado a São Petersburgo e hoje está localizado na Biblioteca Nacional Russa nessa mesma cidade.

Tropário

Tropário de Santa Theodora

Ἀπολυτίκιον (Ἦχος πλ. α’. Τὸν συνάναρχον Λόγον)

Δωρεῶν τῶν ἐνθέων οὖσα ἐπώνυμος, τὴν Ἐκκλησίαν φαιδρύνεις βασιλικαὶς δωρεαίς, ὡς θεόγλυπτος εἰκὼν θείας φρονήσεως, τῶν γὰρ Εἰκόνων τῶν σεπτῶν, τὴν τιμὴν ὡς σχετικήν, ἐτράνωσας Θεοδώρα, τῶν Βασιλίδων ἄκρατης, τῶν Ὀρθοδόξων ἐγκαλλώπισμα


Referências

Notas