Domingo da Ortodoxia

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Domingo da Ortodoxia

O Domingo da Ortodoxia marca o primeiro domingo da Grande Quaresma, e comemora o “Triunfo da Ortodoxia” sobre a heresia iconoclasta. A Epístola lida nesse dia é Hebreus 11:24–26, 32–40; e o Evangelho, João 1:43–51. Originalmente, os Profetas Moisés, Arão e Samuel eram comemorados neste Domingo.

História

Proveniente das origens cristãs e de séculos de perseguições, enriquecido pela difícil busca dogmática dos Concílios, purificado pelas provas do combate contra a heresia iconoclasta, o ícone faz parte de uma grande corrente de Tradição, isto é, da vida interior da Igreja (nos locais de culto, nos cemitérios e nas catacumbas), prolongamento da Encarnação de Deus. As primeiras imagens eram inspiradas em textos bíblicos – cordeiro, Bom Pastor, pomba, peixe, âncora… De fato, o ícone está intimamente ligado ao Evangelho e à Liturgia; é aí que ele se enraíza.

O Domingo da Ortodoxia leva o fiel ortodoxo até o ano de 843, com a vitória dos ícones sobre os iconoclastas num Sínodo em Constantinopla, convocado pela imperatriz, Santa Theodora. Embora sua vitória decisiva tenha só acontecido em 843, os esforços para combater a heresia iniciada por Leão III começaram em 787, no Sétimo Concílio Ecumênico (II Niceia), cujo principal tópico em discussão foi a veneração de ícones, e que reafirmou o papel proeminente da imagem sagrada: “O ícone tende a provar a Encarnação verdadeira e não ilusória de Deus, o Verbo.”

Em 726, Leão III, o Isáurio, investiu contra as imagens, com palavras e gestos violentos. Procurou apoio do Santo Patriarca Germano I de Constantinopla, que lhe resistiu. Em 730, o imperador depôs o Patriarca e conseguiu a eleição de Anastácio, um iconoclasta. Este logo publicou um edito contra as santas imagens – padres e monges foram mutilados e decapitados. Com a morte de Leão III em 741, seu filho, Constantino V, subiu ao trono. Ele queria convocar um Concílio para decidir a questão, mas antes, em 754, escreveu um tratado iconoclasta. Constantino V morreu em 775, e seu filho, Leão IV, mostrou-se mais tolerante que o pai, mas não revogou os decretos.

Leão IV teve morte súbita em 780, sucedendo-lhe sua piedosa esposa como regente de seu filho, a Imperatriz Irene, que logo permitiu o culto dos ícones e, a conselho dos Santos Patriarcas Paulo IV e Tarásio de Constantinopla, convocou o Sétimo Concílio Ecumênico, que se reuniu em 787, em Niceia, onde se reabilitou a intercessão dos santos e o título “Mãe de Deus”. Declarou-se que, às imagens, convém uma veneração honorífica com lamparinas e incenso, pois essa veneração recai sobre o protótipo ou à pessoa representada; ao contrário, a adoração compete somente a Deus.

Em 815, Leão V renovou o iconoclasmo, atribuindo ao culto das imagens as desgraças do Império na guerra contra os árabes. Os decretos de 754 foram postos novamente em vigor. Durante a perseguição aos ortodoxos pelo imperador iconoclasta Teófilo, sua esposa, a Santa Imperatriz Theodora, conservava ícones antigos. Com a morte do imperador, em 842, ela assumiu o governo bizantino. Um de seus primeiros atos, com apoio do Patriarca Metódio I – que havia sido preso por defender a verdadeira Fé –, foi permitir que os ícones pudessem ser novamente pintados, e livremente venerados.

Para celebrar a jubilosa vitória, os ortodoxos organizaram uma solene procissão pelas ruas de Constantinopla com a Santa Cruz e os ícones de Cristo Pantocrator e da Virgem Maria, tendo à frente a imperatriz, seu filho e o Patriarca, com um grande número de membros do clero, monges e fiéis. Este dia ficou conhecido como o dia do “Triunfo da Ortodoxia”, e a partir de março de 843, passou-se a celebrar no primeiro domingo da Grande Quaresma essa data marcante.

Iconografia

“Ícone” vem do grego eikón e significa “imagem”. Um ícone designa pinturas religiosas, feitas com uma técnica particular e segunda uma Tradição que fixou seu conteúdo. Com efeito, o ícone é mais do que uma imagem religiosa, é verdadeiramente arte sacra, que tem um lugar bem determinado no culto litúrgico e na devoção particular, como meio eficaz para conhecer a Deus, à Virgem Maria, aos santos, e para unir-se a eles, imitando-os. Jesus Cristo Se mostrou aos apóstolos transfigurado no Monte Tabor, e eles não somente contemplaram o rosto de Cristo como também Sua glória, a luz da Verdade Divina feita visível aos olhos humanos.[1]

Ao contrário do que acontece com as esculturas, o ícone não pretende apresentar quem nele está retratado como ele teria sido fisicamente, mas sim evidenciar a natureza humana transfigurada pela graça de Deus. O ícone é uma confissão de verdades religiosas e não apenas uma arte que ilustra a Sagrada Escritura: é uma linguagem equivalente àquela que corresponde à pregação evangélica, assim como os textos litúrgicos. Além disso, é uma forma de expressão mais direta, que nos sensibiliza, podendo mostrar de maneira concisa todo o conjunto da liturgia de uma festa ou fixar a atenção sobre o conjunto de um mistério.

A teologia do ícone, como bem explicou São João Damasceno, está embasada na Encarnação, pois “o Verbo Se fez carne”,[2] ou seja, Deus assumiu um corpo material, e com isso mostrou que a matéria pode ser redimida, santificada e ser portadora da graça de Deus. Uma vez que o Verbo Se fez homem, e tomou forma visível por Sua Encarnação, Ele mesmo, os santos e os anjos, transfigurados pelo próprio Cristo, podem ser representados em ícones, e serem honrados através do ícone. Somente um Deus feito homem, portanto visível, pode ser representado. O maior e verdadeiro ícone é o próprio Jesus, segundo palavras do Apóstolo Paulo: “Ele é a imagem do Deus invisível”.[3]

O ícone ajuda a entender as verdades que a inteligência não consegue traduzir em palavras. Segundo São Basílio Magno: “O que a palavra comunica através do ouvido, a pintura mostra silenciosamente por sua representação.” O ícone é como um espelho, no qual se reflete o mundo invisível, as doutrinas e a Tradição da Santa Igreja.

Evangelho

Segundo São João, em quatro dias Jesus constituiu o grupo inicial dos discípulos. Seu encontro com Natanael foi no último dia, e foi Filipe quem o conduziu a Jesus. O nome próprio Natanael vem do hebraico Netan'el, que significa “dado por Deus”.

A visão de Jesus vai além da imediata percepção. O Seu ver é um conhecimento profundo do homem e da sua história. É deste ser visto/conhecido que nasce a abertura à fé e a disponibilidade para o seu seguimento. Como o Senhor conhece o coração do homem, viu em Natanael o “verdadeiro Israel”, que reconhece, não obstante uma primeira resistência, o dom que, em Jesus, Deus fez a toda a humanidade, com Sua graça e salvação. A resposta à pergunta de Natanael suscitou nele a fé sem falsidade.

Entretanto, Jesus fez Natanael se voltar para o futuro: o Céu se abre para Jesus, pois é o Pai que dá testemunho d'Ele, e Ele abrirá o Céu aos Seus discípulos, uma vez que é Ele quem revela a verdade de Deus, e então o cristão poderá compreender a imensa profundidade do mistério de Cristo que abrange o cosmos e dá sentido à história. Em Jesus, o Filho do Homem, Deus desce ao meio dos homens e os homens podem subir até Deus.

Hinos

Tropário

(Cantado pela Catedral Ortodoxa Antioquina de São Paulo; em tom 2)

Veneramos Teu santo ícone, ó Bondoso, /
implorando o perdão de nossas culpas, ó Cristo Deus; /
pois por Tua própria vontade, quiseste subir corporalmente à Cruz, /
para salvar da escravidão do inimigo aqueles que formaste. /
Por isso, dando-Te graças, clamamos: /
Causaste a todos grande alegria, ó nosso Salvador, /
quando vieste para salvar o mundo.

Ligações externas

Referências

  1. Mateus 17:1–8
  2. João 1:14
  3. Colossenses 1:15