Kathisma
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Kathisma (κάθισμα, pl. καθίσματα) é o termo utilizado para a divisão do Livro dos Salmos, escrito pelo santo Profeta Davi, em vinte partes, as quais são lidas durante os ofícios das Vésperas e das Matinas. O termo relaciona-se com a palavra κάθημαι (sentar-se), indicando tratar-se de uma seção de leitura.
Cada um dos vinte kathismata possui três staseis (στάσις, pl. στάσεις), termo semelhante ao conceito ocidental de “estrofe”. Cada stasis é composta por cerca de três Salmos, podendo esse número ser maior ou menor a depender do tamanho do Salmo (por exemplo, a Stasis I do Kathisma III contém somente o Salmo 17, enquanto que a Stasis I do Kathisma XVIII traz os curtos Salmos 119, 120, 121, 122 e 123). O Salmo 118, sendo o maior salmo do livro, é a única exceção em que o Kathisma (XVII) inteiro corresponde a ele.
Kathisma | Stasis I | Stasis II | Stasis III |
---|---|---|---|
I | Salmos 1–3 | Salmos 4–6 | Salmos 7–8 |
II | 9–10 | 11–13 | 14–16 |
III | 17 | 18–20 | 21–23 |
IV | 24–26 | 27–29 | 30–31 |
V | 32–33 | 34–35 | 36 |
VI | 37–39 | 40–42 | 43–45 |
VII | 46–48 | 49–50 | 51–54 |
VIII | 55–57 | 58–60 | 61–63 |
IX | 64–66 | 67 | 68–69 |
X | 70–71 | 72–73 | 74–76 |
XI | 77 | 78–80 | 81–84 |
XII | 85–87 | 88 | 89–90 |
XIII | 91–93 | 94–96 | 97–100 |
XIV | 101–102 | 103 | 104 |
XV | 105 | 106 | 107–108 |
XVI | 109–111 | 112–114 | 115–117 |
XVII | 118:1–72 | 118:73–131 | 118:132–176 |
XVIII | 119–123 | 124–128 | 129–133 |
XIX | 134–136 | 137–139 | 140–142 |
XX | 143–144 | 145–147 | 148–150 |
Terminada uma Stasis, o leitor faz:
- “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
- Aleluia, Aleluia, Aleluia. Glória a Ti, ó Deus. (3x)
- Tem piedade, Senhor. (3x)
- Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.”
…e segue para a Stasis seguinte, se houver.
Índice
Nos ofícios litúrgicos
No Ofício das Matinas, o primeiro Kathisma é lido imediatamente após o canto dos tropários do dia, que sucedem os Hexassalmos. Assim que a leitura é terminada, o sacerdote realiza uma Pequena Litania (se o ofício estiver sendo feito pessoalmente pelo fiel ou sem a presença do sacerdote, troca-se por “Tem piedade, Senhor. (3x) Glória… Agora, sempre…”). Então, é cantado um hino, também chamado de Kathisma I. O hino que será cantado no dia é regido pelo livro litúrgico vigente (Octoechos, Menaion, Triodion, Pentecostarion…). Terminado o hino, a mesma coisa se repete para o segundo Kathisma das Matinas: ele é lido, o sacerdote realiza outra Pequena Litania e canta-se um outro hino, chamado de Kathisma II, que também é dado pelo livro vigente.
Terceiro Kathisma ou Polyeleos
Com o fim desse hino, o terceiro Kathisma é lido. Nos dias em que não há um terceiro Kathisma nas Matinas (como no calendário 1 abaixo), canta-se o Polyeleos (πολυέλεος). Esse termo refere-se ao canto dos Salmos 134 e 135, usando a palavra “Aleluia” para separar os versículos do Salmo 134 e duas vezes para separar os versículos do Salmo 135. A depender da festa comemorada no dia, o livro litúrgico pode ainda definir um Eklogi (ἐκλογή), um conjunto de versículos do Livro dos Salmos escolhidos em honra à festa do dia. Depois do último versículo do Eklogi, ainda pode haver um hino à Santíssima Trindade (chamado de Triadikon) e um hino à Mãe de Deus (chamado de Theotokion).
A seguir, estão três exemplos do Polyeleos sendo cantado nas Matinas:
- Salmo 134 cantado no Monte Athos
- Salmo 135 cantado por São Paísios no Monte Athos
- Salmos 134, 135 e Eklogi cantados pelo Ancião Efraim do Mosteiro de Xiropotamos
Por fim, após a leitura do terceiro Kathisma ou o canto do Polyeleos, canta-se ainda outro hino, chamado de Kathisma III (igualmente fornecido pelo livro vigente). Se não há terceiro Kathisma e o Polyeleos é cantado em seu lugar, significa que o coral (ou o fiel) canta ininterruptamente por dezenas de minutos: desde o hino do Kathisma II até o hino do Kathisma III. Após uma última Pequena Litania realizada pelo sacerdote (ou sua substituição mencionada acima), o Ofício das Matinas é continuado normalmente.
Nota sobre a utilização de traduções para o português
Entretanto, todas as traduções das Sagradas Escrituras do Antigo Testamento para a língua portuguesa utilizam como base o Texto Massorético — uma reescrita do cânone judaico realizada e mantida por uma tribo de escribas judeus que se situavam ao redor do Mar da Galileia na Palestina (mais especificamente na cidade de Tiberíades) durante a Alta Idade Média (sécs. V a X). Esse texto reflete uma série de mudanças feitas pelo Rabinato Palestino a partir do século I de forma a subverter as profecias contidas no Antigo Testamento que apontassem a Cristo como Messias e Deus, bem como alterar passagens referenciadas pelo Novo Testamento.
A mudança que afeta a leitura dos kathismata não é exatamente essa subversão, mas sim um erro de divisão que os escribas empregaram durante a separação dos salmos logo ao início do Livro dos Salmos — digno do apreço que tinham pela Palavra de Deus —, o que acabou comprometendo a numeração. O leitor que utilizar uma tradução das Sagradas Escrituras para o português conseguirá seguir, na tabela acima, apenas o Kathisma I. Isso se deve ao fato do Texto Massorético ter dividido o Salmo 10 em dois: 10 e 11. Daí em diante, a numeração dos Salmos na Septuaginta é afetada, uma vez que o Salmo 11 passa a corresponder ao 12 massorético, o Salmo 12 ao 13 massorético, etc.
Dessa forma, a partir do Salmo 10, o leitor precisa acrescentar 1 ao número indicado para que corresponda ao salmo contido em sua tradução. O Kathisma II, que na Septuaginta é “9–10; 11–13; 14–16” passa a corresponder a “9–11; 12–14; 15–17” no Texto Massorético. Isso se repete pelos kathismata seguinte.
No Kathisma XVI, mais um erro de divisão ocorre, dessa vez envolvendo os versículos. O último versículo do Salmo 114 não termina no último versículo do salmo massorético 115, mas sim no 116:9. Com efeito, o Salmo 115 começa no massorético 116:10. Os Salmos seguintes não apresentam mais erros nos versículos, embora continuem com a adição de 1 ao número do salmo.
No Kathisma XX, como que em arrependimento, o escriba retorna à numeração correta através da aglutinação dos Salmos 146 e 147 em um só: o massorético 147. Daí em diante, a numeração dos Salmos é a mesma.
Calendário de leituras
Assim como o calendário de leituras para as epístolas e os evangelhos, o calendário dos Kathismata inicia seu ciclo no Domingo de Páscoa. Ainda assim, nenhum Kathisma é lido durante a Semana Luminosa, motivo pelo qual começamos a contá-los a partir do Domingo de São Tomé. Fora da Grande Quaresma, interpretamos o calendário de duas formas diferentes:
- Do Domingo de São Tomé à Despedida da Festa da Santa Cruz (21 de setembro): Calendário 1
- De 22 de setembro ao dia anterior à Pré-festa da Natividade (19 de dezembro): Calendário 2
- Da Pré-festa da Natividade (20 de dezembro) à Despedida da Festa da Teofania (14 de janeiro): Calendário 1
- De 15 de janeiro ao dia anterior ao Domingo do Filho Pródigo: Calendário 2
- Do Domingo do Filho Pródigo ao Domingo do Perdão: Calendário 1
Kathisma | Vésperas | Matinas |
---|---|---|
Domingo | I | II e III |
Segunda-feira | — | IV e V |
Terça-feira | VI | VII e VIII |
Quarta-feira | IX | X e XI |
Quinta-feira | XII | XIII e XIV |
Sexta-feira | XV | XIX e XX |
Sábado | XVIII | XVI e XVII |
Kathisma | Vésperas | Matinas |
---|---|---|
Domingo | I | II e III |
Segunda-feira | — | IV, V e VI |
Terça-feira | XVIII | VII, VIII e IX |
Quarta-feira | X, XI e XII | |
Quinta-feira | XIII, XIV e XV | |
Sexta-feira | XIX e XX | |
Sábado | XVI e XVII |