Diferenças entre edições de "Theodora, a Augusta"
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Em uma ocasião quando a imperatriz se ausentou, Theófilo permaneceu com as crianças, brincando com elas até decidir mandá-las dormir. Porém, em vez de irem para seus aposentos, elas pediram a Panagitsa, assim poderiam fazer orações à Mãe de Deus. "Não temos ícones aqui!", respondeu o imperador, imaginando que fosse algum descuido infantil. Mas uma das crianças disse que queria o ícone que ficava atrás do espelho. Assim que Theófilo descobriu a existência do ícone, ficou enfurecido e o atirou ao fogo. Naquele momento, Theodora entrou no quarto e foi rápida o suficiente para salvar das chamas o seu ícone. | Em uma ocasião quando a imperatriz se ausentou, Theófilo permaneceu com as crianças, brincando com elas até decidir mandá-las dormir. Porém, em vez de irem para seus aposentos, elas pediram a Panagitsa, assim poderiam fazer orações à Mãe de Deus. "Não temos ícones aqui!", respondeu o imperador, imaginando que fosse algum descuido infantil. Mas uma das crianças disse que queria o ícone que ficava atrás do espelho. Assim que Theófilo descobriu a existência do ícone, ficou enfurecido e o atirou ao fogo. Naquele momento, Theodora entrou no quarto e foi rápida o suficiente para salvar das chamas o seu ícone. | ||
Revisão das 23h13min de 18 de novembro de 2023
Santa Theodora, Imperatriz | |
Αγία Θεοδώρα η Αυγούστα |
Santa Theodora, Imperatriz e Protetora da Ortodoxia (séc. IX) foi imperatriz nos tempos da heresia iconoclasta. É conhecida por ter posto fim à iconoclastia, permitindo que os ícones fossem novamente venerados e, assim, restaurou a Ortodoxia em todo o império. Finalizou seus dias pacificamente em um mosteiro. Sua memória é comemorada pela Igreja em 11 de fevereiro, data de seu repouso. É também lembrada no primeiro domingo da Grande Quaresma, o chamado Domingo da Ortodoxia.
Vida
Primeiros anos
Vinda de uma família nobre que há muito vivia em Constantinopla, Santa Theodora nasceu em 815 em uma vila da Paflagônia, Possivelmente a quarta de cinco irmãos - Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene -, Theodora desde cedo se destacava em sua Fé inabalável herdada de sua mãe Theoktista. Dotada de grande beleza física e espiritual, Theodora foi instruída desde a infância por sua mãe e seguiu seus passos ao longo de sua vida. Quando era ainda criança, seu pai - um oficial da corte imperial - faleceu e sua mãe retirou-se do mundo para abraçar o monasticismo.
No mesmo ano de seu nascimento, o herético imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos. Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o por Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia.
Casamento com o imperador
Em 829, com a morte do imperador Miguel II (820–829), seu filho Theófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. Conta-se a imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Santa Theodora e Santa Cassiani. Postas as seis diante de Theófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida.
Theófilo escolheu a bela Cassiani, mas antes de dar-lhe a maçã quis testá-la, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria da santa, que acentuara o “sim” da Mãe de Deus — a nova Eva — em detrimento do pecado da velha Eva, Theófilo afastou-se dela e deu o fruto a Theodora, sem saber que sua escolhida era também uma cristã devota, com a diferença que a devoção de Santa Theodora era mansa e paciente. Assim, Theodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiani renunciou ao mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa Cassiani, a Melodista.
Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Theodora cumpriu fielmente seus deveres de esposa e imperatriz desde os quinze anos.
Vida como mãe e esposa
Em 831, aos dezesseis anos, Theodora deu à luz a Tekla, cujo nome herdou da avô paterna. Até 834, respectivamente, as gêmeas Ana e Anastácia, e Constantino já haviam nascido. Herdeiro do trono imperial, o recém-nascido Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Até 840, o casal teve também Pulquéria, Maria e Miguel.
Como Theófilo temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de sua filha Maria, ainda recém-nascida, ao patrício Alexios, que já tinha idade o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados. Porém, a menina jamais viria a se casar com ele, uma vez que faleceu aos quatro anos. Pelas mesmas razões políticas, como era comum na época, o imperador ofereceu sua filha Tekla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular. Enquanto Theófilo passava seu tempo exilando cristãos ortodoxos e acumulando fracassos em cada guerra iniciada, Santa Theodora permanecia firme na verdadeira Fé. O pretexto de cuidar de seus filhos permitia-lhe isolar-se nos aposentos imperiais, longe do marido.
A santa possuía notáveis habilidades como governante, algo que incitava a inveja do marido. Descendendo de uma família de comerciantes navais, Santa Theodora tinha a confiança dos marinheiros, e fomentou o comércio entre as províncias, garantindo a melhora da economia das cidades mais distantes.
Certa vez, por inveja, Theófilo ordenou que um navio e sua embarcação fossem incendiados após descobrir que ele pertencia a Santa Theodora, dizendo: “Por acaso fizeste de mim, que sou imperador, um comerciante?” Hoje, os achados arqueológicos apontam que a quantidade de moedas com o rosto de Santa Theodora, Theófilo ou seus filhos encontrados nas províncias mais distantes de Constantinopla é maior do que as de qualquer outro governante anterior a eles, provando que a imperatriz ampliou o contato entre as províncias e a capital. Com o auxílio de Santa Theodora, os cristãos também foram capazes de enviar secretamente embarcações com mantimentos às ilhas onde os santos confessores eram exilados, como a Ilha de Afousia no Mar de Mármara.
Como era o costume dos imperadores naquela época, Santa Theodora e Theófilo visitavam a Igreja da Mãe de Deus de Blaquerna, (ver fotos) distante cinco quilômetros do Palácio Imperial, quase que semanalmente nas sextas-feiras, quando os ofícios à Mãe de Deus eram nela celebrados. Blaquerna era o distrito mais setentrional protegido pelos muros de Constantinopla, e tanto Theófilo como seu pai Miguel II trabalharam para fortificar os muros e os portões de Blaquerna (ver fotos) dos ataques dos búlgaros pagãos. Durante o caminho, Theófilo permitia que aqueles que se sentissem injustiçados em quaisquer assuntos civis pudessem se aproximar dele para suas apelações, como uma forma de manter seu apoio entre o povo e investigar os oficiais do governo que fossem denunciados por eles. Santa Theodora, porém, passava o tempo todo em oração, e adentrava a igreja com reverência e lamentação pelos ícones e mosaicos destruídos pelos iconoclastas, os quais eram substituídos por ídolos pagãos.
A igreja possuía uma grande sala de banho cuja água vinha da fonte sagrada da Mãe de Deus, na qual somente o imperador ou a imperatriz podiam se banhar. Santa Theodora usava o pretexto do banho para trancar-se na igreja em oração, enquanto Theófilo permanecia com a corte no Palácio de Blaquerna, vizinho à igreja. Talvez Santa Theodora soubesse que o Ícone da Mãe de Deus de Blaquerna havia sido salvo dos iconoclastas e estava escondido dentro da parede da igreja, tal como seria revelado quase duzentos anos depois durante obras de restauração.
Mosteiro feminino de Theoktista
Sua mãe Theoktista havia sido honrada com o título de patrícia pela mãe de Theófilo, e isso permitiu à monja comprar um terreno no porto de Psamátheia na costa sul de Constantinopla, próximo às muralhas erguidas por São Constantino (306–337) para delimitar a cidade no século IV. Esse terreno era conhecido como Gastríon, plural grego para “vasos”, uma vez que, ainda no século IV, Santa Helena havia descarregado naquele lugar vários vasos contendo os aromas de manjericão encontrados no Calvário de Cristo.
Após comprar a casa, Theoktista transformou-a de novo num mosteiro feminino ainda na década de 830, e lá era visitada por sua filha, Santa Theodora, e também por suas netas. A imperatriz frequentemente deixava suas filhas com a avó, pois sabia que naquele mosteiro elas seriam educadas na Verdadeira Fé e na veneração secreta dos santos ícones, amparadas pelas intercessões de Santa Helena — a quem Santa Theodora buscava como exemplo de imperatriz — e pela fragrância espiritual da Santa e Vivificante Cruz.
Eufrosina, a madrasta de Theófilo, também aceitou a tonsura monástica, e provavelmente viveu no mosteiro de Theoktista, visitando até o último de seus dias os confessores aprisionados por Theófilo, servindo-lhes com roupas e alimentos (como foi o caso de São Miguel da Palestina, pai espiritual dos Santos Teófanes e Theodoro, exilado num mosteiro em Constantinopla sob ordens de Theófilo por defender os santos ícones). Poucos anos depois, ambas repousaram no Senhor, e Santa Theodora ordenou que fossem enterradas naquele mesmo mosteiro. Seguindo o exemplo das grandes igrejas de Constantinopla onde as famílias reais desejavam ser sepultadas, Theodora permitiu que toda a sua família pudesse ser enterrada naquele mosteiro.
Heresia iconoclasta e veneração em segredo
O imperador Theófilo provava ser mais cruel que seus dois antecessores. Um exemplo da crueldade de Theófilo é o caso dos irmãos Teófanes e Teodoro que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Theófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.
Enquanto os Confessores da Ortodoxia eram perseguidos, torturados e exilados, Santa Theodora mantinha-se prudentemente firme em suas orações, venerando os ícones em segredo. Ensinou cada um de seus filhos a venerá-los em segredo e adotou diversas estratégias para evitar que seus ícones fossem destruídos.
Uma das formas que encontrou para esconder de Theófilo era chamar seus ícones de bonecas. Santa Theodora tinha uma linda coleção de bonequinhas, que as filhas iam ver e brincar com elas com frequência. O imperador não parecia dar importância a esse aparente capricho da esposa.
Certa vez, um servo da corte flagrou a imperatriz venerando um de seus ícones, e este se apressou em denunciá-la a Theófilo. Ao ser confrontada, Theodora muito habilmente contornou as acusações e surpreendentemente não sofreu qualquer punição. Percebendo que, apesar de ter se livrado, precisaria ser mais prudente, suas visitas ao mosteiro fundado por sua mãe se tornaram cada vez mais frequentes.
O espelho e a Panagia de Kathrepti
Em uma ocasião quando a imperatriz se ausentou, Theófilo permaneceu com as crianças, brincando com elas até decidir mandá-las dormir. Porém, em vez de irem para seus aposentos, elas pediram a Panagitsa, assim poderiam fazer orações à Mãe de Deus. "Não temos ícones aqui!", respondeu o imperador, imaginando que fosse algum descuido infantil. Mas uma das crianças disse que queria o ícone que ficava atrás do espelho. Assim que Theófilo descobriu a existência do ícone, ficou enfurecido e o atirou ao fogo. Naquele momento, Theodora entrou no quarto e foi rápida o suficiente para salvar das chamas o seu ícone.
Esse ícone que pertencia a Santa Theodora ficou conhecido como "Do espelho", ou formalmente, Panagia de Kathrepti (gr: Παναγία του Καθρέπτη, literalmente, Panagia do Espelho), e pode ser visto hoje no Mosteiro de São Paulo no Monte Athos. Ainda com marcas do fogo. Ao redor do ícone, há pequenas relíquias.
O ícone foi levado ao Mosteiro por São Paulo, o construtor daquele mosteiro, após uma de suas visitas a Constantinopla. Trouxe o ícone como um presente. Em 1983, São Gerásimos compôs os ofícios de súplica a este ícone milagroso.
Morte de Theófilo
Após doze anos como imperador, Theófilo foi acometido por uma crise forte de disinteria. Sofria alucinações e dores dilacerantes. Apiedando-se do marido, Santa Theodora trouxe um ícone da Mãe de Deus e colocou diante dele, suplicando fervorosamente para que Deus abreviasse seu sofrimento. Ao ver o ícone, Theófilo caiu aos prantos, e teve uma visão terrível que o fez compreender a dimensão de seus erros. À beira da morte, Theófilo arrependeu-se profundamente e confessou a Fé Verdadeira.
Triunfo da Ortodoxia
Uma vez que Miguel, o único filho do casal, ainda não tinha idade suficiente para assumir o trono, Santa Theodora assumiu a regência do trono. Tinha a seu lado os conselhos sábios de Theoktistos (20 de novembro) e sua primeira ação como imperatriz regente foi convocar um sínodo e restaurar a veneração dos ícones por todo o império, pondo um fim à heresia iconoclasta e aos anos de perseguição aos cristãos ortodoxos. Todos os exilados foram chamados de volta para seu lar, e o império abriu suas portas novamente a Cristo.
Assim, em março de 843, no Primeiro Domingo da Grande Quaresma o sínodo reunido por Santa Theodora oficialmente depôs o patriarca João VII, e deu as boas-vindas a São Methodios, o Confessor (14 de junho). Os decretos do Sétimo Concílio foram reafirmados. Os cristãos de todo o império - Santos Padres, confessores, padres, monges, leigos de toda parte, alguns ainda com as cicatrizes abertas pela fúria iconoclasta, reuniram-se para comemorar o Triunfo da Ortodoxia. Os ícones não mais precisavam ficar escondidos e, assim, todos tiraram seus ícones de suas casas e foram às ruas. Em uma longa procissão, as pessoas erguiam seus ícones e celebravam a vitória de Cristo sobre mais uma heresia.
Esse dia inaugurou a festa até hoje comemorada anualmente por todos os cristãos ortodoxos no primeiro domingo da Quaresma, que passou a ser conhecido como o Domingo da Ortodoxia.
Vida monástica
Com a paz restaurada, Theodora mostrou um talento admirável para o governo, especialmente no âmbito econômico. Além disso, enviou missionários por todo o território da Morávia e da Bulgária. Porém, no âmbito familiar, a situação não era boa. A educação que oferecera a Miguel não triunfou sobre seu coração, que parecia preso aos erros passados de seu pai. Miguel crescia em imoralidade e ingratidão. Além disso, um tio do menino há muito o aconselhava, tão logo o período de regência de Theodora terminasse, obrigasse a mãe e todas as irmãs a se retirarem para um mosteiro. E assim o fez, ascendendo ao trono, Miguel apressou-se a ordenar que a mãe e as irmãs fossem enviadas ao Mosteiro de Gástria (858), ainda que o Patriarca Ignátios se recusasse a tonsurá-las. Longe de ceder ao desespero, a mansa e prudente Theodora aceitava a vontade de Deus e abraçou de bom grado seus dias no mosteiro. Passou-se a dedicar à oração, ao jejum e todas as observâncias de uma vida angélica.
Repouso e relíquias
Repousou pacificamente em 11 de fevereiro de 867. Suas santas relíquias permaneceram e permanecem ainda hoje incorruptas. Seu corpo sobreviveu à queda de Constantinopla em 1453, aos ataques dos otomanos e a um bombardeiro durante a Segunda Guerra Mundial. Juntamente às relíquias de Santo Espiridion, suas relíquias hoje permanecem na cidade grega de Corfu.
Codex 565
O Codex 565, ou a Minúscula 565, é um manuscrito em minúsculas gregas dos Quatro Evangelhos (Tetraevangelion) que data o século IX. O codex foi escrito pela própria Santa Theodora. Junto ao codex 1143, é um dos únicos em miníusculas a ser grafado em ouro sobre um pergaminho de folhas da cor púrpura. O texto possui uma coluna e 17 linhas por página.
Em 1829, foi levado a São Petersburgo e hoje está localizado na Biblioteca Nacional Russa nessa mesma cidade.
Tropário
Tropário de Santa Theodora
Ἀπολυτίκιον (Ἦχος πλ. α’. Τὸν συνάναρχον Λόγον)
Δωρεῶν τῶν ἐνθέων οὖσα ἐπώνυμος, τὴν Ἐκκλησίαν φαιδρύνεις βασιλικαὶς δωρεαίς, ὡς θεόγλυπτος εἰκὼν θείας φρονήσεως, τῶν γὰρ Εἰκόνων τῶν σεπτῶν, τὴν τιμὴν ὡς σχετικήν, ἐτράνωσας Θεοδώρα, τῶν Βασιλίδων ἄκρατης, τῶν Ὀρθοδόξων ἐγκαλλώπισμα
Referências
- São Nicodemos do Monte Athos Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo I.
- São Demétrio, Metropolita de Rostóvia. A vida dos santos. Livro VI.
- São Nikolai (Velimirovich) Bispo de Ócrida. O prólogo de Ócrida. Volume I.
Notas
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