Theodora, a Augusta

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Santa Theodora, Imperatriz
miniatura
Αγία Θεοδώρα η Αυγούστα

Santa Theodora, Imperatriz e Protetora da Ortodoxia (séc. IX) foi imperatriz nos tempos da heresia iconoclasta. É conhecida por ter posto fim à iconoclastia, permitindo que os ícones fossem novamente venerados e, assim, restaurou a Ortodoxia em todo o império. Finalizou seus dias pacificamente em um mosteiro. Sua memória é comemorada pela Igreja em 11 de fevereiro, data de seu repouso. É também lembrada no primeiro domingo da Grande Quaresma, o chamado Domingo da Ortodoxia.

Vida

Primeiros anos

Santa Theodora nasceu em 815 numa pequena vila da Paflagônia, na costa norte da Ásia Menor (atual Turquia), vinda de uma ilustre família de oficiais armênios da corte imperial. [1] Theodora era possivelmente a quarta de cinco irmãos - Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene -, e se destacava em sua Fé inabalável herdada de sua mãe, que após se tornou viúva e aceitou o monasticismo sob o nome de Teoctista quando Theodora era ainda criança. Dotada de grande beleza física e espiritual, Theodora foi instruída desde a infância por sua piedosa mãe Florina.

No mesmo ano de seu nascimento, o herético imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos. Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o por Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia.

Casamento

Em 829, com a morte do imperador Miguel II (820–829), seu filho Theófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. Conta-se a imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Santa Theodora e Santa Cassiani. Postas as seis diante de Theófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida.

Theófilo escolheu a bela Cassiani, mas antes de dar-lhe a maçã quis testá-la, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria da santa, que acentuara o “sim” da Mãe de Deus — a nova Eva — em detrimento do pecado da velha Eva, Theófilo afastou-se dela e deu o fruto a Theodora, sem saber que sua escolhida era também uma cristã devota, com a diferença que a devoção de Santa Theodora era mansa e paciente. Assim, Theodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiani renunciou ao mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa Cassiani, a Melodista.

Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Theodora cumpriu fielmente seus deveres de esposa e imperatriz desde os quinze anos. Através de suas orações e seu exemplo de gentileza e paciência, a jovem tentava afastar a crueldade e as blasfêmias cometidas por Theófilo contra os cristãos ortodoxos. O imperador que provou ser mais cruel que seus dois antecessores. Um exemplo da crueldade de Theófilo é o caso dos irmãos Teófanes e Teodoro que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Theófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.

Imperatriz e mãe

Em 831, aos dezesseis anos, Theodora deu à luz a Tekla, cujo nome herdou da avô paterna. Até 834, respectivamente, as gêmeas Ana e Anastácia, e Constantino já haviam nascido. Herdeiro do trono imperial, o recém-nascido Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Até 840, o casal teve também Pulquéria, Maria e Miguel.

Como Theófilo temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de sua filha Maria, ainda recém-nascida, ao patrício Alexios, que já tinha idade o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados. Porém, a menina jamais viria a se casar com ele, uma vez que faleceu aos quatro anos. Pelas mesmas razões políticas, como era comum na época, o imperador ofereceu sua filha Tekla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular.

Enquanto Theófilo passava seu tempo exilando cristãos ortodoxos e acumulando fracassos em cada guerra iniciada, Santa Theodora permanecia firme na verdadeira Fé. O pretexto de cuidar de seus filhos permitia-lhe isolar-se nos aposentos imperiais, longe do marido.

Visitas ao mosteiro

Santa Theodora ensinando os filhos à venerar ícones

Sua mãe Teoctista havia sido honrada com o título de patrícia pela mãe de Theófilo, e isso permitiu à monja comprar um terreno no porto de Psamátheia na costa sul de Constantinopla, próximo às muralhas erguidas por São Constantino (306–337) para delimitar a cidade no século IV. Esse terreno era conhecido como Gastríon, plural grego para “vasos”, uma vez que, ainda no século IV, Santa Helena havia descarregado naquele lugar vários vasos contendo os aromas de manjericão encontrados no Calvário de Cristo.

Após comprar a casa, Teoctista transformou-a de novo num mosteiro feminino ainda na década de 830, e lá era visitada por sua filha, Santa Theodora, e também por suas netas. A imperatriz frequentemente deixava suas filhas com a avó, pois sabia que naquele mosteiro elas seriam educadas na Verdadeira Fé e na veneração secreta dos santos ícones, amparadas pelas intercessões de Santa Helena — a quem Santa Theodora buscava como exemplo de imperatriz — e pela fragrância espiritual da Santa e Vivificante Cruz.

Eufrosina, a madrasta de Theófilo, também aceitou a tonsura monástica, e provavelmente viveu no mosteiro de Teoctista, visitando até o último de seus dias os confessores aprisionados por Theófilo, servindo-lhes com roupas e alimentos (como foi o caso de São Miguel da Palestina, pai espiritual dos Santos Teófanes e Theodoro, exilado num mosteiro em Constantinopla sob ordens de Theófilo por defender os santos ícones). Poucos anos depois, Teoctista e Eufrosina repousaram no Senhor, e Santa Theodora ordenou que fossem enterradas naquele mesmo mosteiro. Seguindo o exemplo das grandes igrejas de Constantinopla onde as famílias reais desejavam ser sepultadas, Theodora permitiu que toda a sua família íntima pudesse ser enterrada naquele mosteiro.

As visitas de Santa Theodora ao mosteiro enfureciam Theófilo, e o enfureciam ainda mais as habilidades da imperatriz como governante que era quanto mais as suas habilidades como governante que, diferente das de Theófilo, logravam sucesso. Descendendo de uma família de comerciantes navais, Santa Theodora tinha a confiança dos marinheiros, e fomentou o comércio entre as províncias, garantindo a melhora da economia das cidades mais distantes. Certa vez, por inveja, Theófilo ordenou que um navio e sua embarcação fossem incendiados após descobrir que ele pertencia a Santa Theodora, dizendo: “Por acaso fizeste de mim, que sou imperador, um comerciante?” Hoje, os achados arqueológicos apontam que a quantidade de moedas com o rosto de Santa Theodora, Theófilo ou seus filhos encontrados nas províncias mais distantes de Constantinopla é maior do que as de qualquer outro governante anterior a eles, provando que a imperatriz ampliou o contato entre as províncias e a capital. Com o auxílio de Santa Theodora, os cristãos também foram capazes de enviar secretamente embarcações com mantimentos às ilhas onde os santos confessores eram exilados, como a Ilha de Afousia no Mar de Mármara.

Como era o costume dos imperadores naquela época, Santa Theodora e Theófilo visitavam a Igreja da Mãe de Deus de Blaquerna, (ver fotos) distante cinco quilômetros do Palácio Imperial, quase que semanalmente nas sextas-feiras, quando os ofícios à Mãe de Deus eram nela celebrados. Blaquerna era o distrito mais setentrional protegido pelos muros de Constantinopla, e tanto Theófilo como seu pai Miguel II trabalharam para fortificar os muros e os portões de Blaquerna (ver fotos) dos ataques dos búlgaros pagãos. Durante o caminho, Theófilo permitia que aqueles que se sentissem injustiçados em quaisquer assuntos civis pudessem se aproximar dele para suas apelações, como uma forma de manter seu apoio entre o povo e investigar os oficiais do governo que fossem denunciados por eles. Santa Theodora, porém, passava o tempo todo em oração, e adentrava a igreja com reverência e lamentação pelos ícones e mosaicos destruídos pelos iconoclastas, os quais eram substituídos por ídolos pagãos.

A igreja possuía uma grande sala de banho cuja água vinha da fonte sagrada da Mãe de Deus, na qual somente o imperador ou a imperatriz podiam se banhar. Santa Theodora usava o pretexto do banho para trancar-se na igreja em oração, enquanto Theófilo permanecia com a corte no Palácio de Blaquerna, vizinho à igreja. Talvez Santa Theodora soubesse que o Ícone da Mãe de Deus de Blaquerna havia sido salvo dos iconoclastas e estava escondido dentro da parede da igreja, tal como seria revelado quase duzentos anos depois durante obras de restauração.


Ícone do Triunfo da Ortodoxia

Tropário

Tropário de Santa Theodora

Ἀπολυτίκιον (Ἦχος πλ. α’. Τὸν συνάναρχον Λόγον)

Δωρεῶν τῶν ἐνθέων οὖσα ἐπώνυμος, τὴν Ἐκκλησίαν φαιδρύνεις βασιλικαὶς δωρεαίς, ὡς θεόγλυπτος εἰκὼν θείας φρονήσεως, τῶν γὰρ Εἰκόνων τῶν σεπτῶν, τὴν τιμὴν ὡς σχετικήν, ἐτράνωσας Θεοδώρα, τῶν Βασιλίδων ἄκρατης, τῶν Ὀρθοδόξων ἐγκαλλώπισμα


Referências

Notas

  1. Essa vila, não localizada porém conhecida como “Ebissa”, provavelmente correspondia à propriedade rural dessa família, próxima às florestas dos Montes Paríadres e à estrada que levava a Claudiópolis na Honória e, de lá, a Constantinopla, visto que os armênios eram conhecidos naquele tempo como comerciantes navais do Mar Negro.