Apóstolo Tito

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São Tito.

O Santo Apóstolo Tito (séc. II) foi um dos setenta discípulos, ordenado fundador da Igreja de Creta pelo santo Apóstolo Paulo, liderando-a de 64 a 105. Sua memória é celebrada pela Igreja no dia 25 de agosto, em 15 de maio pela transladação de suas relíquias e 4 de janeiro na Sinaxe dos Setenta Apóstolos.

Vida

Tito nasceu no início do século I na ilha de Creta, filho de uma nobre família pagã. Em sua juventude, Tito dedicou-se à Filosofia helenística e aos poetas clássicos. Amante da ciência, o jovem levava uma vida virtuosa, não se entregando aos vícios e às paixões comuns à maioria dos pagãos, além de nunca ter ido atrás de mulher alguma como companhia. Suas virtudes não passaram despercebidas a Deus e, aos vinte anos de idade, Tito ouviu uma voz em um sonho, pedindo que largasse a sabedoria dos gregos — a qual jamais traria a salvação à sua alma — e buscasse a que pudesse salvá-lo do mundo.

Tito, então, aprofundou-se nos livros dos santos profetas de Deus, e familiarizou-se com os seus ensinamentos. Depois de um ano estudando as Escrituras dos judeus, o jovem encontrava-se lendo o Livro do Profeta Isaías quando, ao ler seu quadragésimo sétimo capítulo, enxergou sua própria vida espiritual naquelas palavras. A cada capítulo que lia, mais e mais aumentava seu desejo pela salvação.

Quando as notícias de que um grande profeta operava milagres na Palestina chegaram à ilha, Tito implorou ao seu tio, então governador de Creta, e este arranjou-lhe uma embarcação rumo à Terra Santa. Quando chegou lá, correu em busca do profeta, e finalmente encontrou-o. Era o próprio Senhor, Jesus Cristo, que ensinava nos templos dos judeus e repreendia a corrupção de Seu povo. Tito fascinou-se com sua pregação, e não quis mais voltar a Creta, mas sim segui-Lo por toda a Sua vida.

De fato, mesmo após a Crucificação de Jesus e Sua gloriosa Ascensão aos Céus, Tito permaneceu com os outros discípulos, e foi digno de presenciar o dom do Espírito de Deus descendo aos Doze Apóstolos no dia de Pentecostes e ouvi-los falar, dentre outras, na língua cretense. Tito recebeu o Santo Batismo através de São Paulo, e acompanhou-o em suas jornadas missionárias na Anatólia e na Grécia, cumprindo as tarefas a ele designadas.

Quando reencontrou-se com São Paulo na Macedônia, este alegrou-se muito por poder revê-lo, e escreveu a Segunda Epístola aos Coríntios, a qual Tito levou de volta à Acaia. Ao se reencontrarem em Corinto, Tito foi encarregado da coleta de esmolas aos cristãos em Jerusalém. Após retornar do (primeiro) cárcere em Roma, São Paulo partiu a Creta para instruir os cristãos de lá, e pediu para que Tito ficasse na ilha, onde foi feito primeiro Bispo de Creta. Depois, Tito deixou Creta para acompanhá-lo na Dalmácia (atual Sérvia), e o santo Apóstolo Artemas tornou-se Bispo de Creta durante os dois anos que São Tito esteve fora.

Pouco antes de ser novamente encarcerado em Roma e ser martirizado pelo Imperador Nero (54–68), São Paulo compôs uma epístola ao bispo, incluída no cânone bíblico como “Epístola a Tito”, instruindo-o a como um hierarca deveria se portar e a conduta moral a qual sua Igreja deveria seguir. Tito acompanhou o apóstolo na prisão, e voltou a Creta após seu glorioso martírio, onde retomou a cátedra, instituiu bispos para outras cidades da ilha e tornou-se Arcebispo de Creta. Santo Artemas, então, foi feito Bispo de Listra na Galácia.

São Tito foi um guia pacífico ao seu rebanho e perseverante na conversão dos pagãos, e foi agraciado com o dom da taumaturgia. Certa vez, durante a Nemorália em agosto, quando os pagãos adoravam a deusa Diana, o santo hierarca orava incessantemente para que o Senhor mostrasse-os a ilusão pela qual estavam submetidos. Então, o ídolo de Diana começou a tremer, e quebrou-se em cacos perante os olhos de todos. Outra vez, enquanto os pagãos construíam um templo a Zeus, as orações de São Tito fizeram com que o templo desmoronasse. Nesses e em vários outros milagres, São Tito trouxe à Fé inúmeros pagãos cretenses, e foi concedido que vivesse até os noventa e sete anos de idade, adentrando o Reino dos Céus pacificamente em 105, durante a Perseguição do Imperador Trajano (98–117).

Pós-vida

Catedral de São Tito em Heraclião.

São Tito tornou-se padroeiro de toda a ilha de Creta. A primeira Catedral de São Tito foi destruída por um terremoto no século IX em Gortina, mas suas ruínas existem até hoje. (ver fotos) Em 961, quando o santo Imperador Nicéforo II (963–969), então general do exército sob Romano II (945–963), salvou Creta do domínio islâmico, uma catedral foi construída em honra a São Tito em Heraclião. A sé cretense foi então mudada de Gortina a Heraclião, que era a capital da ilha desde o domínio islâmico, junto com todas as relíquias.

Com a eclosão da Quarta Cruzada (1202–1204), Creta resistiu por oito anos os ataques ocidentais, até cair nas mãos dos latinos em 1210. Quando as igrejas foram pilhadas, a maior parte das relíquias foram ou vendidas ou levadas a Veneza na Itália para decorar a Basílica de São Marcos. A Catedral de São Tito foi parcialmente demolida para ser substituída por uma arquitetura ocidental, e tornou-se uma sé latina. No século XV, ela foi destruída completamente para que uma basílica latina fosse construída, mas esta não resistiu nem cem anos até ser destruída por um incêndio em 1544. Foi novamente reconstruída, mas foi convertida numa mesquita em 1669, quando Creta foi conquistada pelos otomanos e o precioso crânio de São Tito foi levado a Veneza. Posteriormente, um terremoto levou a mesquita ao chão em 1856.

Quando Creta foi livrada do jugo otomano por São Nicolau II, Imperador da Rússia (1894–1917), a população muçulmana voltou para a Anatólia e, na era do Patriarca Constantino VI de Constantinopla (1924–1925), o templo finalmente foi reconsagrado. Em 15 de maio de 1966, os esforços do Patriarca Atenágoras (1948–1972) com o Papa Paulo VI de Roma (1963–1978) surtiram na transladação do venerável crânio de São Tito de volta à Igreja de São Tito, de onde ela havia sido roubada sete séculos antes. Esse glorioso dia foi acrescido ao calendário litúrgico da Igreja Ortodoxa, e é por isso que comemora-se São Tito também em 15 de maio.

Hinos

Ícone comemorativo à transladação das relíquias de São Tito de volta a Creta, em 1966.

Tropário

(Tradução livre)

Com um chamado celeste ao conhecimento divino, /
da carne d’Aquele que na terra residia, /
viste com teus olhos a ciência de todas as coisas. /
Como companheiro de Paulo, ó bendito Apóstolo Tito, /
tu te tornaste aquele cujos lábios irradiaram em Creta, /
anunciando de Deus Suas palavras de piedade.

Outro tropário

(Tradução livre)

Ensinado por Paulo, aquele que havia visto a Deus, /
te revelaste aos cretenses como um mestre da piedade. /
Tu, cuja boca falava pelo Verbo, ó Apóstolo Tito, /
foste o discípulo de Seu beneplácito para conosco.

Condáquio

(Tradução livre)

Digno de todo louvor e pregador dos mistérios de Cristo, /
com Paulo tu nos ensinaste a doutrina divina, ó Tito. /
Portanto, ouve nosso clamor, ó bendito apóstolo: /
nunca te esqueças de interceder por todos nós!

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

Somente um espírito imaturo se contenta com fábulas; /
para aquele que busca a verdade, porém, de nada servem. /
O casto Tito na impura Creta vivia, /
e o desejo pela verdade trouxe-o ao Cristo. /
Quando o semblante do Deus Todo-Poderoso ele contemplou, /
todas as fábulas como a água turva pareceram-lhe. /
Cristo é a Verdade, e a Cruz é o caminho para ela. /
Às alturas do Firmamento a Cruz ergue a alma, /
e nos mistérios dos planos de Deus ela a ilumina. /
Tito suportou labutas e incontáveis tormentos, /
tanto para si mesmo quanto para seu mestre, /
o grande Paulo, seu pai em espírito. /
Quando Nero, o profano, a Paulo decapitou, /
Tito não perdeu nem a Fé e nem a coragem, /
mas dignamente sepultou seu pai em paz, /
e voltou a Creta para duas vezes mais labutar. /
O templo de Diana e o templo de Zeus não resistiram, /
e sob as orações de Tito desmoronaram. /
A escuridão do erro ele dissipou /
e, com Cristo, Creta ele iluminou. /
Tito, discípulo de Paulo, prodígio sagrado.

Referências

  • Santo Ado, Arcebispo de Viena na Alobrógia (1745). Martirológio. Parte I.
  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo II.
  • Santo Usuardo de Paris (1852). Martirológio. Tomo I.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro XII.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume II.

Ligações externas


Apóstolo Tito
Precedido por
Arcebispo de Creta
64–105
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