Jorge, o Vitorioso

Da wiki OrthodoxWiki
Revisão em 02h08min de 24 de abril de 2020 por EGobi (Discussão | contribs) (Vida)
Ir para: navegação, pesquisa

O Santo Megalomártir Jorge, o Vitorioso (séc. IV), é um dos mais venerados santos taumaturgos da Igreja, responsável pela conversão da esposa do imperador mais tirânico da história do Império Romano. São Jorge é comemorado juntamente com as centenas de testemunhas de seu glorioso martírio, entre as quais conhecemos Policrônia, Anatólio, Protoleão, Glicério e Atanásio, no dia 23 de abril (se a Grande Páscoa ainda não tiver ocorrido, a comemoração é postergada para a Segunda-Feira Luminosa). Além dessa data, a Igreja honra o santo nos dias 3 de novembro pela transladação de suas relíquias e em 10 de novembro pelo início de suas torturas. São Jorge também é padroeiro de toda a Geórgia.

A Mais Ortodoxa Santa Imperatriz e Mártir Alexandra de Roma é comemorada em 21 de abril, quando foi martirizada juntamente com os santos mártires Isaque, Apolo e Quadrado.

Vida

Jorge nasceu no século terceiro na província da Capadócia, vindo de uma próspera família pertencente à nobreza romana e cristã. Em sua juventude, durante o reinado de Diocleciano (284–305), teve de fugir para Lida na Síria com sua mãe após seu pai ter sido martirizado por confessar a Jesus Cristo, porém não tardou a ficar órfão também de mãe.

Partiu então para a Nicomédia na Bitínia, onde ingressou na Guarda Pretoriana, e lá permaneceu até ser promovido à posição de tribuno, liderando diversas centúrias. Sua luta contra o mal — tanto material como espiritual — permitiu que ele fosse representado na iconografia como vencendo o dragão. Em um de seus feitos, havia uma grande e invencível serpente que comia todo ser vivo que visse pela frente, e passou a habitar a única fonte de água de um vilarejo. Sozinho e sem ter recebido ordens, o cavaleiro foi até a serpente e partiu-a no meio assim que ela pulou para engoli-lo.

Certa vez, quando voltava de uma campanha, entrou na cidade e ficou sabendo sobre a eclosão da Grande Perseguição (303–313) e do quarto decreto de Diocleciano, que condenava à morte todos os gregos que não oferecessem sacrifício aos deuses pagãos. Jorge, que sempre teve por objetivo final servir ao seu Senhor Jesus Cristo, entendeu a missão a qual agora teria de cumprir. Distribuindo aos pobres todos os espólios que suas centúrias haviam obtido naquela campanha, prontamente apresentou-se ao Senado, proclamando sua Fé em Cristo, repreendendo a ilusão dos ídolos e desdenhando daqueles que neles acreditavam. Isso ocorreu num 10 de novembro.

Diocleciano amava Jorge como se fosse um irmão, e considerava que não havia nenhum soldado tão bravo e essencial como o tribuno. Mesmo sendo tentado pelas lisonjas e promessas do tirano imperador, o santo tribuno não se deixou levar pelas persuasões e rejeitou-as, preferindo as ameaças que o foram dirigidas caso negasse oferecer sacrifícios.

Os guardas, então, tentaram enfincar suas lanças no corpo de São Jorge, mas suas pontas amoleceram antes que pudessem tocar sua pele, e somente os cabos puderam feri-lo. Nisso, Diocleciano ordenou que o confessor fosse amarrado a uma roda, cuja base possuía facas e outras pontas cortantes. Os profundos cortes abriram seu estômago, e sua carne banhou o piso de sangue. Mesmo com o seu intestino para fora, São Jorge resistiu quieto à tortura, e um anjo veio em seu auxílio para curá-lo.

Depois de um tempo, São Jorge apareceu perante o imperador e outros romanos completamente ileso. Alguns desses romanos, que estavam reunidos para oferecer sacrifício aos ídolos e o haviam visto ferido anteriormente, imediatamente passaram a crer em Cristo, e acabaram sendo martirizados por ordens de Diocleciano. Dentre as centenas de presos à espera da morte, estava sua própria esposa, a Santa Imperatriz Alexandra de Roma (284–303), que estava presente nas torturas de São Jorge e confessou-se cristã ao seu ímpio esposo logo após ver o milagre. De fato, tal era sua cólera que Diocleciano foi o único dentre eles que não acreditou no milagre.

O imperador implorou para que seu mais precioso soldado adorasse os ídolos, e chegou prometê-lo o cargo de Maximiano (286–305) caso o fizesse, mas o santo permaneceu firme em sua confissão. Diocleciano, então, ordenou que ele fosse jogado numa vala de cal ardente e coberto com ela, mas isso não adiantou de nada ao tirano, pois ainda mais pagãos foram testemunhas da perseverança de São Jorge, que aparentava não estar sofrendo dor alguma, e proclamaram Cristo como Deus. O imperador insistiu mais ainda, e ordenou que o confessor corresse calçado de botinas com pregos de ferro no interior, até que seus pés estivessem completamente furados com eles. Os soldados também corriam atrás de seu antigo líder, atacando-o sem piedade com tendões de boi.

Novamente ileso, o santo voltou a ser interrogado. Havia ali perto alguns túmulos de centenas de anos, e o interrogador exigiu que São Jorge ressuscitasse um morto. De pé ao lado do sepulcro, o tribuno começou a orar. Tamanha era sua experiência na oração, que não tardou até que um milagre ainda maior acontecesse: assim que notaram algo acontecendo dentro da tumba, as pessoas que lá estavam abriram sua tampa, e eis que um homem saiu de dentro dela, caindo aos pés do santo.

Os presentes perguntaram a ele quem ele era, e o ressuscitado, venerando São Jorge, os respondeu que havia vivido antes da vinda de Cristo, e sua ilusão que o levou a adorar os ídolos havia o feito queimar no inferno por todos esses anos, até seu espírito ter sido reunido ao corpo através das orações de São Jorge. Todos eles, então, renunciaram o paganismo e aderiram a Cristo. Para Jorge, todas essas conversões ainda não eram o suficiente para manifestar a Glória de Deus, e então foi até uma fazenda próxima, onde o touro do fazendeiro, que tinha por nome Glicério, acabara de morrer. Por suas orações, o sopro da vida adentrou o animal, e ele levantou-se perante o fazendeiro e toda a multidão que lá estava.

Por fim, os leais a Diocleciano levaram-no a um templo pagão, onde vários ídolos estavam possuídos por demônios, a fim de testar a Fé do tribuno e obrigá-lo a oferecer sacrifícios. São Jorge dirigiu-se à estátua principal daquele templo, e pressionou-a a dizer se Cristo era Deus e digno de toda adoração. O demônio, dominado pela santidade do operador de milagres, não conseguiu mais se conter, e respondeu em alta voz que Jesus Cristo era o único Deus. Todos os ídolos do templo começaram a estremecer, e caíram ao chão em cacos. Com isso, ainda mais pagãos declamaram Cristo como Deus.

Entretanto, alguns pagãos foram tomados pela ira e o cercaram. São Jorge então foi novamente trazido perante Diocleciano que, ao saber o que havia acontecido, decretou a sentença de decapitação para o santo, juntamente com todas as centenas de neófitos que o testemunharam. Assim, em 23 de abril de 303 (ou 304), Jorge, o grande e vitorioso mártir por Cristo, entrou para a vida perpétua junto a seu Criador e Salvador, intercedendo incansavelmente a Deus pela segurança das nações ortodoxas e pela salvação de toda a humanidade, até o fim do mundo.

Pós-vida

Pasícrates, um de seus fiéis servos, encarregou-se de levar as relíquias de São Jorge de Nicomédia a Lida. Lá elas ficaram enterradas até o triunfo da Ortodoxia no reino do santo Imperador Constantino, o Grande (306–337), quando a Igreja de São Jorge foi construída, também em Lida. A conclusão dessa igreja deu-se num 3 de novembro, e até hoje esse dia é comemorado pela transladação de suas relíquias. (ver panorâmica)

No tempo do Imperador Anastásio I de Roma (491–518), um santuário foi construído para abrigar suas relíquias em Zorava, no sul da Síria. Essa catedral existe até a atualidade, e é uma das mais antigas da Síria. (ver panorâmica)

Já no outro lado do império, São Gregório, Bispo de Turono (573–594), já relatava a presença das relíquias do santo na Gália e a operação de milagres nos enfermos que as veneravam. Atualmente, é possível que elas estejam espalhadas por toda a França, especialmente em Cenomano, onde elas ficavam nos tempos de São Gregório.

Em 614, durante o Cerco de Jerusalém, uma força divina impediu que os soldados sassânidas pudessem adentrar a Igreja de São Jorge, e o próprio cavalo do comandante recusou-se dar um passo adiante. O comandante entendeu que, como havia conseguido invadir toda a fortificada cidade de Lida menos uma igreja centenária, Deus o havia permitido aquela invasão. O persa fez uma promessa caso Deus o permitisse retornar da guerra vivo e, na vitória persa, ordenou que a igreja fosse ornamentada da melhor maneira possível.

Certa vez, Santo Adomnano, Abade de Iona (679–704), recebeu um peregrino que havia visitado a Terra Santa, e registrou sobre a existência da coluna milagrosa na qual São Jorge havia sido flagelado na igreja em Lida, pela qual operavam-se milagres. Outro manuscrito, escrito por um monge desconhecido de nome Epifânio no século VIII, atestou novamente a existência dessa coluna, que jorrava sangue durante três horas todo 23 de abril. Não somente a coluna, mas também a roda com lanças afiadas na base que feriu o santo também parece ter sido levada de Nicomédia a Lida, de acordo com o manuscrito.

Na era de São Zacarias, Papa de Roma (741–752), o mesmo misteriosamente encontrou o venerável crânio de São Jorge guardado a salvo numa urna (provavelmente no Oriente), com uma inscrição em grego sobre sua autenticidade. Tamanha foi sua felicidade, que o papa convocou toda a cidade de Roma numa procissão com hinos e cânticos até depositá-lo na milenar Igreja de São Jorge em Velabro, próxima ao Arco de Jano. Desde sua transladação à igreja, inúmeros milagres foram registrados por aqueles que veneravam o grande mártir. (ver panorâmica)

Notas

Esse mesmo servo foi quem encarregou-se de registrar sua vida para que todas as gerações futuras pudessem contemplar a Glória de Deus realizada por intermédio de São Jorge. Nesse registro, o nome de Diocleciano está grafado como Dadiano, e algumas tradições ocidentais acabaram identificando-o como o mesmo Daciano responsável pelo martírio de São Vicente de Saragoça e outros. Isso, porém não seria possível, pois Daciano era prefeito da Gália, e não de alguma outra área no Oriente.

No mesmo registro, há um Magnêncio que governava ao lado de Dadiano. É impossível que esse seja o Imperador Magnêncio de Roma (350–353), pois este usurpou do poder e governou sozinho, além de que a Igreja de São Jorge já havia sido construída décadas atrás. Logo, esse só pode ter sido o Imperador Maximiano, significando que os feitos de São Jorge já haviam chegado até o Ocidente.

Hinos

Tropário

(Cantado pela Catedral Ortodoxa Antioquina de São Paulo; em tom 4)

Tu que és o libertador dos cativos, /
auxílio e protetor dos necessitados, /
médico dos enfermos e defensor dos fiéis, /
ó grande mártir São Jorge, /
intercede a Cristo Deus pela salvação de nossas almas.

Condáquio

(Tradução livre)

Cultivado por Deus, tu te manifestaste como um digno lavrador, /
colhendo para ti mesmo os feixes da virtude. /
Pois semeaste com lágrimas mas colheste com alegria, /
tu competiste com o teu sangue, e da disputa recebeste o Cristo. /
Por tuas intercessões, ó Grande Mártir Jorge, /
a todos é concedida a remissão dos pecados.

Ligações externas