Antônio e Teodósio de Kiev

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Santos Antônio e Teodósio de Quieve.

Os Veneráveis Santos Antônio e Teodósio, Fundadores de Quieve (séc. XI), foram monges taumaturgos responsáveis pela fundação do Mosteiro das Cavernas de Quieve, o primeiro centro monástico das terras russas. As relíquias de Santo Antônio, através da Providência Divina, nunca foram reveladas. A Igreja celebra sua memória no dia 2 de setembro, além dos dias 10 de julho para o repouso de Santo Antônio e 3 de maio e 14 de agosto para o repouso de São Teodósio e a descoberta de suas relíquias, respectivamente.

Vida

Em 983, na era do santo Grão-Príncipe Vladimir, o Grande (980–1015), nasceu Antipas, filho de piedosos pais cristãos de Lubécia na Chernigóvia (atual fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia). Possuindo um intenso temor por Deus desde sua infância, o jovem ansiava pela tonsura monástica, e aguardou pela maturidade até dirigir-se à Montanha Santa, que à época estava florescendo de novos monásticos sob a liderança de seu fundador, Santo Atanásio do Monte Atos.

O desejo de imitar as ações de seus santos habitantes fervia na alma de Antipas, e lá recebeu a tonsura no Mosteiro de Esfigmeno sob o nome de Antônio em honra a Santo Antão, o Grande. Imitando seu padroeiro no eremitismo, o jovem monge vivia numa gruta de frente ao mar e agradava a Deus em todos os aspectos de sua luta espiritual pela virtude. Sua excelente humildade e obediência trazia regozijo aos outros monges da península.

O hegúmeno de seu mosteiro via nele um grande asceta, e pela inspiração divina quis enviá-lo de volta à sua terra natal para levar seu povo a Deus. Então, quando Antônio possuía 28 anos de idade, o hegúmeno foi até ele e disse: “Antônio, é chegada a hora de guiares outrem à santidade. Volta às terras russas e sê de exemplo aos outros. Que as bênçãos da Montanha Sagrada estejam contigo.” O monge obedeceu, e retornou a uma Quieve mais cristã do que aquela na qual ele havia crescido durante sua infância após o Batismo da Rus'. Antônio andou por todas as terras, mas não encontrou lugar algum que o inspirasse a ter a estrita vida monástica que tinha em Atos.

Antônio, então, abrigou-se numa caverna, da mesma forma que vivia em Esfigmeno. Pouco tempo depois, São Vladimir foi assassinado pelo seu próprio filho, Esvetopolco (1015–1019), e Quieve tornou-se uma terra de guerras e crises. Então, o monge deixou sua caverna para refugiar-se de volta na Montanha Santa por quatro anos, até Esvetopolco ser vencido por São Jaroslau, o Sábio (1019–1054), e a paz retornar a Quieve. Antes de voltar, o hegúmeno de Esfigmeno profetizou que muitos seriam os seus filhos nas terras quievanas.

Pela Providência de Deus, Antônio chegou às colinas de Quieve, às margens do rio Dniepre, onde as florestas de Berestovo o lembravam da amada montanha. Ali havia uma gruta, escavada por Santo Hilarião, Metropolita de Quieve (1051–1055), quando este ainda era um sacerdote. Tendo gostado do lugar, Antônio orou em lágrimas: “Ó Senhor, permite que as bênçãos do Monte Atos e do Teu santo hegúmeno estejam sobre este lugar, e fortalece-me de modo que eu permaneça aqui.”

Antônio voltou com suas lutas em oração, vigília, jejum e labuta. Dia sim, dia não, o santo comia — apenas pão seco e um pouco de água — e raramente dormia. Certas vezes, o monge passava uma semana inteira sem comer, mas sempre punha-se a cavar ainda mais aquela caverna. Devido à sua santa conduta, não demorou até que pessoas o buscassem para receber bênçãos e conselhos, e algumas decidiram juntar-se a ele. Entre os primeiros discípulos de Santo Antônio estava São Nicão, o Seco, que deixou todas as suas riquezas para dedicar-se a Cristo em severos jejuns. Cada vez mais cristãos eram feitos monges, e assim surgiu o Mosteiro das Cavernas Próximas de Quieve.

Florescimento

A virtuosa vida de Santo Antônio iluminou as terras russas com a beleza do monasticismo, que agora desfrutavam da paz vinda da vitória de São Jaroslau como grão-príncipe. O santo alegremente recebia aqueles que ansiavam pela vida monástica e, após instrui-los a seguir a Cristo, tonsurava-os monges. Aos setenta anos de idade, Antônio possuía doze discípulos, e a caverna já estava enorme, contando com uma igreja com celas para os treze. A fama de Santo Antônio era tão reconhecida por Quieve que o próprio Grão-Príncipe Iziaslau I (1054–1078), filho e sucessor de São Jaroslau após seu repouso, veio pedir por suas bênçãos e orações em sua nova posição.

Querendo evadir-se da reputação que tinha entre os quievanos, Antônio juntou-os e disse: “Foi Deus quem vos uniu, ó meus irmãos, e tendes as bênçãos da Montanha Santa, através da qual fui tonsurado para que no futuro pudesse tonsurar-vos. Que as bênçãos de Deus e de Atos recaiam sobre vós. Vivei separados uns dos outros e vos nomearei um novo líder para substituir-me, pois partirei para além das colinas, como costumava fazer nos tempos de solidão.” Após um tempo, São Barlaão de Quieve foi escolhido hegúmeno, e Santo Antônio retirou-se do mosteiro e cavou uma nova gruta para si, onde passou a viver em seclusão.

Não tardou até que novos monges surgissem, e a caverna não dava conta de todos. São Barlaão, então, foi até Santo Antônio e disse: “Pai, a irmandade cresceu, e não há mais espaço para todos na cripta! Se Deus e tuas orações nos guiarem, poderemos construir uma igreja fora das cavernas.” Antônio abençoou-os, e uma capela de madeira em honra à Dormição da Mãe de Deus foi construída. Pelas orações da Virgem Maria, a capela rapidamente foi cercada de celas monásticas, e cada vez mais monges eram tonsurados.

Depois de mais um tempo, São Barlaão reencontrou-se com Santo Antônio e informou-o: “Pai, a irmandade já está muito grande… Que tu achas sobre construirmos um mosteiro?” Antônio alegrou-se e respondeu: “Bendito seja o Senhor por todas as coisas, que as orações da Santíssima Virgem e dos pais da Montanha Santa estejam convosco.” Imediatamente, outro discípulo foi ter com Iziaslau para entregar-lhe a mensagem: “Sua Alteza, eis que Deus fortaleceu a irmandade, mas sua morada é pequena demais. Pedimos, portanto, que nos conceda o monte acima de nossa caverna.”

Iziaslau não mediu esforços e, cercando-a com paliças, deu-lhes toda a montanha. Uma grande igreja foi construída, além de muitas celas e ícones que a adornaram. Foi assim que o Mosteiro das Cavernas Distantes de Quieve surgiu às margens do Rio Dniepre, enquanto que o Mosteiro de São Demétrio era construído a três quilômetros de lá a mando de Iziaslau. Após sua conclusão, o grão príncipe pediu que São Barlaão fosse fundá-lo como hegúmeno, e lá o santo permaneceu com os novos monges. Esse mosteiro, mais tarde, viria a ser o Mosteiro de São Miguel da Cúpula Dourada.

Hegumenato de Teodósio

Após a ida de São Barlaão, os discípulos foram consultar Santo Antônio para que um novo líder designado por Deus assumisse o mosteiro, e Santo Antônio respondeu: “Quem dentre vós é mais obediente, modesto e brando que Teodósio? Deixa-o ser vosso líder.” Por suas bênçãos São Teodósio de Quieve assumiu o posto. Como hegúmeno, o humilde Teodósio praticava ainda mais abstinências, jejuns e orações dignas de lágrimas, além de sempre consultar Santo Antônio e pedir por suas bênçãos. Naquele tempo, já havia mais de uma centena de monges no Mosteiro das Cavernas.

Finalmente vivendo como um hesicasta, Santo Antônio foi glorificado por Deus com o dom da clarividência e da taumaturgia. Antes da Batalha do Rio Alta de 1068, Antônio predisse que pelos pecados dos eslavos a derrota pelos cumanos seria certeira, mas Simão, o príncipe varegue que havia se refugiado em Quieve após ser deposto na Escandinávia, seria poupado da morte. Isso de fato aconteceu, e uma revolta depôs Iziaslau por um breve tempo, enquanto que Simão foi profundamente ferido, mas sobreviveu. Para expressar seu agradecimento à misericórdia de Deus, Simão doou o cinturão de seu pai e uma grande quantidade de ouro para adornar o novo Mosteiro das Cavernas. Depois de sua morte, Simão tornou-se o primeiro nobre a ser enterrado no mosteiro.

Na era do Metropolita Jorge de Quieve (1069–1073), São Teodósio recebeu o monge Miguel do Mosteiro de Estúdio em Constantinopla, um bastião da Ortodoxia desde os tempos do iconoclasmo no século VIII e cujos monges agora lutavam contra a teologia da recém-anatemizada Sé de Roma. Foi a partir do monge que São Teodósio conheceu as regras de São Teodoro, Hegúmeno de Estúdio no século IX, as quais enfatizavam o cenobitismo, ou seja, a vida monástica em comunidade. Teodósio, então, refundou o mosteiro sob novas regras que governavam o canto de hinos, as reverências, as leituras, a alimentação, o comportamento durante os ofícios litúrgicos e a conduta à mesa.

Enquanto isso, Iziaslau, deposto, suspeitou que Santo Antônio simpatizasse com seus opositores, e planejava expulsá-lo de seu principado assim que retomasse o poder. Esvetoslau II, então Príncipe de Chernigóvia, irmão de Iziaslau e futuro Grão-Príncipe de Quieve (1073–1077), veio defender a cidade dos ataques dos cumanos e secretamente refugiou Santo Antônio em Chernigóvia. Lá, o hesicasta fundou uma nova gruta, que posteriormente veio a ser o Mosteiro da Dormição de Elécia. Após retomar o poder Iziaslau pediu perdão ao santo, e Antônio voltou a Quieve.

Com sua virtuosa vida e estrita regra monástica, São Teodósio recebia a todos que vinham a ele, além de ter recebido no monasticismo São Nestor, o Cronista, futuro autor da Crônica dos Anos Passados, o primeiro relato sobre a vida dos fundadores de Quieve. A Crônica de Nestor também observa que, embora Iziaslau tenha construído um mosteiro ao lado do outro com muito mais riqueza material, nenhum desses mosteiros construídos por imperadores e príncipes se comparariam aos construídos por orações, lágrimas, jejuns e vigílias. Mesmo que Santo Antônio e São Teodósio não possuíssem ouro algum, eles construíram o que se tornou o primeiro centro espiritual das terras russas.

Em 1073, a santíssima Mãe de Deus fez com que dois anjos aparecessem na igreja de Blaquerna na forma de Santo Antônio e São Teodósio e entregassem a quatro arquitetos bizantinos uma grande quantia de ouro que deveria ser levada ao mosteiro para a confecção de uma igreja à Eleusa. Nessa aparição a Mãe de Deus predisse a morte iminente de Santo Antônio, que de fato aconteceu em 10 de julho de 1073.

Referências

  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livros IX, XI e XII.
  • São Nestor, o Cronista (1953). Crônicas dos Anos Passados. Livro único.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volumes I e II.

Ligações externas