Moisés, o Etíope
Moisés, o Etíope | |
Μωϋσῆς ὁ Αἰθίοψ |
São Moisés, o Etíope (em grego: Μωϋσῆς ὁ Αἰθίοψ) foi um hieromonge, que viveu durante século IV. Também conhecido como "Moisés, o Negro", é conhecido pela sua história de conversão e intensa luta espiritual. Sua festa é comemorada em 28 de agosto.
Vida
Origem e passado
São Moisés viveu no Egito durante o século IV. Ele era etíope e, por ter a pele negra, era chamado de “Murin” (que significa “como um etíope”). Em sua juventude foi escravo de um homem importante, mas depois de cometer um assassinato, seu mestre o baniu e ele se juntou a um bando de ladrões. Por causa de seu mau caráter e grande força física, escolheram-no como líder. Moisés e seu bando de bandidos eram temidos por causa de suas muitas façanhas malignas, incluindo assassinatos e roubos. As pessoas tremiam à simples menção de seu nome.
Arrependimento e luta espiritual
Moisés esteve no deserto nessas condições até os 30 anos de idade, quando sentiu a misericórdia de Deus e o vazio de sua vida e tentou se arrepender. Para isso foi ao Egito implorar a São Macários que o recebesse no mosteiro. O Santo hesitou em fazê-lo quando soube de seu passado, mas diante de tantas lágrimas e súplicas comoveu-se e admitiu-o.
São Moisés não se libertou rapidamente das paixões. Ele ia frequentemente ao hegúmeno, Abba Isidoro, em busca de conselhos sobre como se livrar das paixões da libertinagem. Tendo experiência na luta espiritual, o Ancião ensinou-o a nunca comer muita comida, a permanecer parcialmente faminto enquanto observava a mais estrita restrição. Mas as paixões não deixaram de perturbar São Moisés nos seus sonhos.
Então Abba Isidoro lhe ensinou a vigília noturna. O monge ficou a noite toda em oração, para não adormecer. Como resultado de suas lutas prolongadas, São Moisés caiu no desânimo e, quando começou a pensar em deixar sua cela solitária, Abba Isidoro, em vez disso, fortaleceu a determinação de seu discípulo. Numa visão ele lhe mostrou muitos demônios no oeste, preparados para a batalha, e no leste uma quantidade ainda maior de santos anjos, também prontos para a luta. Abba Isidoro explicou a São Moisés que o poder dos anjos prevaleceria sobre o poder dos demônios, e na longa luta contra as paixões era necessário que ele ficasse completamente purificado de seus pecados anteriores.
São Moisés se esforçou para trabalhos adicionais. Percorrendo as celas do deserto à noite, ele levava água do poço para cada irmão. Ele fez isso especialmente pelos Anciãos, que viviam longe do poço e que não tinham facilidade para carregar a própria água. Certa vez, ajoelhado sobre o poço, São Moisés sentiu um forte golpe nas costas e caiu no poço como um morto, ficando ali naquela posição até o amanhecer. Assim os demônios se vingaram do monge por sua vitória sobre eles. De manhã, os irmãos o levaram para sua cela, e ele ficou ali aleijado por um ano inteiro. Depois de se recuperar, o monge confessou com firmeza ao hegúmeno que continuaria com suas lutas ascéticas. Mas o próprio Senhor colocou limites a este trabalho que durou muitos anos: Abba Isidoro abençoou seu discípulo e disse-lhe que as paixões já o haviam abandonado. O Ancião ordenou-lhe que recebesse os Santos Mistérios e fosse para sua cela em paz. A partir dessa época, São Moisés recebeu do Senhor poder sobre os demônios.
Relatos sobre suas façanhas se espalharam entre os monges e até mesmo além dos limites do deserto. Logo Moisés se tornou um dos melhores monges por sua obediência, oração e trabalho, e sua história tornou-se conhecida entre todos os ascetas. O Patriarca de Alexandria, Teófilo, ao tomar conhecimento da sabedoria e da humildade daquele servo de Deus, ordenou-lhe sacerdote para que distribuísse a palavra de Deus aos seus irmãos monges, alimentando-lhes as almas com os divinos mistérios sacramentais.
Quando o governador do Egito ouviu falar de sua estranha santidade, foi visitá-lo no mosteiro. Ao saber desta visita, Moisés escapou, mas pouco depois eles se encontraram na estrada. O governador, que não o conhecia, perguntou ao velho servo: “Onde chega à ermida de Moisés o Negro?” O velho respondeu: “O que você quer daquele louco dominado pelo demônio?” O governador ficou surpreso, mas o ignorou e continuou seu caminho. Ao chegar ao local que procurava, e também não encontrando Moisés, contou aos monges o ocorrido. E quando perguntaram sobre as características do velho, ele o descreveu como um “servo negro alto e magro, de olhos penetrantes e cabelos grisalhos”, então responderam que se tratava do Padre Moisés. A admiração do governador por Moisés aumentou ainda mais.
Repouso
Um dia Moisés, já com idade avançada mas rico em espiritualidade, disse aos seus discípulos: “hoje os bárbaros vão nos atacar, fujam”. Os discípulos responderam-lhe “e tu, pai, não queres ir conosco?”, ao que ele disse “Há muitos anos que espero por este dia para que a palavra de Deus se cumpra em mim: “todos aqueles que manejam o espada perecerá pela espada” (Mateus 26:52). “Nem nós escaparemos! Morreremos convosco!”, disseram os discípulos. Enquanto conversavam, os bárbaros entraram e mataram todos, apenas um deles conseguiu escapar e se esconder: o mesmo que viu sete coroas presas às cabeças dos caídos e contou o ocorrido. São Moisés tinha então setenta e cinco anos. Ele foi enterrado no mosteiro chamado Deir al-Baramus, que ainda existe.