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Em Alexandria, havia um famoso filósofo chamado Gésio. Sua fama não se dava por sua filosofia, mas sim pelo seu renomado conhecimento como mestre da Medicina. Sua sabedoria e reputação, entretanto, não o evitaram de cair no erro da idolatria após falsamente aceitar o Batismo. Gésio zombava dos cristãos, afirmando que erroneamente veneravam a Cristo, e não perdeu a chance de ridicularizar os santos Ciro e João, dizendo que curavam os enfermos através da Medicina, e não por poderes divinos. Quando eram perguntados sobre como curavam os doentes, Gésio argumentava que seus métodos já haviam sido ensinados pelos famosos médicos antigos Hipócrates (460–370 a.C.) e Cláudio Galeno (129–210).
As falácias de Gésio provaram-se mentirosas e inventadas. O filósofo ficou doente, a ponto de não conseguir mais mexer seus ombros nem seu pescoço. Então, esforçou-se em vão para curar a si mesmo da mesma forma que havia curado aos outros, usado usando todos os tipos de pomadas e uma rigorosa dieta de alimentos limpos e cozidos. Após usar todo o conhecimento dos médicos antigos e continuar enfermo, convidou médicos de toda a Alexandria, e estes não conheciam mais nenhum outro método além dos que Gésio já havia experimentado. Os médicos chegaram à conclusão que só Deus poderia ajudá-lo, e aconselharam-no a recorrer aos santos Ciro e João.
Gésio retrucou-os dizendo que os santos não realizavam nada vindo de Deus, mas sim dos livros antigos. Os sábios médicos, então, relataram a ele casos de curas atribuídas aos anárgiros que nunca haviam sido estudadas pela Medicina clássica. Sem conseguir responder-lhes, Gésio calou-se. Gradualmente suas dores começaram a aumentar, e o filósofo finalmente convenceu-se a recorrer aos santos.
Depois de enviar-lhes uma carta suplicando por ajuda, os santos apareceram a ele em sonho, e lhe deram um remédio para sua doença. O remédio não só o curou como serviu como meio de castigo porque, embora se considerasse um sábio, Gésio provou ser um tolo e completamente insensato. Ainda no sonho, os santos disseram-lhe: “Pega uma sela e veste-a sobre teus ombros, pescoço e garganta. Ao meio-dia, contorna o solo sagrado da igreja clamando: ‘Ó, quão tolo e insensato sou!’ Tua saúde, então, será imediatamente restaurada.” Ao acordar, Gésio acreditou que aquilo era fruto de sua imaginação, e não fez o que os santos lhe ordenaram.
Sua saúde deteriorou ainda mais, e Gésio voltou a clamar pelos santos. Naquela noite, os santos anárgiros tornaram a aparecer perante ele, mas mandaram-no fazer algo pior. Ordenaram que, junto à sela, pendurasse um grande sino em seu pescoço, e andasse em círculos pela igreja gritando: “Eu sou um idiota!” O filósofo não conseguia entender a relação entre a sela e o sino e como isso iria curá-lo, então ignorou-os e pediu a Cristo que o curasse de sua doença e salvasse-o das fantasias.
Noutra noite, pela terceira vez, os santos tornaram a aparecê-lo, e insistiram que ele fizesse o que haviam comandado nas duas outras vezes, mas com um adendo: usando uma rédea da mesma forma que um cavalo, deveria pedir que um servo o guiasse em círculos pela igreja enquanto o filósofo gritava: “Eu sou um imbecil!” Gésio, ainda pensando que estava louco, mas não querendo provocar a ira dos santos, decidiu obedecê-los. Por isso, colocou a sela sobre os ombros, pendurou um sino em seu pescoço, colocou a rédea na boca e pediu que um de seus servos o puxasse pela igreja, gritando: “Eu sou um imbecil!”
Tendo cumprido a ordem dos santos, Gésio foi curado e recuperou sua saúde. Naquela noite, os santos apareceram a ele, dizendo-o: “Já que pensas que os medicamentos que damos aos enfermos são invenções de médicos, diga-nos em qual manuscrito seus admirados Galeno ou Hipócrates receitaram passar pelo ridículo como tu passastes para ser curado!” Assim, os santos mártires, tendo repreendido o caluniador, encerraram seu sonho. Gésio acordou atordoado pela mais sábia repreensão e, depois de louvar seus poderes provenientes de Deus — e não da Medicina —, seguiu sua vida são e salvo.
Em outra ocasião, uma criança chamada Teodoro possuía uma deformidade um tumor acima de seu nariz, e ansiava em pedir a cura aos santos anárgiros. Certa vez, quando estava nadando, um tubarão mordeu seu calcanhar e puxou-o às profundezas. O menino, clamando pelos santos Ciro e João, foi jogado em terra firme, e quando se viu, estava curado da deformidade e da mordida do tubarão. Talvez, o tubarão tenha sido um agente divino que arrancou-lhe o tumor pelas orações dos santos.
Em 311, os santos souberam da notícia que uma egípcia cristã de grande apreço a eles chamada Atanásia fora presa junto com suas três filhas, Eudóxia, de onze anos de idade, Teódota, de treze, e Teoctista, de quinze. Eles, então, correram para a prisão em Canopo no Egito (atual Abuquir, ao leste de Alexandria), pois sabiam que, se fossem torturadas, poderiam chegar a negar a Cristo. Lá, eles as encorajaram a resistir a tudo o que poderia lhes acontecer. Sabendo disso, Siriano, o eparca da cidade, também os prendeu. Vendo sua firme e destemida confissão de Fé em Cristo, o eparca levou Atanásia e suas filhas para testemunhar a tortura dos santos.
O tirano não os poupou de tortura alguma, mas isso não abalou a Fé delas, que corajosamente confessaram-se fiéis a Cristo. Em 31 de janeiro de 311, após serem açoitadas, as quatro santas confessoras foram decapitadas, recebendo todas a coroa do martírio. Logo em seguida, os santos anárgiros tiveram o mesmo destino.