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Com longos jejuns, vigílias, prostrações e labutas dia e noite, Atanásio logo alcançou tal perfeição que todos os discípulos de São Miguel veneravam-no e o tomavam como exemplo. Um dia, São Miguel foi visitado por seu sobrinho São Nicéforo, oficial do exército que futuramente tornar-se-ia o Imperador Nicéforo II (963–969), que também trouxe um companheiro de exército. Após confessá-los, Miguel disse que mostraria a eles um “tesouro”, e levou-os até a cela de Atanásio, que então estava com os seus trinta anos de idade. Depois de uma longa conversa com o monge, ambos impressionaram-se com seu espírito e mente, e rogaram que ele aceitasse tornar-se o pai espiritual de ambos. Com esse encontro, São Nicéforo passou a tratar o monasticismo com o maior respeito possível.
=== A península de Atos ===
Querendo se afastar das honrarias dos homens, Atanásio rogou que São Miguel o abençoasse para tirar partido do hesicasmo num lugar solitário não muito longe do mosteiro, e o monge assim o fez. Mais tarde, tendo deixado a montanha e atravessado Constantinopla em direção ao Ocidente, Atanásio percorreu diversos lugares solitários e desolados pela Macedônia e, guiado por Deus, adentrou a Península de Atos até Cariés, atual sede teocrática da montanha localizada no centro da península, onde encontrou um ancião que aceitou ser seu pai espiritual.
Inúmeras vezes o Inimigo tentou despertar em Santo Atanásio o ódio pelo lugar escolhido por ele, agredindo-o nos pensamentos. O asceta decidiu então que sofreria por um ano, e então onde quer que o Senhor o dirigisse, ele iria. No último dia do ano, assim que começou a rezar, uma luz divina brilhou sobre o santo, enchendo-o de uma alegria indescritível. Todos os seus pensamentos se dissiparam, e de seus olhos fluíram lágrimas. Santo Atanásio recebeu o dom da ternura, e apaixonou-se pela montanha da Virgem Maria.
Quando o asceta já possuía mais de quarenta anos de idade, São Nicéforo rogou a Santo Atanásio que construísse um mosteiro e uma igreja para o florescimento espiritual do Monte Atos. Em princípio, o santo recusou por não querer corromper-se com o ouro mundano que São Nicéforo o oferecera, mas vendo o fervoroso desejo e a boa intenção do comandante, que prometeu tornar-se seu discípulo após a construção, e discernindo nisso a vontade de Deus, Santo Atanásio pôs-se a construir o mosteiro. A notícia da coroação forçada do comandante como imperador chegou ao monge antes que a construção tivesse terminado, e isso o entristeceu muito.
Após escrever uma carta repreendendo o novo imperador, Santo Atanásio abandonou o mosteiro e partiu para o Chipre com um de seus discípulos, Antônio. De fato, São Nicéforo nunca cumpriu pode cumprir sua promessa de tornar-se monge, pois foi assassinado por um de seus comandantes com o aval de sua própria esposa, a ímpia Imperatriz Teófana (953–969), que não concordava com a inclinação de seu esposo a Deus.
Depois de um tempo no Chipre, Santo Atanásio também recebeu uma visão do Senhor que impelia-o a voltar à montanha. Ele obedeceu, e lá construiu mais duas igrejas. Uma, grande, em honra a [[João, o Batista|São João, o Batista]], e outra, ao pé de uma colina, dedicada à Mãe de Deus. As celas foram construídas no entorno da igreja, e assim surgiu um maravilhoso mosteiro na Montanha Sagrada. Também A comunidade também contava com uma trapeza (refeitório) e um asilo alojamento para doentes e peregrinos.
=== Florescimento e provações ===
Surgiam discípulos de todas as terras, desde pessoas simples a ilustres dignatários, habitantes do deserto que labutavam no asceticismo por anos, hegúmenos de diversos mosteiros e hierarcas querendo tornar-se simples monges na lavra de Santo Atanásio. O santo instaurou no mosteiro uma regra monástica cenobita acalcada no modelo dos antigos mosteiros palestinos — e por isso a designação “lavra”, mosteiros em que a vida eremítica é interrompida nos dias santos para a participação de todos os monges na Divina Liturgia. Os ofícios divinos eram servidos com todo rigor, e ninguém ousava abrir a boca durante eles, nem chegar atrasado ou sair antes do final.
Através de sua lavra, Santo Atanásio realizou a tarefa de unir eremitas de todas as partes da península e tornar-se seu líder espiritual. O hegúmeno considerava que o aspecto mais essencial da disciplina monástica era a filoponia, ou seja, o amor pelo trabalho árduo, o contínuo carregar da própria cruz. Após a filoponia vinha o amor e a solidariedade. Santo Atanásio, ao mesmo tempo que impunha-se ao asceticismo e atividades austeras, era muito carinhoso e afetuoso para com qualquer um que viesse a ele. O hegúmeno construiu portos, estradas, adegas, vinhedos, jardins e tudo o que mais coubesse dentro de seus limites para proporcionar um conforto àqueles que o buscavam.
Por conta desse seu amor pelos outros, outros líderes espirituais da península caluniaram-no por ter supostamente violado o regime hesicasta com essas suas inovações, e queriam julgá-lo para tirá-lo de sua posição. Entretanto, a Mãe de Deus interveio e pacificou os corações dos monges, além de encorajar Santo Atanásio a continuar sua tarefa sem desânimo. A principal queixa do monge sobre sua posição era justamente não poder mais viver em estrito hesicasmo, já que agora governava uma península inteira. Sempre que as dificuldades financeiras impediam o prosseguimento de seus planos, ela consolava seu coração e criava condições propícias para que tudo desse certo.
Uma vez, ocorreu tal fome que todos os monges deixaram a lavra em busca da civilização, deixando apenas Santo Atanásio lá. Num momento de fraqueza, ele também cogitou ir embora, mas de repente uma mulher apareceu, vindo em sua direção. Ela sussurrou: “Quem és tu e para onde vais?” O santo, então, a contou sobre sua vida e as angústias pelas quais a lavra estava passando. Ao final, a mulher retrucou: “Abandonarias o mosteiro destinado à glória de geração em geração apenas por um pedaço de pão seco? Onde está a tua Fé? Vira para trás, pois hei de te ajudar.” “Mas quem és tu para fazer tal coisa?”, perguntou Atanásio. “Eu sou a Mãe de Deus.”
Então, ela pediu que ele golpeasse uma rocha com seu cajado. Da fissura, jorrou um feixe de água que existe até hoje em lembrança dessa milagrosa visita. Com o tempo, a irmandade voltou a crescer, e as obras na Lavra foram retomadas. A padroeira celestial de Atos rejubilou-se muito com o santo. Muitas vezes Santo Atanásio teve o privilégio de ver a Virgem Maria com seus próprios olhos, que o guiava para que o mosteiro fosse construído da melhor maneira possível. Santo Atanásio foi agraciado com o dom da taumaturgia, e realizou uma miríade de milagres, além de ter usado sua sabedoria para escrever textos e ensinamentos aos seus discípulos.
Alguns anos mais tarde, Santo Atanásio, prenunciando sua partida para o Senhor, profetizou sobre seu fim iminente e suplicou aos irmãos que não temessem. A irmandade lamentou-se muito e ponderou as palavras do santo. Após dar aos irmãos sua orientação final e uma consolação, Santo Atanásio entrou em sua cela, pôs o seu manto que usava somente nas [[Grandes Festas]] e orou por muito tempo.