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Perpétua de Cartago

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Condenação
Naquela mesma noite, o Altíssimo concedeu-a mais uma visão, e nela Perpétua via Dinócrates saindo de um lugar sombrio e nebuloso junto a várias outras pessoas. Sua pele estava ressecada de tamanha sede, e sua face, pálida, encardida e com o rosto devorado pelo tumor. Entre os dois, havia um hiato para que nenhum pudesse se aproximar do outro. Em frente a Dinócrates havia um tanque cheio de água, e ele esforçava-se para alcançá-lo, mas sua altura era menor que a do tanque. O sofrimento de seu irmão era perceptível à viúva, mas sabia que somente sua oração traria ajuda a ele, de forma que seu nome esteve presente em suas orações por todos os dias que se seguiram.
Em 7 de março de 203, aniversário de Geta, filho de Sétimo Severo e futuro imperador, Perpétua persistiu em oração o dia inteiro, lamentando-se e gemendo por seu irmão. De noite, teve uma nova visão: a escuridão havia sido dissipada pela luz, e Dinócrates estava completamente limpo. O tanque tinha diminuído de tamanho até a cintura de seu irmão, e no lugar do tumor havia apenas uma cicatriz. Alguém tirava a água incessantemente, e uma taça estava na beira do tanque; Dinócrates bebeu-a por completo, saciou-se, e afastou-se para brincar à maneira das crianças. Assim, Perpétua entendeu que o menino havia sido poupado da punição. Pudêncio, um soldado da prisão, começou a ter grande estima para com os confessores e, percebendo a presença de Deus neles, permitiu que pessoas de fora pudessem se encontrar com eles. Uma dessas pessoas foi novamente seu pai que, desgastado de sofrimento, jogou-se perante a filha, começou a arrancar sua barba e disse palavras capazes de comover toda a criação. Perpétua novamente entristeceu-se, mas isso não a convenceu de desistir. Na noite anterior ao juízo no anfiteatro, Perpétua viu Pompônio bater forte na porta da prisão. Ela abriu a porta ao diácono, o qual estava vestido com um manto branco e sandálias, ambos ricamente ornamentados, e disse: “Perpétua, estamos à tua espera, vem!” Então, segurou a mão dela e levou-a a lugares perigosos e sinuosos até chegar ao centro do anfiteatro. “Não temas, estou contigo e irei te ajudar!”, e partiu. Nas arquibancadas, havia um número esplêndido de espectadores, todos aterrorizados com um egípcio de aparência horrível e seus companheiros, ambos prestes a confrontá-la. Ela não estava sozinha, várias crianças começaram a ser juntar a ela, despi-la e esfregar óleos em seu corpo, como era costume aos gladiadores. Quando viu, não era mais uma mulher, mas sim um gladiador. Então, um homem mais alto que o anfiteatro inteiro apareceu. Ele vestia uma túnica e um manto púrpura entre duas faixas que cruzavam seu peitoral, além de duas sandálias de prata e ouro. Ele carregava um bastão, simbolizando o treinador dos gladiadores, e um ramo verde sobre o qual pendiam maçãs douradas. Houve um silêncio, e ele disse: “Este egípcio, se vencer esta mulher, mata-la-á à espada; essa mulher, se o vencer, receberá o ramo.” E então, desapareceu.
Felicidade estava gestante de oito meses, e pela lei não poderia ser julgada. Sua ansiedade era tamanha que conseguiu dar a luz ao seu filho ainda na prisão, e rejubilou-se por poder ser contada entre os mártires por Cristo. No dia do julgamento, todos foram levados ao anfiteatro. Na era de São Zeferino, Papa de Roma.
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