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João de Damasco

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== Biografia de S. João de Damasco por S. Dimitri de Rostov ==
[[Imagem:Threehands.jpg|miniatura|right|"Panagia Tricherousa", ícone que, segundo a Tradição, São João fez sua suplica em meio a dor e sofrimento. Após ter sua mão restaurada, São João anexou uma mão de prata ao seu ícone. A Tricherousa encontra-se no Mosteiro de Hilandar, [[Monte Athos]]. ]]
Nosso venerável pai João nasceu na grande cidade de Damasco, Síria, de pais nobres e piedosos, cuja fé ardente em Cristo, testada pelas tentações, era mais preciosa do que o ouro experimentado pelo fogo. Eles viveram em tempos perigosos, pois os sarracenos haviam conquistado aquela terra e tomado a cidade, trazendo terrível calamidade sobre os cristãos. Alguns foram mortos, outros vendidos como escravos e não era permitido que ninguém confessasse a Cristo publicamente. Os pais de João, no entanto, guardados pela providência, permaneceram ilesos e sua propriedade foi deixada intacta. Eles se apegaram à santa fé, e Deus os concedeu que ganhassem o favor dos sarracenos, como outrora José havia conquistado o favor dos egípcios e Daniel dos babilônios. Assim, os ímpios Hagarenos não proibiram os pais do santo de acreditarem em Cristo ou de glorificarem Seu nome. O pai de João foi nomeado magistrado da cidade e comissário de edifícios públicos. Desfrutando da confiança dos governantes, ele foi capaz de beneficiar seus irmãos cristãos grandemente, resgatando cativos, libertando os aprisionados e encarcerados, comutando as sentenças daqueles condenados à morte, e estendendo uma mão amiga a todos os que sofriam. Os pais de João brilhavam entre os hagarenos de Damasco como faróis durante a noite, ou brasas ardendo entre as cinzas. Eles foram preservados por Deus, assim como a linhagem sagrada de Davi em Israel, porque o Senhor os escolheu para serem os pais de um filho que se manifestaria como uma luz brilhante, iluminando o mundo inteiro.
Certo dia, o professor Cosmas disse ao pai de João: "Meu senhor, o seu desejo foi cumprido. Seus filhos estudaram bem, superando-me em conhecimento. Graças à boa memória e trabalho diligente, eles sondaram as profundezas da sabedoria. Deus concedeu aumento para os dons concedidos a eles, e eles não podem aprender mais nada de mim. Na verdade, eles estão prontos para ensinar aos outros. Por isso peço-vos, meu senhor, conceda-me partir para um mosteiro, onde eu possa me tornar um discípulo de monges que alcançaram a perfeição e podem me instruir em sabedoria superior. A sabedoria externa que dominei me conduz [em direção] à filosofia espiritual, uma sabedoria mais pura e mais honrosa do que qualquer ciência mundana, pois beneficia a alma e a leva à salvação."
O pai de João ficou triste com isso, porque ele estava relutante em se separar de um instrutor tão sábio e digno. Ele, no entanto, não se atreveu a impedir o ancião de fazer o que desejava, ou lhe deu motivo para tristeza. Recompensando-o generosamente, ele permitiu que o ancião partisse em paz. Cosmas se instalou no Mosteiro de São Sabbas(Mar Saba), onde permaneceu, levando a vida de virtude até o dia de sua partida para Deus, a mais perfeita Sabedoria.
Algum tempo depois, o pai de João também morreu, já bastante idoso. O califa convocou João, desejando torná-lo seu principal conselheiro, mas João recusou, tendo outro desejo: trabalhar pelo Senhor em silêncio. No entanto, ele foi forçado a aceitar a posição e foi revestido de uma autoridade ainda maior que a de seu pai na cidade de Damasco.
Voltando para casa, João imediatamente distribuiu suas posses entre os pobres, libertou seus servos e partiu para Jerusalém com Cosmas, seu irmão adotivo. Depois de venerar os Lugares Santos, ele foi ao Mosteiro de São Sabbas(Mar Saba), onde implorou ao abade que o aceitasse como ovelha perdida e o admitisse em seu rebanho escolhido. O superior e os irmãos sabiam de João, já que ele era famoso até na Palestina devido aos seus escritos e à alta posição que ele possuía. Regozijando-se porque tal homem tinha vindo a ele em pobreza e humildade, o abade o recebeu com amor. Ele pediu por um irmão experiente no ascetismo, para confiar o noviço aos seus cuidados na formação em filosofia espiritual e nas tradições do monaquismo, mas o monge se recusou a aceitar João, não querendo ser professor de um homem que superou tantos em conhecimento. Então o abade convocou outro, mas este também recusou. Um terceiro e um quarto monge foram trazidos, mas eles e todos os demais declararam que eram indignos de instruir tal homem. Todos estavam assustados com o amplo aprendizado de João e com o antigo posto exaltado. Finalmente, um ancião simples, porém sábio, foi convocado e concordou em ser o guia de João. O ancião recebeu João em sua cela, e desejando estabelecer para ele o fundamento de uma vida de virtude, primeiro impôs a ele as seguintes regras: nunca fazer nada de acordo com sua própria vontade; oferecer a Deus seus esforços e fervorosas súplicas como sacrifício; e derramar lágrimas para lavar os pecados de sua vida anterior, já que Deus considera as lágrimas como uma oblação mais preciosa do que qualquer incenso. Essas regras, considerava o ancião, eram a base para as obras superiores, que são aperfeiçoadas pelos trabalhos do corpo. Além disso, ele exigiu que João não cultivasse pensamentos mundanos; que ele não se detivesse em imagens impróprias, mas preservasse sua mente pura, intocada por todo apego vão; e que ele não se gabasse de sua aprendizagem ou considerasse que, pelos seus estudos, ele havia alcançado um perfeito entendimento. Ele também proibiu João de buscar revelações ou a compreensão de mistérios ocultos, ou imaginar que sua razão permaneceria inabalável até o fim de sua vida, e que ele nunca se afastaria do caminho da verdade. Pelo contrário, ele o avisou que os pensamentos dos homens são fracos e seu entendimento prejudicado pelo pecado. Por essa razão, ele disse para João não permitir que seus pensamentos vagassem, mas que tivesse o cuidado de controlá-los, de modo que sua mente fosse iluminada por Deus, sua alma santificada e seu corpo purificado de toda impureza. Ele ordenou ao santo que se empenhasse em conciliar corpo, alma e mente, como uma imagem da Santíssima Trindade, e não se deixar ser governado nem pelo corpo nem pela alma, mas pela faculdade noética. Desta forma, é possível que um homem se torne completamente espiritual. Tais foram as regras dadas a seu filho e aluno por este pai e professor, que acrescentou a eles estas palavras: "Não escreva a ninguém, e não dialogue com nenhuma das ciências seculares. Mantenha um silêncio discreto. Lembre-se de que não são apenas os nossos sábios que ensinam o valor de uma vida tranquila; Pitágoras também fez com que seus discípulos mantivessem um longo silêncio. Preste atenção a Davi, que disse: "calava-me mesmo acerca do bem", e entenda que não é proveitoso falar fora de ocasião. E que ganho ele obteve do silêncio? Ele diz: "Meu coração ficou quente dentro de mim; "isto é, o fogo do amor divino foi aceso nele pela reflexão sobre Deus".
[[Imagem:Mar-Saba-.jpeg|thumb|right|Mosteiro de "Mar Sabba", Palestina]]
As instruções do ancião caíram como sementes em solo fértil no coração de João, enraizando-se ali. João viveu por muito tempo com o ancião divinamente inspirado, cumprindo cuidadosamente suas ordens e submetendo-se a ele sem pretensão, contestação ou murmuração. Mesmo em seus pensamentos ele nunca contradisse os mandamentos do ancião, e ele escreveu em seu coração esta frase como em tábuas de pedra: "Todo mandamento dado pelo pai deve ser obedecido sem ira e sem dúvida, como o Apóstolo diz." De fato, como um novato se beneficia ao cumprir uma tarefa com as mãos, enquanto resmunga com os lábios? Que ganho há em fazer o que é ordenado, ao mesmo tempo em que contradiz a língua e a mente? Como tal homem pode alcançar a perfeição? Nunca alcançará seu objetivo. Ele trabalha em vão, pois ao pensar que alcançou a virtude através da obediência, ele apenas escondeu uma serpente no peito ao reclamar. Mas o abençoado João, que era verdadeiramente obediente, nunca resmungou, não importando quais tarefas ele tivesse que executar.

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