Alterações

Ir para: navegação, pesquisa

Perpétua de Cartago

2 bytes removidos, 20h22min de 3 de novembro de 2020
Vida
Víbia Perpétua nasceu em uma rica família pagã de Cartago na África (atual Tunísia) com outros dois irmãos em 181, na era do santo Papa Eleutério de Roma (174–189). Em sua juventude, recebeu uma excelente educação, casou-se e teve um filho. Pouco tempo depois, seu esposo faleceu, e Perpétua passou a crer em [[Jesus Cristo]] aos vinte e dois anos de idade, sendo logo capturada e enviada à prisão junto com sua criança de um ano. Naquele tempo, o Imperador Sétimo Severo (193–211) havia publicado um édito que proibia a conversão ao cristianismo no império. Acompanharam-na no cárcere um de seus irmãos, Sátiro, e seus servos Felicidade, Revogado, Saturnino e Segundo.
Mesmo com seu pai apelando aos seus sentimentos maternais, a viúva jovem recusou-se a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Aos seus apelos, Perpétua disse: “Pai, vês este jarro no chão? Pode ele ser chamado de qualquer outro nome que não corresponda ao que ele já é? Pois bem, da mesma forma não me posso chamar de outra coisa que não seja o que sou, cristã.” Seu pai, então, atirou-se sobre ela com raiva e, dominado por argumentos diabólicos, foi-se embora da prisão.
No cárcere ministravam os diáconos Tércio e Pompônio. Foi através deles que Perpétua aceitou o Santo Batismo, e seus cinco companheiros tornaram-se seus catecúmenos. Os diáconos também conseguiram fazer com que eles fossem retirados da escura e fria masmorra e levados para uma parte mais aberta da prisão, onde Perpétua pôde amamentar seu filho enfraquecido pela fome e consolar sua família.
Perpétua acatou sua sugestão e, em sonho, viu uma escada dourada tão alta que ultrapassava as nuvens, porém tão estreita que as pessoas só poderiam subi-la uma a uma. Afixados aos lados da escada, haviam todos os tipos de armas: espadas, lanças, garras e punhais, de forma que quem subisse-a descuidosamente e olhasse para trás fosse despedaçado pelas lanças. Debaixo da escada, havia um dragão de tamanho inigualável que amedrontava qualquer um que tentasse ascender a escada.
Sátiro foi o primeiro a subir e, chegando no topo, disse: “Perpétua! Estou esperando por ti, mas toma cuidado para que não te sejas pega pelo dragão.” Repetindo o Nome de Jesus Cristo, a viúva jovem dirigiu-se à escada, e pisou na cabeça do dragão acoado enquanto subia os degraus. Quando chegou lá em cima, Perpétua viu um imenso jardim, e no meio dele havia um Homem de Cabelos brancos e alta estatura. Ele estava sentado com roupas de pastor ordenhando Suas ovelhas, e ao Seu redor haviam milhares de seres de vestes brancas. Ao levantar Sua Cabeça, o Homem olhou para a viúva e chamou-a: “Minha filha, tu és bem-vinda.”
Quando Perpétua se aproximou, o Homem transformou o leite ordenhado em queijo e deu-lha. Ela comeu, e todos os que estavam ao redor disseram: “Amém.” À essa palavra Perpétua despertou e, ainda com o gosto em sua boca, correu para relatar o sonho ao seu irmão. Ambos entenderam que havia de ser uma paixão, e deixaram de ter quaisquer esperanças neste mundo.
Alguns dias depois, enquanto oravam, veio à mente de Perpétua Dinócrates, seu esquecido e miserável irmão que falecera aos sete anos de idade vítima de um câncer. Perpétua lamentou-se e sentiu a dignidade de ter sido preservada da doença por Deus; assim, começou a suplicar e chorar por seu falecido irmão a Deus.
Naquela mesma noite, o Altíssimo concedeu-lha mais uma visão, e nela Perpétua via Dinócrates saindo de um lugar sombrio e nebuloso junto a várias outras pessoas. Sua pele estava ressecada de tamanha sede, e sua face, pálida, encardida e com o rosto devorado pelo tumor. Entre os dois, havia um hiato para que nenhum pudesse se aproximar do outro. Em frente a Dinócrates havia um tanque cheio de água, e ele esforçava-se para alcançá-lo, mas sua altura era menor que a do tanque. O sofrimento de seu irmão era perceptível à viúvaa Perpétua, mas ela sabia que somente sua oração traria ajuda a ele, de forma que seu nome esteve presente em suas orações por todos os dias que se seguiram.
No dia anterior ao 7 de março de 203, aniversário de Geta, filho de Sétimo Severo e futuro imperador, Perpétua dedicou seu último dia persistindo em oração o tempo inteiro, lamentando-se e gemendo por seu irmão. De noite, teve uma nova visão: a escuridão havia sido dissipada pela luz, e Dinócrates estava completamente limpo. O tanque havia diminuído de tamanho até a cintura de seu irmão, e no lugar do tumor havia apenas uma cicatriz. Alguém tirava a água incessantemente, e uma taça estava na beira do tanque; Dinócrates bebeu-a por completo, saciou-se, e afastou-se para brincar à maneira das crianças. Assim, Perpétua entendeu que o menino havia sido poupado da punição.
=== A última visão ===
[[Imagem:Perpetua.png|miniatura|Santa Perpétua.]]
Na noite anterior ao juízo no anfiteatro, logo após o sonho com Dinócrates, Perpétua viu Pompônio bater forte na porta da prisão. Ela abriu a porta ao diácono, o qual estava vestido com um manto branco e sandálias, ambos ricamente ornamentados, e disse: “Perpétua, estamos à tua espera, vem!” Então, segurou a mão da viúva jovem sonolenta e levou-a a lugares perigosos e sinuosos até chegar ao centro do anfiteatro. “Não temas, estou contigo e irei te ajudar!” E partiu. Nas arquibancadas, havia um número esplêndido de espectadores, todos aterrorizados com um egípcio de aparência horrível e seus companheiros, ambos prestes a confrontá-la. Ela não estava sozinha, várias crianças começaram a se juntar a ela para esfregar óleos em seu corpo, como era costume aos gladiadores. Quando viu, não era mais uma mulher, mas sim um gladiador.
Então, um Homem mais alto que o anfiteatro inteiro apareceu. Ele vestia uma túnica e um manto púrpura entre duas faixas que cruzavam Seu Peitoral, além de duas sandálias de prata e ouro. Ele carregava um bastão, simbolizando o treinador dos gladiadores, e um ramo verde sobre o qual pendiam maçãs douradas. Houve um silêncio, e Ele disse: “Este egípcio, se vencer esta mulher, mata-la-á à espada; esta mulher, se o vencer, receberá o ramo.” E então, desapareceu.
A multidão enfureceu-se, e exigiram que fossem flagelados pelos torturadores. Durante as chibatadas, os mártires deram graças a Deus por poderem participar de Seus sofrimentos; Ele quem dissera “Pedi e recebereis” (João 16:24) lhes deu, conforme pediram, o padecimento que cada um havia desejado. Em seguida, São Saturnino e São Revogado tiveram de enfrentar um leopardo. Não sendo derrotados, foram amarrados num tablado para serem feridos até a morte por um urso, e assim gloriosamente entregaram suas almas a Cristo. Sátiro, por sua vez, foi amarrado a um javali, o qual acabou matando um torturador logo que foi solto e não arrastou Sátiro de forma que ele se ferisse. Então, amarraram-no e abriram a jaula do urso, mas este recusou-se a sair dela. Por isso, Sátiro foi levado de volta à cela dos sobreviventes sem ferimentos.
O uso deste animal na arena era inédito até então, mas assim foi para que Hilarião rivalizasse-as em seu sexo: as duas jovens tiveram que lidar com uma vaca. Tendo amamentado seu filho uma última vez, Felicidade dirigiu-se ao centro da arena com Perpétua. A vaca foi ao ataque de Perpétua, que ao final caiu já com seu manto rasgado e sangrando com grandes cortes. Como a viúva jovem preocupava-se mais com a decência do que com a dor, rapidamente ajeitou seus trapos para que cobrissem seu quadril. Amarrou também seus cabelos despenteados, para que não a dessem uma aparência de luto, mas sim de glória. Quando viu, Santa Felicidade estava ferida e contorcida no chão com os golpes que a vaca lhe dera. Rapidamente correu à companheira, levantou-a e ambas ficaram juntas uma da outra enquanto eram feridas pela vaca. O ânimo dos espectadores apaziguou-se, e as duas foram chamadas à cela novamente.
Lá, um catecúmeno de nome Rústico manteve-se perto de Perpétua, dando-lhe apoio. De repente, a viúva fez como se tivesse despertado de um sonho, embora estivesse acordada o tempo inteiro. Para a surpresa de todos na cela, ela começou a olhar ao redor e disse: “Não faço ideia de quando seremos levados até aquela vaca!” Quando contaram-na, ela não conseguia acreditar, e espantou-se quando viu os ferimentos e o sangue em seu corpo e manto. Ao catecúmeno que era conhecido dela e a seu irmão, Perpétua exortou: “Permanecei firmes na Fé, amai-vos todos uns aos outros e não vos indigneis com os meus sofrimentos.”
11 779
edições

Menu de navegação