Alexis de Wilkes-Barre
Santo Aleixo da Pensilvânia (14 de março de 1853 – 7 de maio de 1909) foi um arcipreste cárpato-ruteno convertido do uniatismo à Ortodoxia após ter renunciado sua posição como padre greco-católico ruteno e ingressado na Igreja Ortodoxa Russa. Se tornou responsável por cerca de 20 mil conversões de católicos orientais, contribuindo para o crescimento da Ortodoxia nos Estados Unidos e o eventual estabelecimento da Igreja Ortodoxa na América. É considerado um dos maiores missionários ortodoxos americanos. Sua memória é celebrada pela Igreja no dia 7 de maio.
Vida
Aleixo Georgievich Toth nasceu em 14 de março de 1853 perto de Presóvia na Eslováquia (que era então parte do Império Austríaco). Era de origem sacerdotal uniata, sendo filho do Padre Jorge Toth e sua esposa, Cecília Toth. Depois de completar a educação primária, ingressou em um seminário católico romano por um ano, seguido de três anos em um seminário greco-católico em Uzorodo na Transcarpácia. Depois, foi à Chéquia e ingressou na Universidade de Praga, graduando-se em Licenciatura em Teologia.
Após se casar com Rosália Mihaluk em 18 de abril de 1878, foi ordenado presbítero pelo Bispo Nicolau de Presóvia (1876–1882), seu parente. Poucos anos depois, sua esposa Rosália, cujo pai também era um padre uniata, e seu único filho faleceram. Após isso, Aleixo atuou em paróquias locais como chanceler da diocese, até que em 1881 foi apontado pelo seu bispo como diretor do seminário greco-católico de Presóvia e professor de Direito Canônico e História da Igreja na mesma instituição. Padre Aleixo continuou nesta posição sob o Bispo João (1883–1911), sucessor do hierarca anterior.
Conflito com John Ireland
Mais tarde, Alexandre, um padre uniata que havia estudado com Aleixo no seminário, escreveu uma petição ao Bispo João pedindo para que o Padre Aleixo fosse mandado aos Estados Unidos. O bispo concordou e enviou Aleixo como um “missionário”. Ele chegou à América em 15 de novembro de 1889 e, em 27 de novembro, no dia de ação de graças, conduziu seu primeiro serviço litúrgico na Igreja de Santa Maria em Mineápolis, como o primeiro sacerdote residente a servir oficialmente nessa igreja. No entanto, o edifício não estava completo; não havia mobília e nem paramentos, apenas uma dívida enorme. Ao longo do ano seguinte, Aleixo trabalhou com sua comunidade e conseguiu o que era preciso, tornando a paróquia uma instituição organizada e estável, tudo isso sem receber qualquer salário.
Como uniata, Padre Aleixo entendeu que deveria visitar o bispo católico da região, já que não havia nenhum bispo católico oriental nos Estados Unidos naquela época. O então hierarca da Arquidiocese de São Paulo e Mineápolis era o Arcebispo João, um forte defensor do movimento de americanização (ou seja, assimilação da cultura estadunidense) dos imigrantes católicos dentro da Igreja Católica Romana nos Estados Unidos, principalmente dos alemães. Ele era hostil com as paróquias étnicas tal como a que o Padre Aleixo servia, não vendo uma capacidade ou o desejo de se encaixarem em seus planos. Na frente do padre, o arcebispo irritou-se e jogou suas credenciais sacerdotais na mesa, enquanto ardentemente protestava sobre sua presença na cidade. João não reconheceu nem ele nem seu bispo como verdadeiros católicos. Uma biografia do arcebispo, intitulada “João Ireland e a Igreja Católica na América”, confirma este acontecimento:
- “O sacerdote apresentou ao arcebispo suas credenciais. Ao lê-las, as mãos de João tremeram. Então, ele olhou para cima e disse abruptamente em latim: ‘Você tem uma mulher?’ Aleixo negou, na mesma língua. ‘Mas você teve uma?’ — ‘Sim, eu sou viúvo.’ João jogou os documentos sobre a mesa na frente dele. ‘Eu já escrevi a Roma protestando contra esse tipo de padre que está sendo enviado para mim!’ — ‘Que tipo de padre você está falando?’ — ‘O seu tipo.’ — ‘Eu sou um sacerdote uniata católico de rito grego, e fui ordenado por um bispo católico regular.’ — ‘Eu não considero que você ou esse bispo de vocês sejam católicos, além de eu não precisar de quaisquer sacerdotes greco-católicos aqui, um padre polonês em Mineápolis é o suficiente, os gregos também podem tê-lo como seu sacerdote.’”
A conversa estava tornando-se mais problemática a cada minuto, com ambos perdendo a calma. João se recusou a dar permissão para Aleixo servir como sacerdote em Mineápolis e ordenou que todos os sacerdotes católicos romanos e seus rebanhos não tivessem relações com Aleixo e seu povo. João citava um decreto que dizia que os padres casados das igrejas católicas orientais não eram autorizados a servir nos Estados Unidos. Mas não foi só isso: a forma que se referiu a Aleixo e como tratou a jurisdição da qual ele fazia parte o entristeceu muito. Padre Aleixo, por sua vez, enviou um relatório ao seu bispo na Presóvia sobre a sua recepção pelo Arcebispo João, mas não obteve nenhuma resposta. Outros sacerdotes uniatas nos Estados Unidos enviaram cartas ao Padre Aleixo relatando que eles tiveram confrontos similares. Segundo a biografia do arcebispo, “A visão de João contra os uniatas não era de forma alguma única; seus colegas de episcopado, americanistas assim como anti-americanistas, compartilhavam esta visão ou pelo menos eram condolentes com ela.”
Em outubro de 1890, houve uma reunião de 8 dos 10 sacerdotes uniatas na América na Pensilvânia, sob a presidência de Aleixo. Nesta altura, os hierarcas católicos estadunidenses, incluindo João, haviam escrito a Roma exigindo a retirada de todos os sacerdotes uniatas nos Estados Unidos, temendo que os padres e paróquias uniatas fossem dificultar a assimilação dos imigrantes na cultura americana. Padre Aleixo e outros sacerdotes greco-católicos passaram a acreditar que seriam deportados à Europa e que seus fiéis seriam, no final das contas, anexados às paróquias de rito romano em suas respectivas cidades.
Reunificação
Inicialmente, Padre Aleixo pensou que seria melhor retornar à Europa. Seus paroquianos fizeram oposição a essa ideia e mostraram-se favoráveis a buscar um hierarca da Igreja Ortodoxa. Aleixo refletiu sobre todo o acontecimento e aceitou iniciar um diálogo. Em 8 de dezembro de 1890, seus paroquianos entraram em contato com o cônsul da Rússia em São Francisco na Califórnia, pedido para que ele pudesse colocá-los em contato com um bispo ortodoxo russo.
O cônsul viajou à Califórnia para fazer o contato inicial com o Bispo Vladimir das Ilhas Aleutas e Alasca (1888–1891). Em fevereiro de 1891, Aleixo e o diretor leigo da igreja, Paulo Podany, também viajaram e se encontraram com o bispo. Após um diálogo muito frutífero, Padre Aleixo tomou a decisão de ser recebido pela Igreja Ortodoxa Russa. O Bispo Vladimir então realizou uma viagem até Mineápolis para receber os fiéis. Em 25 de marco de 1891, Aleixo e os 361 paroquianos da Igreja de Santa Maria foram recebidos de volta ao seio da Igreja, cujos antepassados abandonaram três séculos antes. Os paroquianos consideraram esse evento como um novo triunfo da Ortodoxia, gritando com alegria: “Glória a Deus por Sua grande misericórdia!” É importante lembrar que essa iniciativa partiu do próprio povo, e não foi resultado de qualquer coerção. A Igreja Russa não tinha conhecimento da existência desses imigrantes eslavos uniatas em terras americanas, mas respondeu de forma positiva a sua petição para reunir-se à Igreja.
Por esta ação, Padre Aleixo ganhou a peculiaridade de ser o primeiro padre greco-católico nos Estados Unidos a levar seus fiéis de volta à Igreja Ortodoxa. Tendo sido originalmente enviado para a América para ser um missionário aos imigrantes, ele, em sua nova função, cumpriu seu destino como o missionário que levou o seu povo de volta à Santa Igreja. Em dezembro de 1892, evangelizou os imigrantes da Pensilvânia, pregando e iluminando-os sobre o seu futuro social e religioso na América. Em 1902, recebeu a Igreja de São João Batista, também na Pensilvânia, para o rebanho ortodoxo.
O exemplo de Santo Aleixo e de sua paróquia no retorno à Ortodoxia foi um estímulo para centenas de outros uniatas. Através de sua pregação destemida, ele arrancou o joio que surgiu no trigo da verdadeira doutrina, e expôs os falsos ensinamentos que levaram seu povo ao erro. Embora não hesitasse em apontar os erros doutrinais das outras denominações, ele teve o cuidado de advertir seu rebanho contra a intolerância. Seus escritos e sermões são preenchidos com admoestações para respeitar as outras pessoas e de se abster de atacar sua fé.
Embora seja verdade que ele fez alguns comentários fortes, especialmente em sua correspondência privada com a administração da igreja, deve-se lembrar que isso foi feito defendendo a Igreja Ortodoxa e a missão americana de acusações infundadas por pessoas que usaram uma linguagem muito mais dura do que ele. Seus oponentes puderam ser caracterizados pela intolerância, comportamento rude, métodos antiéticos e ameaças contra ele e seus paroquianos. No entanto, quando Santo Aleixo se sentia ofendido ou enganado por outras pessoas, ele as perdoava, e muitas vezes pedia ao seu bispo para perdoar suas omissões e erros.
No meio de grandes dificuldades, este arauto da piedosa Teologia e da sã Doutrina derramou um fluxo inesgotável de escritos ortodoxos para novos convertidos, e deu conselhos práticos sobre como viver de uma forma ortodoxa. Por meio de seus folhetos paroquiais, Santo Aleixo enfatizava a importância da educação, a clareza, a sobriedade, e a presença de crianças nas igrejas aos domingos e nos dias santos.
Embora a paróquia de Mineápolis tenha sido recebida na Igreja Ortodoxa em março de 1891, apenas em julho de 1892 o Santo Sínodo da Rússia reconheceu e aceitou a paróquia na Diocese das Ilhas Aleutas e Alasca. Essa resolução, por sua vez, chegou à América apenas em outubro de 1892. Durante esse tempo, houve um clima de hostilidade religiosa e étnica contra os novos convertidos por parte do clero e fiéis católicos romanos. Padre Aleixo foi acusado de vender seu próprio povo cárpato-ruteno e sua religião para os “moscovitas” afim de receber “ganhos financeiros”. A verdade é que ele não recebeu qualquer apoio financeiro por muito tempo, pois sua paróquia era muito pobre. Até começar a receber um apoio financeiro, foi obrigado a trabalhar em uma padaria para se sustentar. Mesmo sendo seus recursos escassos, não deixou de dar esmolas aos pobres e necessitados. Ele compartilhou o seu dinheiro com outros clérigos em situações piores do que a dele, e contribuiu para a construção de igrejas e na formação de seminaristas em Mineápolis.
Santo Aleixo não estava preocupado com a sua vida, o que ele iria comer, beber ou vestir. Confiando que Deus cuidaria dele, seguiu a admoestação de nosso Senhor Jesus Cristo de “buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Assim, ele suportou a tribulação, calúnias, lutas espirituais e ataques físicos com paciência e alegria, lembrando-nos que “a piedade é mais forte do que tudo” (Sabedoria 10:12). Ele sempre orava em segredo, com toda a sua modéstia, contrição e lágrimas interiores.
Bispo Vladimir e seus sucessores, Nicolau (1891–1898), São Ticão (1898–1907, antes de ser eleito Patriarca de Moscou) e Platão (1907–1914), reconheceram os dons do Padre Aleixo, e frequentemente enviavam-no para pregar e ensinar onde quer que houvessem imigrantes eslavos. Sempre obediente às instruções dos hierarcas, Santo Aleixo visitou muitas paróquias uniatas, sempre ensinando sobre a diferença entre a Ortodoxia e o protestantismo, o catolicismo romano e a unia.
Morte a glorificação
Os esforços do Padre Aleixo não passaram despercebidos. Alguns anos antes de seu repouso, foi elevado ao grau de arcipreste, recebendo uma mitra de joias enviada pelo Santo Sínodo da Rússia. Também foi condecorado com a Ordem de São Vladimir e a Ordem de Sant'Ana por São Nicolau II, Imperador da Rússia (1894–1917), pelo seu distinto serviço e devoção a Deus e ao Seu povo. Em 1907, foi considerado um candidato ao cargo episcopal, mas recusou esta honra. Humildemente, apontou que essa responsabilidade deveria ser dado a um homem mais jovem e mais saudável.
Ele continuou liderando o processo de recebimento de greco-católicos. Ao todo, 65 comunidades uniatas com cerca de 20 mil paroquianos foram recebidas até seu repouso, graças aos esforços e diálogos por ele realizados. No final de 1908, o Arcipreste Aleixo precisou diminuir suas atividades devido a complicação de sua doença. Chegou a ir para o litoral sul de Nova Jérsia, em uma tentativa de recuperar sua saúde, mas voltou à Pensilvânia em março do ano seguinte, onde foi confinado a uma cama por dois meses.
Em 7 de maio de 1909, na Festa dos Santos Sabas e Aleixo de Quieve, Arcipreste Aleixo repousou no Senhor e foi sepultado em um santuário especial no Mosteiro de São Ticão, em Canaã do Sul na Pensilvânia. Em seu testamento, o arcipreste encomendou sua alma à misericórdia de Deus, perdoando a todos e implorando para que o perdoassem por tudo.
Pós-vida
Pelos anos em que se seguiram, diversos milagres aconteceram pelas intercessões do santo, e sua veneração popularizou-se pelos Estados Unidos. Em 1993, um certo homem depositou toda a sua fé em Santo Aleixo, e orou para que pudesse obter informações sobre seu filho, o qual havia se separado do pai há quase três décadas. No dia seguinte, o telefone tocou: era seu próprio filho, dizendo que estava numa igreja quando um desejo avassalador de entrar em contato com seu pai adentrou o seu coração. Ele havia sido levado para outro estado pela mão, e teve seu nome trocado na infância para que não pudesse ser encontrado por sua família paterna. Quando perguntou à mãe sobre o pai e soube que ele era um cristão ortodoxo, obteve o número de telefone de seu pai com a ajuda de um padre. Como resultado, o jovem visitou mais tarde seu pai, que se alegrou ao ver que tipo de homem seu filho havia se tornado. Ambos deram graças a Deus por tê-los reunido pelas intercessões de Santo Aleixo. Por conta desse e vários outros milagres, em 29 de maio de 1994, Santo Aleixo foi glorificado pela Igreja Ortodoxa na América, cujo estabelecimento e número de fiéis foi em grande parte devido a ele.
Hinos
Tropário
(Tradução livre)
- Ó justo Padre Aleixo, /
- nosso celeste intercessor e professor, /
- divino adorno da Igreja de Cristo, /
- roga ao Mestre de todos /
- para fortalecer a Fé ortodoxa na América, /
- para garantir a paz ao mundo, /
- e para as nossas almas, a grande misericórdia!
Condáquio
(Tradução livre)
- Nós, fiéis, louvemos o sacerdote Aleixo, /
- um farol luminoso da Ortodoxia na América, /
- um modelo de paciência e humildade, /
- um pastor digno do rebanho de Cristo. /
- Ele chamou de volta as ovelhas perdidas /
- e trouxe-as, pela sua pregação, /
- ao Reino dos Céus!
Referências
- Marcos Stokoe e Leônidas Kishkovsky (1995). Cristãos Ortodoxos na América do Norte: 1794-1994. Capítulo segundo.
- Marvino O'Connell (1988). João Ireland e a Igreja Católica na América. Capítulo XII.
Ligações externas
- Santo Aleixo da Pensilvânia (Igreja Ortodoxa na América, OCA)
- Santo Aleixo da Pensilvânia (João Sanidopoulos)