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Antônio e Teodósio de Kiev

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Vida
Em 983, na era do santo Grão-Príncipe [[Vladimir, o Grande]] (980–1015), nasceu Antipas, filho de piedosos pais cristãos de Lubécia na Chernigóvia (atual fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia). Possuindo um intenso temor por Deus desde sua infância, o jovem ansiava pela tonsura monástica, e aguardou pela maturidade até dirigir-se à Montanha Santa, que à época estava florescendo de novos monásticos sob a liderança de seu fundador, [[Atanásio do Monte Atos|Santo Atanásio do Monte Atos]].
O desejo de imitar as ações de seus santos habitantes fervia na alma de Antipas, e lá ele recebeu a tonsura no Mosteiro de Esfigmeno sob o nome de Antônio em honra a [[Antão, o Grande|Santo Antão, o Grande]]. Imitando seu padroeiro no eremitismo, o jovem monge vivia numa gruta de frente ao mar e agradava a Deus em todos os aspectos de sua luta espiritual pela virtude. Sua excelente humildade e obediência trazia regozijo aos outros monges da península.
O hegúmeno de seu mosteiro via nele um grande asceta, e pela inspiração divina quis enviá-lo de volta à sua terra natal para levar seu povo a Deus. Então, quando Antônio possuía 28 anos de idade, o hegúmeno foi até ele e disse: “Antônio, é chegada a hora de guiares outrem à santidade. Volta às terras russas e sê de exemplo aos outros. Que as bênçãos da Montanha Sagrada estejam contigo.” O monge obedeceu, e retornou a uma Quieve ainda mais cristã do que aquela na qual ele havia crescido durante sua infância após o [[Batismo da Rússia]]. Antônio andou por todas as terras, mas não encontrou lugar algum que o inspirasse a ter a estrita vida monástica que tinha em Atos.
Antônio, então, abrigou-se numa caverna, da mesma forma que vivia em Esfigmeno. Pouco tempo depois, São Vladimir repousou no Senhor e seu trono foi assassinado usurpado pelo seu próprio filho, Esvetopolco , o Maldito (1015–1019). Por conta disso, e Quieve logo tornou-se uma terra de guerras e crises. Então, o monge deixou sua caverna para refugiar-se de volta na Montanha Santa por quatro anos, até Esvetopolco ser vencido por São Jaroslau, o Sábio (1019–1054), e a paz retornar a Quieve. Antes de voltar, o hegúmeno de Esfigmeno profetizou que muitos seriam os seus filhos nas terras quievanas.
Pela Providência de Deus, Antônio chegou às colinas de Quieve, às margens do rio Dniepre, onde as florestas de Berestovo o lembravam da amada montanha. Ali havia uma gruta, escavada por Santo Hilarião, futuro Metropolita de Quieve (1051–1055), quando este ainda era um sacerdote. Tendo gostado do lugar, Antônio orou em lágrimas: “Ó Senhor, permite que as bênçãos do Monte Atos e do Teu santo hegúmeno estejam sobre este lugar, e fortalece-me de modo que eu permaneça aqui.”
Antônio voltou com suas lutas em oração, vigília, jejum e labuta. Dia sim, dia não, o santo comia — apenas pão seco e um pouco de água — e raramente dormia. Certas vezes, o monge passava uma semana inteira sem comer, mas sempre punha-se a cavar ainda mais aquela caverna. Devido à sua santa conduta, não demorou até que pessoas o buscassem para receber bênçãos e conselhos, e algumas decidiram juntar-se a ele. Entre os primeiros discípulos de Santo Antônio estava São Nicão, o Seco, que deixou todas as suas riquezas para dedicar-se a Cristo em severos jejunsdignos do epíteto que recebeu. Cada vez mais cristãos eram feitos monges, e assim surgiu a Lavra das Cavernas Próximas de Quieve.<ref group=nota>Uma lavra é um mosteiro que pode ser classificado como um “meio-termo” entre o eremitismo e o cenobitismo. O monge, vivendo em solidão e silêncio numa cela própria, possuía um superior e retornava à vida “comum” aos domingos (e talvez sábados) para a celebração da Divina Liturgia junto com os outros monges.</ref>
=== Florescimento de Quieve ===
Querendo evadir-se da reputação que tinha entre os quievanos, Antônio juntou-os e disse: “Foi Deus quem vos uniu, ó meus irmãos, e tendes as bênçãos da Montanha Santa, através da qual fui tonsurado para que no futuro pudesse tonsurar-vos. Que as bênçãos de Deus e de Atos recaiam sobre vós. Vivei separados uns dos outros e vos nomearei um novo líder para substituir-me, pois partirei para além das colinas, como costumava fazer nos tempos de solidão.” Após um tempo, São Barlaão de Quieve foi escolhido hegúmeno, e Santo Antônio retirou-se do mosteiro e cavou uma nova gruta para si, onde passou a viver em seclusão.
Não tardou até que novos monges surgissem, e a caverna não dava conta de todos. São Barlaão, então, foi até Santo Antônio e disse: “Pai, a irmandade cresceu, e não há mais espaço para todos na cripta! Se Deus e tuas orações nos guiarem, poderemos construir uma igreja fora das cavernas.” Antônio abençoou-os, e uma capela de madeira em honra à Dormição da [[Mãe de Deus]], a padroeira da comunidade, foi construída. Pelas orações da Virgem Maria, a capela rapidamente foi cercada de celas monásticas, e cada vez mais monges eram tonsurados.
Depois de mais um tempo, São Barlaão reencontrou-se com Santo Antônio e informou-o: “Pai, a irmandade já está muito grande… Que tu achas sobre construirmos um mosteiro?” Antônio alegrou-se e respondeu: “Bendito seja o Senhor por todas as coisas, que as orações da Santíssima Virgem e dos pais da Montanha Santa estejam convosco.” Imediatamente, outro discípulo foi ter com Iziaslau para entregar-lhe a mensagem: “Sua Alteza, eis que Deus fortaleceu a irmandade, mas sua morada é pequena demais. Pedimos, portanto, que nos conceda o monte acima de nossa caverna.”
Iziaslau não mediu esforços e, cercando-a com paliças, deu-lhes toda a montanha. Uma grande igreja foi construída, além de muitas celas e ícones que a adornaram. Foi assim que a Lavra das Cavernas Distantes de Quieve surgiu às margens do Rio Dniepre, enquanto que o Mosteiro de São Demétrio era construído a três quilômetros de lá a mando de Iziaslau. Após sua conclusão, o grão -príncipe pediu que São Barlaão fosse fundá-lo como hegúmeno, e lá o santo permaneceu com os novos monges. Esse mosteiro, mais tarde, viria a ser o Mosteiro de São Miguel da Cúpula Dourada. Após a ida de São Barlaão, os discípulos foram consultar Santo Antônio para que um novo líder designado por Deus assumisse a lavra, e Santo Antônio respondeu: “Quem dentre vós é mais obediente, modesto e brando que Teodósio? DeixaDeixai-o ser vosso líder.”
=== Luta e asceticismo ===
Sua mãe o amava muito, mas não possuía a mesma visão que seu filho. Acreditando que as novas ocupações do abençoado Teodósio traziam vergonha para a família, a viúva ameaçou o filho para que não deixasse sua posição social, mas Teodósio continuou firme no caminho do Evangelho. Então, sua mãe espancou-o e obrigou que ele não saísse mais de casa. Não demorou até que Teodósio fugisse com um grupo de peregrinos que tinham como destino a Terra Santa, mas a viúva encontrou-o após três dias desaparecido, e teve que prendê-lo em correntes em seu quarto.
O sofrimento de Teodósio ganhou popularidade, e o próprio grão-principado teve que de obrigar sua mãe a deixá-lo frequentar a igreja nos dias santos. Provavelmente foi no Domingo de Todos os Santos que Teodósio ouviu na leitura do Evangelho: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim não é digno de Mim.” (Mateus 10:37) Determinado no caminho que queria seguir, Teodósio aproveitou a ausência de sua mãe e fugiu para a recém-inaugurada comunidade de monges sob São Barlaão, levando apenas pão para sobreviver à caminhada.
Quando chegou lá, os monges rejeitaram-no pois Teodósio não possuía dinheiro consigo. Então, o jovem foi até a gruta onde Santo Antônio vivia em seclusão e caiu de joelhos implorando que ele o aceitasse. O monge temia que Teodósio não suportasse as dificuldades de se viver numa caverna devido à sua idade, mas Teodósio respondeu: “Ó santo pai, mas foi o próprio Deus que me levou a vós para que eu pudesse alcançar a salvação! Cumprirei a tudo o que vós me mandardes…” Pressentindo sua grandeza espiritual, Santo Antônio aceitou-o como noviço e, aos vinte e três anos de idade, foi tonsurado como monge por São Nicão tonsurou-o como monge.
Passaram-se anos até que sua mãe pudesse descobrir o paradeiro de seu filho, e jurou perante ele que ela morreria se ele não voltasse para casa com ela. Seu filho, entretanto, acalmou seu coração e aconselhou-a a entrar num convento, onde ela terminou os seus dias em paz. Após ser escolhido hegúmeno, o humilde Teodósio praticava ainda mais abstinências, jejuns e orações dignas de lágrimas, além de sempre consultar Santo Antônio e pedir por suas bênçãos. Naquele tempo, já havia mais de uma centena de monges na Lavra das Cavernas, e a maioria tinha de ficar fora da caverna.
Com sua virtuosa vida e estrita regra monástica, São Teodósio recebia a todos que vinham a ele, além de ter recebido no monasticismo São Nestor, o Cronista, futuro autor da Crônica dos Anos Passados, o primeiro relato sobre a vida dos fundadores de Quieve. A Crônica de Nestor também observa que, embora Iziaslau tenha construído um mosteiro ao lado do outro com muito mais riqueza material, nenhum desses mosteiros construídos por imperadores e príncipes se comparariam aos construídos por orações, lágrimas, jejuns e vigílias. Mesmo que Santo Antônio e São Teodósio não possuíssem ouro algum, eles construíram o que se tornou o primeiro centro espiritual das terras russas.
Mesmo como hegúmeno, São Teodósio derrubava árvores, carregava água e moia trigo para a lavra, muitas vezes ajudando seus filhos em suas tarefas. Teodósio também instituiu a leitura de livros religiosos durante as refeições, e muitos monges foram feitos copistas de manuscritos. Livros ainda eram uma raridade nas terras eslávicas, mas a lavra já possuía até uma biblioteca. A reputação de seus monges como “anjos na terra” atraía em peregrinação desde camponeses até príncipes, incluindo Iziaslau, que sempre buscava ia a São Teodósio em busca de conselhos.
Para abrigar os novos peregrinos, um alojamento foi construído para que os pobres e os doentes encontrassem refúgio. Nenhum mendigo saía da lavra sem receber uma refeição, e uma carroça carregada de pão era enviada semanalmente à prisão para alimentar os encarcerados. Certa vez, foram trazidos até ele alguns ladrões presos no ato de roubar itens da lavra. Com lágrimas em seus olhos, São Teodósio rogou que eles consertassem seus caminhos e, depois de alimentá-los, o hegúmeno despediu-os. Mais tarde, todos os ladrões tornaram-se benfeitores do mosteiro.
=== Últimos anos ===
Ainda em 1068, enquanto estava caído no campo de batalha, Simão sonhou com uma grande igreja sendo construída acima da Lavra das Cavernas, e muitas pessoas que viviam nas imediações viram uma luz descendo dos céus à noite até o lugar onde estava planejada a construção da igreja. Para expressar seu agradecimento à misericórdia de Deus, Simão doou o cinturão de seu pai e uma grande quantidade de ouro para adornar a nova igreja. Simão e outros três mil escandinavos pagãos receberam o Santo Batismo na Lavra das Cavernas. Depois de sua morteApós seu repouso, Simão tornar-se-ia o primeiro nobre a ser enterrado na lavra.
Assim como Santo Antônio, São Teodósio também suportou as contendas dos poderes reais. Quando Esvetoslau tomou o trono de Iziaslau, o hegúmeno escreveu uma carta em tom severo ao príncipe, reprovando sua ação e exortando que os poderes de seu irmão fossem restaurados. Quando teve que de recebê-lo, Teodósio disse: “Nada poderia ser melhor para mim nesta vida do que sofrer por causa da verdade. Nosso dever é dizer aquilo que é benéfico para a salvação da alma, e tu farias bem se escutasse.” Mesmo comemorando somente Iziaslau como governante durante os ofícios, a relação entre Teodósio e Esvetoslau era pacífica, e foi o príncipe quem deu as terras para a construção da nova igreja.
Em 1073, a Mãe de Deus apareceu a Santo Antônio e predisse seu repouso. Logo após abençoar as fundações da igreja ainda em construção, Santo Antônio reuniu os monges da lavra e os consolou com a promessa de que estaria sempre com eles em espírito e oraria incessantemente ao Senhor para que a comunidade fosse protegida de todos os ataques malignos. Antônio também prometeu que todos aqueles que ficassem na lavra em arrependimento e obediência encontrariam a salvação. Foi assim que, em 10 de julho de 1073, aos noventa anos de idade, tendo como último desejo que seu corpo ficasse para sempre escondido dos olhos humanos, Santo Antônio entregou sua alma ao Senhor.
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