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Jorge, o Vitorioso

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Partiu então para Nicomédia na Bitínia, onde ingressou na Guarda Pretoriana, e lá permaneceu até ser promovido à posição de tribuno, liderando diversas centúrias. Sua luta contra o mal — tanto material como espiritual — permitiu que ele fosse representado na iconografia como vencendo o dragão. Em um de seus feitos, havia uma grande e invencível serpente que comia todo ser vivo que visse pela frente, e passou a habitar a única fonte de água de um vilarejo. Sozinho e sem ter recebido ordens, o cavaleiro foi até a serpente e partiu-a no meio assim que ela pulou para engoli-lo. Aos 22 anos de idade, cheio de honras e medalhas, Jorge foi feito conde.
Certa vez, quando voltava de uma campanha, chegou a Nicomédia e ficou sabendo de antemão sobre uma reunião que Diocleciano estava tendo com seus governantes, com o fim de iniciar a eclosão iminente da Grande Perseguição (303–313). Jorge, que sempre teve por objetivo final servir ao seu Senhor Jesus Cristo, entendeu a missão a qual agora teria de cumprir. Distribuindo aos pobres todos os espólios que suas centúrias haviam obtido naquela campanha, prontamente apresentou-se ao Senado em 10 de novembro de 302296, jogando seu cinturão ao chão, proclamando sua Fé em Cristo, repreendendo a ilusão dos ídolos e negando-se a conduzir a perseguição de seus próprios irmãos.
Diocleciano amava Jorge como se fosse um irmão, e considerava que não havia nenhum soldado tão bravo e essencial como o tribuno. Mesmo sendo tentado pelas lisonjas e promessas do tirano imperador, o santo tribuno não se deixou levar pelas persuasões e rejeitou-as, preferindo as ameaças que o foram dirigidas caso negasse oferecer sacrifícios. O imperador, então, ordenou que Jorge fosse torturado. Os carrascos chicotearam-no até suas entranhas estarem visíveis, e aspergiram sal sobre elas. Escoriaram ainda o seu corpo com pelos ásperos até que seu sangue começasse a jorrar como água. Em todos esses sofrimentos, o confessor suportou-os pacientemente. Naquela noite, o Senhor apareceu perante Jorge no cárcere e disse:
: “Sê forte e anima-te, Meu amado Jorge, pois eis que fortalecer-te-ei para suportar a todos esses sofrimentos. Juro, por Mim mesmo e por todos os Meus anjos, que dentre os nascidos das mulheres ninguém se manifestou maior que João, o Batista, e que depois de ti ninguém se manifestará semelhante a ti. Porque eis que te constituí senhor sobre os setenta homens que consentiram em iniciar a perseguição do Meu povo, e tudo o que lhes disseres lhes acontecerá. Três vezes morrerás e te Eu ressuscitarei, mas, após a quarta, Eu mesmo virei sobre uma nuvem e te levarei ao lugar seguro que preparei para a tua santa morada. Sê forte e não temas, porque Eu estou contigo.”
Na manhã seguinte, São Jorge foi novamente trazido perante o tribunal. Durante todo o tempo, as pessoas ouviam-no cantar o salmo: “Apressa-Te em meu auxílio, Senhor, minha salvação!” Diocleciano, vendo que o santo ainda não havia abandonado a Cristo, ordenou que fosse novamente chicoteado nas costas e na frente, e enviou-lhe novamente à prisão, até que seus ferimentos fossem sarados. Em seguida, anunciou que estava em busca de um feiticeiro para que desse um fim ao “feitiço” do tribuno. Em pouco tempo, apareceu-lhe um mago de nome Atanásio, que não só jurou poder derrotar qualquer cristão como demonstrou seus poderes, fazendo com que um boi fosse partido ao meio sem intervenção humana alguma.
Era noite, e o imperador e seus servos estavam a jantar. Encontrando-os, gritou: “Sabeis quem vos fala? Sou eu, Jorge, a quem matastes ontem porque desprezastes o meu Deus que podia destruir-vos num instante!” Diocleciano não creditou-o, e disse a todos que era um impostor disfarçado, mas o comandante Anatólio, que o conhecia há anos, exclamou: “Em verdade, este é Jorge, ele ressuscitou dos mortos!” Todos concordaram, e mais de três mil soldados e cidadãos que conheciam Jorge passaram a crer em Cristo. No dia seguinte, todos foram sentenciados ao martírio.
Não se importando se aquele era ou não o tribuno ressuscitado, Diocleciano levou-o novamente em julgamento, e ordenou que ele fosse deitado e amarrado numa placa de ferro. Então, os carrascos queimaram seu corpo e boca com chumbo derretido, e lançaram uma enorme pedra ao alto, que quebrou os ossos do confessor ao atingi-lo. Em seguida, penduraram-no de cabeça para baixo, ataram-no uma pedra pesada ao pescoço e acenderam uma grande fogo debaixo dele. O mártir suportou a essas e outras torturas em silêncio. Novamente lançado à prisão, São Jorge possuía cada vez mais uma aparência angelical, e naquela mesma noite foi novamente visitado pelo Senhor que, curando-o, disse: : “Sê paciente, ó Meu escolhido Jorge, tem bom ânimo e não te desanimes, pois estou contigo. Haverá grande alegria nos Céus por tua causa e por causa de tua vitória. Eis que já morreste uma vez e Eu te ressuscitei; ainda hás de morrer mais duas, e Eu te ressuscitarei. Mas, após a quarta, Eu mesmo virei sobre as nuvens e te levarei ao lugar seguro que preparei para ti. Sou Eu que dou força ao teu santo corpo, e Eu que te farei repousar com Abraão, Isaque e Jacó. Não entristeças teu coração, pois Eu estou contigo. Teu martírio será consumado diante desses setenta homens, e de Mim testificarás diante deles. Durante sete anos serás torturado por amor de Mim, mas anima-te, não entristeças teu coração.” Saudando-o, o Senhor subiu aos Céus com os seus anjos, e o valente mártir por Cristo olhou para o céu até o amanhecer. Então, regozijou-se com o encorajamento que o Senhor havia lhe dado. Ainda de manhã, São Jorge foi novamente levado em julgamento. Maximiano (286–305), que reinava no Ocidente, estava com Diocleciano, e disse: “Ó Jorge, mostra-me um sinal. Se o fizerdes, juro por todos os deuses que crerei e adorarei somente o teu deus. Eis aqui setenta tronos, um para cada um de nós, todos feitos de diversos tipos de madeira, uns frutíferos, outros não. Se tua oração fizer que brotem frutos nas frutíferas e flores nas infrutíferas, crerei em teu deus.” São Jorge atirou-se com o rosto ao chão, e orou sileciosamente a Deus por um longo tempo. Assim que concluiu sua oração com um “Amém”, um grande tremor sacudiu o chão, e o Espírito de Deus fez brotar frutos nas pernas dos tronos feitos de árvores frutíferas e flores nas dos feitos de árvores infrutíferas. Maximiano estupefou-se: “Grande és, ó deus Hércules, que assim manifesta teu poder em madeira seca!” Jorge replicou corajosamente: “Comparas esse ídolo cego e mudo com o Deus que criou os Céus e a terra, que fez existir o que nunca existiu e que pode destruir tu e teu ídolo num mesmo instante?” E Diocleciano finalizou: “Ó galileu, pois eu sei como hei de te destruir.” São Jorge foi serrado ao meio, e assim morreu pela segunda vez.
Dentre as centenas de presos à espera da morte, estava sua própria esposa, a Santa Imperatriz Alexandra de Roma (284–303), que estava presente nas torturas de São Jorge e confessou-se cristã ao seu ímpio esposo logo após ver o milagre. De fato, tal era sua cólera que Diocleciano foi o único dentre eles que não acreditou no milagre.
O imperador implorou para que seu mais precioso soldado adorasse os ídolos, e chegou prometê-lo o cargo de Maximiano (286–305) caso o fizesse, mas o santo permaneceu firme em sua confissão. Diocleciano, então, ordenou que ele fosse jogado numa vala de cal ardente e coberto com ela, mas isso não adiantou de nada ao tirano, pois ainda mais pagãos foram testemunhas da perseverança de São Jorge, que aparentava não estar sofrendo dor alguma, e proclamaram Cristo como Deus. O imperador insistiu mais ainda, e ordenou que o confessor corresse calçado de botinas com pregos de ferro no interior, até que seus pés estivessem completamente furados com eles. Os soldados também corriam atrás de seu antigo líder, atacando-o sem piedade com tendões de boi.
Novamente ileso, o santo voltou a ser interrogado. Havia ali perto alguns túmulos de centenas de anos, e o interrogador exigiu que São Jorge ressuscitasse um morto. De pé ao lado do sepulcro, o tribuno começou a orar. Tamanha era sua experiência na oração, que não tardou até que um milagre ainda maior acontecesse: assim que notaram algo acontecendo dentro da tumba, as pessoas que lá estavam abriram sua tampa, e eis que um homem saiu de dentro dela, caindo aos pés do santo.
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