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Theodora, a Augusta

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== Vida ==
===Primeiros anos===
Santa Theodora nasceu em 815 numa pequena vila da Paflagônia, na costa norte da Ásia Menor (atual Turquia), vinda de uma ilustre família de oficiais armênios da corte imperial. <ref>Essa vila, não localizada porém conhecida como “Ebissa”, provavelmente correspondia à propriedade rural dessa família, próxima às florestas dos Montes Paríadres e à estrada que levava a Claudiópolis na Honória e, de lá, a Constantinopla, visto que os armênios eram conhecidos naquele tempo como comerciantes navais do Mar Negro.</ref>
Dotada de grande beleza física e espiritual, Theodora foi instruída desde a infância por sua piedosa mãe Florina, que a teve como um presente de Deus no mesmo ano em que o herético imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos. Naquele mesmo ano, Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o por Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia. Theodora era possivelmente a quarta de seus cinco irmãos — Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene —, e se destacava em sua Fé inabalável herdada de sua mãe, que após se tornou viúva e aceitou o monasticismo sob o nome de Teoctista quando Theodora era ainda criança.
===Imperatriz e esposa===Em 829, com a morte do imperador Miguel II (820–829), sucessor de Leão, seu filho Theófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. No ano seguinte, quando Theófilo completou dezoito anos, conta-se que sua madrasta e imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz e esposa de Theófilo. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Santa Theodora e Cassiana[[Cassiani, a Hinógrafa|Santa Cassiani]]. Postas as seis diante de Theófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida. A maçã dourada era um raro fruto, hoje desconhecido, possivelmente vindo de uma distante parte do Mediterrâneo a qual alguns acreditam ser a Mauritânia, dado como presente nupcial desde os tempos antigos.
Theófilo foi até Cassiana[[Cassiani, a Hinógrafa|Cassiani]], a escolhida, e deu-lhe a maçã, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria de Cassianada santa, que acentuara o “sim” da [[Mãe de Deus]] — a nova Eva — em detrimento do pecado da velha Eva, Theófilo afastou-se dela e deu o fruto a Theodora, sem saber que o recebeu em silêncioa diferença entre ambas é a devoção de Santa Theodora era mansa e paciente. Assim, Theodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiana Cassiani renunciou o mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa CassianaCassiani, a Melodista.
Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Theodora cumpriu fielmente seus deveres como de esposa e imperatriz desde os quinze anos de idade. Através de suas orações e seu exemplo de gentileza e paciência, a jovem tentava afastar a crueldade e as blasfêmias cometidas por Theófilo contra os cristãos ortodoxos. Seus rogos, entretanto, não pedidos eram ouvidos ignorados pelo imperador, que provou ser mais cruel que seus dois antecessores, como no . Um exemplo da crueldade de Theófilo é o caso dos dois santos irmãos [[Teófanes e Teodoro, os Assinalados|Teófanes e Teodoro]] que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Theófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.
=== O império sob Theófilo ===
Em 831, aos dezesseis anos de idade, Theodora deu a luz a TeclaTekla, cujo nome herdou da mãe de Theófiloavô paterna. Até 834, respectivamente, as gêmeas Ana e Anastácia , e Constantino já haviam nascido, nessa ordem. Até 840, o casal teve Pulquéria, Maria e Miguel. Provavelmente sob influência do círculo iconoclasta, Constantino teve seu nome escolhido por Theófilo para honrar o ímpio Imperador imperador Constantino V (741–775), que para Theófilo era um exemplo de governante. Herdeiro do trono imperial, o recém-nascido Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Como Theófilo não cria acreditava na Divina Providência e temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de Maria, sua filha recém-nascida, ao patrício AleixoAlexios, velho que já tinha idade o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados.
O temor de Theófilo contra os búlgaros justificava-se porque o tratado de paz entre os dois povos, firmado ainda na era de Leão V, acabaria naquele ano. Além dos recorrentes saques dos islâmicos na Capadócia e na Armênia, agora os búlgaros, que já haviam anexado a Mésia para si e detinham partes da Trácia e do Hemimonto até cidades vizinhas a Constantinopla (nas quais a população búlgara fora protegida pelo tratado), poderiam insurgir-se contra o império a qualquer momento. Somava-se a isso o martírio dois anos antes de Santo Enravota, herdeiro do trono búlgaro, por seu irmão Malamir por ter se convertido ao cristianismo. Naquele mesmo ano, Theófilo sofrera uma perda da frota de batalha imperial contra os muçulmanos na Sicília, ilha pela qual seus esforços para mantê-la sob seu domínio envolveram até propor sua filha Tecla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular.
=== Heresia Iconoclasta ===
[[Imagem:Skylitze The daughters of Theodora being instructed on the veneration and worth of icons by their grandmother. Public Domain.jpg|thumb|right|Santa Theodora ensinando os filhos à venerar ícones]]
Desde antes de assumir o trono imperial em 829, Theófilo tinha grande estima para com o futuro Patriarca João VII, a quem ele próprio instauraria em 837. João havia sido um iconógrafo e discípulo de São Theodoro, o Estudita (756–826), um firme defensor dos santos ícones e hegúmeno do Mosteiro de São João, o Batista, em Stoudion, distante um quilômetro a sudoeste do Gastrion, onde Teoctista estabeleceria um mosteiro na década seguinte do repouso de São Theodoro. Ainda em 814, João foi subornado pelo ímpio Imperador Leão V (813–820), o qual ofereceu-lhe a posição de Hegúmeno do Mosteiro dos Santos Sérgio e Baco, um prestigioso mosteiro ao sul do Hipódromo e próximo ao Palácio Imperial, caso traísse os cristãos e participasse da formulação de um falso concílio que aconteceria no ano seguinte. João, que era conhecido pelo epíteto de “o gramático” pelo extenso conhecimento que possuía, aceitou com orgulho o suborno, para deixar de ser apenas um monge em serviço a Deus e passar a viver com a glória mundana de seu epíteto. Ele utilizou todo o conhecimento que obtera na biblioteca do mosteiro em Stoudion para subverter os ensinamentos dos Santos Padres e, através de artifícios, fazer com que seus escritos apontassem para o iconoclasmo.
No Natal de 820, Leão V foi assassinado por seu antigo amigo Miguel II (820–829) — pai de Theófilo —, e esse tomou o Império para si. Um mês depois, Teódoto entregou sua alma ao demônio, e o ímpio Antônio, Bispo de Silião na Panfília, sucedeu-o como novo patriarca (821–837). Semelhante a João, Antônio também era um iconódulo, mas tornou-se iconoclasta para participar do concílio de 815 e ter uma chance de se tornar o próximo patriarca, o que de fato aconteceu. No ano seguinte, o Patriarca Jó de Antioquia (813–844), um iconódulo, assim que soube o novo imperador era mais um iconoclasta, decidiu reconhecer o comandante militar Tomé, o Eslavo, como imperador. Tomé recebeu o apoio de várias províncias do império após prometer o fim do iconoclasmo, e conseguiu cercar Constantinopla com dezenas de milhares de soldados, porém foi finalmente derrotado e morto de uma forma brutal e desumana por Miguel II. Antônio excomungou Jó, porém essa decisão apenas enfraqueceu a Sé de Constantinopla, uma vez que Jó viveu como Patriarca de Antioquia até ver a Fé sair vitoriosa no Primeiro Domingo da Quaresma de 843.
Sob a orientação de Antônio, o ímpio João foi tido como o primeiro na linha de sucessão para o Trono de Constantinopla, e tornou-se tutor de Theófilo ainda no primeiro ano do reinado de seu pai. João transmitiu a Theófilo toda a doutrina iconoclasta, bem como o ódio aos santos ícones.

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