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Xenofonte de Constantinopla

210 bytes adicionados, 26 janeiro
Pós-vida
[[Imagem:Xenofonte de Constantinopla.jpg|miniatura|São Xenofonte e sua família.]]
Os '''Veneráveis Santos Xenofonte, Maria, Arcádio e João de Constantinopla''' (séc. VI) foram uma teófora e louvada família monástica grega, cujo magnífico relato de vida corresponde a um dos maiores artigos desta enciclopédia. A Igreja comemora a santa família no dia [[26 de janeiro]].
Após alguns anos, Xenofonte ficou gravemente enfermo. Acreditando que seu esposo poderia estar em seus últimos dias, Maria escreveu aos seus filhos em Beirute para que voltassem a Constantinopla para receberem uma última bênção de seu pai e estarem presentes em seu funeral. Ambos apressaram-se de volta a Constantinopla, e Xenofonte alegrou-se tanto com sua presença que sua condição melhorou. O pai mandou-os sentar junto à sua cama e disse-lhes:
: “Filhos, meu fim aparenta estar próximo. Se sou amado por vós, prestai atenção ao que direi, não por vanglória, mas para que possais traçar o caminho da virtude. Creio que, se tomardes minha vida como exemplo, não precisareis de outra, pois as boas lições aprendidas de um pai, sejam elas dadas por palavras ou ação, são mais valiosas do que qualquer outro ensinamento. Sabeis que sou um homem devoto, e sempre fui sincero ao lidar com os outros. Todos os que me mostram respeito não o fazem por causa de minha nobre linhagem, mas em reconhecimento de minha branda e correta conduta. Jamais quis ofender, censurar, caluniar ou invejar a ninguém, nem me irrito sem razão e muito menos guardo rancor. Ao contrário, amo e tenho relações amistosas para com todos. Frequento a igreja todos os dias, de manhã e à noite. Não desprezo nem o mendigo, nem o estrangeiro, nem o desfavorecido, mas dou o consolo a todos os aflitos. Frequentemente visito os aprisionados, e já resgatei muitos cativos. Ponho uma guarda à minha boca para não dizer nada maligno. Velo pelos meus olhos para jamais olhar apaixonadamente para outras mulheres. Nunca conheci uma mulher a não ser vossa mãe, e só partilhei da cama dela até vosso nascimento. Desde então, por mútuo consentimento e com a ajuda de Deus, abstivemo-nos de relações conjugais. Meus filhos, imitai vossos pais e adquiri nossa Fé, paciência e humildade. Vivei em agrado a Deus, e Ele lhes concederá uma longa vida. Dai esmolas aos pobres, defendei as viúvas e os órfãos, visitai os doentes e os presos, assisti os injustiçados e ficai em paz com todos. Sede fiéis aos vossos amigos, fazei o bem aos vossos inimigos e não respondei o mal com o mal. Sede bondosos, gentis e amorosos para com todos, e permanecei sempre humildes. Preservai a castidade da alma e do corpo e, se Deus conceder-vos uma noiva, conservai vossa cama imaculada. Sede generosos às igrejas e aos mosteiros e honrai os sacerdotes e os monásticos, por conta dos quais o Senhor ainda tem piedade do mundo. Lembrai especialmente daqueles que vagueiam pelo amor a Deus nos desertos, nas montanhas, nas covas e nas cavernas, e providenciai-os em suas necessidades. Se alimentardes o pobre, jamais terão em falta. Eu provi generosamente aos necessitados e em nossa casa jamais sofremos de fome. Orai frequentemente e prestai atenção aos ensinamentos dos santos. Respeitai vossa mãe e obedecei a ela com temor a Deus. Jamais desafieis vossos desejos. Sede gentis aos escravos: tratai-os com o mesmo amor que daríeis aos vossos filhos e libertai-os quando chegarem à velhice, mas continuai a fornecer-lhes tudo o que precisarem até o dia em que morrerem. Repito: fazei como eu fiz, para que sejais considerados dignos da bem-aventurança dos santos. Nunca esqueçais que esta vida é fugaz, e sua glória não conta para nada. Filhos, obedecei aos mandamentos do Senhor e às minhas imposições, e que o Deus da paz esteja convosco.”
A estas palavras, João e Arcádio rogaram: “Pai, não nos abandone, pede a Deus por mais tempo! O Senhor certamente atenderá ao teu pedido. Se é para que nós avancemos na virtude, precisaremos de ti para nos guiar, pois ainda somos muito jovens!” Xenofonte suspirou e, em muitas lágrimas, disse: “Desde quando Deus visitou-me com esta enfermidade e tive de ser confinado nesta cama, tenho orado incessantemente para que Ele me permita mais tempo em razão de vossa juventude… Desejo ver-vos atingirem a perfeição.”
=== Naufrágio ===
Sob as bênçãos do pai, Arcádio e João embarcaram numa nau de volta a Beirute. Então, através da Divina Providência, uma tempestade surgiu, e o mar se agitou. Os marinheiros soltaram o leme, e a embarcação se partiu. Todos a bordo choravam por suas vidas, e os irmãos oravam:
: “Ó generoso Mestre, Criador de todas as coisas, não desprezes aqueles a quem Tu moldaste do pó! Permanece conosco e não Te esqueças das boas ações de nossos pais. Não deixes que morramos na flor da juventude; não permitas que o abismo engula nosso barco; não Te esqueças da Tua Misericórdia, mas olha do alto da Tua Glória e vê a nossa angústia. Ouve nossos gemidos e gritos, porque, com coração contrito e um espírito humilde, rogamos a Ti. Estende a Tua Mão destra todo-poderosa e livra-nos das portas da morte, trata-nos segundo a Tua abundante compaixão! Livra-nos por amor da Tua Misericórdia, porque nem os mortos hão de Te louvar, nem os que descem ao Hades, mas nós, os vivos, glorificaremos Teu temido Nome.”
Como a tempestade estava se tornando cada vez mais violenta e a embarcação estava em perigo iminente de afundar, os tripulantes entraram no bote salva-vidas e fugiram, deixando todos os outros no navio. João e Arcádio, prevendo a morte, exclamaram a seus pais, como se eles estivessem presentes: “Que vós desfruteis sempre de uma boa saúde, ó nossos queridos pais! Não tornareis a ver-nos, nem nós hemos de vos ver; nunca mais desfrutaremos juntos dos prazeres do lar!” Então, um disse ao outro:
: “Ai, amado irmão; ai, luz dos meus olhos! Como é difícil a separação! De que nos serviram as orações de nossos pais, as esmolas aos pobres, a generosidade e o respeito aos monges? Alguma de suas orações por nós chegou a Deus? Se sim, ficaram impotentes, ineficazes pelos nossos muitos pecados, pelos quais não somos dignos de permanecer vivos. Ai de nós! Há pouco tempo lamentávamos a morte de nosso pai; agora seremos nós a causa de lamento a ele. Ó pai, foste solícito para que recebêssemos uma boa educação e levássemos uma vida virtuosa, mas nunca verás sequer os nossos corpos! Ó mãe, esperavas que nos casássemos e nos preparássemos às núpcias, mas jamais verás sequer nossos túmulos! Quão difícil é para os pais testemunharem a morte e o sepultamento da sua prole, e muito mais para os nossos, que perderão seus filhos sem deixarem rastros nem história do seu fim! Tínhamos a esperança de vos pôr a descansar na velhice, mas somos indignos de sermos enterrados por vós. Salva-te, meu irmão, e perdoa-me!”
=== Asceticismo ===
[[Imagem:Xenophon of Constantinople.png|miniatura|São Xenofonte e sua família.]]
Depois de um tempo, João encontrou um mosteiro. Bateu na porta, e disse que estava nu. Um monge atendeu-o e, dando-lhe seu manto, levou-o à sua cela, onde ofereceu-lhe pão e sopa de vegetais. Então, o monge perguntou-lhe de onde ele vinha. João explicou que era um náufrago e que, pelas orações do monge, Deus havia dado-lhe uma tábua, salvando-o da tempestade e levando-o à praia. Comovido, o monge glorificou a Deus, e perguntou para onde João iria agora.
O monge contou tudo sobre o jovem ao hegúmeno, e este ordenou que João fosse trazido diante dele. Assim que pôs os olhos sobre ele, percebeu que o abençoado náufrago havia recebido verdadeiramente um chamado de Deus. Prevendo que o jovem se sobressairia em virtude, clamou: “Bendito seja o Deus dos teus pais, Ele que te libertaste do abismo e te trouxeste até aqui!”
O hegúmeno instruiu aceitou tornar-se seu pai espiritual, instruindo o jovem por um longo tempo nos princípios da vida monástica e salvadora. Então, abençoou-o com o sinal da Cruz e permitiu que ele fizesse parte do mosteiro. Pouco tempo depois, João foi tonsurado, e passou o restante dos seus dias em oração, jejum, trabalho e obediência. Ele, entretanto, jamais deixou de sofrer por seu irmão Arcádio, a quem temia que tivesse morrido afogado.
No entanto, pela Vontade de Deus, Arcádio foi salvo. Em Tetrapírgia, Arcádio caiu de joelhos e disse: “Ó Senhor, Deus de Abraão, Isaque e Jacó, Deus de meu pai, eu Te agradeço por livrar-me da morte na tempestade. Assim como Tu me salvaste quando todas as minhas esperanças haviam se esgotado e puseste meus pés em terra, ó Misericordiosíssimo, salva também o Teu servo e irmão meu João. Não permitas que ele seja engolido pelo abismo. Ouve-me, Senhor, meu Senhor, pois grande é a Tua compaixão. Não permitas que João desapareça no mar, não permitas que alguém tão jovem morra! Concede-me ver sua face mais uma vez, e então tira-me desta vida, se for preciso.” Assim dizendo, Arcádio não conteve-se em choro e desmaiou.
Arcádio acordou, e crendo em seu sonho, regozijou-se e deu graças a Deus. “Caso volte para a casa de meus pais sem meu irmão, não trarei nada a eles senão a tristeza. Caso volte a Beirute e termine meus estudos na filosofia, para então voltar para casa sem ele, apenas tardarei a tristeza deles. Que hei de fazer? Meu pai muitas vezes exaltou a vida ascética, que traz o homem para perto de Deus. Logo, resta-me partir para o monasticismo!”
Depois de mais uma oração, Arcádio partiu para Jerusalém. Tendo venerado os lugares santos, foi em direção ao deserto da Palestina em busca de um mosteiro. No caminho encontrou um monge de aparência venerável e adornado de cabelos grisalhos. Caindo aos seus pés e beijando-os, implorou: “Santo pai, eis que estou muito abatido, não me esqueças em tuas orações!”
O monge respondeu-o: “Não te entristeças, meu filho, teu irmão está vivo. Ele e os vossos escravos foram salvos por Deus, e já entraram em vários mosteiros. Inclusive, João já foi tonsurado monge. Tua oração foi ouvida: em breve verás o teu irmão.” Assombrado, Arcádio novamente caiu aos pés do clarividente, e exclamou: “Deus revelou-lhe tudo sobre mim! Não me rejeites, leva-me a um mosteiro e salva a minha alma!”
“Deus seja louvado, meu filho, segue-me.” E levou-o à Lavra de São CaritãoCaríton, no deserto da Judeia. Lá, Arcádio foi tonsurado monge e recebeu a antiga cela de um grande Pai do Deserto que havia labutado durante cinquenta anos. O ancião viveu com Arcádio durante um ano, ensinando-o a combater os inimigos invisíveis, e então partiu para o deserto, com a promessa que tornaria a vê-lo após três anos. Arcádio, por sua vez, cumpriu fielmente a regra dada pelo ancião, e labutou dia e noite em serviço a Deus.
=== Busca ===
O escravo continuava insistindo em não retornar a Constantinopla, e os viajantes que os ouviam da pousada começaram a dizer: “Deves dizer a verdade aos teus mestres, pior será se eles invocarem o castigo divino sobre ti! A morte súbita pode cair sobre ti, e poderás perder tua salvação.” Vencido, o servo pôs-se a caminho novamente para Constantinopla. Ao chegar, entrando na casa, sentou-se em silêncio, abatido e com a cabeça baixa.
Quando Maria viu-o, correu até ele e perguntou-lhe como estavam seus filhos. O servo disse que estavam bem. Ela ainda perguntou sobre suas cartas, mas ele apenas respondeu que as havia perdido no caminho. Perturbada, Maria exclamou: “Pelo amor de Deus, dizdize-me a verdade! Minha alma se debate e minhas forças estão se extinguindo!” O servo começou a chorar, e contou-a tudo. “Ai de mim, minha senhora, as luzes de tua vida se expiraram no mar… A embarcação que levava teus filhos naufragou, e todos afogaram-se!”
Maria, que tinha uma firme confiança em Deus, permaneceu sob controle. Não desmaiou e nem gritou, mas somente disse: “Bendito seja nosso Deus, pois isso foi feito segundo a Sua Vontade. Bendito seja o Nome do Senhor , desde agora e para sempre. Não contes isso a mais ninguém. O Senhor deu, e o Senhor tirou. Ele sabe o que é melhor para nós.”
Três horas depois, Xenofonte retornou do palácio imperial, acompanhado de uma enorme comitiva. Após dispensar seus assistentes, cortou uma fatia de pão para o jantar. Isso porque Xenofonte comia uma só vez por dia, depois do pôr do sol. Maria juntou-se a ele na mesa e anunciou: “O escravo voltou de Beirute…” Xenofonte disse: “Deus seja louvado. Onde ele está?” Maria contou-o que o escravo estava descansando, pois havia ficado enfermo. Ao ser questionada sobre as cartas, Maria respondeu: “Descansa agora e come. Amanhã verás as cartas. O servo tem muito a dizer sobre nossos filhos.”
Xenofonte protestou: “Traz-me as cartas! Quero saber como estão os nossos filhos. Posso falar com o escravo amanhã.” Então, Maria, incapaz de se conter, irrompeu-se em lágrimas. Xenofonte ficou apreensivo, e perguntou: “O que é, meu amor? Por que estás a chorar? Eles ficaram doentes?” Maria, engasgando-se em choro, respondeu: “Quem dera que eles estivessem doentes! Nossos queridos filhos pereceram no mar!”
Lágrimas começaram a escorrer do rosto de Xenofonte, e este gemeu-se: “Bendito seja o Nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Agora, sempre, e pelos séculos dos séculos, amém. Amém. Não te entristeças, meu amor, pois Deus não destruiria nossos filhos. Nunca ousei ofender ao bom Deus, e recusei-me a acreditar que Ele me traria tristeza em minha velhice. Façamos vigília esta noite, suplicando a Deus que mostre Sua Misericórdia. Ele revelar-nos revelará se nossos filhos estão vivos ou não.”
Com isso, eles se levantaram e trancaram-se na capela até o amanhecer, orando, derramando lágrimas e confiando que o Senhor atenderia ao seu pedido. Ao amanhecer, adormeceram. Ambos, então, sonharam que seus filhos estavam gloriosamente de pé diante de [[Jesus Cristo]]. Um trono havia sido preparado para João, e ele segurava um cetro e usava uma coroa ricamente ornamentada com pérolas e joias. Outro trono radiante havia sido preparado para Arcádio, que segurava uma cruz em sua mão destra e usava um diadema de estrelas. Ao despertarem, cada um contou ao outro sobre o sonho, e entenderam que seus filhos estavam vivos e sob a proteção da Misericórdia de Deus. Consolado, Xenofonte disse: “Maria, meu amor, de alguma forma, acredito que nossos filhos estão em Jerusalém. Deveríamos descer até lá e venerar os lugares santos. Talvez nós também encontraremos nossos filhos.”
Maria concordou, e os piedosos pais começaram a fazer os preparativos para a viagem. Emitiram as instruções ao mordomo e distribuíram esmolas aos necessitados. Então, levando consigo ouro para suas despesas e para caridade, partiram para o longo caminho até Jerusalém. Quando chegaram à Cidade Santa, visitaram os lugares sagrados, distribuindo grandes quantias aos pobres pelo caminho. Em seguida, foram aos mosteiros da região para perguntar sobre seus filhos. Não obtendo êxito, conseguiram encontrar um dos escravos que estava no naufrágio e tornou-se monge. Imediatamente abraçaram-no, beijaram-no e jogaram-se aos seus pés. O monge, prostrado, se opôs: “Mestres, isso é muito indecoroso… Pelo amor de Deus, não vos rastejeis perante o vosso servo!”
Xenofonte insistiu: “Nós temos o mais profundo respeito pelo monasticismo. Não fiques triste, mas dizdize-nos tudo o que puder sobre os nossos filhos!” Os olhos do monge encheram-se de lágrimas, e ele disse: “Nossa embarcação naufragou, e cada um segurou-se numa tábua. A tempestade nos separou um do outro; não sei se mais alguém foi salvo, mas apenas que cheguei à costa de Tiro na Fenícia.”
Os dois despediram-se do monge, recompensando-o generosamente e pedindo-lhe que orasse por eles e pelos seus filhos. Depois, desceram à Jordânia, com a intenção de encontrar um lugar para orar e dar esmolas por lá. No caminho, cruzaram-se com o mesmo ancião clarividente que há quase três anos havia tonsurado Arcádio e, caindo aos pés do monge e implorando por suas orações, o ancião os anunciou: “Foi o amor pelos filhos que trouxe meus senhores Xenofonte e Maria a Jerusalém. Não entristeçais: vossos filhos estão vivos. Deus já vos revelou em sonho a glória que os espera nos Céus. Ide, operários da videira do Senhor, orai no Jordão e voltai à Cidade Santa. Tornareis a ver vossos filhos.” O ancião, então, continuou seu caminho a Jerusalém, e o casal, maravilhado, dirigiu-se ao Rio Jordão.
Logo em seguida, um outro monge adentrou a igreja: era Arcádio. Por causa do severo asceticismo, seu corpo estava definhado, sua cara, seca, e seus olhos, afundados. Depois de venerar a igreja, reconheceu o ancião e caiu aos seus pés, exclamando: “Pai, tu abandonaste tuas terras, e por três anos não as visitaste! Muitos espinhos e ervas daninhas brotaram nelas, e sua limpeza exigirá muito trabalho de tua parte!”
O ancião acalmou-o: “Filho, tenho visitado minhas terras todos os dias, e vi que elas estão produzindo não espinhos nem ervas daninhas, mas trigo maduro, digno do banquete do Rei dos reis. Senta-te ao meu lado.” Arcádio obedeceu, e os três permaneceram em silêncio por algum tempo, enquanto o ancião pedia a Deus que suas palavras fossem as d’Ele. Então, o ancião perguntou: “De onde tu és, irmão João?” E ele: “Sou apenas um pobre vagabundo. Ó pai, intercede por mim para que o Senhor mostre-me Sua Misericórdia e conceda o desejo do meu coração.”
O ancião fez que sim, e disse: “Mas fala-me sobre os teus pais, onde nasceste e foste educado, para que o Nome do Senhor seja glorificado.” João explicou que provinha de uma nobre família de Constantinopla e que, certa vez, foi enviado a Beirute para estudar com seu irmão Arcádio, o qual nunca mais havia visto após o naufrágio.
A explicação de Arcádio foi interrompida por Xenofonte e Maria, que exclamaram: “Certamente vós sois nossos filhos, a prole de nosso ventre e a luz dos nossos olhos!” Lançando seus braços em torno de João e Arcádio, eles os beijaram amorosamente e todos — até o ancião — choraram de alegria, glorificando e agradecendo a Deus e louvando Sua maravilhosa Misericórdia.
Xenofonte e Maria pediram ao ancião para que fossem tonsurados na vida monástica e, após catequizá-los no asceticismo, o ancião cumpriu o seu desejo. João e Arcádio deram o último adeus aos seus pais, e partiram para o deserto com o ancião. Xenofonte escreveu uma carta a Constantinopla, autorizando que todos os seus escravos fossem libertos e que todas as posses da família fossem vendidas. O dinheiro lucrado foi completamente distribuído por Xenofonte e Maria. Enquanto aquele aderiu à vida solitária, esta partiu para um conventomosteiro.
Os quatro agradaram a Deus até o final de seus dias, e tornaram-se dignos de abundantes bênçãos da Graça divina, incluindo a taumaturgia e o discernimento. Os santos João e Arcádio brilharam por muitos anos como luminárias entre os habitantes do deserto, e souberam de antemão o dia de sua partida para o Senhor. Até ter sua alma transportada aos Céus, Santa Maria, em estrito jejum, realizou inúmeros milagres, desde dar a visão aos cegos até expulsar demônios das pessoas. São Xenofonte, por sua vez, recebeu de Deus a visão de grandes mistérios cujos olhos não veem. Coincidentemente — ou não — João e o grande e louvado São João, o Clímaco, autor da Escada da Divina Ascensão e cujo relato de vida é obscuro, floresceram na mesma era e na mesma região.
Em 1821, durante o período otomano, uma pequena igreja foi erguida em Mazotos, na costa sudeste do Chipre. No ano de sua construção, um ícone de São Xenofonte e sua família foi escrito e nela permaneceu. Por algum motivo, o ícone acabou sendo levado para Vocolida, na Península de Carpásia, a oitenta quilômetros de distância.
Em meados daquele século, um virtuoso cameleiro que havia se casado naquela igreja foi visitado por São Xenofonte em um sonho. O santo disse: “Acorda e traz-me de volta a Mazotos; aquela vila haverá de ver grandes coisas através de mim.” DemétrioDimítios, o cameleiro, despertou, pediu uma mula emprestada de seu vizinho e partiu a Vocolida. Ele ficou na península durante uma semana, mas voltou de mãos vazias, pois o sacerdote da vila não permitiu que o ícone fosse retornado.
No ano seguinte, São Xenofonte tornou a aparecer diante dele em sonho, e refez seu pedido. DemétrioDimítrios, então, voltou a Vocolida com a mesma mula. Durante a viagem, sua alma encheu-se de sentimentos como temor, fé e euforia, de forma que quando aquele sacerdote viu-o novamente, ele parecia hipnotizado. Mesmo assim, o padre negou-o o ícone. Determinado, Demétrio Dimítrios insistiu em ir à igreja e encontrá-lo, pois sabia onde estava.
O padre secretamente mandou que escondessem o ícone debaixo do pátio da igreja. Então, ele e os habitantes da vila levaram Demétrio Dimítrios à igreja, para que ele visse com seus próprios olhos que seu ícone não estava lá. Entretanto, quando chegaram ao pátio da igreja, São Xenofonte realizou um milagre perante todos os presentes. Um grande fogo se formou numa parte da grama, e todos os arredores estavam com uma aparência misteriosa e indescritível. EufóricoDeterminado, Demétrio Dimítrios começou a cavar a terra abaixo do fogo, e encontrou o ícone embrulhado dentro de um lençol intocado pelo incêndio.
Atônitos, ninguém ousou parar o devoto homem, que levou o ícone consigo de volta a Mazotos. Toda a vila se reuniu na casa do cameleiro, e depois de celebrarem triunfantemente, cantando e honrando a Deus, levaram o ícone à antiga igreja, e a Divina Liturgia foi realizada. No dia seguinte, o santo começou a operar os milagres. Uma doença espalhou-se entre os muçulmanos, mas o santo protegeu os cristãos de serem acometidos, de forma que os únicos que não morreram foram os cristãos e os muçulmanos que fugiram da cidade antes de serem acometidos. Nos anos seguintes, o santo foi responsável pela cura de muitos enfermos. Assim, São Xenofonte ganhou o epíteto regional de “Corino” (''aquele que expulsa as doenças'').
* [https://www.goarch.org/chapel/saints?contentid=404 Venerável Xenofonte de Constantinopla] (Arquidiocese Ortodoxa Grega da América, GOARCH)
* [http://ocafs.oca.org/FeastSaintsViewer.asp?FSID=100314 Venerável Xenofonte de Constantinopla] (Igreja Ortodoxa na América, OCA)
* [https://www.johnsanidopoulos.com/2017/01/synaxarion-of-saints-xenophontos-maria.html Venerável Xenofonte de Constantinopla] (João John Sanidopoulos)
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