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Xenofonte de Constantinopla

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Pós-vida
Xenofonte protestou: “Traz-me as cartas! Quero saber como estão os nossos filhos. Posso falar com o escravo amanhã.” Então, Maria, incapaz de se conter, irrompeu-se em lágrimas. Xenofonte ficou apreensivo, e perguntou: “O que é, meu amor? Por que estás a chorar? Eles ficaram doentes?” Maria, engasgando-se em choro, respondeu: “Quem dera que eles estivessem doentes! Nossos queridos filhos pereceram no mar!”
Lágrimas começaram a escorrer do rosto de Xenofonte, e este gemeu-se: “Bendito seja o Nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, agora. Agora, sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém. Não te entristeças, meu amor, pois Deus não destruiria nossos filhos. Nunca ousei ofender ao bom Deus, e recusei-me a acreditar que Ele me traria tristeza em minha velhice. Façamos vigília esta noite, suplicando a Deus que mostre Sua Misericórdia. Ele revelar-nos-á se nossos filhos estão vivos ou não.”
Com isso, eles se levantaram e trancaram-se na capela até o amanhecer, orando, derramando lágrimas e confiando que o Senhor atenderia ao seu pedido. Ao amanhecer, adormeceram. Ambos, então, sonharam que seus filhos estavam gloriosamente de pé diante de [[Jesus Cristo]]. Um trono havia sido preparado para João, e ele segurava um cetro e usava uma coroa ricamente ornamentada com pérolas e joias. Outro trono radiante havia sido preparado para Arcádio, que segurava uma cruz em sua mão destra e usava um diadema de estrelas. Ao despertarem, cada um contou ao outro sobre o sonho, e entenderam que seus filhos estavam vivos e sob a proteção da Misericórdia de Deus. Consolado, Xenofonte disse: “Maria, meu amor, de alguma forma, acredito que nossos filhos estão em Jerusalém. Deveríamos descer até lá e venerar os lugares santos. Talvez nós também encontraremos nossos filhos.”
Logo em seguida, um outro monge adentrou a igreja: era Arcádio. Por causa do severo asceticismo, seu corpo estava definhado, sua cara, seca, e seus olhos, afundados. Depois de venerar a igreja, reconheceu o ancião e caiu aos seus pés, exclamando: “Pai, tu abandonaste tuas terras, e por três anos não as visitaste! Muitos espinhos e ervas daninhas brotaram nelas, e sua limpeza exigirá muito trabalho de tua parte!”
O ancião acalmou-o: “Filho, tenho visitado minhas terras todos os dias, e vi que elas estão produzindo não espinhos nem ervas daninhas, mas trigo maduro, digno do banquete do Rei dos reis. Senta-te ao meu lado.” Arcádio obedeceu, e os três permaneceram em silêncio por algum tempo, enquanto o ancião pedia a Deus que suas palavras fossem as d’Ele. Então, o ancião perguntou: “De onde tu és, irmão João?” E ele: “Sou apenas um pobre vagabundo. Ó pai, intercede por mim para que o Senhor mostre-me Sua Misericórdia e conceda o desejo do meu coração.”
O ancião fez que sim, e disse: “Mas fala-me sobre os teus pais, onde nasceste e foste educado, para que o Nome do Senhor seja glorificado.” João explicou que provinha de uma nobre família de Constantinopla e que, certa vez, foi enviado a Beirute para estudar com seu irmão Arcádio, o qual nunca mais havia visto após o naufrágio.
A explicação de Arcádio foi interrompida por Xenofonte e Maria, que exclamaram: “Certamente vós sois nossos filhos, a prole de nosso ventre e a luz dos nossos olhos!” Lançando seus braços em torno de João e Arcádio, eles os beijaram amorosamente e todos — até o ancião — choraram de alegria, glorificando e agradecendo a Deus e louvando Sua maravilhosa Misericórdia.
Xenofonte e Maria pediram ao ancião para que fossem tonsurados na vida monástica e, após catequizá-los no asceticismo, o ancião cumpriu o seu desejo. João e Arcádio deram o último adeus aos seus pais, e partiram para o deserto com o ancião. Xenofonte escreveu uma carta a Constantinopla, autorizando que todos os seus escravos fossem libertos e que todas as posses da família fossem vendidas. O dinheiro lucrado foi completamente distribuído por Xenofonte e Maria. Enquanto aquele aderiu à vida solitária, esta partiu para um conventomosteiro.
Os quatro agradaram a Deus até o final de seus dias, e tornaram-se dignos de abundantes bênçãos da Graça divina, incluindo a taumaturgia e o discernimento. Os santos João e Arcádio brilharam por muitos anos como luminárias entre os habitantes do deserto, e souberam de antemão o dia de sua partida para o Senhor. Até ter sua alma transportada aos Céus, Santa Maria, em estrito jejum, realizou inúmeros milagres, desde dar a visão aos cegos até expulsar demônios das pessoas. São Xenofonte, por sua vez, recebeu de Deus a visão de grandes mistérios cujos olhos não veem. Coincidentemente — ou não — João e o grande e louvado São João, o Clímaco, autor da Escada da Divina Ascensão e cujo relato de vida é obscuro, floresceram na mesma era e na mesma região.
Em 1821, durante o período otomano, uma pequena igreja foi erguida em Mazotos, na costa sudeste do Chipre. No ano de sua construção, um ícone de São Xenofonte e sua família foi escrito e nela permaneceu. Por algum motivo, o ícone acabou sendo levado para Vocolida, na Península de Carpásia, a oitenta quilômetros de distância.
Em meados daquele século, um virtuoso cameleiro que havia se casado naquela igreja foi visitado por São Xenofonte em um sonho. O santo disse: “Acorda e traz-me de volta a Mazotos; aquela vila haverá de ver grandes coisas através de mim.” DemétrioDimítios, o cameleiro, despertou, pediu uma mula emprestada de seu vizinho e partiu a Vocolida. Ele ficou na península durante uma semana, mas voltou de mãos vazias, pois o sacerdote da vila não permitiu que o ícone fosse retornado.
No ano seguinte, São Xenofonte tornou a aparecer diante dele em sonho, e refez seu pedido. DemétrioDimítrios, então, voltou a Vocolida com a mesma mula. Durante a viagem, sua alma encheu-se de sentimentos como temor, fé e euforia, de forma que quando aquele sacerdote viu-o novamente, ele parecia hipnotizado. Mesmo assim, o padre negou-o o ícone. Determinado, Demétrio Dimítrios insistiu em ir à igreja e encontrá-lo, pois sabia onde estava.
O padre secretamente mandou que escondessem o ícone debaixo do pátio da igreja. Então, ele e os habitantes da vila levaram Demétrio Dimítrios à igreja, para que ele visse com seus próprios olhos que seu ícone não estava lá. Entretanto, quando chegaram ao pátio da igreja, São Xenofonte realizou um milagre perante todos os presentes. Um grande fogo se formou numa parte da grama, e todos os arredores estavam com uma aparência misteriosa e indescritível. EufóricoDeterminado, Demétrio Dimítrios começou a cavar a terra abaixo do fogo, e encontrou o ícone embrulhado dentro de um lençol intocado pelo incêndio.
Atônitos, ninguém ousou parar o devoto homem, que levou o ícone consigo de volta a Mazotos. Toda a vila se reuniu na casa do cameleiro, e depois de celebrarem triunfantemente, cantando e honrando a Deus, levaram o ícone à antiga igreja, e a Divina Liturgia foi realizada. No dia seguinte, o santo começou a operar os milagres. Uma doença espalhou-se entre os muçulmanos, mas o santo protegeu os cristãos de serem acometidos, de forma que os únicos que não morreram foram os cristãos e os muçulmanos que fugiram da cidade antes de serem acometidos. Nos anos seguintes, o santo foi responsável pela cura de muitos enfermos. Assim, São Xenofonte ganhou o epíteto regional de “Corino” (''aquele que expulsa as doenças'').
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