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Teodoro, o Tiro

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Vida
[[Imagem:Theodore the Tyro (mosaic).jpg|miniatura|São Teodoro.]]O '''Santo Megalomártir Teodoro, o Recruta''' (também: '''o Tiro''' <ref group=nota>Tiro é a latinização do termo grego ''τήρων'', que significa “recruta”.</ref> ou '''de Amásia'''; m. 306), foi um louvado mártir da Grande Perseguição sob o Imperador Galério e um grande intercessor contra a apostasia. Sua abençoada memória é celebrada pela Igreja no primeiro sábado da Grande Quaresma e no dia de seu martírio, [[17 de fevereiro]].<ref group=nota>No Ocidente, há uma tradição que põe a data de seu martírio em [[9 de novembro]].</ref> Várias igrejas e locais do Oriente grego foram consagradas a São Teodoro (esse) e a [[Teodoro, o Estratelata|São Teodoro, o Estratelata]]; por isso, receberam o nome de ''Άγιοι Θεοδώροι'' (Santos Teodoros). No Brasil, São Teodoro é o onomástico de Dom Teodoro, Bispo do Rio de Janeiro.
== Vida ==
Teodoro provinha nasceu no século III, vindo de uma família cristã na eminente cidade de Amásia no Ponto (atual norte da Turquia). Em sua juventude durante a Grande Perseguição(303–313), foi recrutado à legião de sua cidade, leal ao exército do Imperador Diocleciano (284–305), e lá mantinha sua Fé em segredo; não por falta de coragem, mas por não ter ainda recebido um sinal divino para oferecer-se em testemunho a [[Jesus Cristo]].
Certa vez, ainda na Amásia, o édito de Diocleciano tomou vigor, e todos os seus habitantes foram obrigados pelas autoridades a oferecer sacrifícios aos ídolos pagãos. Teodoro protestou, e foi levado ao oficial Brincas, o qual indagou-o quanto a respeito de não respeitar as ordens para oferecer sacrifícios. Teodoro, então, cheio do Espírito de Deus, disse: “Sou cristão, e não aceitarei a ordem de oferecer sacrifício às imagens malignas; pois tenho como Rei Cristo no Céu.” Brincas desconsiderou sua confissão e disse: “Pega as tuas armas, Teodoro, e aceta aceita o serviço militar. Sacrifica aos deuses imortais e obedece aos vitoriosos imperadores. Quase todos nessa cidade são cristãos e mesmo assim obedecem.”
Teodoro respondeu: “Cada um sabe como deve servir. Mas eu sirvo ao meu Senhor e Rei dos Céus e ao Seu Filho unigênito, Jesus Cristo, meu único imperadorImperador.” Possidônio, outro oficial, indagou-o se seu Deus possuía um Filho e se eles poderiam conhecê-loO conhecer. “Seu Filho é a Verdade pela qual todas as coisas foram feitas. Queria eu que Ele vos desse tal compreensão que O reconhecessem.” Possidônio tornou a perguntar: “Se O conhecermos, poderemos nós deixar o imperador terreno e segui-Lo?” E Teodoro: “Não há nada que vos impeça de abandonar as trevas e a confiança posta no rei terreno para seguir o Senhor, o Rei vivo, celestial e eterno.”
Brincas decidiu “dar um tempo” a Teodoro para que ele pensasse e se convertesse ao que era melhor. O confessor, entretanto, decidiu passar todo esse tempo — dias — em oração. Enquanto isso, Brincas ordenava que o resto da legião adentrasse a cidade e capturasse os cristãos para levá-los à prisão. Quando soube, São Teodoro dirigiu-se à prisão, ensinando-os a perseverança e o caminho da salvação: “Não temais estas torturas que vos infligirão de modo a que neguem Jesus Cristo, nosso Senhor e Rei celestial.”
Chegada a noite, São Teodoro pegou lenha, esperou um momento oportuno e adentrou o templo de Reia, a “mãe dos deuses”, incendiando-o. O ídolo de Reia voltou ao pó junto com o templo. Crônides, um contabilista pagão, viu o que São Teodoro havia feito, capturou-o e levou-o no raiar do sol ao eparca Públio, dizendo: “Esta “Essa praga de recruta entrou em nossa cidade, pôs fogo ao templo que nossos ancestrais fizeram à mãe dos deuses e os profanou! Assim, agarrei e trouxe-o a Vossa Alteza para receber sua pena pelos seus ousados feitos, de acordo com as ordens de nossos vitoriosos imperadores.”
Durante o julgamento, === Julgamento ===Públio convocou Brincas foi convocado e interrogado interrogou-o se havia o dado a liberdade de incendiar os templos pagãosa Teodoro. Ele respondeu: “Exortei-o muitas vezes, e dei-lhe a anistia para que pensasse consigo mesmo e decidisse oferecer o sacrifício aos deuses. Se ele foi culpado disso, ó jurista, condene-o de acordo com a sua autoridade como alguém que enganou os deuses e desprezou as ordens de nossos imperadores triunfantes.”
O eparca, então, ordenou que São Teodoro fosse trazido perante ele e perguntou-lhe por que havia ateado fogo à deusa em vez de sacrificar-lhe com incenso e libações (derramamento de sangue). O santo confirmou: “Não nego o que fiz. Queimei-a com fogo. Tal é vossa deusa e seu poder que até o fogo da lenha pode tocá-la e queimá-la.” Embebido de fúria, Públio ordenou que fosse espancado, dizendo: “Não me responda com teus discursos. As mais amargas torturas esperam por ti para te obrigar a obedecer aos imperadores.”
Numa manhã, o eparca ordenou que São Teodoro fosse novamente levado em julgamento, e disse: “Salva-te das torturas e oferece o sacrifícios aos deuses, ó Teodoro, para que eu possa escrever aos imperadores, os verdadeiros senhores deste mundo, que tu te tornaste um sacerdote e nosso companheiro, por quem daremos grandes honras.” Olhando para o céu e fazendo o sinal da Cruz, Teodoro respondeu-o: “Mesmo que queimes minha carne com fogo, inflijas uma multidão de torturas e me entregues à espada, não negarei meu Senhor.”
=== Condenação ===
[[Imagem:Theodore the Tyro.jpg|miniatura|São Teodoro no Menológio de Basílio II.]]
Públio e Brincas chegaram em um acordo, e ordenaram a tortura de São Teodoro. Ele foi amarrado a uma tora de madeira, e teve seus lados dilacerados por garras de ferro até que seus ossos das costelas ficassem visíveis. Durante a tortura, o mártir cantava o Salmo 34:
Olhando para a multidão, viu Cleônico, que havia sido recrutado ao exército junto com ele, chorando. E gritou: “Cleônico, estou à tua espera, corre e ajunta-te a mim! Nós jamais nos abandonamos nesta vida terrena, então por que nos separarmos na vida celestial?” Então, proferiu suas últimas palavras: “Ó Senhor Jesus Cristo, mediador entre Deus e os homens, agradeço e louvo-Te por teres me dignificado a vencer essa competição, e glorifico o Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.”
Terminada sua oração, os torturadores acenderam o fogo e jogaram o santo mártir entre as madeiras. Em seguida, uma chama tomou a forma de um arco, como a vela de um barco enchida pelo vento, e cercou-o. Não se via seu corpo sendo queimando, mas sim como um pão sendo cozido, até que o Espírito Santo de Deus chegou, e São Teodoro, ileso no meio das chamas, louvou e glorificou a Deus. Então, em 17 de fevereiro de 306, entregou seu espírito. As nuvens se abriram, e uma agradável fragrância desceu sobre o ar, até que ouviu-se uma voz do alto: “Vem, Meu amado Teodoro, entra na alegria de teu Senhor, pois fielmente completaste o curso de tua vida.” De acordo com uma tradição, essas coisas ocorreram no nono dia do mês de novembro.
== Pós-vida ==Depoisde um tempo, uma nobre mulher de nome Eusébia procurou pelo corpo do santo mártir. Embalsamando-o com vinho e preciosos cremes, envolveu-o com panos limpos e colocou-o num caixão. Então, levou-o para sua propriedade em EucaitaEuceta, há um dia de distância de Amásia, e ordenou a construção de uma igreja acima do túmulo. Todos os dias era celebrada a comemoração a São Teodoro, e muitas pessoas eram curadas de espíritos malignos e diversas enfermidades através das intercessões do mártir.
== Pós-vida ==
Algumas décadas depois, durante o reinado de Juliano, o Apóstata (355–363), o paganismo tornou a ser religião de Estado, e o ímpio imperador tentou subverter a Fé cristã. Dias antes do início da Grande Quaresma, Juliano ordenou que o eparca de Constantinopla retirasse todos os alimentos apropriados para o jejum dos mercados e substituísse-os por pão e bebidas. Ambos, entretanto, seriam antes aspergidos em sangue de sacrifícios aos deuses pagãos; e assim o eparca o fez.
Deus, cujo Olho que tudo vê apanha os sábios deste mundo em sua astúcia e sempre provê aos Seus servos, entretanto, enviou Seu grande campeão Teodoro a Eudóxio, Arcebispo de Constantinopla (360–370). De pé diante do herético arcebispo, São Teodoro proclamou: “Ergue-te e congrega o rebanho de Cristo o mais rápido possível. Ordena-os a não comprarem em circunstância alguma nada que esteja nos mercados, porquanto tudo foi poluído pelo mais impiedoso dos imperadores com o sangue de suas oferendas.” Há de se notar que o santo não apareceu durante um sonho, mas sim enquanto o arcebispo estava acordado.
[[Imagem:Koliva.jpg|miniatura|Coliva preparada no Mosteiro de Vatopedi.]]Intrigado, Eudóxio perguntou como poderiam aqueles que não tinham em abundância em seus lares evitarem comprar comida, e São Teodoro respondeu-o: “Alimenta-os com coliva para poupá-los nos tempos de necessidade.” Mais confuso ainda, o arcebispo não fazia ideia do que significava aquela palavra desconhecida, “coliva”, e perguntou o que era. Também não perdeu a oportunidade de perguntar quem era aquele homem com quem falava. “Trata-se de trigo cozido, e com esse nome tu hás de encontrar sua receita em EucaitaEuceta, a cidade cujos habitantes louvam a mim, Teodoro, o mártir por Cristo, Aquele que me enviou em vosso socorro.” Então, partiu. Eudóxio apressou-se a anunciar o que tinha visto à multidão, e assim seu rebanho foi preservado ileso das maquinações do inimigo.
Quando Juliano soube que havia sido envergonhosamente exposto e que nem uma só alma havia caído em seu truque, revogou seu édito, e os alimentos voltaram a ser comercializados. No sábado, os fiéis deram graças ao santo mártir, e alegremente celebraram seu memorial naquele dia. Essa tradição foi preservada até os dias atuais pela Igreja, de forma que o milagre de São Teodoro é celebrado em todo primeiro sábado da Grande Quaresma com a preparação da coliva para os fiéis.
 
No século V, uma grande igreja em honra a São Teodoro foi construída em Constantinopla, próxima à Basílica de Santa Sofia. Junto a ela, havia uma escola e uma capela dedicada a São João Batista, cuja festa em [[7 de janeiro]] era grandemente celebrada. Sua história é obscura, mas a data de sua consagração foi incluída nos sinaxários no dia [[5 de novembro]].
 
No século VII, os muçulmanos sob o Califa Moáuia I saquearam Euceta e destruíram a Igreja de São Teodoro. No século X, a igreja foi reconstruída e Euceta foi renomeada para Teodorópolis. No século XI, os sunitas seljúcidas finalmente dominaram a região, e o jugo muçulmano nunca mais chegou ao fim.
 
[[Imagem:Theodore the Tyro (relics).jpg|miniatura|esquerda|Relíquias de São Teodoro na Igreja de São Nicolau em Bríndisi.]]
Já no século XIII, durante o Cerco de Constantinopla de 1204, as relíquias de São Teodoro foram saqueadas pelos cruzados e postas numa embarcação com destino a Veneza, no litoral norte da Itália. Entretanto, assim que o navio adentrou o Mar Adriático, ficou parado na costa de Bríndisi na Apúlia (litoral sudeste), e correnteza nem vento conseguiam fazê-lo continuar viagem. O navio só pode seguir viagem após deixarem as relíquias num bote. As ondas levaram-no até a costa da cidade, e um grupo de pescadores descobriu as relíquias. Em seguida, ficaram em uma das catedrais de Bríndisi até o século XVIII.
 
Em Bríndisi, há uma igreja ortodoxa dedicada a São Nicolau, Bispo de Mira. Todos os anos, durante a festa de São Teodoro (25 de agosto a 3 de setembro), as relíquias são transladadas até a igreja para a realização da Divina Liturgia e de um Ofício de Súplicas. Durante o festival, diversos eventos civis e religiosos são feitos: procissões, concertos, fogos de artifício e um desfile de barcos em memória aos pescadores que encontraram as relíquias do padroeiro. O barco-chefe carrega as relíquias de São Teodoro.
 
[[Imagem:Church of St Theodore the Tyro (Rome).jpg|miniatura|Igreja de São Teodoro em Roma. Para mais imagens, visite a [[:commons:Category:San Teodoro al Palatino (Rome)|categoria]] no Wikimedia Commons.]]
Em 2004, o Papa João Paulo II de Roma (1978–2005) presenteou o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla e a comunidade grega na Itália com a milenar Igreja de São Teodoro em Roma. Essa igreja foi construída no século VI sob os escombros de um templo pagão na estrada que ligava o Fórum Romano ao Fórum Boário e foi promovida por Santo Agatão, Papa de Roma (678–681), a uma das sete diaconias originais de Roma.
== Hinos ==
=== Tropário ===
''(Tradução livreCantado pela Catedral Ortodoxa Antioquina de São Nicolau, em tom 2)'': Louváveis Como são as realizações grandiosos os feitos da Fé. ! /: PoisNa fonte das chamas, o santo Mártir Teodoro exultava, /: como se estivesse em águas calmas, junto de uma fonte de água repousante. /: nas chamas o santo Mártir Teodoro regozijou-sePois, consumido pelo fogo do holocausto, /: oferecendo-se ele foi oferecido à Trindade Santíssima como um pão agradável pão à Trindade. /: Por Pelas suas intercessõesorações, ó Cristo nosso Deus, salva nossas almas!tem piedade de nós.
=== Condáquio ===
''(Tradução livre)''
: Tua Fé em Cristo serviu de couraça ao teu coração. /
: Com sua Sua ajuda, dominaste o poderio do adversário. /
: E assim foste coroado na eternidade com o diadema celeste.
== Referências ==
* São Nicodemos, o Hagiorita (1819). ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo segundo.
 
== Notas ==
<references group=nota/>
== Ligações externas ==
[[Categoria:Santos gregos]]
[[el:Θεόδωρος ο Τήρων]]
[[en:Theodore the Tyro]]
[[ro:Teodor Tiron]]
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