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[[Imagem:Anthony the Great Pammakaristos.jpg|miniatura|Santo Antão, o Grande.]]
O '''Venerável Santo Antão, o Grande''' (ou '''Antônio'''; mséc. 356IV), foi um monge taumaturgo e fundador do monasticismo eremítico, motivo pelo qual é chamado de '''Pai dos Monges'''. Na língua portuguesa, seu nome consagrou-se exclusivamente como “Antão”, embora essa forma não ocorra em nenhum outro idioma. O onomástico de quem cujo o santo é padroeiro permanece sendo Antônio, como é caso de [[Antônio das Cavernas de Quieve|Santo Antônio das Cavernas de Quieve]]. Segundo [[João , o Crisóstomo|São João , o Crisóstomo]], sua vida deve ser lida por todo cristão. No Brasil, uma capela antioquina é consagrada a Santo Antão no distrito de Santo Amaro em São Paulo. Sua festa é comemorada pela Igreja no dia de seu repouso, [[17 de janeiro]].
== Vida ==
Antão nasceu em 251 na vila de Coma no Egito, próxima à deserta região de Tebaida, na era do santo Patriarca Dionísio de Alexandria (248–264). Embora tenha nascido no fim das perseguições do Imperador Décio (249–251), o qual viria a morrer naquele ano após uma batalha contra os góticos e os citas, Antão foi criado por piedosos pais cristãos provenientes de uma nobre linhagem. Antão cresceu como uma criança séria e obediente aos pais, que amava frequentar os ofícios litúrgicos — era tão atento à leitura das Sagradas Escrituras que pode pôde memorizá-las por completo em sua mente.
Quando Antão tinha cerca de vinte anos de idade, seus pais faleceram, e teve de cuidar de sua irmã mais nova. Seis meses depois, quando adentrou uma igreja, ouviu e refletiu sobre como os fiéis, no Livro dos Atos dos Santos Apóstolos, vendiam todas as suas posses e repartiam o dinheiro ganho entre os necessitados. Durante a leitura do Evangelho, ouviu a passagem em que [[Jesus Cristo]] respondeu ao jovem que ansiava em obter a vida eterna:
Nesse período, Santo Antão enfrentou terríveis tentações do demônio, que o atormentava com pensamentos sobre sua vida mundana, a lisonja, os prazeres que poderiam ter sido comprados com a fortuna deixada para ele, dúvidas sobre o caminho escolhido, preocupações com a vida que sua irmã levava; isso para não mencionar os pensamentos obscenos e os sentimentos carnais que ardiam em seu corpo. Mas o santo extinguiu esse fogo através de intensos jejuns e orações a Cristo, mortificações e vigílias, além de ponderar sobre a morte e a punição eterna, vencendo assim os pensamentos demoníacos e saindo das batalhas espirituais mais fortalecido ainda.
Santo Antão adotou um modo de vida ainda mais rigoroso. Alimentava-se somente após o pôr do sol com um pedaço de pão, e costumeiramente passava noites inteiras orando até o sol nascer. Em pouco tempo, passou a dormir uma vez a cada três dias. O demônio, entretanto, não desistiu: tentando assustá-lo, apresentava-se ao monge como horríveis fantasmas e monstros. A essas aparições, o santo protegia-se pelo sinal da Cruz. Finalmente, o demônio apareceu a ele em forma de uma criança chorosa, dizendo que suas orações eram como socos em seu indefeso corpo. Santo Antão não se enganou, e continuou orando até vencê-lo. A severidade de suas labutas surpreendia até os anciões mais experientes, mas o jovem monge nunca tinha em mente seu progresso espiritual, considerando cada dia o início de sua jornada espiritual.
Pela Divina Providência, seu amigo chegou no cemitério no dia seguintee, e vendo-o caído no chão, arrastou-o de volta à vila. Lá, constataram que estava realmente morto, e prepararam seu funeral. À meia-noite, Santo Antão recebeu de Deus o sopro da vida, e pediu que seu amigo carregasse-o de volta ao cemitério. De volta ao sepulcro, incapaz de se levantar, Antão disse em alta voz: “Aqui, ó demônios, aqui estou eu, Antão, pronto para mais golpes. Tentai vosso pior, pois jamais haveis de me separar de Cristo!” Ele fortificava-se cantando o salmo: “Se todo um exército se acampar contra mim, não temerá meu coração.”
Tendo ganho tamanha experiência espiritual em sua luta contra o demônio, Santo Antão foi pensou em descer ao deserto de Tebaida, no Alto Egito, para o deserto sozinhocontinuar servindo ao Senhor. O diabo tentou impedi-loPara isso, colocando moedas de prata em visitou seu caminho, guia espiritual e depois ouro, mas pediu que ele o santo ignorou a tentação e continuou seu caminhoacompanhasse na jornada. Após cruzar um rioO ancião, encontrou um antigo forte abandonado e lá estabeleceu-se, cobrindo sem saber que estava prestes a dar a primeira bênção para a façanha que viria a entrada com pedras. Dessa vezser conhecida como eremitismo, havia pedido que seu fiel amigo trouxessedecidiu não acompanhá-lhe pão duas vezes lo por ano. Quanto a água, havia em abundância no fortecausa de sua avançada idade.
Quando o santo Imperador Constantino, o Grande (306–337), assinou o Édito de Mediolano em 313, o qual pôs fim à Grande Perseguição, Santo Antão retornou ao deserto, onde continuou suas façanhas. Além de sua habilidade em discernir espíritos, Santo Antão também curava enfermos, expulsava demônios e tinha o dom da clarividência. Mesmo sem saber ler nem escrever, o monge superava os filósofos pagãos, que vinham até ele tentando escarnecer sua Fé e eram envergonhados quando viam o monge livrar os cativos de seus demônios através da oração e do sinal da Cruz feito três vezes sobre eles. Santo Antão ainda desafiava-os: “Podeis vós curar esses homens através da razão? E pela magia de vossos ídolos, podeis?”
Multidões vinham conhecer o médico do deserto. Os tristes voltavam regozijando-se, seus inimigos retornavam como seus discípulos, os jovens retornavam renunciando os prazeres, os pobres retornavam desprezando a riqueza e dando graças a Deus pela pobreza, e nenhum monge permanecia negligente após ouvir o santo falar. Santo Antão jamais atribuía seus dons espirituais às suas próprias realizações pois considerava-se “um idiota”, mas exortava a todos os beneficiados por suas orações a agradecer a Deus, que é a causa de todo o bem.
Através de suas palavras, seus discípulos conseguiram escrever um livro de cento e setenta dizeres, que mais tarde pôde compôr a Filocalia. As levas de pessoas que vinham a ele perturbavam sua solidão, e o santo decidiu avançar ainda mais no deserto, estabelecendo-se no topo de uma montanha. Mesmo assim, seus filhos continuavam a ir até ele pedindo que visitasse suas comunidades.
=== As bestas ===
[[Imagem:Saint Anthony and the Desert Tribes.jpg|miniatura|Santo Antão e as tribos do deserto.]]
Após algum tempo, Santo Antão voltou a Alexandria para defender a Fé das heresias maniqueísta e ariana que estavam assolando as terras egípcias. A primeira era um sincretismo de religiões persas que afirmava haverem dois seres primordiais: um da Luz, responsável pelo espírito, e outro das Trevas, responsável pela matéria. Isso significaria equiparar Deus ao demônio e atribuir toda a matéria criada por Deus ao diabo. A segunda afirmava que Jesus Cristo não possuía natureza divina e havia sido somente um homem. Logo, não poderia ser chamado de Deus e consequentemente a Santíssima Trindade não existiria.
Como seu nome já era conhecido e venerado por toda a parte, os arianos falsamente declararam que Santo Antão aderia aos seus ensinamentos. O santo, por sua vez, publicamente escarneceu a heresia na presença de Santo Atanásio, o Grande, Patriarca de Alexandria (328–373). Durante sua segunda estada em Alexandria, ele converteu uma grande multidão de pagãos a Cristo. Santo Antão também era reverenciado pela família de São Constantino, e a instruiu na vida cristã, no julgamento futuro e em saber que Cristo é o verdadeiro Rei. Depois, o monge retornou ao deserto.
Aos noventa anos de idade, Santo Antão estava sendo atormentado com o pensamento de que era o mais perfeito monge do deserto. Deus, então, revelou a Santo Antão através de um sonho acerca da existência de São Paulo de Tebas, outro eremita no deserto de Tebaida mas que até então possuía cento e treze anos de idade, e o Senhor exigiu que Antão fosse visitá-lo, pois aquele era superior a este. Ao romper do dia, o eremita pegou seu cajado e partiu de sua cela, sem saber qual direção tomar.
Depois de uma longa jornada rumo ao desconhecido e acreditando que Deus lhe levaria ao Seu servo, eis que um centauro com dorso de humano e corpo de cavalo apareceu ao ancião. Armando-se com o sinal da Cruz, perguntou: “Ó demônio, onde por estas bandas vive um servo de Deus?” A besta rangia e falava numa língua desconhecida, mas sua mão apontava a uma direção. O centauro, então, partiu em debandada pelo deserto, até sumir de sua vista.
Seguindo na direção dada, Antão pensou no que tinha visto durante toda a caminhada. Não demorou muito até que chegasse num vale rochoso cercado pelos lados, e eis que um homem coberto de pelos até os pés e com chifres e orelhas de boi chegou até ele. Novamente assustado, o asceta armou-se com o sinal da Cruz, mas a criatura ofereceu-lhe um fruto, dizendo: “Não te assustes, não sou um demônio, toca-me e vê que sou um ser mortal! Minha raça habita o deserto e é a que os gregos adoram sob o nome de faunos, sátiros, íncubos e súcubos. Pois eu represento nossa tribo, e nós imploramos que tu nos leve a esse teu Senhor que veio para salvar o mundo e cujo som pôde ser ouvido por toda a terra, para que nós possamos chamá-Lo de ‘nosso’ também!”
Os olhos do monge encharcaram-se de lágrimas, e seu coração estava na plenitude da alegria. Maravilhando-se com a vitória de Cristo sobre satã, ele dava graças a Deus por ter recebido o dom de entender as línguas das bestas. Batendo no chão com seu bastão, o ancião dizia: “Ai de ti, ó Alexandria, que em vez de Deus adorastes monstros! Ai de ti, cidade meretriz, para onde correram juntos os demônios do mundo inteiro! Que dirás tu agora? Até as bestas proclamam a Cristo, e tu adoras monstros!”
Após abençoar as criaturas do deserto, elas o guiaram até a morada de São Paulo. Os dois conversaram entre si durante um dia e uma noite, partindo um pão para honrar o encontro. Alguns meses mais tarde, Santo Antão voltou para reencontrar-se com o asceta, mas encontrou-o morto. Após vesti-lo com uma túnica presenteada por Santo Atanásio, dois leões cavaram sua sepultura, e Antão voltou ao seu mosteiro com o manto de São Paulo. Tamanha era a reverência que tinha para com o manto que o monge só a vestia duas vezes por ano, na Grande Páscoa e em Pentecostes.
=== Repouso ===
[[Imagem:Anthony Menologion.png|miniatura|Santo Antão sepultado por seus discípulos.]]
: “Esforçai “Tende sempre o temor de Deus diante dos vossos olhos e lembrai-vos d’Aquele que dá a vida e a morte. Odiai o mundo e tudo o que há nele, odiai toda a paz que vem da carne. Renunciai vossas vidas para que possais estar vivos para Deus. Não confieis em vossa própria justiça, nem vos preocupeis com o passado, mas controlai vossa língua e vosso estômago. A obediência agregada à abstinência dá ao homem poder sobre as bestas selvagens. Se ganhardes vosso irmão, ganhareis a Deus, mas se escandalizardes contra ele, tereis faltado contra Cristo. A vós que pedis orações, nem eu e nem Deus teremos misericórdia de vós se não vos esforçardes para orar por vós mesmos. Esforçai para sedes serdes unidos primeiro ao Senhor e depois aos santos, para que, após a morte, eles possam vos receber como íntimos amigos nas moradas eternas.”Que adianta jejuar uma semana inteira se a pobreza não significa para vós o mesmo que abundância, a desonra o mesmo que louvor ou vossos inimigos o mesmo que vossos amigos? Voltai a trabalhar, pois não alcançastes nada. Sofrei fome, sede e nudez; vigiai e lamentai; chorai e gemei vosso coração. Aquele que não experimentou a tentação não adentrará o Reino dos Céus, pois sem tentações nenhum homem poderá salvar-se. Deus não permite mais à vossa geração as mesmas guerras e tentações de outrora pois vós vos tornastes fracos. Virá o tempo em que os homens enlouquecerão, e quando virem alguém que não está louco, atacá-lo-ão e dirão: ‘Tu és louco, pois tu não és como nós!’”
Santo Antão instruiu dois de seus discípulos, os quais haviam lhe assistido nos últimos quinze anos de sua vida, a enterrá-lo no deserto. Deixou um de seus mantos monásticos a Santo Atanásio (o qual compôs sua biografia) e o outro a São Serapião, Bispo de Tmuis (339–370). Santo Antão repousou pacificamente no Senhor em 17 de janeiro de 356 após completar cento e cinco anos , na era de idadeSanto Atanásio. Sua saúde física e mental era tamanha que, mesmo se alimentando duas vezes ao ano, Deus não permitiu que um só dente caísse de sua boca. Santo Antão nos deixou vinte sermões sobre as virtudes e sete cartas sobre a perfeição moral e a vida monástica como uma luta espiritual que foram escritas aos seus mosteiros.
== Pós-vida ==
== Hinos ==
: e fortaleceste o mundo por tuas orações. /
: Ó pai Antão, intercede ante o Verbo, /
: Cristo nosso Deus, para que salve nossas almassejam salvas.
=== Condáquio ===
: imitando o Batista em todos os caminhos. /
: Com ele te honramos, ó venerável Antão, /
: a fundação dos Paisde nossos pais.
=== Louvor ===
== Ligações externas ==
* [http://ecclesia.com.br/synaxarion/?p=860 Venerável Antão, o Grande] (Arquidiocese Ortodoxa Grega de Buenos Aires e América do Sul)
* [http://www.catedralortodoxa.com.br/single-post/2016/1/17/Santo-Ant%C3%A3o-o-grande-17-de-Janeiro Venerável Antão, o Grande] (Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo e Todo o Brasil)
* [http://ocafs.oca.org/FeastSaintsViewer.asp?FSID=100216 Venerável Antão, o Grande] (Igreja Ortodoxa na América, OCA)
[[Categoria:Monásticos]]