Teodoro, o Tiro

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O Santo Megalomártir Teodoro, o Recruta (também: o Tiro ou de Amásia). Sua abençoada memória é celebrada pela Igreja no primeiro sábado da Grande Quaresma e no dia 17 de fevereiro. No Brasil, São Teodoro é o onomástico de Dom Teodoro, Bispo do Rio de Janeiro.

Vida

Teodoro provinha de uma família cristã na eminente cidade de Amásia no Ponto (atual norte da Turquia). Em sua juventude durante a Grande Perseguição, foi recrutado à legião de sua cidade, leal ao exército do Imperador Diocleciano (284–305), e lá mantinha sua Fé em segredo; não por falta de coragem, mas por não ter ainda recebido um sinal divino para oferecer-se em testemunho a Jesus Cristo.

Certa vez, ainda na Amásia, o édito de Diocleciano tomou vigor, e todos os seus habitantes foram obrigados pelas autoridades a oferecer sacrifícios aos ídolos pagãos. Teodoro protestou, e foi levado ao oficial Brincas, o qual indagou-o a respeito de não respeitar as ordens para oferecer sacrifícios. Teodoro, então, cheio do Espírito de Deus, disse: “Sou cristão, e não aceitarei a ordem de oferecer sacrifício às imagens malignas; pois tenho como Rei Cristo no Céu.” Brincas desconsiderou sua confissão e disse: “Pega as tuas armas, Teodoro, e aceta o serviço militar. Sacrifica aos deuses imortais e obedece aos vitoriosos imperadores. Quase todos nessa cidade são cristãos e mesmo assim obedecem.”

Teodoro respondeu: “Cada um sabe como deve servir. Mas eu sirvo ao meu Senhor e Rei dos Céus e ao Seu Filho unigênito, Jesus Cristo, meu único imperador.” Possidônio, outro oficial, indagou-o se seu Deus possuía um Filho e se eles poderiam conhecê-lo. “Seu Filho é a Verdade pela qual todas as coisas foram feitas. Queria eu que Ele vos desse tal compreensão que O reconhecessem.” Possidônio tornou a perguntar: “Se O conhecermos, poderemos nós deixar o imperador terreno e segui-Lo?” E Teodoro: “Não há nada que vos impeça de abandonar as trevas e a confiança posta no rei terreno para seguir o Senhor, o Rei vivo, celestial e eterno.”

Brincas decidiu “dar um tempo” a Teodoro para que ele pensasse e se convertesse ao que era melhor. O confessor, entretanto, decidiu passar todo esse tempo — dias — em oração. Enquanto isso, Brincas ordenava que o resto da legião adentrasse a cidade e capturasse os cristãos para levá-los à prisão. Quando soube, São Teodoro dirigiu-se à prisão, ensinando-os a perseverança e o caminho da salvação: “Não temais estas torturas que vos infligirão de modo a que neguem Jesus Cristo, nosso Senhor e Rei celestial.”

Chegada a noite, São Teodoro pegou lenha, esperou um momento oportuno e adentrou o templo de Reia, a “mãe dos deuses”, incendiando-o. O ídolo de Reia voltou ao pó junto com o templo. Crônides, um contabilista pagão, viu o que São Teodoro havia feito, capturou-o e levou-o no raiar do sol ao eparca Públio, dizendo: “Esta praga de recruta entrou em nossa cidade, pôs fogo ao templo que nossos ancestrais fizeram à mãe dos deuses e os profanou! Assim, agarrei e trouxe-o a Vossa Alteza para receber sua pena pelos seus ousados feitos, de acordo com as ordens de nossos vitoriosos imperadores.”

Durante o julgamento, Brincas foi convocado e interrogado se havia o dado a liberdade de incendiar os templos pagãos. Ele respondeu: “Exortei-o muitas vezes, e dei-lhe a anistia para que pensasse consigo mesmo e decidisse oferecer o sacrifício aos deuses. Se ele foi culpado disso, ó jurista, condene-o de acordo com a sua autoridade como alguém que enganou os deuses e desprezou as ordens de nossos imperadores triunfantes.”

O eparca, então, ordenou que São Teodoro fosse trazido perante ele e perguntou-lhe por que havia ateado fogo à deusa em vez de sacrificar-lhe com incenso e libações (derramamento de sangue). O santo confirmou: “Não nego o que fiz. Queimei-a com fogo. Tal é vossa deusa e seu poder que até o fogo da lenha pode tocá-la e queimá-la.” Embebido de fúria, Públio ordenou que fosse espancado, dizendo: “Não me responda com teus discursos. As mais amargas torturas esperam por ti para te obrigar a obedecer aos imperadores.”

Após ser espancado, São Teodoro permaneceu firme em sua confissão: “Não me rendo a ti, nem temo teus punimentos, por mais que sejam extremamente temerosos. Então, faze o que quiseres, pois a esperança na justiça clama que eu seja confiante na coroa que meu Senhor Jesus Cristo preparou para mim.” O jurista ainda clamou que sacrificasse aos deuses para ser salvo das torturas que haviam sido preparadas para ele, e o santo respondeu-lhe: “As torturas que me trazes não me assustam. Meu Senhor e Rei Jesus Cristo está diante de mim; Aquele que me resgatará dos vossos castigos, Aquele que não vedes pois sois cegos de coração.”

Irado como um leão, o jurista ordenou que o santo fosse levado à masmorra escura da prisão para morrer de fome. Na primeira noite, o Senhor apareceu diante dele e disse: “Tem coragem, Meu servo Teodoro, porque estás comigo. Não aceites a comida ou a bebida daqueles homens, pois o alimento inesgotável espera por ti nos Céus.” E ascendeu. São Teodoro começou a cantar salmos de alegria ao Senhor, e quase toda a prisão ouvia diversas vozes cantando com ele. Quando os guardas olharam pela janela, viram uma multidão vestida de mantos brancos cantando junto com o santo. A porta, entretanto, continuava selada.

Os guardas apavoraram-se e correram ao jurista, informando-o sobre o ocorrido. Ele queria ver isso com seus próprios olhos, e correu até a cela, onde realmente ouviu as vozes. Pensando que tratava-se de outros cristãos que haviam invadido a masmorra, ordenou que os soldados cercassem a prisão enquanto ele abrisse a porta. O jurista entrou, e não viu ninguém senão São Teodoro caído ao chão. Imediatamente, um grande temor apoderou-se do jurista e dos soldados, e começaram a perder seus sentidos. Então, trancaram a porta e afugentaram-se da prisão. Após o ocorrido, decidiram que um pão e um copo de água fossem dados ao confessor diariamente. São Teodoro, entretanto, foi fiel em Cristo e não aceitou seus alimentos, dizendo a si mesmo: “Cristo, meu Senhor e Rei, me alimenta.”

Numa manhã, o eparca ordenou que São Teodoro fosse novamente levado em julgamento, e disse: “Salva-te das torturas e oferece o sacrifícios aos deuses, ó Teodoro, para que eu possa escrever aos imperadores, os verdadeiros senhores deste mundo, que tu te tornaste um sacerdote e nosso companheiro, por quem daremos grandes honras.” Olhando para o céu e fazendo o sinal da Cruz, Teodoro respondeu-o: “Mesmo que queimes minha carne com fogo, inflijas uma multidão de torturas e me entregues à espada, não negarei meu Senhor.”

Públio e Brincas chegaram em um acordo, e ordenaram a tortura de São Teodoro. Ele foi amarrado a uma tora de madeira, e teve seus lados dilacerados por garras de ferro até que seus ossos das costelas ficassem visíveis. Durante a tortura, o mártir cantava o Salmo 34:

Bendirei continuamente o Senhor, Seu louvor não deixará meus lábios.

Admirado com sua resistência, Públio dizia: “Não tens vergonha, ó mais miserável dos homens, de ter esperança em um Cristo que padeceu de forma tão terrível, a ponto de tu render-te sem razão a tais torturas?” São Teodoro retrucou-o, dizendo que sua loucura era a de todos os que invocam o Nome de Jesus Cristo. Sem mais esperanças, o eparca interrogou: “Estás disposto a oferecer o sacrifício ou queres ser torturado ainda mais por mim?” Teodoro deu sua última resposta: “Ó mais perverso dentre os homens, portador de todo o mal, filho de satã e digno da obra do demônio, não temes o Senhor que lhe deu este poder, pelo qual reis governam e tiranos obtêm terras, mas me obrigas a abandonar o Deus vivo e adorar pedras inanimadas?” O jurista ainda disse: “Que queres? Estar conosco ou com teu Cristo?” E São Teodoro, com uma enorme alegria, disse: “Estive, estou e estarei com meu Cristo.”

Vendo que o santo mártir não seria vencido com torturas, Públio finalmente decretou: “Ordeno que Teodoro, por não obedecer ao comando dos vitoriosos imperadores e ao poder dos deuses, por acreditar em Jesus Cristo, crucificado sob Pôncio Pilatos — como os judeus dizem —, seja rendido às chamas.” Imediatamente, os torturadores acenderam lenha, e uma multidão correu até São Teodoro para tocar em seu corpo antes de sua paixão. Aos soldados que queriam furar-lhe o corpo para matá-lo de uma forma menos dolorida, disse: “Aquele que me deu resistência nas minhas torturas também me concederá que eu suporte a força das chamas.” Então, apenas o amarraram. Incapaz de fazer o sinal da Cruz com suas mãos atadas, São Teodoro recitava a fórmula trinitária e como um cordeiro aceitou ser o holocausto a Deus, olhando para os céus e dizendo:

“Senhor Deus Todo-Poderoso, Pai de Teu bendito Filho Jesus Cristo, por Quem recebemos a sabedoria de Ti, Deus de virtudes, de todas as criaturas e de todas as nações de homens justos que vivem em Tua presença, bendigo a Ti que fizeste-me digno neste dia e hora de ser contado dentre os santos mártires ante Cristo Salvador na Ressurreição e pela vida eterna do corpo e da alma pelo dom do Espírito Santo. Hoje hei de ser levado dentre os mártires à Tua vista como um valioso e legítimo sacrifício, pelo qual de antemão provastes e descobristes sem defeito. Pois Tu és o verdadeiro Deus, e louvo a Ti em conformidade, rogando e suplicando através de Nosso Senhor Jesus Cristo, Teu Filho amado. Concede também, ó Senhor, que aqueles que foram detidos em minha companhia também alcancem o Teu ramo.”

Pós-vida

Algumas décadas depois, durante o reinado de Juliano, o Apóstata (355–363), o paganismo tornou a ser religião de Estado, e o ímpio imperador tentou subverter a Fé cristã. Dias antes do início da Grande Quaresma, Juliano ordenou que o eparca de Constantinopla retirasse todos os alimentos apropriados para o jejum dos mercados e substituísse-os por pão e bebidas. Ambos, entretanto, seriam antes aspergidos em sangue de sacrifícios aos deuses pagãos; e assim o eparca o fez.

Deus, cujo Olho que tudo vê apanha os sábios deste mundo em sua astúcia e sempre provê aos Seus servos, entretanto, enviou Seu grande campeão Teodoro a Eudóxio, Arcebispo de Constantinopla (360–370). De pé diante do herético arcebispo, São Teodoro proclamou: “Ergue-te e congrega o rebanho de Cristo o mais rápido possível. Ordena-os a não comprarem em circunstância alguma nada que esteja nos mercados, porquanto tudo foi poluído pelo mais impiedoso dos imperadores com o sangue de suas oferendas.” Há de se notar que o santo não apareceu durante um sonho, mas sim enquanto o arcebispo estava acordado.

Intrigado, Eudóxio perguntou como poderiam aqueles que não tinham em abundância em seus lares evitarem comprar comida, e São Teodoro respondeu-o: “Alimenta-os com coliva para poupá-los nos tempos de necessidade.” Mais confuso ainda, o arcebispo não fazia ideia do que significava aquela palavra desconhecida, “coliva”, e perguntou o que era. Também não perdeu a oportunidade de perguntar quem era aquele homem com quem falava. “Trata-se de trigo cozido, e com esse nome tu hás de encontrar sua receita em Eucaita, a cidade cujos habitantes louvam a mim, Teodoro, o mártir por Cristo, Aquele que me enviou em vosso socorro.” Então, partiu. Eudóxio apressou-se a anunciar o que tinha visto à multidão, e assim seu rebanho foi preservado ileso das maquinações do inimigo.

Quando Juliano soube que havia sido envergonhosamente exposto e que nem uma só alma havia caído em seu truque, revogou seu édito, e os alimentos voltaram a ser comercializados. No sábado, os fiéis deram graças ao santo mártir, e alegremente celebraram seu memorial naquele dia. Essa tradição foi preservada até os dias atuais pela Igreja, de forma que o milagre de São Teodoro é celebrado em todo primeiro sábado da Grande Quaresma com a preparação da coliva para os fiéis.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Louváveis são as realizações da Fé. /
Pois, como se estivesse em águas calmas, /
nas chamas o santo Mártir Teodoro regozijou-se, /
oferecendo-se como um agradável pão à Trindade. /
Por suas intercessões, ó Cristo Deus, salva nossas almas!

Condáquio

(Tradução livre)

Tua Fé em Cristo serviu de couraça ao teu coração. /
Com sua ajuda, dominaste o poderio do adversário. /
E assim foste coroado na eternidade com o diadema celeste.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo segundo.

Ligações externas