Quarenta mártires de Sebaste

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Os 40 Santos Mártires de Sebaste

Os Quarenta Santos Mártires de Sebaste (os quais, Cirião, Cândido, Domno, Hesíquio, Heráclio, Esmaragdo, Eunoico, Valente, Viviano, Cláudio, Prisco, Teódulo, Eutíquio, João, Xântias, Eliano, Sisínio, Ângias, Aécio, Flávio, Acácio, Ecdício, Lisímaco, Alexandre, Elias, Gorgônio, Teófilo, Domiciano, Gaio, Leôncio, Atanásio, Cirilo, Sacerdão, Nicolau, Valério, Filoctimão, Severiano, Cudião, Aglaio e Melitão) foram um grupo de soldados romanos martirizados pela Fé durante a Grande Perseguição sob Licínio. Os quarenta são comemorados pela Igreja no dia 9 de março.

Vida

Em 313, o Édito de Mediolano do santo Imperador Constantino (306–324) trouxe fim à maior perseguição de cristãos do Império Romano, promovida em 303 por Diocleciano (284–305) e Maximiano (285–305). No Oriente, entretanto, o Imperador Licínio (308–324) se mostrava ainda disposto a erradicar a Fé do território em que governava. Licínio preparou seu exército para guerrear contra São Constantino e, temendo um motim, resolveu expulsar dele os cristãos.

Agrícola, seu comandante militar em Sebaste na Armênia, era um fervoroso defensor do paganismo. Sob seu comando estava uma companhia de quarenta valentes soldados, vindos de todas as partes, que saíram vitoriosos de incontáveis batalhas. Todos eles eram cristãos e recusaram a sacrificar aos ídolos, medida exigida pelas autoridades para que se comprovasse lealdade ao império. Assim, foram acorrentados e levados ao cárcere por Agrícola. Na prisão, os soldados se entregaram à oração e todas as noites sonhavam com uma voz que lhes dizia: “Aquele que crer em Mim, ainda que morra, viverá. Sede corajosos e não temais, e vós obtereis a coroa da imortalidade.”

Na manhã seguinte, foram novamente levados diante do comandante, que buscou adulá-los com grandes honrarias a fim de acariciar o orgulho dos soldados e levá-los à apostasia. Eles, entretanto, lhe disseram que podiam levar-lhes todas as insígnias do exército romano e até suas vidas, pois nada lhes era mais precioso que Jesus Cristo. Diante de tal recusa unânime, Agrícola enviou-os novamente à prisão, onde tornaram a orar incessantemente ao Senhor.

Sete dias depois, o renomado jurista Lício chegou a Sebaste para levar os soldados cristãos ao tribunal, e eles se mostravam tão corajosos diante do martírio como se mostravam anteriormente no campo de batalha. Lício condenou-os ao apedrejamento, mas cada pedra que os torturadores atiravam voltava na direção deles, acertando-os. Isso convenceu os carrascos que os soldados eram protegidos por alguma força invisível, e desistiram de lançar pedras.

No dia seguinte, a tortura aos mártires recomeçou, mas eles se mostravam mais irredutíveis e convictos que antes. Procurando quebrar a vontade dos soldados, o Lício aproveitou o inverno e levou-os às margens de um lago congelado, próximo à cidade. Então, ordenou que se construísse uma banheira e pusesse-se lenha debaixo dela para manter a água quente, a fim de torturar-lhes os sentidos. Todos foram jogados ao lago frio, e lá ficariam até morrerem ou entrarem na banheira quente, renunciando assim a Cristo. Todos permaneceram com o corpo debaixo d’água durante todo o dia, mas, assim que veio a noite, um dos soldados não resistiu a isso, saiu do lago e entrou na banheira. Imediatamente caiu morto. Os demais permaneceram inabaláveis, e durante a noite um milagre de Deus tornava o gelo em que foram colocados quente e agradável.

Um dos militares pagãos que vigiava os soldados cristãos viu o que acontecia e percebeu uma luz divina, como se fosse uma coroa, radiando em cima da cabeça de cada um deles, mas não na do morto. O militar Aglaio, que testemunhava o milagre, contou trinta e nove coroas, o que indicavam que o soldado que adentrara o banho havia perdido a sua. Convencido da verdade da Fé dos cristãos, acordou os demais guardas, retirou seu uniforme e se declarou cristão. Com isso juntou-se aos mártires na água congelada, rogando ao Senhor para que lhe apagasse seus pecados e na busca pela coroa da imortalidade.

Pela manhã, os torturadores se espantaram que os mártires ainda se encontrassem vivos — embora com a aparência de mortos por congelamento — e que Aglaio estivesse a glorificar Cristo junto deles. Retiraram-nos então da água e foram-lhes quebrar as pernas, como faziam com os crucificados. Entretanto, um deles, chamado Melitão, ainda possuía uma aparência muito viva, e o jurista decidiu fazê-lo “vencedor” para tentá-lo a oferecer sacrifício aos ídolos e retornar ao exército com mais honrarias ainda. Todos os trinta e nove, então, em 9 de março de 320, na era de São Gregório, Patriarca da Armênia (288–325), tiveram suas pernas quebradas e entregaram suas almas ao Senhor, recebendo nos Céus as coroas do martírio.

Sua piedosa mãe, temendo que seu jovem filho, por amor à vida, cedesse ao medo e fosse considerado indigno da coroa de Cristo, estendeu suas mãos ao filho e clamou: “Ó doce filho meu e do Pai Celestial, aguenta só mais um pouco, e te tornarás uma perfeita testemunha de Cristo! Não temas os tormentos, ó meu filho, pois eis que Deus está conosco como um amparo invisível. Suporta só mais um pouco, ó minha criança, e não verás mais tristeza nem dor… Todos os tormentos passarão, e tua bravura terá conquistado o mundo. Tu receberás a alegria, o descanso, o deleite e tudo o mais há de bom, reinando junto de Cristo e sendo um intercessor para Ele em meu nome, tua piedosa mãe!”

Em seguida, os carrascos começaram a jogaram seus corpos em um carro, todos amontoados. Quando começaram a movê-lo para um lugar onde pudessem incendiá-lo, a corajosa mãe teve misericórdia para com o seu filho e, esquecendo os afetos da maternidade, levantou-o sobre os seus próprios ombros e correu o máximo que podia em direção à carroça, para que ele não fosse esquecido por Deus. Eis que o Senhor viu a determinação de Sua serva, e fez com que seu filho não resistisse à hipotermia, morrendo em seus ombros.

Quando chegou ao lugar onde os corpos dos outros trinta e nove estavam à espera do fogo, percebeu que seu filho havia entregado a alma ao Senhor, e deu graças a Deus por Sua grande misericórdia. Então, os carrascos fizeram uma grande fogueira, e todos os quarenta corpos foram consumidos. Seus restos, depois, foram atirados novamente às águas para que os cristãos não mais os encontrassem. Entretanto, três dias depois, o bispo de Sebaste foi avisado em um sonho onde se encontravam os restos mortais dos mártires e, com a ajuda de outros cristãos, reverentemente deram-lhes um sepultamento digno.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Nós, fiéis, louvemos a santa companhia unida pela Fé, /
os majestosos guerreiros do Mestre de todos. /
Divinamente alistados em Cristo, fogo e água suportaram, /
e, no repouso da vitória, intercedem pelos que clamam: /
Glória Àquele que vos deu a força! /
Glória Àquele que vos deu a coroa! /
Glória Àquele que vos magnificou, /
ó quarenta santos mártires!

Condáquio

(Tradução livre)

Abandonando todos os exércitos e batalhões terrenos, /
vos unistes ao Mestre dos Céus, ó benditos mártires. /
Suportando fogo e água, ó quarenta santos do Senhor, /
recebestes dignamente a coroa e a glória celestial.

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

Os mártires, no lago, acorrentados pelo gelo, /
aderindo firmemente à Fé e por ela iluminados, /
clamaram esperançosamente ao seu amado Deus: /
“Tu, que o mundo maravilhaste pela Ressurreição, /
“pelo Teu fantástico sacrifício — vivifica-nos Tu! /
“As alturas do Firmamento e toda a criação Te glorificam; /
“abismo, fogo, granizo, neve, gelo e calor Te glorificam! /
“Tu viestes em socorro ao grande Moisés, servo Teu, /
“a Josué, filho de Num, e, depois dele, a Elias, /
“ordenando a natureza a se acalmar e as águas a se dividirem. /
“Socorre agora Teus fiéis, como até agora fizeste, /
“e não permitas que mais forte que o homem o gelo seja, /
“para que nós, os quarenta, sujeitos ao escárnio não sejamos. /
“Tu podes, se Tu quiseres, pois Tu governas sobre todos; /
“Tu podes, se Tu quiseres, transformar gelo em calor, e calor em gelo. /
“Por Teu Nome a geada como furiosa besta nos consome, /
“ajuda-nos Tu, para que glorificado seja o Nome do Altíssimo!” /
Os mártires, no lago, acorrentados pelo gelo, /
aquecidos foram pela luz celestial de Deus. /
Gloriosamente os quarenta ao martírio sucumbiram, /
para o terror, horror e vergonha dos incrédulos.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo II.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro VII.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas