Diferenças entre edições de "Perpétua de Cartago"

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(A última visão)
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Os mártires continuaram subindo e aproximando-se da luz, até começarem a ver um vasto jardim, cheio de árvores floridas e flores de todas as espécies. As árvores eram imensas, altas como ciprestes, e suas folhas caíam incessantemente. Outros quatro anjos ainda mais radiantes e gloriosos os viram, prestaram-lhes honras e disseram aos outros: “Aqui estão eles! Aqui estão eles!” Os quatro anjos que os levavam temorosamente puseram-nos no chão, e os mártires começaram a andar por um longo caminho. Durante a caminhada, encontraram Jocundo, Saturnino e Artáxio, queimados vivos sob a mesma perseguição, e Quinto, martirizado dentro da prisão. Perguntaram-lhes onde estavam seus outros companheiros mas, antes que pudessem ser respondidos, os anjos disseram-lhes: “Vinde primeiro, entrai e saudai vosso Senhor.”
 
Os mártires continuaram subindo e aproximando-se da luz, até começarem a ver um vasto jardim, cheio de árvores floridas e flores de todas as espécies. As árvores eram imensas, altas como ciprestes, e suas folhas caíam incessantemente. Outros quatro anjos ainda mais radiantes e gloriosos os viram, prestaram-lhes honras e disseram aos outros: “Aqui estão eles! Aqui estão eles!” Os quatro anjos que os levavam temorosamente puseram-nos no chão, e os mártires começaram a andar por um longo caminho. Durante a caminhada, encontraram Jocundo, Saturnino e Artáxio, queimados vivos sob a mesma perseguição, e Quinto, martirizado dentro da prisão. Perguntaram-lhes onde estavam seus outros companheiros mas, antes que pudessem ser respondidos, os anjos disseram-lhes: “Vinde primeiro, entrai e saudai vosso Senhor.”
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Quando chegaram ao fim do caminho havia uma edificação, cujas paredes eram tais como se fossem construídas de luz; e diante da porta haviam outros quatro anjos que vestiam aqueles que adentravam o lugar com mantos brancos. Após serem vestidos, os mártires entraram com muita admiração e viram a luz plena. Ouviam vozes que diziam sem cessar: “Santo, Santo, Santo!” E no meio daquele lugar viam um Ancião sentado, de Cabelos brancos como a neve e com um jovem Rosto. À Sua direita e à Sua esquerda estavam vinte e quatro outros anciãos e, atrás deles, muitos outros.
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Os mártires apresentaram-se perante Seu Trono, e os anjos levantaram-nos até o Ancião. Eles O beijaram, e Ele passou Sua Mão sobre os seus rostos. Os outros anciãos disseram-lhes: “Levantemo-nos”, e beijaram-se uns aos outros. Em seguida despediram-nos: “Ide e desfrutai.” Sátiro disse: “Perpétua, tens o que desejas.” E ela: “Graças a Deus, que, assim como eu estava em carne, ainda mais alegre estou aqui, em espírito.”
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Enquanto saíam do majestoso lugar, viram o bispo e o presbítero Aspásio, e ambos estavam cabisbaixos.<ref group=nota>Os manuscritos mencionam o nome do bispo como sendo Optato. De fato, Santo Optato foi Bispo de Milevo na África, há menos de quatrocentos quilômetros de Cartago, porém no final do século IV, centenas de anos após o martírio de Santa Perpétua e seus companheiros. Santo Optato foi um fiel defensor da Ortodoxia que, juntamente com Santo Agostinho, Bispo de Hipona (390–430), distinguiu-se por seus escritos contra a heresia donatista, que posteriormente levou a um cisma na Sé de Cartago até a queda da África ao islã no século VII. Por conta disso, é provável que seu nome tenha sido usado como uma metonímia à Igreja de Cartago.</ref>
  
 
Felicidade estava gestante de oito meses, e pela lei não poderia ser julgada. Sua ansiedade era tamanha que conseguiu dar a luz ao seu filho ainda na prisão, e rejubilou-se por poder ser contada entre os mártires por Cristo. No dia do julgamento, todos foram levados ao anfiteatro. Na era de São Zeferino, Papa de Roma.
 
Felicidade estava gestante de oito meses, e pela lei não poderia ser julgada. Sua ansiedade era tamanha que conseguiu dar a luz ao seu filho ainda na prisão, e rejubilou-se por poder ser contada entre os mártires por Cristo. No dia do julgamento, todos foram levados ao anfiteatro. Na era de São Zeferino, Papa de Roma.

Revisão das 22h57min de 4 de fevereiro de 2020

Os Santos Mártires Perpétua, Felicidade, Sátiro, Revocado, Saturnino e Segundo de Cartago (m. 203) foram martirizados sob Sétimo Severo na África. A Igreja celebra sua memória no dia 1º de fevereiro.

Vida

Víbia Perpétua nasceu de uma rica família pagã em Cartago na África com outros dois irmãos em c. 181, na era do santo Papa Eleutério de Roma. Em sua juventude, recebeu uma excelente educação, casou-se e teve um filho. Pouco tempo depois, seu esposo faleceu, e Perpétua passou a crer em Jesus Cristo aos vinte e dois anos de idade, sendo logo capturada e enviada à prisão junto com seu filho de um ano. Naquele tempo, o Imperador Sétimo Severo (193–211) havia publicado um édito que proibia a conversão ao cristianismo no império. Acompanharam-na no cárcere um de seus irmãos, Sátiro, e seus servos Felicidade, Revocado, Saturnino e Segundo.

Mesmo com seu pai apelando aos seus sentimentos maternais, a viúva recusou-se a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Aos seus apelos, Perpétua disse: “Pai, vês este jarro no chão? Pode ele ser chamado de qualquer outro nome que não corresponda ao que ele é? Pois bem, da mesma forma não me posso chamar de outra coisa que não seja o que sou, uma cristã.” Seu pai, então, atirou-se sobre ela com raiva e, dominado pelos argumentos do diabo, foi-se embora da prisão.

Na prisão, ministravam os diáconos Tércio e Pompônio. Foi através deles que Perpétua aceitou o santo Batismo, e seus cinco companheiros aceitaram tornar-se seus catecúmenos. Os diáconos também conseguiram fazer com que eles fossem retirados da temível masmorra e levados para uma parte mais aberta da prisão, onde Perpétua conseguiu amamentar seu filho enfraquecido pela fome e consolar sua família.

De volta à masmorra, Deus fortaleceu seu corpo e aliviou-a da ansiedade por seu filho, de forma que a fria e escura masmorra tornou-se como um palácio à viúva. Sátiro disse: “Minha querida irmã, já te encontras numa posição de grande dignidade, e acredito que podes pedir por uma visão, para que saibamos se nosso destino será a paixão ou a fuga.”

Perpétua acatou sua sugestão e, em sonho, viu uma escada dourada tão alta que ultrapassava as nuvens, porém tão estreita que as pessoas só poderiam subi-la uma a uma. Afixados aos lados da escada, haviam todos os tipos de armas: espadas, lanças, garras e punhais, de forma que quem subisse-a descuidosamente e sem olhar para trás fosse despedaçado pelas armas. Debaixo da escada, havia um dragão de tamanho inigualável que tentava amedrontar a todos os que ascendiam a escada.

Sátiro foi o primeiro a subir e, chegando no topo, disse: “Perpétua! Estou esperando por ti, mas toma cuidado para que não te sejas mordida pelo dragão.” Repetindo o Nome de Jesus Cristo, a viúva dirigiu-se à escada, e pisou na cabeça do dragão acoado enquanto subia os degraus. Quando chegou lá em cima, Perpétua viu um imenso jardim, e no meio dele havia um homem de cabelos brancos e alta estatura. Ele estava sentado com roupas de pastor ordenhando suas ovelhas, e ao seu redor haviam milhares de seres de vestes brancas. Ao levantar sua cabeça, o homem olhou para a viúva e chamou-a: “Minha filha, tu és bem-vinda.”

Quando Perpétua se aproximou, o homem transformou o leite ordenhado em queijo e deu-a. Ela comeu, e todos os que estavam ao redor disseram: “Amém.” À essa palavra Perpétua despertou e, ainda com o gosto em sua boca, correu para relatar o sonho ao seu irmão. Ambos entenderam que havia de ser uma paixão, e deixaram de ter quaisquer esperanças neste mundo.

Alguns dias depois, soube-se que os confessores estariam prestes a serem interrogados. Ao saber da notícia, seu pai correu até a prisão e, exausto, beijou suas mãos, jogou-se aos seus pés e em lágrimas clamou: “Minha filha, tem piedade dos meus cabeços grisalhos, tem piedade de teu pai, se é que ainda sou digno de ser chamado assim por ti! Se estas minhas mãos trouxeram-te até a flor da idade, se eu te preferi a todos os teus irmãos, não me entregues ao escárnio dos homens. Tem consideração pelos teus irmãos, tem consideração pelas tuas mãe e tia, tem consideração pelo teu filho que não poderá crescer contigo! Despoja-te desta tua coragem e não nos traga a destruição, pois todos nós seremos cativos em teus sofrimentos.” Perpétua chorou, não por suas palavras, mas por ser o único de sua família que não se regozijaria com sua paixão. Ela confortou-o, dizendo: “Naquele cadafalso, o que Deus quiser acontecerá. Não somos colocados em nosso próprio poder, mas no de Deus.” E seu pai partiu amargurado.

Condenação

Noutro dia, enquanto estavam jantando, foram subitamente levados para o interrogatório no centro da cidade. A notícia chegou a toda a vila, e diversas pessoas reuniram-se ao redor deles. Era 203, e o procônsul da África Minício Opimiano havia acabado de morrer; assim, Hilarião, o procurador, tomou o poder de decidir entre a vida e a morte dos julgados. Quando todos os outros já haviam sido interrogados, Hilarião chamou-a, e seu pai apareceu diante dela com seu filho, suplicando: “Tem piedade do teu menino!”

Hilarião, vendo-os, disse: “Poupa os cabelos brancos do teu pai, poupa a infância do teu filho. Oferece o sacrifício para o bem-estar dos imperadores.” Ela respondeu: “Não o farei.” O procurador perguntou se ela era cristã, e ela afirmou. Hilarião, então, atirou seu pai ao chão, e ordenou que fosse espancado com bastões. A dor de seu pai refletia-se nela como se ela mesma estivesse sendo agredida. Em seguida, o procurador condenou que os seis seriam futuramente jogados aos animais selvagens, e foram levados para uma prisão improvisada.

Alguns dias depois, enquanto oravam, veio à mente de Perpétua Dinócrates, seu esquecido e miserável irmão que faleceu aos sete anos de idade vítima de um câncer. Perpétua lamentou-se e sentiu a dignidade de ter sido preservada da doença por Deus; assim, começou a suplicar e chorar por seu falecido irmão a Deus.

Naquela mesma noite, o Altíssimo concedeu-a mais uma visão, e nela Perpétua via Dinócrates saindo de um lugar sombrio e nebuloso junto a várias outras pessoas. Sua pele estava ressecada de tamanha sede, e sua face, pálida, encardida e com o rosto devorado pelo tumor. Entre os dois, havia um hiato para que nenhum pudesse se aproximar do outro. Em frente a Dinócrates havia um tanque cheio de água, e ele esforçava-se para alcançá-lo, mas sua altura era menor que a do tanque. O sofrimento de seu irmão era perceptível à viúva, mas sabia que somente sua oração traria ajuda a ele, de forma que seu nome esteve presente em suas orações por todos os dias que se seguiram.

Em 7 de março de 203, aniversário de Geta, filho de Sétimo Severo e futuro imperador, Perpétua persistiu em oração o dia inteiro, lamentando-se e gemendo por seu irmão. De noite, teve uma nova visão: a escuridão havia sido dissipada pela luz, e Dinócrates estava completamente limpo. O tanque tinha diminuído de tamanho até a cintura de seu irmão, e no lugar do tumor havia apenas uma cicatriz. Alguém tirava a água incessantemente, e uma taça estava na beira do tanque; Dinócrates bebeu-a por completo, saciou-se, e afastou-se para brincar à maneira das crianças. Assim, Perpétua entendeu que o menino havia sido poupado da punição.

Pudêncio, um soldado da prisão, começou a ter grande estima para com os confessores e, percebendo a presença de Deus neles, permitiu que pessoas de fora pudessem se encontrar com eles. Uma dessas pessoas foi novamente seu pai que, desgastado de sofrimento, jogou-se perante a filha, começou a arrancar sua barba e disse palavras capazes de comover toda a criação. Perpétua novamente entristeceu-se, mas isso não a convenceu de desistir.

A última visão

Na noite anterior ao juízo no anfiteatro, Perpétua viu Pompônio bater forte na porta da prisão. Ela abriu a porta ao diácono, o qual estava vestido com um manto branco e sandálias, ambos ricamente ornamentados, e disse: “Perpétua, estamos à tua espera, vem!” Então, segurou a mão dela e levou-a a lugares perigosos e sinuosos até chegar ao centro do anfiteatro. “Não temas, estou contigo e irei te ajudar!”, e partiu. Nas arquibancadas, havia um número esplêndido de espectadores, todos aterrorizados com um egípcio de aparência horrível e seus companheiros, ambos prestes a confrontá-la. Ela não estava sozinha, várias crianças começaram a ser juntar a ela, despi-la e esfregar óleos em seu corpo, como era costume aos gladiadores. Quando viu, não era mais uma mulher, mas sim um gladiador.

Então, um homem mais alto que o anfiteatro inteiro apareceu. Ele vestia uma túnica e um manto púrpura entre duas faixas que cruzavam seu peitoral, além de duas sandálias de prata e ouro. Ele carregava um bastão, simbolizando o treinador dos gladiadores, e um ramo verde sobre o qual pendiam maçãs douradas. Houve um silêncio, e ele disse: “Este egípcio, se vencer esta mulher, mata-la-á à espada; essa mulher, se o vencer, receberá o ramo.” E então, desapareceu.

“Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15)

Ambos começaram a se enfrentar. Perpétua golpeava o rosto do egípcio com seu calcanhar, enquanto este tentava feri-lo; ela foi jogada ao ar e, segurando-se nele, espancou-o até chegar ao chão. Finalmente, empurrou-o com a cara no chão e pisou sobre sua cabeça. A arquibancada gritava de louvor, e as crianças exultavam. O treinador apareceu a ela e deu-lhe um beijo, dizendo: “Minha filha, a paz esteja contigo.” Ele entregou-a o ramo e ela dirigiu-se gloriosamente até o portal dos sobreviventes. E acordou. A viúva entendeu que ela não havia de lutar com as bestas selvagens, mas com o próprio diabo. Mesmo assim, sua vitória seria certeira.

Naquela mesma noite, Sátiro também teve uma visão enquanto dormia. Todos já haviam sofrido nas mãos dos torturadores, e seus espíritos estavam sendo carregados por quatro anjos em direção ao oriente. Suas mãos, entretanto, não os tocavam, mas seus corpos subiam suavemente. Quando já estavam afastados do mundo, passaram a ver uma imensa região de luz, e Sátiro disse a Perpétua, que estava ao seu lado: “Isto é o que o Senhor nos prometeu. Nós recebemos Sua Promessa.”

Os mártires continuaram subindo e aproximando-se da luz, até começarem a ver um vasto jardim, cheio de árvores floridas e flores de todas as espécies. As árvores eram imensas, altas como ciprestes, e suas folhas caíam incessantemente. Outros quatro anjos ainda mais radiantes e gloriosos os viram, prestaram-lhes honras e disseram aos outros: “Aqui estão eles! Aqui estão eles!” Os quatro anjos que os levavam temorosamente puseram-nos no chão, e os mártires começaram a andar por um longo caminho. Durante a caminhada, encontraram Jocundo, Saturnino e Artáxio, queimados vivos sob a mesma perseguição, e Quinto, martirizado dentro da prisão. Perguntaram-lhes onde estavam seus outros companheiros mas, antes que pudessem ser respondidos, os anjos disseram-lhes: “Vinde primeiro, entrai e saudai vosso Senhor.”

Quando chegaram ao fim do caminho havia uma edificação, cujas paredes eram tais como se fossem construídas de luz; e diante da porta haviam outros quatro anjos que vestiam aqueles que adentravam o lugar com mantos brancos. Após serem vestidos, os mártires entraram com muita admiração e viram a luz plena. Ouviam vozes que diziam sem cessar: “Santo, Santo, Santo!” E no meio daquele lugar viam um Ancião sentado, de Cabelos brancos como a neve e com um jovem Rosto. À Sua direita e à Sua esquerda estavam vinte e quatro outros anciãos e, atrás deles, muitos outros.

Os mártires apresentaram-se perante Seu Trono, e os anjos levantaram-nos até o Ancião. Eles O beijaram, e Ele passou Sua Mão sobre os seus rostos. Os outros anciãos disseram-lhes: “Levantemo-nos”, e beijaram-se uns aos outros. Em seguida despediram-nos: “Ide e desfrutai.” Sátiro disse: “Perpétua, tens o que desejas.” E ela: “Graças a Deus, que, assim como eu estava em carne, ainda mais alegre estou aqui, em espírito.”

Enquanto saíam do majestoso lugar, viram o bispo e o presbítero Aspásio, e ambos estavam cabisbaixos.[nota 1]

Felicidade estava gestante de oito meses, e pela lei não poderia ser julgada. Sua ansiedade era tamanha que conseguiu dar a luz ao seu filho ainda na prisão, e rejubilou-se por poder ser contada entre os mártires por Cristo. No dia do julgamento, todos foram levados ao anfiteatro. Na era de São Zeferino, Papa de Roma.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo segundo.

Ligações externas


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