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Mãe de Deus

Revisão em 01h37min de 24 de agosto de 2022 por Σταύρος (Discussão | contribs)

Pós-vida

Colocação do Manto em Blaquerna

No século V, durante o reinado do Imperador Romano do Oriente Leão I, o Trácio (457–474), os irmãos Gálbio e Cândido, ligados ao imperador, partiram de Constantinopla para a Palestina com a intenção de venerar os lugares santos. Lá, ficaram num pequeno assentamento próximo a Nazaré, na casa de uma senhora judia. Naquela casa, os irmãos notaram que havia uma sala com várias lamparinas acesas e incenso sendo queimado, além de haverem vários enfermos lá reunidos.

Nas várias vezes que foi questionada sobre o que havia naquela sala, a piedosa senhora refreou-se de revelá-los o que havia lá, mas após muitos pedidos, ela os contou que lá havia um item sagrado muito precioso: o Manto da Mãe de Deus, que realizara muitos milagres e curas. Antes de sua Dormição, a Panágia teria confiado uma de suas vestimentas a uma piedosa virgem judia, ancestral daquela senhora, instruindo-a a deixá-la a outra virgem após sua morte, e assim de geração em geração o Manto da Mãe de Deus foi preservado naquela família.

A arca revestida de joias que continha o Manto foi transferida para Constantinopla. São Genádio, Patriarca de Constantinopla, e o imperador, tendo sabido do tesouro sagrado, convenceram-se da incorruptibilidade do santo Manto, e confirmaram sua autenticidade. No subúrbio de Blaquerna, próximo ao litoral, foi construída uma igreja em honra à Mãe de Deus. Em 2 de junho de 458, São Genádio transferiu o Manto sagrado para a igreja, após uma solenidade. O Manto foi posto num relicário.

Com o passar do tempo, o Mafório (a túnica) e o Cinto também foram postos no mesmo relicário. Essa circunstância influenciou a iconografia da Festa, conectando a Colocação do Manto com a Colocação do Cinto em Blaquerna. O peregrino russo Estêvão de Novogárdia, visitando Constantinopla em meados de 1350, testifica: “Chegamos em Blaquerna, onde o Manto repousa acima de um altar num relicário lacrado.” Nas invasões dos inimigos, mais de uma vez a Santíssima salvou a cidade para a qual ela havia dado seu santo Manto. Assim ocorreu no tempo dos cercos a Constantinopla pelos avários em 626, pelos persas em 677, pelos árabes em 717 e pelos russos em 860. Este último está intimamente conectado com a história da Igreja Russa.

Em 18 de junho de 860, uma esquadra russa de mais de duzentas embarcações lideradas pelo Príncipe Ascoldo de Kiev, após ter devastado as regiões costeiras do Mar Negro e do Bósforo, entrou no Corno de Ouro, ameaçando Constantinopla. As embarcações navegaram contornando a cidade, colocando em terra tropas estendendo suas espadas à cidade. O Imperador Miguel II (842–867) interrompeu sua campanha contra os árabes para retornar à capital. Todas as noites ele prostrava-se nas pedras da igreja de Blaquerna e orava. São Fócio, Patriarca de Constantinopla (858–867, 877–886), pedia ao seu rebanho lágrimas de arrependimento, para que seus pecados fossem apagados, e que pedissem fervorosamente pela intercessão da Eleusa.

A tensão aumentava a cada hora. Em uma de suas homilias, o patriarca relatou: “A cidade mal conseguia ficar de pé contra uma lança.” Sob essas condições, decidiu-se salvar os objetos sagrados da igreja, especialmente o santo Manto. Após servir uma vigília noturna, carregou-se o Manto numa procissão pelos muros da cidade e mergulhou-se uma ponta dele no Bósforo. Então, levaram-no para o centro de Constantinopla, na igreja de Santa Sofia. A Mãe de Deus protegeu a cidade e reprimiu a fúria dos guerreiros russos. Isso culminou numa trégua, e o príncipe desistiu do cerco.

No 25 de junho do mesmo ano, o exército russo começou a departir, levando consigo um grande pagamento. Na semana seguinte, em 2 de julho, o taumaturgo Manto foi solenemente retornado ao seu local no relicário da igreja de Blaquerna. Em comemoração a esses eventos, uma festa anual pela Colocação do Manto da Mãe de Deus foi oficializado neste dia pelo Patriarca Fócio.

O que ocorre a seguir é o Batismo da Rússia. Recomenda-se ler a seção “História”.

A Festa também marca a fundação canônica do Metropolitanato Ortodoxo Russo em Kiev. Pelas bênçãos da Mãe de Deus e pelo milagre de seu santo Manto, não só Constantinopla foi liberada do pior cerco de sua história como os russos também foram libertados das trevas da superstição pagã à vida eterna.

Várias obras notáveis da hinologia e homilética da Igreja Bizantina estão relacionadas com o milagre do Manto da Panágia em Blaquerna. Além das duas homilias compostas pelo Patriarca Fócio ­— uma nos dias do cerco, outra depois da partida dos russos —, também destaca-se a composição do “Acatisto à Santíssima Mãe de Deus”, atribuído por alguns ao santo patriarca. Esse acatisto integra os serviços de louvor à Santíssima, celebrado no quinto sábado da Grande Quaresma até os dias de hoje.

O Santo Príncipe André I de Vladimir (1157–1174) construiu uma igreja em honra à Festa nos Portões Dourados da cidade de Vladimir. No fim do século XIV, parte do Manto da Mãe de Deus foi transferida de Constantinopla à Rússia por São Dionísio, Arcebispo de Susdália (1384–1385).

O mesmo Manto que salvou Constantinopla também salvou Moscou. No verão de 1451, os tátaros da Horda, liderados por Mazovshi, aproximaram-se dos muros de Moscou. São Jonas, Metropolita de Moscou (1448–1461), através da oração constante e dos serviços divinos, encorajou os defensores da capital. Na noite de 2 de julho, uma grande confusão ocorreu no acampamento dos tátaros. Eles abandonaram os bens saqueados e fugiram em desordem. Em comemoração à libertação milagrosa de Moscou, São Jonas construiu a Igreja da Colocação do Manto no Kremlin, fazendo-a como sua igreja principal, porém ela veio a incendiar-se.

Trinta anos mais tarde, entre 1484 e 1486, na era do Metropolita Gerôncio, a igreja foi reconstruída, existindo até hoje. Até a construção da Catedral dos Doze Apóstolos pelo Patriarca Nicão (1652–1666), a igreja serviu como igreja primária para os metropolitas e patriarcas da Rússia.

Ícones

Mãe de Deus da Economia

 
Mãe de Deus da Economia.

O ícone d’A Ecônoma (ou Economissa) é comemorado no dia 5 de julho juntamente com Santo Atanásio do Monte Atos, fundador da Grande Lavra. Entre as décadas de 960 e 970, uma grande fome atingiu sua lavra, e todos os monges abandonaram-na para retornar à civilização. Num momento de fraqueza, o santo também pensou em deixar o mosteiro que ele próprio havia construído para não morrer de fome, mas eis que uma mulher apareceu na estrada, caminhando em sua direção.

Ela disse: “Quem és tu e para onde vais?” O santo, então, a contou sobre sua vida e as angústias pelas quais a lavra estava passando. Ao final, a mulher retrucou: “Abandonarias o mosteiro destinado à glória de geração em geração apenas por um pedaço de pão seco? Onde está a tua Fé? Vira para trás, pois hei de te ajudar.” “Mas quem és tu para fazer tal coisa?”, perguntou Atanásio. “Eu sou aquela a qual tu dedicaste vossa comunidade. Eu sou a Mãe de Deus.”

Ela ainda disse: “Atinge a tua vara nesta rocha e saberás quem sou eu que falo contigo.” O santo obedeceu, e a fissura começou a jorrar água em abundância. “Sabe tu que eu serei a abadessa e a ecônoma perpétua da tua lavra.” Logo em seguida, a Virgem desapareceu. Quando retornou à lavra, Atanásio encontrou os celeiros transbordando de tanto trigo. Com o tempo, o mosteiro tornou a florescer de novos monges, e até hoje é o único cujo ecônomo não é um monge, mas sim a própria Mãe de Deus.

O ícone d’A Ecônoma atualmente está protegido com um relevo de metal, situado antes do túmulo de Santo Atanásio na Grande Lavra. Ao centro, está sentada a Mãe de Deus num trono, e a Divina Criança senta-Se sobre sua perna esquerda. Na parte superior, da esquerda para a direita, estão São Miguel, Bispo de Sínada, segurando um livro; Santo Atanásio com a Grande Lavra em suas mãos; São João, o Batista, com suas mãos estendidas; dois anjos segurando dois círculos com as inscrições “Η Οικονομισσα” (“A Economissa”); São Simeão, o Novo Teólogo, também com suas mãos estendidas; o Apóstolo Estêvão com seu turíbulo e a Igreja; São Nicolau, o Taumaturgo, Bispo de Mira, segurando um livro da mesma forma que o outro bispo.

Na parte inferior estão São Nicéforo II, Imperador de Roma, que financiou a construção da lavra; São Jorge, o Vitorioso, com a cruz do martírio em suas mãos; São Demétrio de Tessalônica também com sua cruz; e o Imperador João I, que realizou a concessão permanente da península aos monges.

Ligações externas