Igreja de Santa Zenaide (Rio de Janeiro)

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A Igreja de Santa Mártir Zenaide é um templo localizado no tradicional bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, Brasil, edificado por imigrantes que fugiam das perseguições religiosas no início do século XX. É atualmente um dos principais portos de entrada para brasileiros à ortodoxia na cidade do Rio. É a única paróquia em todo o mundo edificada em honra à Santa Mártir Zenaide. Está atualmente sob a jurisdição da Eparquia da Argentina e América do Sul, Patriarcado de Moscou.

História

Imigração

No ano de 1921 chegavam ao Rio de Janeiro, a maior cidade do Brasil e a então capital, cerca de mil e quinhentos russos refugiados da Revolução Russa que se encontravam na Europa. A primeira leva chegou em 21 de julho, no navio francês Acquitaine, com 650 refugiados russos provenientes dos campos de Galipoli, Lemnos e Constantinopla, na Turquia; e em 2 de agosto, com a chegada do navio Provence, trazendo o segundo grupo com 750 russos dos quais 400 permaneceram no Brasil.

No final de 1917 havia sido concluída a construção de uma igreja ortodoxa dedicada a São Nicolau, arcebispo de Mirra, junto à Embaixada da Rússia no Rio de Janeiro, com recursos providos pelo Imperador da Russo Nicolau II. Após a revolução de outubro na Rússia a embaixada carioca deixou de existir e a igreja ficou sem dono e as autoridades do Rio de Janeiro entregaram à Igreja de São Nicolau (Patriarcado de Antioquina).

Os russos recém-chegados organizaram sua comunidade religiosa (denominada em honra a Jorge da Capadócia), mas por mais de dez anos, devido a falta de clero russo e de um local propriamente adequado para a oração em comum e para reuniões, tiveram que se tornar paroquianos da antiga Igreja de São Nicolau dos antioquinos, que outrora fora russa.

Formação da comunidade

Em 1930 a comunidade enviou uma carta à Paris, dirigida ao Metropolita Evlogy (Georgievsky), que era o então administrador das paróquias ortodoxas russas na Europa Ocidental, rogando que enviasse um sacerdote ao Brasil para atender a colônia russa. O Metropolita Evlogy foi solícito ao pedido e por seu decreto o hieromonge Mikhei (Ordyntsev), que se encontrava no Peru, foi enviado ao Rio de Janeiro (mais tarde transferiu-se para a cidade de São Paulo).

Em 28 de abril de 1933, na reunião de organização do Conselho paroquial, N.M. Shchelkunov propôs a construção de uma igreja própria e foi, ele mesmo, encarregado de elaborar o Estatuto da paróquia. Somente em 1934, após o registro da comunidade ortodoxa russa como pessoa jurídica, foi possível aos russos adquirir em seu nome, com pagamento em prestações, um terreno no bairro Santa Teresa para construir a sua própria igreja (o último pagamento foi efetuado em 1941). A aquisição do terreno em Santa Teresa deve-se em parte ao fato de que o bairro era servido por várias linhas de bondes. Para angariar os recursos necessários à construção a comunidade russa do Rio organizava concertos, bailes, apresentações e tardes teatrais.

O projeto, no estilo das igrejas russas (Pskov) do final do século XYI — início do século XIV, bem como as plantas da obra foram feitas pelo engenheiro Konstantin Dmitrievich Trofimov, que combinou de modo admirável os conhecimentos técnicos com a sua vocação de arqueólogo e conhecedor da arquitetura sacra da Rússia Antiga (em 1939 ele foi ordenado sacerdote e permaneceu como pároco da igreja até o ano de 1950). O acompanhamento da obra coube ao arquiteto Gleb Konstantinovich Sakharov.

Quando a edificação estava para ser iniciada, falece a esposa do arquiteto Gleb e ele oferece uma soma grande em dinheiro para a construção, com a condição de que a igreja fosse consagrada em honra à santa de devoção de sua esposa, que não era famosa e muito menos de grande devoção popular, sendo muitas vezes somente honrada em juntamente com os santos anárgiros: a Santa Mártir Zenaide. Dá-se então início ao primeiro templo edificado em honra à santa anárgira de Tarso.

Construção e consagração da Igreja

A construção da igreja teve início em 11 de agosto de 1935, com o colocação solene da pedra fundamental pelo arcebispo de São Paulo e de todo o Brasil Theodosy (Samoilovich) e pelo metropolita de Tiro-Sidon Ili da Igreja Antioquina. Praticamente todas as famílias russas, que então moravam no Rio de Janeiro, contribuíram para a construção e efetivamente trabalharam na obra em horários livres, e graças a isso a igreja foi construída em tempo recorde, mesmo para os padrões atuais. Com o término da construção, estava formada uma comunidade paroquial forte e numerosa.

Em 29 de agosto de 1937, na presença de um grande número de fiéis, o arcebispo Theodosy consagrou a igreja e o seu altar à memória de Santa Mártir Zenaide (celebrada em 24 de outubro). O primeiro pároco da igreja de Santa Zenaide foi o padre Georgy (Gordov), jurista de formação que havia governado uma pequena cidade da Crimeia antes da revolução.

Segunda onda de imigrantes

Após o primeiro fluxo da emigração da Rússia e da França para o Rio (1921–1924), a comunidade recebeu uma onda de numerosos emigrantes russos da Europa pós-guerra (1947–1955) e depois uma ainda maior da China.

Com a chegada ao Brasil dos russos emigrados da China, país em que até os anos 40 a vida da Igreja era bastante intensa, teve início uma nova página na história desta igreja entre os anos de 1950 e 1963, com um novo florescimento na vida paroquial e da comunidade. O coral dirigido pelo incansável regente Boris Evgenievich Kirillov, vindo com sua família de Harbin (China), chegou a ter nos melhores momentos até 25 cantores.

De 1956 a 1959 a comunidade bancou obras de contenção do terreno e a reconstrução das edificações existentes. Para isso uma grande soma foi oferecida pelo paroquiano Aleksandrr Mikhailovich Sinkovsky. Neste período assinalado (1956-1959) o pároco da igreja foi o padre Nikolai (Paderin), que em 1967 foi sagrado Bispo do Rio de Janeiro (com o nome de Bispo Nikandr) e vigário do arcebispo Teodósio em São Paulo, tornando-se, após a sua morte, o dirigente (arcebispo) da Eparquia de São Paulo e todo o Brasil da Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro. De 1937 a 1976 a igreja de Santa Zenaide permaneceu sob a jurisdição da ROCOR.

Conflitos na paróquia: Entrada à OCA

Em 1964 teve lugar um acontecimento na paróquia, com pesadas consequências espirituais para a igreja e para toda a colônia russa no Rio de Janeiro. Houve um conflito entre o padre e parte dos paroquianos. O Conselho Paroquial de então, o coral e metade dos paroquianos retiraram-se desta paróquia e passaram para a igreja de Pokrovsk em Niterói. Teve início um longo processo judicial, e em 1968 o então pároco Vasily (Pavlovsky) foi proibido de exercer o serviço religioso pelo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro devido à sua recusa em obedecer às ordens da seus superiores eclesiásticos. Em 1969 foi deposto do sacerdócio, porém continuou a exercer os serviços religiosos sem autorização.

Por iniciativa de Vasily e com o apoio dos paroquianos restantes, em 1976 a paróquia passou para a Igreja Ortodoxa na América (OCA), uma jurisdição filha do Patriarcado de Moscou que havia ganho autocefalia, e com isso padre Vasily assume oficialmente a direção da paróquia. Após a sua morte, em 1988, as celebrações passaram a ser realizadas pelo Arcipreste Anatoly (Topala), pároco da Igreja de Santo Sérgio de Radonezh (Patriarcado de Moscou) em Porto Alegre. Apesar disso, o templo não passou à jurisdição do Patriarcado de Moscou.

Entrada ao Patriarcado de Moscou

A partir de 1998 a igreja de Santa Zenaide foi frequentemente assistida no serviço religioso pelo metropolita Platão (Udovenko), da Diocese da Argentina América do Sul.

No começo de 1999, por deliberação em assembléia geral, na presença do vice-presidente do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou, Arquimandrita Theofan (Ashurkov) (mais tarde bispo de Stavropol e Vladikavkaz), a comunidade manifestou o desejo de passar para a jurisdição do Patriarca de Moscou e toda a Rússia, o que veio a ocorrer naquele mesmo ano. O novo Estatuto da paróquia, aprovado em assembléia geral dos paroquianos e atualmente em vigência foi registrado no Ministério da Justiça do Brasil em 27 de janeiro de 2000 e em Cartório de Notas no Rio de Janeiro em 10 de fevereiro de 2000.

De janeiro de 2000 a outubro de 2001, sendo pároco o abade Sergy (Zyatkov), foi parcialmente reformada a casa paroquial e concretado o pátio da igreja com recursos do Patriarcado de Moscou e doações dos paroquianos. Em 6 de outubro de 2001 o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa designou como pároco o sacerdote Pavel (Feoktistov). Em 2002 a comunidade russa do Rio de Janeiro festejava solenemente o 65° aniversário da consagração da igreja.

Em sua mensagem de congratulações o Presidente do Departamento de Relações Exteriores, metropolita Cirilo (Gundyayev) de Smolensk e Kaliningrado (mais tarde Patriarca Cirilo de Moscou e toda a Rússia) assinalou que a igreja da Santa Mártir Zenaide “continua sendo para os nossos compatriotas a expressão dos vivos laços que os ligam à distante, mas infinitamente querida terra natal” e “a comunidade, consolidada pela unidade na fé e no amor, continua servindo ao alto objetivo de reunir os filhos de Deus dispersos e levá-los à proteção da Santa Igreja”.

Grande reforma e reconsagração do templo

Em dezembro de 2003, com recursos do Patriarcado de Moscou, teve início a primeira grande reforma da sua história, na qual realizou-se o revestimento do altar e da parede da iconostáse com mármore branco combinando com granito azul da Bahia e com uma variedade especial de madeira de Carvalho natural do Brasil. Graças às doações, foram restaurados os ícones da igreja.

Em 19 de fevereiro teve lugar a cerimônia solene da reconsagração da igreja, realizada pelos metropolitas Cirilo de Smolensk e Kaliningrado, Presidente do Departamento de Relações Eclesiais Exteriores do Patriarcado de Moscou e Platão da Argentina e América do Sul, concelebrada com o clero do vicariato brasileiro. Na base do altar e no corporal doado por sua Beatitude o Patriarca Aleixo II de Moscou e de toda a Rússia foram colocadas as relíquias de um dos novos mártires do século XX, que sofreu durante a perseguição à Igreja de Cristo, o Santo Mártir Sérgio Rakveresky (memória comemorada no dia 30 de janeiro).

Novo pároco, primeiro diácono e missão aos aos brasileiros

Fontes