Dimas, o Ladrão

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São Dimas, o Ladrão

São Dimas (também conhecido como Tito, o Bom Ladrão ou Ladrão Arrependido; séc. I), foi um dos dois homens crucificados com Jesus Cristo e o primeiro de todos os santos a entrar no Paraíso graças à sua Fé. São Dimas é o padroeiro de todos os prisioneiros justos ou arrependidos. Sua memória é celebrada pela Igreja na Sexta-Feira Santa e nos dias 12 de outubro e 25 de março.

Vida

Tito viveu quase toda a sua vida terrena como ladrão e, em sua juventude, era o líder de uma grande quadrilha de bandidos egípcios. Naquele mesmo tempo, a Mãe de Deus e São José encontravam-se vagueando pelo deserto com a Divina Criança, pois haviam sido avisados por um anjo que o Rei Herodes da Judeia iniciara uma perseguição para que o Cristo fosse morto.

Certa noite, partiram da vila onde, segundo os primeiros cristãos, Jesus havia milagrosamente curado uma garota da lepra e desfeito o feitiço de um jovem que havia sido transformado em mula por uma feiticeira. Como ambos se casaram e fizeram uma grande festa em que todo o povoado fez-se presente, Maria e José temiam que o exército de Herodes soubesse do ocorrido e viesse em direção deles. À noite, partiram pelo deserto em direção a Cairo, sendo guiados apenas pela luz da Lua e sofrendo muito frio, pois era inverno.

Enquanto vagavam, depararam-se com a quadrilha de Tito, a qual dormia em suas tendas. Tito e seu companheiro Dímaco, entretanto, encontravam-se acordados no lado de fora e os perceberam na escuridão. Sabendo disso, a Mãe de Deus aproximou-se deles e, segurando seu Filho como se quisesse protegê-Lo, caiu de joelhos perante os dois e implorou para que os poupassem. Tito disse a Dímaco: “Rogo-te que deixe-os partirem em silêncio, para que nossos companheiros não os ataquem.” Mas Dímaco mostrou-se disposto a fazer o contrário. Então, Tito examinou sua cintura e disse: “Dar-te-ei quarenta sêmolas de trigo e, como garantia, meu cinto, se não abrires a tua boca.” Dímaco aceitou a oferta, e permaneceu calado.

Vendo a bondade a qual Tito teve para com eles, a Virgem disse-lhe: “O Senhor Deus há de te receber em Sua Mão destra, e conceder-lhe-á o perdão dos teus muitos pecados.” Jesus, virando-se para ela, profetizou: “Decorridos trinta anos, ó Minha mãe, serei crucificado pelos judeus em Jerusalém, e estes dois ladrões estarão comigo; Tito à Minha destra e Dímaco à Minha esquerda, e Tito alcançará o Paraíso antes de Mim.” Maria clamou: “Deus me livre esse ser Teu destino, meu Filho!”, e seguiram o caminho a Cairo.

Morte de Cruz

Ícone da Crucificação.

Passado o curso de todos esses anos, Jesus foi condenado à morte pelos judeus e trazido ao Gólgota, o monte onde Adão havia entregue sua alma a Deus quando expirou. Após pregarem-Lhe Seus Pés e Mãos ao Madeiro, suspenderam-No junto com dois ladrões, como se Ele mesmo fosse um ladrão. Aquele à Sua esquerda era Dímaco, enquanto que o outro à direita, Tito, ambos já em seus quarenta ou cinquenta anos de idade e finalmente pegos pelo exército de Pilatos, eparca da Judeia.

Todos, desde os sacerdotes judeus até os dois crucificados zombavam de Jesus, dizendo: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz!”, ao que o Cristo apenas respondia com Seu silêncio. A extrema humildade e paciência do Salvador ao ser escarnecido e ridicularizado na Cruz até que os judeus se cansassem e fossem embora — afinal, alguns riram-se d’Ele do meio-dia até a hora nona — fez com que a consciência de Tito o lembrasse daquele episódio trinta anos antes, e assombrou-se com o que estava acontecendo.

Fixando seu olhar em Jesus, o ladrão fez como se tivesse despertado de um sono profundo e viu a diferença entre si mesmo e o Cristo ao seu lado. O Justo, que perdoou até Seus torturadores e orou por eles a Deus, a Quem tinha como Pai até na hora da morte, e ele, assassino de inúmeras vítimas que nada lhe fizeram e tiveram seu sangue derramado. Tito compreendeu seus pecados, e entendeu que sua própria culpa lhe levara àquele amargo fim, pela qual seria julgado no temível Juízo. Seu pecado tornou-se repugnante, horrível. Em sua alma, Tito não era mais um ladrão, mas foi tomado de amor, bondade e misericórdia.

Tito recordou tudo o que ouvira sobre Aquele que agora era crucificado ao seu lado, e um caloroso sentimento de Fé acendeu-se em seu coração. Ele entendeu que ao seu lado não estava um homem comum: Sua falta de malícia, Seu perdão, Sua oração, suportar a humilhação e a calúnia daqueles a quem Ele fizera o bem, só eram possíveis para Aquele que tinha a relação mais íntima com a Fonte do amor. Sim, Ele era sem dúvida o Filho de Deus, encarnado no pó ao mesmo tempo que mantinha uma comunhão ininterrupta com Seu Pai, Aquele a quem o pó rejeitara e agora voltava para o Seu Lar, Aquele que era capaz de perdoar os pecados dos homens.

Se o ladrão voltasse a Cristo com o mesmo amor que recebera, de certo seria zombado pela multidão e pelos seus poucos parentes e conhecidos que lá estavam. Reconhecê-lo como Santo e Filho de Deus significaria atrair sobre si a ira dos judeus. Entretanto, por mais doloroso que fosse ser abandonado pelos homens no limiar da morte e sofrer do escárnio dos homens atrelado à sua agonia na cruz, mais ainda seria ser abandonado pelo Deus que agora ele conhecia. Estando no momento final de sua vida, era somente Deus a Quem Tito deveria temer, e fazer o que estivesse ao seu alcance para ganhar Sua boa vontade.

Quando Dímaco ultrajou-o no seguinte modo: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!”, Tito olhou ao seu redor, viu a escuridão indescritível tomando conta de todo lugar e repreendeu-o de forma que todos escutassem-no: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo, recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas Este não fez mal algum. Jesus, lembra-Te de mim quando tiveres entrado no Teu Reino!” E Jesus, ouvindo o brado daquele ladrão que agora fazia-se seu novo discípulo num tempo em que seus próprios discípulos haviam-No abandonado, respondeu-lhe: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso.”

Destino

Até então, Cristo jamais havia prometido a alguém o Reino dos Céus, nem mesmo aos grandes santos e profetas da Antiga Aliança como São João, o Batista, os quais aguardaram-No no Hades até Sua descida para que fossem levados ao Seu Reino. Aquele bandido, que cometera tantos males e atos criminosos em sua vida, pôde receber o Reino dos Céus com apenas um pedido no momento da morte, entendendo que o Reino d’Aquele Homem de Nazaré, desprezado e entregue a uma morte vergonhosa, não era deste mundo. Estando no limiar da eternidade, o ladrão não Lhe pediu a glória num reino terreno, mas a salvação de sua alma.

O sincero arrependimento do ladrão deu origem a tamanha humildade que revelou-se como uma Fé não possuída nem mesmo pelos discípulos mais próximos de Cristo, os quais, embora cativados por Seus ensinamentos, depositavam sua Fé apenas nos sinais e maravilhas que Cristo realizava, e agora encontravam-se abalados com Sua terrível morte, sem que milagre algum salvasse-O da Cruz. O ladrão convertido realizou uma façanha que não foi capaz de ser feita por nenhum dos discípulos. Sendo o único a confessar a Cristo perante os homens naquela hora, Cristo o confessou perante Seu Pai que estava nos Céus.

Tal como foi o primeiro a compreender a natureza do Reino de Cristo, assim Tito foi o primeiro a adentrá-lo. Tal como foi o primeiro a pregar a “Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (I Coríntios 1), assim Tito foi o primeiro a ouvir “o som do poder da Cruz, através da qual o Paraíso se abriu” (Cânone da Ascensão).

Nas palavras de Santo Agostinho de Hipona, “o Senhor perdoou o ladrão na última hora de sua vida para que nenhum de nós nos desesperemos. Entretanto, como a ceifada da morte é fugaz, não esperemos que saibamos através de Sua misericórdia quando será o fim de nossas vidas para confessar-Lhe nossos pecados. Por esse motivo, não adiemos nosso arrependimento, para que os pecados não nos acompanhem na próxima vida e pesem como um fardo intolerável.”

Pós-vida

Capela de São Dimas.

No final do século IV, São Porfírio de Gaza, enquanto lutava em asceticismo nos desertos palestinos e era atormentado com a paralisia de suas pernas, peregrinou até a Cidade Santa para que seus sofrimentos fossem aliviados. Lá, sentiu uma dor terrível em seu fígado e desmaiou na Igreja do Santo Sepulcro, construída no local da Crucificação. Em sonho, São Porfírio viu o Salvador na Cruz junto com Tito, doravante chamado Dimas, crucificado ao Seu lado, e clamou assim como o ladrão: “Senhor, lembra-Te de mim quando tiveres entrado no Teu Reino!”

Cristo, então, disse a Dimas: “Desce da cruz e salva aquele que está deitado, assim como tu foste salvo.” Descendo da cruz, o ladrão tomou São Porfírio em seus braços, saudou-o com um beijo e, apontando ao Redentor, disse: “Vem ao Senhor.” O asceta levantou-se e correu até Jesus que, descendo da Cruz, ordenou-o: “Pega o Madeiro e guarda-o.” São Porfírio foi até a Cruz e levantou-a de uma só vez, o que fê-lo despertar daquele sonho. Na mesma hora, não havia mais dor alguma em seu corpo, e São Porfírio deu graças a Deus e ao Seu santo por aquele milagre.

Em 12 de outubro de 2013, foi consagrado pela primeira vez na história um templo cristão ortodoxo a São Dimas. Trata-se de uma capela na Diocese de Cassandreia na Grécia utilizada pela Missão de Santa Xênia, uma irmandade de evangelismo cristão ortodoxo aos encarcerados de toda a Tessalônica e além, fundada na era do Patriarca Demétrio (1973–1991).

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