Diácono

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O Diaconato (em grego: διακονία) é o primeiro grau do Sacerdócio, ou seja, a posição inicial do clero da Igreja.

História

O diaconato foi instituído no século I pelos santos doze apóstolos de Cristo após o glorioso Dia de Pentecostes, no ano 33. Naquele tempo, além das perseguições empreendidas pelos judeus contra eles, os apóstolos passaram a lidar com questões que envolviam o cuidado com os novos convertidos à Fé, que se multiplicavam cada vez mais. Os convertidos gregos queixavam-se de que suas viúvas não estavam recebendo o mesmo zelo que as viúvas dos convertidos judeus durante o ministério diário dos seus discípulos, que envolvia a distribuição dos pães às cristãs necessitadas. Esse ministério, em grego, era chamado de diaconia (διακονία).[1]

Os doze, por sua vez, convocaram seus discípulos, informando-os que a pregação do Evangelho de Cristo seria prejudicada caso eles dividissem tamanha dedicação com a diaconia. Por isso, todos concordaram em escolher sete homens entre os discípulos para se empenharem no cuidado com os irmãos necessitados, enquanto que o restante dos discípulos se dedicaria à pregação do Verbo. Para serem escolhidos, os sete deveriam estar vivendo uma vida de testemunho a Cristo, cheia do Espírito Santo e da sabedoria divina.

Os homens escolhidos foram os discípulos Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau. Todos foram ordenados pela imposição das mãos dos apóstolos, cuja autoridade para ordenar fora concedida pelo próprio Deus durante o Pentecostes. Os cinco primeiros gloriosamente sofreram as mais diversas torturas e, honrando a tarefa a eles empregada, testemunharam a Cristo através do martírio. Parmenas adentrou o Reino dos Céus em sua velhice, enquanto que Nicolau, como um novo Judas, abandonou o caminho da salvação e corrompeu sua piedosa esposa, entregando-a a uma terrível vida de fornicação com os seus seguidores, dando início a ímpia heresia dos “nicolaítas”, denunciada por Cristo no Livro do Apocalipse.[2]

Entre os judeus que perseguiram e assassinaram os santos diáconos estava um homem chamado Saulo, um dos inimigos mais temidos dos cristãos. Pelas intercessões dos diáconos, repetidas até o último segundo antes de serem martirizados, Cristo entregou a pior humilhação aos seus inimigos, convertendo aquele que era o mais temido entre os perseguidores para o grande apóstolo dos gentios, o qual passou a dedicar toda a sua vida para o testemunho de Cristo Deus até seu glorioso martírio: o Santo Apóstolo Paulo.

O exemplo dos primeiros santos diáconos

O episódio da ordenação dos primeiros sete diáconos também apresenta um conceito indispensável que caracteriza a Igreja de Cristo. Mesmo possuindo a autoridade para ordenar, os santos apóstolos não escolheram por conta própria quem seriam os sete; antes, deram esse papel aos seus discípulos, representando o corpo místico da Igreja. Os apóstolos não escolheram os sete para que os fiéis os ordenassem, muito menos ordenaram sem a escolha dos fiéis. Isso é um grande exemplo sobre a distinção do papel do clero e dos leigos, a qual é seguida ininterruptamente até hoje pela Santa Igreja.

Além disso, uma vez que, dos sete diáconos, dois foram martirizados brevemente após a imposição de mãos e outro apostatou, a vida dos quatro santos diáconos restantes serviu como a base da organização do clero da Igreja. Filipe, Prócoro e Timão, após terem servido como diáconos por anos, tornaram-se sacerdotes e partiram para a pregação do Evangelho em diversas regiões, enquanto que os outros apóstolos impuseram as mãos sobre outros eleitos para assumirem o posto de diáconos. São Filipe, após pregar na Palestina, trouxe muitos a Cristo na Ásia Menor, tornando-se Bispo de Trales (atual Aydın na Turquia ocidental), distante trinta quilômetros ao leste da grande cidade de Éfeso.

São Prócoro serviu na Palestina até a Dormição da Mãe de Deus, quando acompanhou o santo Apóstolo João numa viagem de barco até a Ásia Menor. Uma grande tempestade no Mediterrâneo engoliu o barco ao anoitecer, e todos naufragaram, sendo trazidos pelas violentas ondas de volta ao litoral, exceto São João. São Prócoro, então, partiu a pé e sozinho em direção à Ásia Menor, lamentando a todo momento por João. Após catorze dias de viagem e através da Divina Providência, as ondas trouxeram São João à mesma cidade onde Prócoro encontrava-se em viagem. Ambos deram graças a Deus por João ser salvo após duas semanas no mar, e chegaram a Éfeso. Lá, Prócoro muito labutou e sofreu escárnios pelo Evangelho, sendo preso e levado em julgamento para Roma com São João, onde ambos suportaram mais torturas. De lá, foram exilados para a ilha de Patmos no Mar Egeu, ultimamente catequizando e batizando o governador da ilha e sua família. Prócoro também escreveu o Livro do Apocalipse a partir das revelações divinas concedidas a São João. Em 96, quando o senador Marco Nerva assumiu o Império, João e Prócoro foram libertados do exílio e, após as revelações, retornaram para Éfeso. Após o repouso de São João, São Prócoro evangelizou a Bitínia, sendo consagrado o primeiro Bispo de Nicomédia (atual İzmit no noroeste da Turquia).

São Timão, após servir como diácono na Palestina, foi ordenado sacerdote e evangelizou a Arábia, tornando-se mais tarde Bispo de Bosra (hoje no sul da Síria). Quanto a São Parmenas, após sua ordenação ao sacerdócio, evangelizou a Macedônia (hoje no norte da Grécia) e foi o único dos quatro diáconos restantes a não ser ordenado bispo, uma vez que rendeu seu espírito antes.[nota 1]

A Santa Igreja preservou essa hierarquia no clero, de forma que todo sacerdote (padre) precisa ter sido um diácono, e todo bispo ter sido um sacerdote. Mesmo estando abaixo do sacerdote, o diácono não serve primeiramente a ele, mas sim ao seu bispo, da mesma maneira com que os sete diáconos serviram aos doze apóstolos.

Notas

  1. A vida de São Parmenas foi pouco documentada devido aos lugares remotos em que pregou. Dessa forma, é incerto se o santo adentrou o Reino dos Céus pela velhice ou pelo martírio.

Referências

  1. Atos 6
  2. Apocalipse 2