Daniel de Katounakia

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São Daniel de Katounakia

São Daniel de Katounakia (em grego: Άγιος Δανιήλ ο Κατουνακιώτης) (1846-1929) foi um monge do Monte Athos, fundador de uma irmandade (Δανιηλαίοι) na Sagrada Montanha, e conhecido pela sua humildade, seu discernimento notável, e pelos seus conselhos espirituais. Repousou no Senhor em 8 de setembro de 1929, no dia da Festa da Natividade da Mãe de Deus. Assim, Igreja o comemora em 7 de setembro. São Daniel foi glorificado em 2020.

Vida

São Daniel nasceu em 1846, na região de Esmirna, sob o nome de Dimitrios, sendo o filho mais novo de uma família devota e piedosa. Desde muito jovem, destacava-se pelas suas habilidades excepcionais: ainda adolescente, estudara as Sagradas Escrituras e sabia toda a Filocalia de cor. Formou-se com excelência na Escola Evangélica de Esmirna. Conheceu mosteiros e igrejas no Peloponeso e passou um tempo na ilha da Paros, onde se encontrou com Santo Arsênios de Paros, e dele recebeu a benção para ir ao Mosteiro de São Panteleimon no Monte Athos.

Em seu período de teste, São Daniel demonstrou obediência e uma enorme disposição em fazer o que lhe era pedido. Ao ser tonsurado, recebeu o nome de Daniel. Em pouco tempo, foi reconhecido pela sua dedicação e habilidades, e então feito secretário do mosteiro - o qual tinha à época cerca de duzentos e cinquenta monges. Por causa das diferenças entre gregos e russos, São Daniel aceitou o exílio, algo que o deixou profundamente triste. Por seis meses, abrigou-se no Mosteiro de Santa Anastasia em Calcídica, e sua presença fora extremamente benéfica àqueles que ali residiam.

Posteriormente, viveu no Mosteiro de Vatopedi. Por dez anos, São Daniel sofreu com a nefrite, uma dolorosa inflamação nos rins. Em 31 de agosto, durante a comemoração da Festa do Precioso Cinto da Mãe de Deus, o santo foi milagrosamente curado. Seu amor e devoção à Santíssima Virgem Maria acompanhou São Daniel por toda a sua vida.

Depois de cinco anos em Vatopedi, São Daniel se mudou para a belíssima Katounakia, onde viveu sozinho por algum tempo, até que outros monges passassem a viver ali. A partir de 1883, a irmandade de Danielaoi (gr: Δανιηλαίοι) foi fundada. Sempre guiado pelos ensinamentos da Filocalia, a qual buscava manter firme em seu coração, São Daniel guiava os monges com sabedoria e humildade. Por cinquenta anos em Katounakia, sua porta esteve aberta a quem quer que fosse, e muitos foram aqueles que receberam suas palavras e cartas.

Ao longo dos anos, nutriu amizade com São Nektários e também trocava correspondências com o bem-aventurado Filoteu (Zervakos) de Paros, filho espiritual de São Nektários. De notável discernimento, São Daniel tinha o dom de oferecer conselhos espirituais, e consolava a muitos em momentos de tristeza e desespero. Foi responsável por livrar muitos cristãos do prelest, isto é, da ilusão espiritual. Unindo virtude e discernimento, humildade e oração, estudo e experiência, o santo conseguia identificar as falácias e corrigir com precisão aqueles que se desviavam do caminho reto da Fé e se deslumbravam com o erro da ilusão. Monges, monjas, clérigos de todos os níveis, professores e pessoas de toda a sorte receberam orientação e consolo a partir das cartas de São Daniel.

Conselhos a jovens ortodoxos

Uma de suas cartas pode ser lida abaixo, e foi enviada por São Daniel de Katounakia a dois de seus filhos espirituais, em resposta ao que lhe escreveram angustiados:

Aos amados irmãos Constantino e João, rezo do profundo de minha alma.
Com grande alegria recebi recentemente suas duas cartas, que li com grande zelo e diligência. É meu dever responder e orientar vocês de acordo. Vou, no entanto, dirigir minha resposta a vocês dois, visto que vocês dois são irmãos que amam a Deus, e ambos têm a mesma necessidade de orientação espiritual e educação. Vocês são, portanto, obrigados não apenas a perguntar, mas a ouvir o que os Padres disseram.
É verdade que fiquei angustiado ao ler em suas cartas que vocês foram negligentes em suas obrigações e caíram em muitas tolices infantis. Também fiquei muito feliz por vocês terem chegado ao arrependimento e ao desejo de que eu os instrua sobre qual caminho de arrependimento devem seguir, a fim de que possam receber a misericórdia de nosso Deus Benevolente, que vocês, por seus comportamentos infantis, afligiram seriamente.
Ofender a Deus e desviar-se do caminho reto de Seus mandamentos não é incomum; toda a natureza humana facilmente escorrega e frequentemente cai em pecado. No entanto, permanecer no mal é um erro grave, e devemos ser muito cuidadosos, pois ai de nós se formos encontrados sem arrependimento no momento de nossa partida.

Entre muitos dos métodos que o diabo - o inimigo e destruidor de nossas almas - usa para enganar aqueles que praticam corretamente o Cristianismo Ortodoxo, particularmente os jovens, é apresentar outra armadilha, pela qual ele tem sido capaz de enganar muitos jovens e conduzi-los completamente à perdição.
O maligno primeiro apresenta esta armadilha sob um disfarce que parece ser bom e simpático, fazendo-a parecer uma tentação para os jovens e incitando-os à liberdade, risos, brincadeiras e gesticulações, franqueza e, finalmente, ao uso e mau uso do álcool [drogas em geral], que não parecem desastrosos para o mundo, mas que se caracterizam como meios de “liberdade”, por meio de auspícios políticos e engenhosos. Assim, acostumando-se com os maus hábitos, os jovens ficam cheios de paixões e são ridicularizados por demônios e homens. A armadilha está coberta com uma sombra pesada e com justificativas abstratas, fazendo parecer que todos esses são pecados muito pequenos e após o passar desta fase todos eles serão evitados; e, afinal, essas são coisas que somente os eremitas e os monges das montanhas devem evitar.
Se ao menos eles pudessem compreender quão grande é a fuga provocada por essas afirmações, eles gostariam de se afastar desses pretextos e desculpas aplicadas como (se afastam) de uma cobra mortal. O objetivo da isca de Satanás é primeiro incutir no jovem todos esses pequenos pecados, e assim paralisar seus sentidos, incitando-o a brincadeiras, imagens indecentes, jocosidade e embriaguez, que dão origem a todas as paixões.
Peço-lhes que reivindiquem, com muita supervisão, a um amigo apaixonado, lascivo e impenitente, que lhe diga como foi levado a tais paixões abomináveis. Em resposta, você aprenderá com ele que a razão principal e o início das paixões foram o resultado de seus primeiros descuidos e na indiferença às causas acima. Assim como as paixões carnais vêm da negligência nas coisas pequenas, o mesmo ocorre também nas espirituais: da tolice infantil a pessoa chega ao nível da falta de arrependimento e do desespero.
É verdade que nosso Senhor Jesus Cristo, vendo o afastamento da natureza humana, recebe de braços abertos o pecador que voltou. Ao mesmo tempo, porém, Ele diz: “Vigiai e orai, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem virá.” Com isso, ele nos motiva a estar sempre preparados e a ter em nossos vasos o óleo do arrependimento e todas as outras virtudes, para não sermos excluídos da câmara nupcial como as virgens tolas. É verdade que existe arrependimento, e quando um jovem é puro e evita más companhias e embriaguez, mas se desvia um pouco, então o arrependimento rapidamente extermina os pecados do jovem. Quando, porém, por maus hábitos, o corpo se torna escravo do pecado, torna-se muito difícil e, de muitos, apenas alguns serão capazes de se libertar das sofisticadas armadilhas [do inimigo].
Sabendo dessas coisas, meus amados Constantino e João, de agora em diante não se entreguem, pelo amor de Deus, à paralisante frouxidão dos seus sentidos, não [se entreguem] aos flertes e às brincadeiras, nem à embriaguez e aos maus companheiros, dos quais se perde o temor a Deus e você acaba cativado pelo demônio do amor-próprio e da libertinagem. Mas prefira a vida virtuosa segundo Deus, imitando em tudo o seu pai espiritual. Ele é o único que irá educá-lo no estado de acordo com Deus e irá mostrá-lo como um cidadão celestial.
Para percorrer com firmeza o caminho de Deus, vocês devem:
1. Mostrar grande obediência, confiança e aceitação para com seu pai espiritual, sempre lhe dizendo a verdade.
2. Parar totalmente de tagarelice e brincadeira, porque, como já dissemos, onde há tagarelice (franqueza) o temor a Deus se ausenta.
3. Reservar um horário específico todas as noites para a oração, que seu pai espiritual designará.
4. Quando você estiver na igreja, concentre-se inteiramente na escuta da Divina Liturgia, para que a graça do Espírito Santo entre em seu coração.
5. Guarde sem falta todos os jejuns prescritos da Igreja, e não imite os caminhos ruinosos da geração de hoje.
6. Sempre que possível, evite vinho e especialmente bebidas alcoólicas que despertam as paixões carnais.
7. Quando você tiver tempo livre, passe-o lendo livros dos Santos Padres.
8. Cuidado com alguns pais e mestres espirituais, que pretendem ensinar virtudes e arrependimento, mas introduzem volúpia, eliminando os jejuns e desencorajando os jovens do ascetismo, da temperança e da leitura dos textos patrísticos, e também falam contra a vida monástica. É inútil mencionar que dano isso traz aos jovens piedosos, pois tenho visto muitos que foram seduzidos por essas exortações enganosas se tornarem vítimas involuntárias.
9. Tende grande reverência especialmente por Nossa Senhora Theotokos, que sempre vos guiará no caminho da vossa salvação.
Para encerrar, eu os beijo com reverência,
Monge Daniel Katounakiotis

Katounakia, Montanha Sagrada, 19 de junho de 1902

Repouso

Em setembro de 1929, São Daniel ficou gravemente gripado. Como acontece com muitos daqueles que recebem a Graça Divina, foi-lhe revelado que seu repouso se aproximava. Assim, o ancião tomou a Sagrada Comunhão. Seu amor pela Santíssima Mãe de Deus selou sua vida: no dia 8 de setembro de 1929, após a Divina Liturgia da Festa da Natividade da Mãe de Deus e de receber o Sacramento da Unção dos Enfermos, São Daniel repousou no Senhor.

Pós-vida

Ligações Externas