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De volta a Quieve, São Constantino sabiamente depôs todos os sacerdotes e bispos eleitos por seu antecessor, os quais eram contrários a Constantinopla e fiéis à nobreza russa e a Clemente, bem como excomungou o já falecido Grão-Príncipe Iziaslau II. Os depostos, entretanto, amparados pelos poderes reais de seus principados, não entregaram suas igrejas a São Constantino, e consideraram Clemente como verdadeiro Arcebispo de Quieve.
 
De volta a Quieve, São Constantino sabiamente depôs todos os sacerdotes e bispos eleitos por seu antecessor, os quais eram contrários a Constantinopla e fiéis à nobreza russa e a Clemente, bem como excomungou o já falecido Grão-Príncipe Iziaslau II. Os depostos, entretanto, amparados pelos poderes reais de seus principados, não entregaram suas igrejas a São Constantino, e consideraram Clemente como verdadeiro Arcebispo de Quieve.
  
O curto período de São Constantino como hierarca durou apenas dois anos, pois o repouso de Jorge em 1157 permitiu que seus oponentes tomassem o trono de Quieve para si. Iziaslau III (1157–1162) depôs São Constantino e manteve a Sé de Quieve vacante. Quando o Príncipe Mistislau II da Volínia (1157–1159) atacou Quieve em 1158, Constantino seguiu o rio Desna até a Chernigóvia, cento e trinta quilômetros ao norte de Quieve, onde exilou-se no Mosteiro de Elécia, fundado por [[Antônio e Teodósio de Quieve|Santo Antônio de Quieve]] no século anterior. Lá, o monge foi protegido pelo Bispo Antônio da Chernigóvia (1156–1169), seu discípulo.
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O curto período de São Constantino como hierarca durou apenas dois anos, pois o repouso de Jorge em 1157 permitiu que seus oponentes tomassem o trono de Quieve para si. Iziaslau III (1157–1162) depôs São Constantino e declarou a Sé de Quieve vacante. Quando o Príncipe Mistislau II da Volínia (1157–1159) atacou Quieve em 1158, Constantino seguiu o rio Desna até a Chernigóvia, cento e trinta quilômetros ao norte de Quieve, onde exilou-se no Mosteiro de Elécia, fundado por [[Antônio e Teodósio de Quieve|Santo Antônio de Quieve]] no século anterior.
  
Em seu testamento, que foi lido em seu repouso em 1159, Constantino escreveu que ele não deveria ser enterrado, mas jogado como comida aos cães por ter sido culpado de semear discórdia na Igreja. Seus conhecidos ficaram confusos, mas não ousando seguir suas instruções; pegando o seu corpo, simplesmente o jogaram fora. Lá ficou deitado por três dias, até que um tempo terrível chegou a Quieve. Trovejou, relampejou e a terra tremeu. Vendo isto, o Príncipe de Quieve ordenou que o corpo de Constantino fosse levado e enterrado na Igreja em que o príncipe Igor havia estabelecido, fazendo com que as coisas retornassem ao normal. Por conta do seu arrependimento foi glorificado, sendo lembrado no dia 5 de junho.
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Em Elécia, o monge foi protegido pelo Bispo Antônio da Chernigóvia (1156–1169), seu discípulo, e derramou muitas lágrimas, considerando-se o mais indigno de todos os nascidos, culpado pela crise real e eclesiástica (a qual ele não havia iniciado). A saúde de São Constantino deteriorou-se muito naquele inverno, e o monge soube que logo seria reunido para junto de Deus. Escrevendo seu testamento, Constantino confiou-o a Antônio, e pediu que só fosse lido após seu repouso. Foi assim que, em 5 de junho de 1159, o grande defensor da Ortodoxia entregou sua alma ao Senhor, cumprindo com justiça a pregação iniciada pelos seus santos antecessores [[Miguel I de Quieve|Miguel I]], Hilarião e João II.
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== Pós-vida ==
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Após seu repouso, uma grande multidão peregrinou à Chernigóvia para honrá-lo uma última vez. Durante a Divina Liturgia, Antônio tomou o testamento para lê-lo em voz alta e, para o terror de todos os presentes, São Constantino ordenara que seu corpo fosse arrastado com uma corda em seu pescoço por toda a cidade de Quieve e, após ter passado por todas as ruas, que fosse jogado na floresta para servir de comida aos cães pela discórdia que havia causado.
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Todos ficaram abismados com o menosprezo que o santo hierarca teve consigo próprio, e o Príncipe Esvetoslau da Chernigóvia (1154–1164), irmão de Santo Igor, não sabendo o que fazer, deu a decisão final a Antônio. O bispo relutou, mas lembrou-se que São Constantino fê-lo jurar que seguiria à risca suas últimas palavras. Incensando seu corpo até que o incenso chegasse ao fim, Antônio dolorosamente autorizou que seu caixão fosse levado a Quieve, e lá jogado às bestas.
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Quando o caixão chegou em Quieve, abriram-no e jogaram seu corpo ao chão. A multidão, que o acompanhara desde o norte, seguiu em procissão atrás do corpo enquanto ele era arrastado pelo pescoço nas ruas de pedra e barro. Enquanto seus piedosos seguidores não cessavam de derramar suas lágrimas pelo seu amado pai, os falsos sacerdotes ordenados por Clemente riam e festejavam por causa do ocorrido.
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Após a procissão, deixaram seu sujo corpo num campo e tocaram-no como memorial. Naquele mesmo dia, um feroz vendaval anunciou a tempestade que logo atingiu Quieve, e muitos presenciaram pela primeira vez em suas vidas um terremoto tão grande na capital das terras russas. Todos correram por suas vidas, e a terra tremeu tanto que muitas edificações foram ao chão. Durante aquele caos, um só raio tirou a vida de oito sacerdotes heréticos ao mesmo tempo.
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Vendo isto, o Príncipe de Quieve ordenou que o corpo de Constantino fosse levado e enterrado na Igreja em que o príncipe Igor havia estabelecido, fazendo com que as coisas retornassem ao normal. Por conta do seu arrependimento foi glorificado, sendo lembrado no dia 5 de junho.
  
 
== Referências ==
 
== Referências ==

Revisão das 05h55min de 14 de outubro de 2020

São Constantino I.

O Venerável São Constantino I, Arcebispo de Quieve (séc. XII), foi um hierarca da Sé de Quieve. Sua memória é celebrada pela Igreja nos dias 5 de junho pelo seu repouso, 29 de junho durante a Festa de Todos os Santos de Chernigóvia e 15 de julho durante a Festa de Todos os Santos de Quieve.

Vida

Em 1145, pouco antes do fim da era de Usevolodo II, Grão-Príncipe de Quieve (1139–1146), o Arcebispo Miguel II de Quieve desapareceu de qualquer registro histórico. Naquele tempo, a unidade russa estava dividida entre Quieve, Novogárdia e Galícia por conta da sangrenta crise de sucessão ao principado dessas últimas duas cidades, ao passo que Usevolodo guerreava contra ambas. Como a hierarquia da Igreja era a mesma que a do grão-principado — ou seja, Novogárdia e Galícia eram subordinadas a Quieve —, acredita-se que Miguel, leal à Santa Sé de Constantinopla, tenha ou abdicado ou repousado no Senhor por volta de 1145.

No ano seguinte, Usevolodo foi ferido numa batalha contra os galícios e morreu. Seu irmão mais novo, Santo Igor II de Quieve, foi escolhido grão-príncipe, mas seu reinado não durou sequer um mês até que seu exército organizasse um motim. Com apoio dos boiardos, o ímpio Iziaslau II (1146–1154) tomou o grão principado para si e aprisionou Santo Igor.

Sem a autorização de Constantinopla, Iziaslau II convocou os hierarcas das terras russas em 1147 e elegeu o recluso hieromonge Clemente como Arcebispo de Quieve e Toda a Rússia (1147–1155). Ao mesmo tempo, o Patriarcado de Constantinopla passava por uma crise, a qual começara com a abdicação de Miguel II (1143–1146) por sua inimizade com o Imperador Manuel I (1143–1180), que mais tarde depôs seu sucessor Cosme II (1146–1147) em favor de Nicolau IV (1147–1151), o qual abdicou do patriarcado após a controvérsia quanto à validade canônica de sua eleição, pois o mesmo já havia se abdicado da Arquidiocese do Chipre no início do milênio.

Os hierarcas russos protestaram contra a eleição não canônica de Clemente, argumentando que o grão-príncipe havia aproveitado o período vacante entre as eras de Cosme II e Nicolau IV (fevereiro a dezembro de 1147) para escolhê-lo arcebispo sem as bênçãos de Constantinopla. Ao final, Clemente, dominado por um espírito impuro, serviu como arcebispo durante oito anos, sendo somente reconhecido como tal na esfera de influência de Quieve, enquanto que hierarcas como São Nifão, Bispo de Novogárdia (1130–1156), opuseram-se a Clemente.

Após a morte de Iziaslau II em 1154, quem o sucedeu foi Jorge (1155–1157), filho de São Vladimir II de Quieve (1113–1125) e pai de Santo André I de Vladimir (1157–1174). No primeiro ano de seu reinado, Jorge depôs Clemente e canonicamente convocou um sínodo para a eleição de um novo hierarca para as terras russas. Com o apoio dos santos bispos, o piedoso hieromonge Constantino foi enviado a Constantinopla para ser oficializado Arcebispo de Quieve pelo Patriarca Constantino IV (1154–1156).

Arcebispado

A primeira ação de São Constantino I foi representar a Igreja da Rússia no Concílio de Blaquerna em 1156, o qual anatemizou as crenças antitrinitárias de que o Sacrifício de Jesus Cristo havia sido oferecido somente ao Pai, mas não também para Si mesmo e para o Espírito; e que Seu Sacrifício Eucarístico a cada Divina Liturgia era apenas simbólico, mas não o mesmo que o Seu na Cruz.

De volta a Quieve, São Constantino sabiamente depôs todos os sacerdotes e bispos eleitos por seu antecessor, os quais eram contrários a Constantinopla e fiéis à nobreza russa e a Clemente, bem como excomungou o já falecido Grão-Príncipe Iziaslau II. Os depostos, entretanto, amparados pelos poderes reais de seus principados, não entregaram suas igrejas a São Constantino, e consideraram Clemente como verdadeiro Arcebispo de Quieve.

O curto período de São Constantino como hierarca durou apenas dois anos, pois o repouso de Jorge em 1157 permitiu que seus oponentes tomassem o trono de Quieve para si. Iziaslau III (1157–1162) depôs São Constantino e declarou a Sé de Quieve vacante. Quando o Príncipe Mistislau II da Volínia (1157–1159) atacou Quieve em 1158, Constantino seguiu o rio Desna até a Chernigóvia, cento e trinta quilômetros ao norte de Quieve, onde exilou-se no Mosteiro de Elécia, fundado por Santo Antônio de Quieve no século anterior.

Em Elécia, o monge foi protegido pelo Bispo Antônio da Chernigóvia (1156–1169), seu discípulo, e derramou muitas lágrimas, considerando-se o mais indigno de todos os nascidos, culpado pela crise real e eclesiástica (a qual ele não havia iniciado). A saúde de São Constantino deteriorou-se muito naquele inverno, e o monge soube que logo seria reunido para junto de Deus. Escrevendo seu testamento, Constantino confiou-o a Antônio, e pediu que só fosse lido após seu repouso. Foi assim que, em 5 de junho de 1159, o grande defensor da Ortodoxia entregou sua alma ao Senhor, cumprindo com justiça a pregação iniciada pelos seus santos antecessores Miguel I, Hilarião e João II.

Pós-vida

Após seu repouso, uma grande multidão peregrinou à Chernigóvia para honrá-lo uma última vez. Durante a Divina Liturgia, Antônio tomou o testamento para lê-lo em voz alta e, para o terror de todos os presentes, São Constantino ordenara que seu corpo fosse arrastado com uma corda em seu pescoço por toda a cidade de Quieve e, após ter passado por todas as ruas, que fosse jogado na floresta para servir de comida aos cães pela discórdia que havia causado.

Todos ficaram abismados com o menosprezo que o santo hierarca teve consigo próprio, e o Príncipe Esvetoslau da Chernigóvia (1154–1164), irmão de Santo Igor, não sabendo o que fazer, deu a decisão final a Antônio. O bispo relutou, mas lembrou-se que São Constantino fê-lo jurar que seguiria à risca suas últimas palavras. Incensando seu corpo até que o incenso chegasse ao fim, Antônio dolorosamente autorizou que seu caixão fosse levado a Quieve, e lá jogado às bestas.

Quando o caixão chegou em Quieve, abriram-no e jogaram seu corpo ao chão. A multidão, que o acompanhara desde o norte, seguiu em procissão atrás do corpo enquanto ele era arrastado pelo pescoço nas ruas de pedra e barro. Enquanto seus piedosos seguidores não cessavam de derramar suas lágrimas pelo seu amado pai, os falsos sacerdotes ordenados por Clemente riam e festejavam por causa do ocorrido.

Após a procissão, deixaram seu sujo corpo num campo e tocaram-no como memorial. Naquele mesmo dia, um feroz vendaval anunciou a tempestade que logo atingiu Quieve, e muitos presenciaram pela primeira vez em suas vidas um terremoto tão grande na capital das terras russas. Todos correram por suas vidas, e a terra tremeu tanto que muitas edificações foram ao chão. Durante aquele caos, um só raio tirou a vida de oito sacerdotes heréticos ao mesmo tempo.

Vendo isto, o Príncipe de Quieve ordenou que o corpo de Constantino fosse levado e enterrado na Igreja em que o príncipe Igor havia estabelecido, fazendo com que as coisas retornassem ao normal. Por conta do seu arrependimento foi glorificado, sendo lembrado no dia 5 de junho.

Referências

  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro X.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas


Constantino I de Kiev
Precedido por
Clemente de Quieve
Arcebispo de Quieve e Toda a Rússia
1155–1159
Sucedido por
Teodoro de Quieve