Clemente de Ancira

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São Clemente.

O Santo Grande Hieromártir Clemente, Arcebispo de Ancira, e seus companheiros (entre os quais, Hieromártires Cristóvão e Caritão e Mártires Agatângelo, Flegonte e Eucárpio; séc. IV) foram santos martirizados durante a Grande Perseguição sob Licínio. São Clemente foi torturado durante oito anos, equiparando-se ao glorioso Megalomártir Jorge, o Vitorioso. A Igreja comemora sua memória e de seus santos companheiros no dia de seu martírio, 23 de janeiro, e Santo Agatângelo em 5 de novembro.

Vida

Clemente nasceu em 258, nos tempos do Imperador Galiano (253–268), em Ancira na Galácia (a atual capital da Turquia), filho de um pai pagão e de uma mãe cristã. Seu pai morreu ainda em sua infância, e desde então sua mãe Eufrosina pôde criá-lo na piedade cristã. Não tardou muito até que ela adoecesse e, quando Clemente ainda tinha doze anos de idade, em seu leito de morte, Eufrosina predisse seu triunfo como mártir por causa de sua crença em Jesus Cristo.

“Dá-me a honra, meu filho, de bravamente defender a Cristo e a Ele confessar com firmeza e sem hesitação… Em meu coração, anseio que a coroa do martírio floresça sobre ti em minha honra e para a salvação de muitos! Não temas ameaças, espadas, dores, feridas ou queimaduras. Que nada te aparte de Cristo, mas que tu olhes ao Céu e de lá aguarde tua grande, eterna e rica recompensa de Deus. Teme à Majestade divina, venera Seu justo julgamento, treme diante do Seu Olho que tudo vê, pois todos os que negam a Ele receberão o castigo do fogo que não se apaga e dos vermes que não morrem. Que essa seja a minha recompensa de ti, ó meu querido filho, pela minha dor na gravidez e pelos esforços na tua educação, que eu possa ser lembrada como a ‘mãe de um mártir’. O sangue que recebeste de mim não poupes, mas derrama-o, para que, assim, eu também receba a honra. Submete teu corpo à tortura, para que eu também possa regozijar-me com isso diante de Nosso Senhor, como se eu própria tivesse por Ele sofrido.”

Após o repouso de sua mãe, uma piedosa cristã de nome Sofia o adotou e continuou criando-o no temor a Deus. Durante uma terrível fome na Galácia, vários pagãos expulsaram seus próprios filhos de casa por não terem como alimentá-los. Sofia acolheu esses desafortunados e os alimentou e vestiu com a ajuda de Clemêncio. Ele as ensinou e as preparou para o Santo Batismo. Muitas delas mais tarde entraram nos Céus como mártires de Cristo.

Desde que foi adotado por Sofia, Clemente praticou jejum e oração constantes. Por isso, ainda em sua adolescência, foi ordenado leitor e, mais tarde, diácono, servido a todas as igrejas da metrópole. Quando completou seus dezoito anos de idade, obteve a ordenação sacerdotal e, em 278, aos vinte anos de idade, foi consagrado Arcebispo de Ancira.

Clemêncio governou pacificamente a Sé de Ancira durante vinte e cinco anos, e seu exemplo de Fé e piedade trouxe multidões de pagãos a Cristo, além de formar novos sacerdotes e missionários para as terras capadócias. Tudo isso, entretanto, mudou quando o Imperador Diocleciano (284–305) deu início à Grande Perseguição contra os cristãos em 303. Clemêncio foi preso aos quarenta e cinco anos de idade pelos pagãos juntamente com outros clérigos gálatas.

Confissão

Domiciano, o então eparca da Galácia, tentou persuadir o santo e seus companheiros a adorarem os deuses pagãos com honrarias e poderes, mas São Clemente confessou com firmeza a sua Fé e entregou-se para ser torturado. Os carrascos, então, amarraram-no numa árvore e rasgaram seu corpo com afiadas garras de ferro até que suas entranhas pudessem ser vistas e seu sangue já tivesse irrigado todo o chão. Eles apedrejaram sua boca até que seus dentes e mandíbula se partissem, quebraram seus membros numa roda de tortura e queimaram seus ferimentos com fogo. Jogado quase sem vida de volta à cela, o próprio Senhor preservou Seu sofredor e curou seu corpo dilacerado.

Domiciano, então, enviou o santo a Roma para o Imperador Maximiano (285–305), relatando que o Arcebispo Clemente havia sido ferozmente torturado, mas que se provara inabalado. O imperador, vendo o santo confessor completamente curado, não acreditou no relato e sujeitou-o a torturas ainda mais cruéis, e trancou-o na prisão.

Vários pagãos, vendo a bravura do santo e a milagrosa cura de suas feridas, passaram a crer em Cristo. Pessoas se reuniam com São Clemente na prisão para receberem orientação, cura e finalmente o Santo Batismo, de modo que a prisão transformou-se como que uma igreja. Quando a notícia chegou ao imperador, muitos desses novos cristãos foram condenados à execução. Naquela noite, um anjo apareceu perante São Clemêncio e entregou-lhe os Divinos Mistérios, os quais o arcebispo deu a todos os condenados antes de receberem a coroa do martírio. Dos convertidos martirizados, apenas dois nomes foram preservados: os santos Flegonte e Eucárpio.

Maximiano, espantado com a incrível resistência de São Clemente, enviou-lhe de volta ao Oriente, para a Nicomédia (noroeste da Turquia) de Diocleciano. No barco, o santo foi acompanhado por seu santo discípulo Agatângelo, que o conhecera ainda pagão na prisão romana e fora catequizado e batizado pelo arcebispo. Ele não havia sido executado com os outros confessores, mas desejava sofrer e morrer por Cristo com São Clemente.

Diocleciano, por sua vez, confiou ambos ao cruel jurista Agripino. Este os jogou às bestas selvagens, mas elas se recusaram a feri-los. Então, ordenou que seus braços fossem atravessados por espetos incandescentes das mãos aos ombros. Por fim, fechou-os dentro de um saco e ordenou que fossem jogados do cume de uma montanha. Após os carrascos lançarem-nos ladeira abaixo, seus anjos vieram ao seu socorro, e Clemente a Agatângelo voltaram à cidade sãos e salvos. Agripino continuaria os tormentos, se não fossem os próprios pagãos que sentiram piedade pelos mártires e começaram a atirar pedras nos torturadores. Tendo sido libertos, os santos curaram dois paralíticos da cidade através da imposição de mãos, batizaram e instruíram as pessoas em multidões.

Martírio

Santos Clemente, Cristóvão e Caritão.

Presos novamente sob ordens de Diocleciano, Clemente e Agatângelo foram mandados de volta a Ancira, onde o eparca Quirino entregou-os à tortura. Eles, então, foram enviados à cidade de Amásia no Ponto (nordeste da Turquia) do procônsul Domécio, conhecido por sua grande crueldade. Lá, os mártires foram jogados em lima quente. Eles passaram um dia inteiro sendo queimados, e mesmo assim saíram ilesos. Foram esfolados, espancados com barras de ferro, colocados em camas incandescentes e tiveram enxofre despejado sobre seus corpos.

Tudo isso não prejudicou os santos, e eles foram enviados a Tarso na Cilícia (litoral sul da Turquia) para novas torturas. No deserto ao longo do caminho, São Clemente milagrosamente fez jorrar água para os soldados sedentos que os acompanhavam. Na cidade, antes de serem condenados, os enfermos que os tocavam com fé em seus ferimentos eram milagrosamente curados. O jurista de Tarso condenou-os a serem queimados numa fornalha, mas ambos saíram dela ilesos. Então, ordenou que fossem arrastados pelas ruas, mas isso só fez com que os habitantes se maravilhassem com sua perseverança e proclamassem a Cristo como Deus. Depois de suas torturas, foram reenviados a Ancira, onde Santo Agatângelo foi finalmente decapitado em 5 de novembro de 311, já nos tempos do Imperador Licínio (308–324).

Os cristãos de Ancira, incluindo sua idosa mãe adotiva, apelaram e conseguiram libertar São Clemente da prisão e, com a permissão dos guardas da prisão, o levaram para uma igreja numa caverna. Lá, depois de celebrar a Divina Liturgia livre pela primeira vez em oito anos, o santo anunciou aos fiéis o fim iminente da perseguição e seu próprio martírio. Em 23 de janeiro de 312, o santo megalomártir, glória dos sacerdotes, louvor dos monges e intercessor pelos órfãos e pobres, nasceu para a vida eterna após os soldados da cidade invadirem a igreja. O santo foi decapitado enquanto estava diante do altar oferecendo o Sacrifício Sem Sangue. Dois diáconos, São Cristóvão e São Caritão, foram decapitados com ele.

Pós-vida

Ruínas da Igreja de São Clemente.

Sua piedosa mãe adotiva encarregou-se de sepultar Clemente e Agatângelo não longe de Ancira. Nos séculos seguintes, suas relíquias foram transferidas para duas igrejas dedicadas a São Clemente em Constantinopla. Durante o Saque de Constantinopla em 1204, os cruzados roubaram sua honrosa cabeça e levaram-na a Paris. Depois, ela foi levada à Basílica de Drepano na Sicília construída no século XIV, e lá está até hoje.

Santo Agatângelo é padroeiro da cidade de Elche na Espanha, onde nasceu. Após o Saque, suas relíquias foram levadas para a Basílica de Santa Maria em Elche, construída a partir de uma mesquita após a conquista da cidade pelo Rei Jaime I de Aragão (1213–1276) no século XIII, e lá também estão até hoje.

Após a Queda de Roma em 1453, uma mesquita foi construída no topo de uma das igrejas, e a outra foi destruída. No século XX, durante a Primeira Guerra Mundial, a mesquita pegou fogo, e dela nada sobreviveu a não ser as ruínas da igreja original. Isso fez com que a Igreja de São Clemente se tornasse a única igreja da época romana restante na capital da Turquia. Após o fogo, a área foi habitada por comerciantes, de forma que as ruínas da igreja foram completamente cercadas por casas comerciais de famílias islâmicas.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Tu nos mostraste, ó benevolente, /
como um ramo carregado de santidade, /
uma flor sagrada na disputa pelo martírio, /
um doce fruto divinamente enviado aos fiéis. /
E, como um que partilhaste da luta dos mártires /
e do trono dos hierarcas, intercede ante o Verbo, /
Cristo nosso Deus, para que salve nossas almas.

Outro tropário

(Tradução livre)

Ó Arcebispo Clemente, /
os teus justos atos mostraram aos fiéis uma lei de fé, /
uma imagem de mansidão e um mestre de renúncias. /
Por isso conseguiste, pela mansidão, consideração e pobreza, a grande riqueza. /
Intercede, pois, junto ao Senhor, /
pela salvação de nossas almas.

Condáquio

(Tradução livre)

Como um honroso caule na videira de Cristo, /
tu venceste o teu combate pela Fé. /
Ó louvado Arcebispo Clemente, proclamaste, /
com aqueles que partilharam do teu prêmio: /
“Cristo é a alegria resplandecente dos mártires!”

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo II.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro V.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas


Clemente de Ancira
Precedido por
São Teodoro de Ancira
Arcebispo de Ancira
278–312
Sucedido por
Pancrácio de Ancira