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Os '''Veneráveis Santos Mártires Ciro e João, os Anárgiros, e suas companheiras''' (as quais, '''Virgens e Mártires Teoctista, Teódota e Eudóxia e Mártir Atanásia'''; m. 311) foram santos vitimados durante a Grande Perseguição. Ciro e João foram reconhecidos pela taumaturgia e por suas habilidades como médicos. A Igreja os comemora nos dias [[31 de janeiro]] pelo seu martírio, [[28 de junho]] pela transladação de suas relíquias e [[17 de outubro]] durante a Festa de Todos os Santos Anárgiros.
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Os '''Veneráveis Santos Mártires Ciro e João, os Anárgiros, e suas companheiras''' (as quais, '''Virgens e Mártires Teoctista, Teódota e Eudóxia e Mártir Atanásia'''; séc. IV) foram santos vitimados durante a Grande Perseguição. Ciro e João foram reconhecidos pela taumaturgia e por suas habilidades como médicos. A Igreja os comemora nos dias [[31 de janeiro]] pelo seu martírio, [[28 de junho]] pela transladação de suas relíquias e [[17 de outubro]] durante a Festa de Todos os Santos Anárgiros.
  
 
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Revisão das 03h52min de 18 de outubro de 2020

Santos Ciro e João.

Os Veneráveis Santos Mártires Ciro e João, os Anárgiros, e suas companheiras (as quais, Virgens e Mártires Teoctista, Teódota e Eudóxia e Mártir Atanásia; séc. IV) foram santos vitimados durante a Grande Perseguição. Ciro e João foram reconhecidos pela taumaturgia e por suas habilidades como médicos. A Igreja os comemora nos dias 31 de janeiro pelo seu martírio, 28 de junho pela transladação de suas relíquias e 17 de outubro durante a Festa de Todos os Santos Anárgiros.

Vida

Ciro nasceu na segunda metade do século III em Alexandria no Egito, e em sua juventude tornou-se um renomado médico cristão que tratava dos enfermos sem exigir cobrança alguma, motivo pelo qual é chamado de anárgiro. Curando não só os enfermos de corpo como também os de espírito, Ciro possuía uma frase icônica: “Aquele que deseja evitar a doença deve abster-se do pecado, pois este é muitas vezes a causa daquela.” Pregando o Evangelho, o santo médico converteu muitos pagãos a Jesus Cristo.

Com o início da Grande Perseguição pelo Imperador Diocleciano (284–305) em 303, Ciro refugiou-se na Arábia, onde aceitou a tonsura monástica num mosteiro. Não cessou, porém, de curar os doentes que vinham a ele através de suas orações, tendo recebido de Deus o dom de curar todas as doenças através do sinal da Cruz. Naquele tempo, na cidade de Edessa na Síria (atual sudoeste da Turquia), vivia o soldado João, um piedoso cristão que abandonara seu posto com a eclosão da perseguição e peregrinou a Jerusalém, onde ouviu sobre Ciro. Desejando buscá-lo, João viajou para Alexandria e então para a Arábia, até finalmente encontrá-lo e tornar-se seu fiel discípulo, recebendo também a tonsura.

Em Alexandria, havia um famoso filósofo chamado Gésio. Sua fama não se dava por sua filosofia, mas sim pelo seu renomado conhecimento como mestre da Medicina. Sua sabedoria e reputação, entretanto, não o evitaram de cair no erro da idolatria após falsamente aceitar o Batismo. Gésio zombava dos cristãos, afirmando que erroneamente veneravam a Cristo, e não perdeu a chance de ridicularizar os santos Ciro e João, dizendo que curavam os enfermos através da Medicina, e não por poderes divinos. Quando eram perguntados sobre como curavam os doentes, Gésio argumentava que seus métodos já haviam sido ensinados pelos famosos médicos antigos Hipócrates (460–370 a.C.) e Cláudio Galeno (129–210).

As falácias de Gésio provaram-se mentirosas e inventadas. O filósofo ficou doente, a ponto de não conseguir mais mexer seus ombros nem seu pescoço. Então, esforçou-se em vão para curar a si mesmo da mesma forma que havia curado aos outros, usado todos os tipos de pomadas e uma rigorosa dieta de alimentos limpos e cozidos. Após usar todo o conhecimento dos médicos antigos e continuar enfermo, convidou médicos de toda a Alexandria, e estes não conheciam mais nenhum outro método além dos que Gésio já havia experimentado. Os médicos chegaram à conclusão que só Deus poderia ajudá-lo, e aconselharam-no a recorrer aos santos Ciro e João.

Gésio retrucou-os dizendo que os santos não realizavam nada vindo de Deus, mas sim dos livros antigos. Os sábios médicos, então, relataram a ele casos de curas atribuídas aos anárgiros que nunca haviam sido estudadas pela Medicina clássica. Sem conseguir responder-lhes, Gésio calou-se. Gradualmente suas dores começaram a aumentar, e o filósofo finalmente convenceu-se a recorrer aos santos.

Milagres e martírio

Santos Ciro e João no Menológio.

Depois de enviar-lhes uma carta suplicando por ajuda, os santos apareceram a ele em sonho, e lhe deram um remédio para sua doença. O remédio não só o curou como serviu como meio de castigo porque, embora se considerasse um sábio, Gésio provou ser um tolo e completamente insensato. Ainda no sonho, os santos disseram-lhe: “Pega uma sela e veste-a sobre teus ombros, pescoço e garganta. Ao meio-dia, contorna o solo sagrado da igreja clamando: ‘Ó, quão tolo e insensato sou!’ Tua saúde, então, será imediatamente restaurada.” Ao acordar, Gésio acreditou que aquilo era fruto de sua imaginação, e não fez o que os santos lhe ordenaram.

Sua saúde deteriorou ainda mais, e Gésio voltou a clamar pelos santos. Naquela noite, os santos tornaram a aparecer perante ele, mas mandaram-no fazer algo pior. Ordenaram que, junto à sela, pendurasse um grande sino em seu pescoço, e andasse em círculos pela igreja gritando: “Eu sou um idiota!” O filósofo não conseguia entender a relação entre a sela e o sino e como isso iria curá-lo, então ignorou-os e pediu a Cristo que o curasse de sua doença e salvasse-o das fantasias.

Noutra noite, pela terceira vez, os santos tornaram a aparecê-lo, e insistiram que ele fizesse o que haviam comandado nas duas outras vezes, mas com um adendo: usando uma rédea da mesma forma que um cavalo, deveria pedir que um servo o guiasse em círculos pela igreja enquanto o filósofo gritava: “Eu sou um imbecil!” Gésio, ainda pensando que estava louco, mas não querendo provocar a ira dos santos, decidiu obedecê-los. Por isso, colocou a sela sobre os ombros, pendurou um sino em seu pescoço, colocou a rédea na boca e pediu que um de seus servos o puxasse pela igreja, gritando: “Eu sou um imbecil!”

Tendo cumprido a ordem dos santos, Gésio foi curado e recuperou sua saúde. Naquela noite, os santos apareceram a ele, dizendo-o: “Já que pensas que os medicamentos que damos aos enfermos são invenções de médicos, diga-nos em qual manuscrito seus admirados Galeno ou Hipócrates receitaram passar pelo ridículo como tu passastes para ser curado!” Assim, os santos mártires, tendo repreendido o caluniador, encerraram seu sonho. Gésio acordou atordoado pela mais sábia repreensão e, depois de louvar seus poderes provenientes de Deus — e não da Medicina —, seguiu sua vida são e salvo.

Em outra ocasião, uma criança chamada Teodoro possuía uma deformidade acima de seu nariz, e ansiava em pedir a cura aos santos anárgiros. Certa vez, quando estava nadando, um tubarão mordeu seu calcanhar e puxou-o às profundezas. O menino, clamando pelos santos Ciro e João, foi jogado em terra firme, e quando se viu, estava curado da deformidade e da mordida do tubarão. Talvez, o tubarão tenha sido um agente divino que arrancou-lhe o tumor pelas orações dos santos.

Em 311, os santos souberam da notícia que uma egípcia cristã de grande apreço a eles chamada Atanásia fora presa junto com suas três filhas, Eudóxia, de onze anos de idade, Teódota, de treze, e Teoctista, de quinze. Eles, então, correram para a prisão em Canopo no Egito (atual Abuquir, ao leste de Alexandria), pois sabiam que, se fossem torturadas, poderiam chegar a negar a Cristo. Lá, eles as encorajaram a resistir a tudo o que poderia lhes acontecer. Sabendo disso, Siriano, o eparca da cidade, também os prendeu. Vendo sua firme e destemida confissão de Fé em Cristo, o eparca levou Atanásia e suas filhas para testemunhar a tortura dos santos.

O tirano não os poupou de tortura alguma, mas isso não abalou a Fé delas, que corajosamente confessaram-se fiéis a Cristo. Em 31 de janeiro de 311, após serem açoitadas, as quatro santas confessoras foram decapitadas, recebendo todas a coroa do martírio. Logo em seguida, os santos anárgiros tiveram o mesmo destino.

Pós-vida

Igreja de Santa Passera em Roma. (ver fotos)

Após seu martírio, os cristãos enterraram os corpos dos santos Ciro e João numa igreja dedicada ao santo Apóstolo Marcos em Canopo. Embora a igreja tenha se tornado um centro de peregrinação, a vila provocava medo entre os egípcios, pois a cidade abrigava templos pagãos habitados por espíritos malignos que não hesitavam em aparecer aos habitantes em sonho. Teófilo I, Patriarca de Alexandria (385–412), ansiava pela limpeza desse lugar dos demônios, mas logo veio a falecer. Seu sucessor, São Cirilo I, Patriarca de Alexandria (412–444), pôs em prática seu desejo, orando fervorosamente por sua conclusão.

Em 412, um anjo de Deus apareceu ao hierarca em uma visão, ordenando que as veneráveis relíquias fossem transferidas a Menutis, poucos quilômetros ao leste. Sua Santidade realizou o mandamento do anjo e construiu lá uma igreja dedicada aos santos mártires. Em 28 de junho de 414, suas sagradas relíquias foram transferidas para a igreja. São Cirilo pôde também destruir o templo pagão à deusa Ísis, e erigiu um santuário dedicado aos santos em c. 427. Menutis, então, tornou-se um dos lugares mais peregrinados do Egito até sua queda para os islâmicos no século VII.

Com a construção do santuário, o lugar foi purificado da presença do inimigo e, pelas orações dos santos anárgiros, começaram a ocorrer vários milagres e curas nos enfermos. Do que se tem registro, Amônio, filho de Juliano, o prefeito de Alexandria, foi curado de tuberculose, outros foram curados de cegueira, doenças no pulmão, envenenamento e edemas através da veneração de suas relíquias. Era frequente ver pessoas dormirem ao lado de seus túmulos na esperança de receberem uma visão dos santos (prática essa denominada incubação). Nessas visões, ou os santos receitavam o tratamento ou eles próprios curavam o fiel enquanto dormia.

Através dos inúmeros milagres realizados pelos anárgiros, muitos renunciaram ao paganismo e aceitaram a Fé cristã. O nome de Canopo foi mudado para Abuquir (Abba Kyr) em honra a São Ciro e, ainda na era de São Cirilo, todos os templos pagãos em Menutis foram destruídos. Em 634, antes da Queda do Egito, em meio à heresia monotelista apoiada por Cirilo, Patriarca de Alexandria (631–643), suas relíquias foram levadas para a Igreja de Santa Passera, em Roma. Seu nome é uma corruptela de [Ab]bas Cyrus.

No século VII, São Sofrônio, Patriarca de Jerusalém (634–638), foi curado de uma enfermidade na visão a qual os médicos diziam ser incurável através de uma aparição dos dois santos. Ciro curou um de seus olhos com o sinal da Cruz; João curou o outro beijando seu olho. Para demonstrar sua gratidão, São Sofrônio escreveu um detalhado registro de seus setenta milagres junto de um louvor aos santos. Em algum ponto na história, suas relíquias foram transferidas para Munique na Alemanha.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Tu nos deste os Teus mártires Ciro e João, /
cujos milagres foram como muralhas invencíveis. /
Por suas orações, frustra os esquemas dos pagãos, /
e fortalece a Fé dos cristãos ortodoxos, /
pois só Tu és Bom e amas a humanidade.

Outro tropário

(A Santa Atanásia e suas filhas, em tradução livre)

Tuas cordeiras Atanásia e suas filhas, ó Jesus, /
clamam por Ti em alta voz: /
“Nós Te amamos, nosso Noivo, /
“e buscando a Ti, suportamos o sofrimento. /
“No Batismo fomos crucificadas para que pudéssemos reinar em Ti, /
“e padecemos para que pudéssemos viver juntas de Ti. /
“Aceita-nos como um sacrifício puro, /
“pois oferecemo-nos em amor.” /
Por suas orações, ó Senhor misericordioso, /
tem piedade de nós e salva-nos.

Condáquio

(Tradução livre)

Recebendo o dom da taumaturgia através de Sua Graça, /
vós mostrastes os milagres ao mundo incessantemente. /
Extirpastes nossas paixões com a cirurgia divina, /
ó divinamente sapiente Ciro e glorioso João, /
pois vós sois em verdade médicos divinos.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomos I e II.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livros V e X.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas