Cem mil mártires de Tiblissi

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Cem mil mártires de Tblisi na Geórgia.

Os Cem Mil Mártires (georgiano: ასი ათასი მოწამე, asi atasi mots'ame, originalmente, ათნი ბევრნი მოწამენი, at'ni bevrni mots'ameni) são santos da Igreja de Cristo, que foram condenados à morte, de acordo com o Crônica Georgiana do século XIV, por não renunciar o cristianismo diante do sultão Jalal ad-Din Khwarezmid após a captura da capital da Geórgia, Tbilisi, em 1227. A Igreja Ortodoxa, especialmente a Igreja da Geórgia, lembra a memória desses gloriosos mártires em 31 de outubro.

Vida

No século XIII, após o repouso da santa Rainha Tamara da Geórgia (1184–1213), a Era de Ouro Georgiana começou a entrar em declínio. O reino era rodeado de todos os cantos por povos vassalos pagãos e islâmicos, e a grande devoção do povo georgiano a São Jorge era o que mantinha as terras ibéricas protegidas. Quando seu filho Jorge IV (1213–1223) assumiu o reino, frustrou algumas revoltas dos estados vassalos e planejou unir-se aos latinos que na década anterior haviam destruído Constantinopla e saqueado suas igrejas para combater os islâmicos na Palestina. Jorge também havia se aproximado do misticismo, e casou-se irregularmente com uma camponesa. Por suas escolhas, a Geórgia afastou-se das bênçãos de São Jorge.

Em 1218, o Imperador Maomé II da Corásmia (atual fronteira entre o Turcomenistão e o Usbequistão; 1200–1220) assassinou três mongóis enviados pelo Imperador Gêngis da Mongólia (1206–1227) a fim de fortalecer a diplomacia entre os dois impérios. Gêngis, em contrapartida, enviou um exército de mais de cem mil homens para devastar completamente todas as cidades do império, inclusive sua capital, Gorganche. Maomé conseguiu fugir, mas morreu de inflamação logo após. A brutalidade dessa vingança resultou num dos mais sangrentos massacres da história do mundo.

Em 1220, Gêngis enviou os dois generais e vinte mil homens que estavam atrás de Maomé ao oeste do Mar Cáspio para reconhecimento. Quando chegaram a Naquichevão (atual Azerbaijão), derrotaram dez mil guerreiros georgianos e retornaram à Ásia Central. Jorge, que também feriu-se na batalha, uniu-se com alguns generais dos estados vassalos para uma futura emboscada. Os mongóis, entretanto, interceptaram o plano e, recrutando curdos e turcos, atacaram a Geórgia de surpresa no inverno de 1221, e começaram a caçar os camponeses das fronteiras do reino. Quando chegaram a Tiblissi, o exército georgiano conseguiu derrotar os turcos, mas foi massacrado pelos mongóis na retaguarda.

Após devastarem o sul da Geórgia, os mongóis acamparam no Carabaque (região sul dos atuais Azerbaijão e Armênia) e conquistaram Tabriz (atual noroeste do Irã), mas a cidade conseguiu pagar uma fortuna para não ser aniquilada. De lá, os mongóis aniquilaram as populações de Hamadã, capital do Império Seljúcida, Naquichevão e outras cidades ao sudeste da Geórgia. A essa altura, Jorge já havia recrutado setenta mil guerreiros, e em setembro de 1222 partiu em direção à Pérsia, onde estavam cinco mil guerreiros mongóis. Aquilo, entretanto, era uma emboscada, e outros quinze mil surgiram para lutar contra Jorge. Os georgianos conseguiram fugir, mas Jorge veio a morrer no ano seguinte em decorrência de seus ferimentos nessa guerra, conhecida como Batalha de Cunã, e foi sepultado no Mosteiro de Gelati no oeste georgiano.

Quem sucedeu-o no reinado da Geórgia foi Rusudana, sua irmã. A rainha não possuía experiência, e as fronteiras do reino eram encurtadas pelas forças islâmicas cada vez mais. Para fortalecer o poder de guerra georgiano, em 1224, aos trinta anos de idade, Rusudana casou-se com o Príncipe Gias dos Seljúcidas de apenas dezessete anos, que obteve a raríssima permissão de se converter do islamismo ao cristianismo sob o nome de Demétrio. Rusudana também continuou com o plano de unir-se aos latinos, e durante seu reinado mandou diversas cartas a Roma.

A três mil quilômetros de lá, estava exilado na Índia Jalaladim (1220–1231), filho de Maomé II e herdeiro das cinzas que restaram do Império Corásmio. Jalaladim conseguiu unir-se com os povos cocaros paquistaneses e assim dominar uma parte do Panjabe (entre os atuais Paquistão e Índia). De lá, Jalaladim liderou seu exército até as terras pérsias, tomando cidades como Hamadã e Tabriz dos mongóis. No outono de 1225, seu exército chegou à Geórgia, exigindo a subordinação do reino sob seu domínio. A nobreza georgiana não conhecia seu exército e não levou a ameaça a sério, respondendo com uma carta que lembrava a derrota esmagadora de seu pai contra os mongóis.

Rusudana enviou mensageiros por todo o reino para recrutar guerreiros ao seu exército, e conseguiu uma força de cem mil homens. Por subestimarem o exército de Jalaladim, setenta mil guerreiros foram enviados ao vilarejo de Garni para derrotarem os islâmicos. Quando chegaram lá, foram recebidos por um exército de duzentos mil homens. A única vantagem que os georgianos tinham era estarem nas terras mais altas, mas mesmo assim a comunicação entre os comandantes falhou. O corpo principal do exército permaneceu estacionário, perdendo a única chance de cercar o inimigo, e as vanguardas estavam sendo dizimadas. O comandante do corpo principal, então, ordenou que suas tropas abandonassem o campo de batalha, deixando os outros dois comandantes da vanguarda nas mãos dos inimigos.

Mais uma vez, os conflitos internos entre os comandantes feudais aleijaram as defesas do reino, e o resultado da traição foi a aniquilação de um quarto do exército georgiano, impossibilitando qualquer força de defesa contra os mongóis. Com isso, Rusudana e sua corte abandonaram a capital Tiblissi e fugiram para a cidade de Cutaissi, próxima ao litoral do Mar Negro. Gias desertou para o exército de Jalaladim, e converteu-se novamente ao islamismo. Em 9 de março de 1226, os corásmios chegaram às muralhas de Tiblissi. O exército georgiano conseguiu afastá-los, mas, durante a noite, um grupo de islâmicos infiltrados na cidade conseguiu abrir os portões, e todo o exército adentrou Tiblissi.

“Palavras são incapazes de transmitir a destruição que o inimigo causou: arrancando os bebês de suas mães, eles batem suas cabeças contra a ponte, observando como seus olhos caem do crânio.”

Assim escreveu o cronista que testemunhou o dia mais terrível da história da Geórgia.

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