Bonifácio de Tarso

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São Bonifácio.

O Santo Mártir Bonifácio de Tarso (m. 290), juntamente com a Santa Venerável Aglaida de Roma (m. 303), foram santos que floresceram antes da Grande Perseguição. São Bonifácio é comumente invocado por aqueles que anseiam se libertar de bebidas alcoólicas. A Igreja os comemora no dia do martírio de São Bonifácio, 19 de dezembro, e em 14 de maio, quando somente São Bonifácio é comemorado.

Vida

Santa Aglaida.

Em Roma, no século III, na era do Imperador Maximiano (286–310), havia uma rica jovem de nome Aglaida, filha de um governante chamado Acácio. Aglaida morava em iniquidade com seu servo, Bonifácio, um homem inclinado à embriaguez, mas, que assim como ela, era generoso, hospitaleiro e compassivo com todos. Com o tempo, ambos passaram a sentir o tormento em suas consciências de viver em transgressão, e desejaram obter a purificação do pecado.

Chegou ao conhecimento da jovem que quem conservasse as relíquias dos santos mártires em seus aposentos e as venerasse, receberia um grande amparo para obter a salvação da alma. Com suas intercessões, os pecados diminuiriam e as virtudes prevaleceriam. Então, Aglaida estipulou que Bonifácio partisse ao Oriente, onde os antecessores de Diocleciano (284–305) haviam em muito perseguido os cristãos, e trouxesse as relíquias de algum mártir, que se tornaria o guia e protetor de ambos.

Enquanto se despedia, Bonifácio riu-se e perguntou brincando: “Minha dama, se encontrarem a mim antes que eu as encontre, aceitar-me-ás como relíquia?” E Aglaida, repreendendo-o, disse que tal missão sagrada deveria ser encarada com seriedade. Bonifácio refletiu sobre as palavras da jovem durante toda a viagem, e julgava ser indigno de tocar nos gloriosos mártires.

Ao chegar na cidade de Tarso na Cilícia (atualmente ao sul da Turquia), a mesma em que o santo Apóstolo Paulo havia nascido, Bonifácio deixou seus companheiros de viagem numa hospedaria lindeira e adentrou o centro da cidade, onde cristãos eram torturados. Impressionado pelos animalescos e horríveis tormentos e vendo as faces dos santos mártires radiarem a graça de Deus, Bonifácio maravilhou-se pela coragem deles. Beijando os seus pés, o servo rogou aos confessores que aceitassem-no estar entre eles nas torturas.

Assim, o jurista prendeu-o e indagou que o dissesse quem era, pelo qual somente respondeu: “Sou cristão.” Recusando-se a oferecer sacrifício aos ídolos, os carrascos rasgaram suas vestes e penduraram-no de cabeça para baixo. Então, começaram a espancá-lo, e só pararam quando seus músculos já estavam desprendidos do corpo e seus ossos expostos. Logo em seguida, enfiaram agulhas sob suas unhas, e finalmente derramaram latão fervente em sua garganta, mas, pelo poder de Deus, o servo permaneceu ileso. As pessoas que presenciaram esse milagre clamavam: “Grande é o Deus dos cristãos!” E começaram a apedrejar o jurista e a dirigirem-se ao templo pagão para arremessar os ídolos ao chão.

Na manhã seguinte, quando as coisas haviam se acalmado, o jurista ordenou que o santo mártir fosse jogado num caldeirão de piche fervente. Quando foi, uma quantidade muito maior de piche foi jorrada do caldeirão, caindo e queimando os carrascos. Novamente, São Bonifácio saiu ileso. Então, finalmente o mártir foi sentenciado à decapitação, pela qual entregou sua alma ao Senhor, e dos seus ferimentos começou a sair leite. Através deste último milagre, Cristo conquistou mais de quinhentas almas, que o presenciaram.

Enquanto isso, na hospedaria, os companheiros de São Bonifácio estranharam a demora e começaram a procurar por ele, imaginando que ele havia ficado bêbado em alguma taverna. Depois de um tempo, encontraram uma das testemunhas de seu martírio, que levou-os ao local onde o haviam decapitado. Após reconhecerem o corpo de seu companheiro, eles imploraram pelo perdão de seus pensamentos iníquos e trouxeram suas relíquias de volta a Roma.

Na véspera de sua chegada, um anjo apareceu a Aglaida enquanto sonhava e a disse para preparar-se para receber seu antigo servo, agora contado dentre eles no Céu. Ao acordar, Aglaida convocou o clero e recebeu as relíquias com grande reverência. Então, a jovem construiu uma igreja e a dedicou ao santo mártir. Lá, ela consagrou suas relíquias, glorificadas por inúmeros milagres.

Após distribuir todos os seus bens aos pobres, ela partiu para um mosteiro, onde dedicou os últimos anos de sua vida em oração e tamanho asceticismo que ganhou de Deus o dom da taumaturgia. Santa Aglaida foi sepultada em 303 ao lado de São Bonifácio. Enquanto os pecados de um haviam sido purificados pelo sangue, os da outra foram lavados pelas lágrimas do asceticismo. Ambos tornaram-se dignos de parecer sem mácula diante do Senhor, que não deseja a morte do pecador, mas que ele se arrependa e viva eternamente.

Pós-vida

Basílica dos Santos Bonifácio e Aleixo, em Roma.

Após o Grande Cisma, a Igreja de São Bonifácio foi sucessivamente reformada pelos latinos, tornando-se uma basílica. Atualmente denomina-se “Basílica dos Santos Bonifácio e Aleixo”, abrigando também as relíquias de Santo Aleixo de Roma e o ícone de Nossa Senhora de Santo Aleixo. A basílica é presidida por cardeais latinos brasileiros há mais de um século.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Tu seguiste fervorosamente o caminho dos mártires, /
confessando Cristo diante dos descrentes, ó Bonifácio. /
Ofereceste teu corpo à modesta Aglaida, como um imperecível tesouro, /
do qual a cura e a misericórdia fluem para todo o mundo.

Condáquio

(Tradução livre)

Voluntariamente te ofereceste como um imaculado sacrifício /
Àquele que está prestes a nascer da Virgem para o nosso bem, /
ó coroado e sapientíssimo Bonifácio.

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

Alma pecaminosa era a de Bonifácio, /
alma pecaminosa era a oprimida pelo pecado. /
Arrependido, através de Cristo ele brilhou, /
e uma centena de vezes suspirou.
Viu ele os sofrimentos dos santos mártires, /
viu ele os sofrimentos e como cera derreteu-se. /
Chorou, e pelas lágrimas foi santificado, /
arrependendo-se de todo o seu pecado.
Que é a vida senão dedicada ao sacrifício, /
ou para o demônio ou para o Divino? /
O primeiro como o de um cadáver tem o odor, /
o segundo ascende ao Salvador.
O arrependimento é a restauração da vida, /
e para o santo Bonifácio assim se sucedeu. /
Para a salvação da alma, seu corpo sacrificou, /
e o Reino, com um saco de ossos ele comprou.
A distância de um pecador para um penitente, /
e a de um penitente para um mártir, /
maior não é que a da escuridão à luz, /
maior não é que a da terra à Cruz.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo primeiro.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro quarto.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume segundo.

Ligações externas