Bóris e Glebe de Kiev

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Santos Bóris e Glebe.

Os Mais Ortodoxos Santos Príncipes e Mártires Bóris de Rostóvia e Glebe de Murom (séc. XI) foram os dois primeiros mártires das terras russas, filhos de São Vladimir. Junto deles, também são comemorados como mártires Jorge e seus companheiros, que se sacrificaram por amor a São Bóris. Como não responderam o mal com o mal, os santos príncipes são chamados de Portadores da Paixão. A Igreja os comemora nos dias 24 de julho e 2 de maio pela transladação de suas relíquias.

Vida

Bóris e Glebe nasceram no final do século X, filhos de São Vladimir, o Grande, Grão-Príncipe de Quieve (980–1015), com a búlgara Adela, quando esse ainda era pagão. Além deles, São Vladimir também teve outros dez filhos homens, dos quais fê-los príncipes de suas terras: Venceslau e Jaroslau de Novogárdia, Iziaslau de Polócia, Esvetopolco de Turóvia, Usevolodo e Posvisdo da Volínia, Esvetoslau da Drévlia, Mistiaslau de Tmutaracânia, Estanislau de Esmolensco e Sudislau de Pscóvia. Bóris e Glebe foram feitos príncipes de Rostóvia e Murom, respectivamente, e assim governavam as terras do norte. Após receberem o Santo Batismo junto com seu pai em 988, foram renomeados como Romano e Davi.

Bóris nasceu com o dom da leitura e da escrita, e compartilhou com seu irmão mais novo Glebe seu conhecimento sobre o Evangelho de Jesus Cristo e as vidas dos santos, as quais os dois lutaram para imitar. Como príncipes, ambos de distinguiram pela compaixão, misericórdia e bondade com a qual tratavam suas terras e seu povo.

Em 1015, quando São Vladimir caiu enfermo em meio ao avanço dos pechenegues pagãos nas terras russas, Bóris, seu mais amado filho, assumiu seu exército para proteger os quievanos. Poucos dias depois, São Vladimir rendeu seu espírito a Deus e Esvetopolco, o Maldito, usurpou o trono de Quieve para si, trazendo consigo clérigos heréticos financiados pelos poloneses, seus aliados, para subverterem a Fé ortodoxa. Mesmo presenteando os quievanos com moedas, seus corações ainda estavam com Bóris. Este, quando voltou da campanha, soube do repouso de seu pai e chorou amargamente.

O exército de São Vladimir mostrou-se disposto a depor Esvetopolco para elevar Bóris ao grão-principado já que esse era o último desejo de São Vladimir, mas o piedoso Bóris negou, dizendo: “Jamais levantarei minha mão contra meu próprio irmão. Agora que meu pai se foi, que Esvetopolco tome o lugar dele em meu coração.” Para Esvetopolco, no entanto, Bóris era um rival que só poderia ser vencido pela espada.

Para acalmar seu irmão, Esvetopolco enviou uma mensagem a Bóris dizendo que desejava viver pacificamente com ele e expandir as fronteiras do grão-principado. Adotando o espírito de Caim, Esvetopolco partiu à noite à Visgárdia, ao norte de Quieve, e foi ter com os aristocratas boiardos, comprando sua lealdade para que matassem seus santos irmãos Bóris, Glebe e Jaroslau. Os mercenários juraram até dar suas vidas por Esvetopolco, e voltaram a Quieve sem que ninguém pudesse notá-los.

Paixão

São Bóris, que nunca havia cessado de orar ao Senhor, estava sozinho com seus servos nas margens do Rio Alta na Pereaslávia, oitenta quilômetros ao sudeste de Quieve. De repente, as palavras do Senhor vieram à sua mente: “Outro te cingirá, e te levará para onde tu não queres”. Bóris, então, entendeu que a carta de seu irmão era, na verdade, o beijo de Judas. Após o pôr do sol, o príncipe retirou-se à sua tenda para uma vigília, e começou a cantar o Salmódio. Depois, dirigiu seus olhos ao ícone do Salvador e orou:

“Senhor Jesus Cristo, Tu que nesta imagem apareceste entre nós para nossa salvação, Tu que sofreste voluntariamente na Cruz e que suportaste Tua Paixão pelos nossos pecados, ajuda-me agora a suportar minha paixão, pois sofrerei não pelas mãos dos meus inimigos, mas pelas mãos de meu próprio irmão. Ó Senhor, perdoa-lhe sua falta, e não a conte como pecado.”

Imediatamente, os mercenários rasgaram sua tenda e partiram em direção ao príncipe. Jorge, seu mais amado servo, pulou na frente de Bóris para salvá-lo da morte, e foi trespassado completamente pela espada. A lança também atingiu o príncipe, que caiu no chão sem forças e foi enrolado num pano pelos assassinos. Quanto a Jorge, foi decapitado por vestir o colar de ouro dado por Bóris como presente, e entregou sua alma ao Senhor junto com os outros servos de Bóris.

O corpo de Bóris foi jogado numa carroça e levado a Quieve. Quando Esvetopolco viu que ele ainda estava respirando, ordenou que dois de seus homens esfaqueassem-no no coração. Foi assim que São Bóris rendeu seu espírito e recebeu a coroa do martírio por seu Senhor nos Céus. Em seguida, levaram-no à Visgárdia, sepultando-o na Igreja de São Basílio, uma das maiores de todas as terras russas até então e construída por seu pai, São Vladimir, no curso de duas décadas.

Esvetopolco recompensou satã e seus filhos com uma grande quantia de ouro e maravilhou-se com o assassinato. Escrevendo mais uma carta, enviou-a a Glebe, dizendo que seu pai estava muito enfermo e desejava sua presença. Obediente que era, Glebe logo montou em seu cavalo e partiu de Murom com seus servos até Quieve. Em Esmolensco, embarcaram no Dniepre e seguiram em direção a Quieve.

Enquanto isso, São Jaroslau foi visitado por sua irmã, Predeslava, que contou-lhe tudo o que havia acontecido. O príncipe, então, escreveu às pressas uma carta a Glebe, já que o curso do Dniepre fá-lo-ia passar por Esmolensco em breve, e seus servos lhe entregaram. Quando leu que seu irmão havia sido assassinado por Esvetopolco e que ele estava em direção a uma emboscada, Glebe irrompeu-se em choro, mas continuou no rio, lamentando-se:

“Ai de mim, ó Senhor, seria melhor que eu morresse com meu irmão a continuar neste mundo! Ó meu irmão, eu daria minha vida para poder ver teu rosto uma última vez! Por que tu me abandonaste? Onde estão as palavras pelas quais tu me ensinaste tudo, meu irmão? Pois não ouço mais os teus doces conselhos… Se Deus encorajou-o para tal, roga a Ele para que eu também possa sofrer a mesma paixão, pois é melhor para mim morar contigo do que continuar neste mundo!”

Enquanto São Glebe se lamentava, os mercenários cercaram seu barco e sacaram suas armas. Seus servos prepararam-se para o ataque, mas o príncipe os exortou a não pegarem em armas já que não eram eles a quem os boiardos estavam buscando. Os assassinos obrigaram seu próprio cozinheiro a pegar sua faca e esfaquear Glebe até a morte. Foi assim que o príncipe foi oferecido como um cordeiro inocente ao holocausto, e de Deus recebeu sua coroa imperecível junto com seu tão querido irmão. O corpo do mártir foi jogado na ribanceira, entre duas árvores. Não demorou, entretanto, até que ambos os corpos de São Bóris e São Glebe se encontrassem na Igreja de São Basílio.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Ó justos portadores da paixão, casto Bóris e inocente Glebe, /
verdadeiramente observando o Evangelho de Cristo, /
vós não combatestes os ataques de vosso irmão, /
que matou vossos corpos mas não pôde tocar vossas almas. /
Deixai, então, os amantes dos poderes lamentarem-se /
enquanto vos regozijais com os anjos diante da Trindade. /
Orai por todos os que honram vossa memória, /
para que nossa salvação seja agradável a Deus.

Condáquio

(Tradução livre)

Hoje resplandece vossa mais gloriosa memória, /
ó nobres partícipes da paixão de Cristo, Bóris e Glebe, /
pois vós nos chamais a cantar louvores a Cristo nosso Deus. /
Orando a Ele através de vossos sagrados ícones, ó santos, /
recebemos o prodígio da cura por vossas intercessões, /
pois vós sois verdadeiramente os médicos de Deus.

Referências

  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livros IX e XI.
  • São Nestor, o Cronista (1953). Crônica dos Anos Passados. Livro único.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas