Atanásio do Monte Athos

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Santo Atanásio.

O Venerável Santo Atanásio, Fundador do Monte Atos (séc. X), foi o monge responsável pela fundação da Grande Lavra, o primeiro mosteiro da Montanha Santa. A Igreja comemora sua memória juntamente com seus seis santos discípulos em 5 de julho.

Vida

Abraão nasceu de uma piedosa família antioquina em Trebizonda na Anatólia (atual litoral nordeste da Turquia) em meados de 920, na era de São Nicolau I, Patriarca de Constantinopla (901–925). Seu pai havia morrido poucos dias antes de seu nascimento, e sua mãe partiu para junto dele logo após batizá-lo. Órfão desde cedo, Abraão foi criado por uma piedosa monja, de quem imitou os hábitos monásticos, de jejum e de oração. Possuía também uma inteligência destoante, e desfrutava de uma educação laica de excelência.

Após o repouso de sua mãe adotiva, Abraão já estava nas escolas de Constantinopla admitido como um discípulo do renomado retórico Atanásio. Mesmo com pouca idade, o jovem atingiu o domínio da retórica e tornou-se instrutor de seus próprios colegas. Reconhecendo como verdadeira a vida do jejum e da vigília, Abraão levou uma vida estrita e abstinente — ele dormia por poucas horas, não deitado, mas apenas sentando-se em um banquinho. Pão de cevada e água eram seus únicos alimentos. Quando, pela fraqueza humana, seu mestre Atanásio enciumou-se de seu aluno, Abraão abandonou sua posição como professor e foi embora.

Naquele tempo, estava em Constantinopla São Miguel, o Maleíno, que vivia como um eremita numa caverna do Monte Ciminas na Anatólia. Abraão contou ao monge sobre sua vida, e revelou-lhe seu desejo de tornar-se como ele. O santo ancião, vendo em Abraão a Graça de Deus, admirou-se e levou-o à sua comunidade monástica na montanha, onde ensinou-lhe muito quanto à salvação da alma. Tendo já abandonado todas as esperanças no mundo, Abraão caiu aos pés de São Miguel e implorou para ser recebido na vida monástica. O eremita cumpriu seu desejo com alegria, e tonsurou-o como Atanásio, em honra a Santo Atanásio, o Grande, Patriarca de Alexandria (328–373).

Com longos jejuns, vigílias, prostrações e labutas dia e noite, Atanásio logo alcançou tal perfeição que todos os discípulos de São Miguel veneravam-no e o tomavam como exemplo. Um dia, São Miguel foi visitado por seu sobrinho São Nicéforo, oficial do exército que futuramente tornar-se-ia o Imperador Nicéforo II (963–969), que também trouxe um companheiro de exército. Após confessá-los, Miguel disse que mostraria a eles um “tesouro”, e levou-os até a cela de Atanásio, que então estava com os seus trinta anos de idade. Depois de uma longa conversa com o monge, ambos impressionaram-se com seu espírito e mente, e rogaram que ele aceitasse tornar-se o pai espiritual de ambos. Com esse encontro, São Nicéforo passou a tratar o monasticismo com o maior respeito possível.

A península de Atos

Querendo se afastar das honrarias dos homens, Atanásio rogou que São Miguel o abençoasse para tirar partido do hesicasmo num lugar solitário não muito longe do mosteiro, e o monge assim o fez. Mais tarde, tendo deixado a montanha e atravessado Constantinopla em direção ao Ocidente, Atanásio percorreu diversos lugares solitários e desolados pela Macedônia e, guiado por Deus, adentrou a Península de Atos até Cariés, atual sede teocrática da montanha localizada no centro da península, onde encontrou um ancião que aceitou ser seu pai espiritual.

Fingindo ser um simples camponês analfabeto, Atanásio serviu-o com obediência e humildade em duros trabalhos e lutas espirituais. O ancião sempre tentava ensiná-lo a ler, mas o monge fingia-se incapaz de aprender, e assim fazia-se como o menor — e mais dedicado — de seus discípulos. Depois de algum tempo, o ancião descobriu que aquele analfabeto, na verdade, era o renomado Atanásio, e o monge admitiu. Não podendo mais viver na obscuridade, Atanásio pediu suas bênçãos partiu para o litoral sul após a grande montanha da Mãe de Deus, e lá construiu uma cela para si próprio. Atanásio, então, começou a viver uma vida asceta e contemplativa, em obras e oração, avançando de batalha em batalha até a conquista monástica.

Inúmeras vezes o Inimigo tentou despertar em Santo Atanásio o ódio pelo lugar escolhido por ele, agredindo-o nos pensamentos. O asceta decidiu então que sofreria por um ano, e então onde quer que o Senhor o dirigisse, ele iria. No último dia do ano, assim que começou a rezar, uma luz divina brilhou sobre o santo, enchendo-o de uma alegria indescritível. Todos os seus pensamentos se dissiparam, e de seus olhos fluíram lágrimas. Santo Atanásio recebeu o dom da ternura, e apaixonou-se pela montanha da Virgem Maria.

Quando o asceta já possuía quarenta anos de idade, São Nicéforo rogou a Santo Atanásio que construísse um mosteiro e uma igreja para o florescimento espiritual do Monte Atos. Em princípio, o santo recusou por não querer corromper-se com o ouro mundano que São Nicéforo o oferecera, mas vendo o fervoroso desejo e a boa intenção do comandante, que prometeu tornar-se seu discípulo após a construção, e discernindo nisso a vontade de Deus, Santo Atanásio pôs-se a construir o mosteiro. A notícia da coroação forçada do comandante como imperador chegou ao monge antes que a construção tivesse terminado, e isso o entristeceu muito.

Após escrever uma carta repreendendo o novo imperador, Santo Atanásio abandonou o mosteiro e partiu para o Chipre com um de seus discípulos, Antônio. De fato, São Nicéforo nunca pode cumprir sua promessa de tornar-se monge, pois foi assassinado por um de seus comandantes com o aval de sua própria esposa, a ímpia Imperatriz Teófana (953–969), que não concordava com a inclinação de seu esposo a Deus.

Depois de um tempo no Chipre, Santo Atanásio recebeu uma visão do Senhor que impelia-o a voltar à montanha. Ele obedeceu, e lá construiu mais duas igrejas. Uma, grande, em honra a São João, o Batista, e outra, ao pé de uma colina, dedicada à Mãe de Deus. As celas foram construídas no entorno da igreja, e assim surgiu um maravilhoso mosteiro na Montanha Sagrada. A comunidade também contava com uma trapeza (refeitório) e um alojamento para doentes e peregrinos.

Florescimento e provações

Surgiam discípulos de todas as terras, desde pessoas simples a ilustres dignatários, habitantes do deserto que labutavam no asceticismo por anos, hegúmenos de diversos mosteiros e hierarcas querendo tornar-se simples monges na lavra de Santo Atanásio. O santo instaurou no mosteiro uma regra monástica cenobita acalcada no modelo dos antigos mosteiros palestinos — e por isso a designação “lavra”, mosteiros em que a vida eremítica é interrompida nos dias santos para a participação de todos os monges na Divina Liturgia. Os ofícios divinos eram servidos com todo rigor, e ninguém ousava abrir a boca durante eles, nem chegar atrasado ou sair antes do final.

Através de sua lavra, Santo Atanásio realizou a tarefa de unir eremitas de todas as partes da península e tornar-se seu líder espiritual. O hegúmeno considerava que o aspecto mais essencial da disciplina monástica era a filoponia, ou seja, o amor pelo trabalho árduo, o contínuo carregar da própria cruz. Após a filoponia vinha o amor e a solidariedade. Santo Atanásio, ao mesmo tempo que impunha-se ao asceticismo e atividades austeras, era muito carinhoso e afetuoso para com qualquer um que viesse a ele. O hegúmeno construiu portos, estradas, adegas, vinhedos, jardins e tudo o que mais coubesse dentro de seus limites para proporcionar um conforto àqueles que o buscavam.

Por conta desse seu amor pelos outros, outros líderes espirituais da península caluniaram-no por ter supostamente violado o regime hesicasta com essas suas inovações, e queriam julgá-lo para tirá-lo de sua posição. Entretanto, a Mãe de Deus interveio e pacificou os corações dos monges, além de encorajar Santo Atanásio a continuar sua tarefa sem desânimo. A principal queixa do monge sobre sua posição era justamente não poder mais viver em estrito hesicasmo, já que agora governava uma península inteira. Sempre que as dificuldades financeiras impediam o prosseguimento de seus planos, ela consolava seu coração e criava condições propícias para que tudo desse certo.

Uma vez, ocorreu tal fome que todos os monges deixaram a lavra em busca da civilização, deixando apenas Santo Atanásio lá. Num momento de fraqueza, ele também cogitou ir embora, mas de repente uma mulher apareceu, vindo em sua direção. Ela sussurrou: “Quem és tu e para onde vais?” O santo, então, a contou sobre sua vida e as angústias pelas quais a lavra estava passando. Ao final, a mulher retrucou: “Abandonarias o mosteiro destinado à glória de geração em geração apenas por um pedaço de pão seco? Onde está a tua Fé? Vira para trás, pois hei de te ajudar.” “Mas quem és tu para fazer tal coisa?”, perguntou Atanásio. “Eu sou a Mãe de Deus.”

Então, ela pediu que ele golpeasse uma rocha com seu cajado. Da fissura, jorrou um feixe de água que existe até hoje em lembrança dessa milagrosa visita. Com o tempo, a irmandade voltou a crescer, e as obras na Lavra foram retomadas. A padroeira celestial de Atos rejubilou-se muito com o santo. Muitas vezes Santo Atanásio teve o privilégio de ver a Virgem Maria com seus próprios olhos, que o guiava para que o mosteiro fosse construído da melhor maneira possível. Santo Atanásio foi agraciado com o dom da taumaturgia, e realizou uma miríade de milagres, além de ter usado sua sabedoria para escrever textos e ensinamentos aos seus discípulos.

Certa vez, os depósitos e as adegas se esvaziaram, e os monges se desesperaram. Então, eis que uma voz pode ser ouvida: “Eu sou a provedora, não vos preocupeis mais.” De fato, durante vários períodos de escassez de alimentos, a santíssima Virgem providenciava os armazéns com trigo enquanto não havia ninguém lá. Por conta disso, até hoje a Mãe de Deus é considerada a Economissa (provedora) oficial do mosteiro, e é comemorada junto com Santo Atanásio como Nossa Senhora da Grande Lavra.

Alguns anos mais tarde, Santo Atanásio, prenunciando sua partida para o Senhor, profetizou sobre seu fim iminente e suplicou aos irmãos que não temessem. A irmandade lamentou-se muito e ponderou as palavras do santo. Após dar aos irmãos sua orientação final e uma consolação, Santo Atanásio entrou em sua cela, pôs o seu manto que usava somente nas Grandes Festas e orou por muito tempo.

Em 5 de julho de 1003, aos oitenta e três anos de idade, após derramar muitas súplicas ao Senhor, o santo hegúmeno subiu alegremente ao topo da igreja com outros seis discípulos para inspecionar a construção. De repente, pela vontade de Deus, a cúpula desmoronou, e caiu em cima de todos, dos quais cinco imediatamente entregaram suas almas ao Senhor. Santo Atanásio e o monge Daniel, jogados nas pedras, permaneceram vivos. Todos ouviram o santo clamar ao Senhor: “Glória a Ti, ó Deus! Senhor Jesus Cristo, salva-nos!” Os outros monges apressaram-se para tirá-los dos escombros, mas os dois renderam suas almas logo em seguida.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

As hierarquias celestiais admiraram-se /
perante a tua santa vida, ó glorioso. /
Derrotando as fileiras de demônios, /
tu foste ricamente recompensado por Cristo. /
Ó pai Atanásio, intercede a Ele, /
para que nossas almas sejam salvas.

Condáquio

(Tradução livre)

Tomando o jugo de Cristo, ó santo pai Atanásio, /
tu carregaste tua cruz sobre os teus ombros. /
Sendo partícipe em Seus sofrimentos, /
tu partilhaste da Glória de Deus, /
e foste recompensado com a alegria sem fim.

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

Na Montanha Santa uma lavra brilha, /
é o mosteiro de Atanásio que a todos maravilha. /
Mil anos lá já se passaram, /
mas o espírito e o pão ainda não se esgotaram. /
Não lhe faltam almas nem comida, /
nem a visão dos Céus resplandecida.
Assim foi escrito nos livros antigos, /
sobre a que protege a Ortodoxia em seus abrigos: /
“A Abadessa a todos proverá, /
“pois no Monte ela reinará.” /
Ela, que faz-se como a Hegúmena mística, /
não é a mesma puríssima que a Deus por todos suplica?
A Grande Lavra ela sustentou e Iverão ela nutriu, /
Hilandário ela protegeu e São Pantelimão ela garantiu. /
Caracalo e Zografo, Pantocrátor e Simonopetra, /
a todos ela socorre, de todos ela é a mão destra. /
Ela é a fortaleza de seus habitantes, /
e paz e defesa para todos os restantes.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo II.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro XI.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume II.

Ligações externas