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Mais tarde, tendo deixado a montanha e atravessado Constantinopla em direção ao Ocidente, Atanásio percorreu diversos lugares solitários e desolados pela Macedônia e, guiado por Deus, adentrou a Península de Atos, onde encontrou um ancião que aceitou ser seu pai espiritual. Atanásio serviu-o com obediência e humildade em duros trabalhos e lutas espirituais. Algum tempo depois, Atanásio partiu para o litoral sul após a grande montanha da [[Mãe de Deus]], e lá construiu uma cela para si próprio. Atanásio, então, começou a viver uma vida asceta e contemplativa, em obras e oração, avançando de batalha em batalha até a conquista monástica.
 
Mais tarde, tendo deixado a montanha e atravessado Constantinopla em direção ao Ocidente, Atanásio percorreu diversos lugares solitários e desolados pela Macedônia e, guiado por Deus, adentrou a Península de Atos, onde encontrou um ancião que aceitou ser seu pai espiritual. Atanásio serviu-o com obediência e humildade em duros trabalhos e lutas espirituais. Algum tempo depois, Atanásio partiu para o litoral sul após a grande montanha da [[Mãe de Deus]], e lá construiu uma cela para si próprio. Atanásio, então, começou a viver uma vida asceta e contemplativa, em obras e oração, avançando de batalha em batalha até a conquista monástica.
  
Inúmeras vezes o Inimigo tentou despertar em Santo Atanásio o ódio pelo lugar escolhido por ele, agredindo-o nos pensamentos. O asceta decidiu então que sofreria por um ano, e então onde quer que o Senhor o dirigisse, ele iria. No último dia do ano, quando o santo começou a rezar, uma luz divina começou a brilhar sobre ele, enchendo-o de uma alegria indescritível. Todos os seus pensamentos se dissiparam, e de seus olhos fluíram lágrimas. Santo Atanásio acabava de receber o dom da ternura, e apaixonou-se pelo lugar que antes odiara.
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Inúmeras vezes o Inimigo tentou despertar em Santo Atanásio o ódio pelo lugar escolhido por ele, agredindo-o nos pensamentos. O asceta decidiu então que sofreria por um ano, e então onde quer que o Senhor o dirigisse, ele iria. No último dia do ano, assim que começou a rezar, uma luz divina brilhou sobre o santo, enchendo-o de uma alegria indescritível. Todos os seus pensamentos se dissiparam, e de seus olhos fluíram lágrimas. Santo Atanásio recebeu o dom da ternura, e apaixonou-se pela montanha da Virgem Maria.
  
Nessa ocasião, Nicéforo, tendo cansado da vida militar, lembrou-se de seus votos de tornar-se monge, e rogou a Santo Atanásio que construísse um mosteiro e uma igreja, onde sua irmandade poderia comungar os Divinos Mistérios de Cristo aos domingos. Em princípio, o santo recusou por não querer corromper-se com o ouro mundano que Nicéforo o oferecera, mas vendo o fervoroso desejo e a boa intenção de Nicéforo (e discernindo nisso a vontade de Deus), pôs-se a construir o mosteiro. Ele construiu duas igrejas, uma grande, em honra a [[João Batista|São João Batista]], e outra, ao pé de uma colina, dedicada à [[Teótoco|Mãe de Deus]]. As celas foram construídas no entorno da igreja, e assim surgiu um maravilhoso mosteiro na Montanha Sagrada. Também contava com uma trapeza (refeitório) e um asilo para doentes e peregrinos.
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Quando o asceta já possuía mais de quarenta anos de idade, Nicéforo, agora imperador, tinha uma grande inclinação ao monasticismo, e rogou a Santo Atanásio que construísse um mosteiro e uma igreja para o florescimento espiritual do Monte Atos. Em princípio, o santo recusou por não querer corromper-se com o ouro mundano que Nicéforo o oferecera, mas vendo o fervoroso desejo e a boa intenção do imperador — e discernindo nisso a vontade de Deus , pôs-se a construir o mosteiro.
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Santo Atanásio também construiu duas igrejas. Uma, grande, em honra a [[João, o Batista|São João, o Batista]], e outra, ao pé de uma colina, dedicada à Mãe de Deus. As celas foram construídas no entorno da igreja, e assim surgiu um maravilhoso mosteiro na Montanha Sagrada. Também contava com uma trapeza (refeitório) e um asilo para doentes e peregrinos.
  
 
Surgiam irmãos de todas as terras, desde pessoas simples a ilustres dignatários, habitantes do deserto que labutaram no asceticismo por anos, hegúmenos de diversos mosteiros e hierarcas querendo tornar-se simples monges na Lavra de Santo Atanásio. O santo instaurou no mosteiro uma regra monástica cenobita acalcada no modelo dos antigos mosteiros palestinos. Os ofícios divinos eram servidos com todo rigor, e ninguém ousava abrir a boca durante os ofícios, nem chegar atrasado ou sair antes do final.
 
Surgiam irmãos de todas as terras, desde pessoas simples a ilustres dignatários, habitantes do deserto que labutaram no asceticismo por anos, hegúmenos de diversos mosteiros e hierarcas querendo tornar-se simples monges na Lavra de Santo Atanásio. O santo instaurou no mosteiro uma regra monástica cenobita acalcada no modelo dos antigos mosteiros palestinos. Os ofícios divinos eram servidos com todo rigor, e ninguém ousava abrir a boca durante os ofícios, nem chegar atrasado ou sair antes do final.

Revisão das 04h20min de 20 de junho de 2020

Santo Atanásio.

O Venerável Santo Atanásio, Fundador do Monte Atos (séc. X), foi o monge responsável pela fundação da Grande Lavra, o primeiro mosteiro da Montanha Santa. A Igreja comemora sua memória juntamente com seus seis santos discípulos em 5 de julho.

Vida

Abraão nasceu de uma piedosa família antioquina em Trebizonda na Anatólia (atual litoral nordeste da Turquia) em meados de 920, na era de São Nicolau I, Patriarca de Constantinopla (901–925). Seu pai havia morrido poucos dias antes de seu nascimento, e sua mãe partiu para junto dele logo após batizá-lo. Órfão desde cedo, Abraão foi criado por uma piedosa monja, de quem imitou os hábitos monásticos, de jejum e de oração. Possuía também uma inteligência destoante, e desfrutava de uma educação laica de excelência.

Após o repouso de sua mãe adotiva, Abraão já estava nas escolas de Constantinopla admitido como um discípulo do renomado retórico Atanásio. Mesmo com pouca idade, o jovem atingiu o domínio da retórica e tornou-se instrutor de seus próprios colegas. Reconhecendo como verdadeira a vida do jejum e da vigília, Abraão levou uma vida estrita e abstinente — ele dormia por poucas horas, não deitado, mas apenas sentando-se em um banquinho. Pão de cevada e água eram seus únicos alimentos. Quando, pela fraqueza humana, seu mestre Atanásio enciumou-se de seu aluno, Abraão abandonou sua posição como professor e foi embora.

Naquele tempo, estava em Constantinopla São Miguel, o Maleíno, que vivia como um eremita numa caverna do Monte Ciminas na Anatólia. Abraão contou ao monge sobre sua vida, e revelou-lhe seu desejo de tornar-se como ele. O santo ancião, vendo em Abraão a Graça de Deus, admirou-se e levou-o ao seu mosteiro na montanha, onde ensinou-lhe muito quanto à salvação da alma. Um dia, São Miguel foi visitado por seu sobrinho Nicéforo, oficial do exército que futuramente tornar-se-ia o Imperador Nicéforo II (963–969). Nicéforo impressionou-se tanto com o espírito e a mente de Abraão que considerou o santo com respeito e amor por toda a sua vida.

Tendo já abandonado todas as esperanças no mundo, Abraão caiu aos pés de São Miguel, e implorou para ser recebido na vida monástica. O eremita cumpriu seu desejo com alegria, e tonsurou-o como Atanásio, em honra a Santo Atanásio, Patriarca de Alexandria (328–373). Com longos jejuns, vigílias, prostrações e labutas dia e noite, Atanásio logo alcançou tal perfeição que todos os discípulos de São Miguel veneravam-no e o tomavam como exemplo. Querendo se afastar das honrarias dos homens, Atanásio rogou que São Miguel o abençoasse para tirar partido do hesicasmo num lugar solitário não muito longe do mosteiro, e o monge assim o fez.

Mais tarde, tendo deixado a montanha e atravessado Constantinopla em direção ao Ocidente, Atanásio percorreu diversos lugares solitários e desolados pela Macedônia e, guiado por Deus, adentrou a Península de Atos, onde encontrou um ancião que aceitou ser seu pai espiritual. Atanásio serviu-o com obediência e humildade em duros trabalhos e lutas espirituais. Algum tempo depois, Atanásio partiu para o litoral sul após a grande montanha da Mãe de Deus, e lá construiu uma cela para si próprio. Atanásio, então, começou a viver uma vida asceta e contemplativa, em obras e oração, avançando de batalha em batalha até a conquista monástica.

Inúmeras vezes o Inimigo tentou despertar em Santo Atanásio o ódio pelo lugar escolhido por ele, agredindo-o nos pensamentos. O asceta decidiu então que sofreria por um ano, e então onde quer que o Senhor o dirigisse, ele iria. No último dia do ano, assim que começou a rezar, uma luz divina brilhou sobre o santo, enchendo-o de uma alegria indescritível. Todos os seus pensamentos se dissiparam, e de seus olhos fluíram lágrimas. Santo Atanásio recebeu o dom da ternura, e apaixonou-se pela montanha da Virgem Maria.

Quando o asceta já possuía mais de quarenta anos de idade, Nicéforo, agora imperador, tinha uma grande inclinação ao monasticismo, e rogou a Santo Atanásio que construísse um mosteiro e uma igreja para o florescimento espiritual do Monte Atos. Em princípio, o santo recusou por não querer corromper-se com o ouro mundano que Nicéforo o oferecera, mas vendo o fervoroso desejo e a boa intenção do imperador — e discernindo nisso a vontade de Deus —, pôs-se a construir o mosteiro.

Santo Atanásio também construiu duas igrejas. Uma, grande, em honra a São João, o Batista, e outra, ao pé de uma colina, dedicada à Mãe de Deus. As celas foram construídas no entorno da igreja, e assim surgiu um maravilhoso mosteiro na Montanha Sagrada. Também contava com uma trapeza (refeitório) e um asilo para doentes e peregrinos.

Surgiam irmãos de todas as terras, desde pessoas simples a ilustres dignatários, habitantes do deserto que labutaram no asceticismo por anos, hegúmenos de diversos mosteiros e hierarcas querendo tornar-se simples monges na Lavra de Santo Atanásio. O santo instaurou no mosteiro uma regra monástica cenobita acalcada no modelo dos antigos mosteiros palestinos. Os ofícios divinos eram servidos com todo rigor, e ninguém ousava abrir a boca durante os ofícios, nem chegar atrasado ou sair antes do final.

A Padroeira Celestial de Athos, a Puríssima Mãe de Deus, rejubilou-se com o santo. Muitas vezes ele teve o privilégio de vê-la com seus próprios olhos. Uma vez, ocorreu tal fome que todos os monges fugiram da Lavra, deixando apenas Santo Atanásio lá. Num momento de fraqueza, ele também cogitou fugir, mas de repente apareceu uma mulher sob um véu, vindo em sua direção. Ela sussurrou: “Quem és tu e para onde vais?” O santo então a contou sobre sua vida e suas angústias. A mulher retrucou: “Abandonarias o mosteiro destinado à glória de geração em geração apenas por um pedaço de pão seco? De onde vem tua fé? Vira para trás, eis que ajudar-te-ei.” “Quem tu és?”, perguntou Atanásio. “Eu sou a Mãe de Deus.” Então, a Santíssima pediu que ele golpeasse uma rocha com seu cajado. Da fissura, jorrou uma nascente de água que existe até hoje em lembrança dessa milagrosa visita.

A irmandade voltou a crescer, e as obras na Lavra foram retomadas. Santo Atanásio, prenunciando sua partida para o Senhor, profetizou sobre seu fim iminente e suplicou aos irmãos que não temessem. A irmandade ficou perplexa e ponderou as palavras do santo. Após dar aos irmãos sua orientação final e a consolação, Santo Atanásio entrou em sua cela, pôs o seu manto que usava nas Grandes Festas e voltou após longas orações. Atencioso e alegre, o santo hegúmeno subiu ao topo da igreja com outros seis irmãos para inspecionar a construção. De repente, pela vontade de Deus, o topo desmoronou, levando imediatamente para o Senhor cinco dos irmãos. Santo Atanásio e o arquiteto Daniel, jogados nas pedras, permaneceram vivos. Todos ouviram o santo clamar ao Senhor: “Glória a Ti, ó Deus! Senhor Jesus Cristo, acuda-me!” Os irmãos, em pranto, começaram a desenterrá-los dos escombros, mas encontraram-nos já mortos.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

As hierarquias celestiais admiraram-se /
perante a tua santa vida, ó glorioso. /
Derrotando as fileiras de demônios, /
tu foste ricamente recompensado por Cristo. /
Ó pai Atanásio, intercede a Ele, /
para que nossas almas sejam salvas.

Condáquio

(Tradução livre)

Tomando o jugo de Cristo, ó santo pai Atanásio, /
tu carregaste tua cruz sobre os teus ombros. /
Sendo partícipe em Seus sofrimentos, /
tu partilhaste da Glória de Deus, /
e foste recompensado com a alegria sem fim.

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

Na Montanha Santa uma lavra brilha, /
é o mosteiro de Atanásio que a todos maravilha. /
Mil anos lá já se passaram, /
mas o espírito e o pão ainda não se esgotaram. /
Não lhe faltam almas nem comida, /
nem a visão dos Céus resplandecida.
Assim foi escrito nos livros antigos, /
sobre a que protege a Ortodoxia em seus abrigos: /
“A Abadessa a todos proverá, /
“pois no Monte ela reinará.” /
Ela, que faz-se como a Hegúmena mística, /
não é a mesma puríssima que a Deus por todos suplica?
A Grande Lavra ela sustentou e Iverão ela nutriu, /
Hilandário ela protegeu e São Pantelimão ela garantiu. /
Caracalo e Zografo, Pantocrátor e Simonopetra, /
a todos ela socorre, de todos ela é a mão destra. /
Ela é a fortaleza de seus habitantes, /
e paz e defesa para todos os restantes.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo II.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro XI.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume II.

Ligações externas