André de Creta

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Santo André.

O Venerável Santo André, Arcebispo de Creta (m. 740[nota 1]), foi um santo monge dos séculos VII e VIII honrado com um mosteiro em Constantinopla. A Igreja o comemora em 4 de julho.

Vida

André nasceu em Damasco na Fenícia (atual Síria) durante a era do Imperador Constante II (641–668), no século VII. Naquele tempo, Damasco estava dominada pelos islâmicos, e Moáuia I (661–680), que governava as terras sírias, proclamou o Califado Omíada por todo o Levante. Embora a maior parte da população fosse cristã, a heresia monotelista corrompia a Igreja desde o Ocidente até o Oriente, e o imperador sequer tentava evitar sua propagação. Essa heresia negava as duas vontades (humana e divina) de Jesus Cristo, admitindo que a vontade não correspondia às duas naturezas de Cristo, mas sim que era uma só, humano-divina.

Mesmo sendo Damasco a capital do califado, André foi criado numa piedosa e virtuosa família cristã, cujos pais tinham por nome Jorge e Gregória. Até seus sete anos de idade, o menino era mudo, e seus pais lamentavam-se pensando que seu filho seria mudo pelo resto da vida. Aos sete anos de idade, após comungar os Santos Mistérios de Cristo, ele recebeu o dom da fala e começou a falar. A partir de então, o menino dedicou-se ao estudo das Santas Escrituras e da teologia.

Aos catorze anos de idade, André dirigiu-se para Jerusalém, onde aceitou a tonsura monástica no Mosteiro de São Sabas, o Santificado. Santo André conduziu uma vida estrita, casta, mansa e abstêmia, de tal forma que todos os monges admiravam sua virtude e seu raciocínio. Talentoso e conhecido por sua vida virtuosa, com o passar do tempo André foi nomeado secretário (escrivão) do Patriarcado de Jerusalém.

No ano de 680, o locum tenens (substituto) do trono hierosolimitano, Teodoro, incluiu o nome do arquidiácono André entre os representantes da Cidade Santa enviados para o Sexto Concílio Ecumênico. Lá, o santo lutou contra os ensinamentos heréticos, confiando em seu profundo conhecimento da doutrina ortodoxa. Logo após o Concílio, Santo André foi enviado para Constantinopla, onde foi nomeado arquidiácono na Basílica de Santa Sofia. Durante o reinado do Imperador Justiniano II (685–695), Santo André foi ordenado bispo da cidade de Gortina, na ilha de Creta. Como bispo, o santo brilhou como uma verdadeira chama da Igreja, um grande hierarca, teólogo, mestre e hinógrafo.

Santo André redigiu diversos hinos litúrgicos, e foi o criador de uma nova litúrgica — o cânone. De seus cânones, o mais conhecido é o Grande Cânone Penitencial, incluindo em seus 9 odes 250 tropários recitados durante a Grande Quaresma. Na primeira semana, no ofício de Completas, ele é lido em porções, e na quinta-feira da quinta semana na Vigília de Toda a Noite, durante as Matinas. Santo André ganhou renome com os seus vários louvores à Santíssima Mãe de Deus. A ele são creditados o Cânone da Festa da Natividade, três odes das Completas do Domingo de Ramos, odes para os primeiros quadro dias da semana da Paixão, versos para a festa da Apresentação e vários outros. Sua tradição hinográfica foi continuada pelos grandes melodistas eclesiásticos dos séculos seguintes — São João de Damasco, São Cosmo, o Melodista, São José, o Hinógrafo, e São Teófanes, o Grapto. Também foram preservados sermões edificantes de Santo André para algumas Festas da Igreja.

Santo André partiu ao Senhor no ano de 740,[nota 1] na ilha de Mitilene enquanto retornava de Constantinopla, onde havia participado de assuntos religiosos, para Creta.

Pós-vida

As relíquias de Santo André foram transferidas para Constantinopla. No ano de 1350, um peregrino de Novogárdia chamado Estêvão relatou que suas relíquias estavam num mosteiro nomeado em honra ao santo.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Assim como o Profeta Davi, /
na assembleia dos justos, /
tu cantaste a todos uma nova canção. /
Portando o Espírito de Deus, /
tu derramaste hinos à Graça divina, /
e pregaste a justiça para a nossa salvação, /
ó André, glória de nossos pais.

Outro tropário

(Tradução livre)

Ó Arcebispo André, /
os teus justos atos mostraram aos fiéis uma lei de fé, /
uma imagem de mansidão e um mestre de renúncias. /
Por isso conseguiste, pela mansidão, consideração e pobreza, a grande riqueza. /
Intercede, pois, junto ao Senhor, /
pela salvação de nossas almas.

Condáquio

(Tradução livre)

Trombetando as divinas melodias com clareza, /
tu foste como uma chama luminosa para o mundo. /
Ó justo André, tu brilhaste com a luz da Trindade, /
e agora a ti clamamos: “Roga ao Mestre por todos nós!”

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)
(Também comemorando Santa Marta de Antioquia)

Em Sua Divina Providência, milagroso é o Senhor, /
e André, o mudo, tornou-se Seu interlocutor. /
Ao silente Ele fez Sua trombeta tocar, /
assim como a Saulo fez da Igreja seu pilar.
Em vão do casamento Santa Marta se afastou, /
pois à vontade de Deus a jovem se curvou. /
A Providência do Senhor levou Marta a se casar, /
para a Deus e ao mundo, um santo presentear.
Aquele que a Deus se rende, rendeu-se ao melhor, /
lutando a vontade humana com a divina, é derrotada a pior. /
Minha criança, sem o Senhor, jamais planeje seus planos, /
pois nada serão além de plantas sem ramos.
Desde seus desejos ao que ainda será vivido, /
nas Mãos do Criador Todo-Poderoso tudo está mantido. /
D’Ele são as planícies, d’Ele são as encostas, /
d’Ele os elementos, pelos quais as fundações são compostas.
D’Ele é a alma, e d’Ele é o corpo, /
o espírito de tudo encontra n’Ele o adorno. /
Se estamos em Seus campos e sabemos Seus procedimentos, /
a quem cumpriremos, senão os Seus Mandamentos?

Notas

  1. 1,0 1,1 Tradições divergem quanto à exata data de sua morte, podendo ter sido em 712, 726 ou 740.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo II.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro XI.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume II.

Ligações externas