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A '''Santa Virgem e Mártir Ágata de Catânia''' (ou '''de Palermo''', ou ainda '''da Sicília''') foi martirizada durante a Perseguição de Décio, e é comemorada pela Igreja no dia [[5 de fevereiro]].
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A '''Santa Virgem e Mártir Ágata de Catânia''' (ou '''de Palermo''', ou ainda '''da Sicília'''; séc. III) foi uma jovem cristã torturada e martirizada durante a Perseguição de Décio aos quinze anos de idade, comemorada pela Igreja no dia [[5 de fevereiro]]. Santa Ágata é padroeira de toda a Sicília e São Marino, além de ser invocada contra desastres naturais, erupções vulcânicas e fogo.
  
 
== Vida ==
 
== Vida ==
{{Décio}}
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Ágata nasceu no século III, no final do reinado do Imperador Severo Alexandre (222–235), filha de ricos e ilustres pais cristãos na cidade de Palermo na Sicília, mas em sua infância mudou-se com sua família para o outro lado da ilha, em Catânia. A jovem garota era dotada de uma beleza ímpar e de uma irrepreensível virgindade, além de uma piedosa alma voluntariamente consagrada ao Senhor. Era 249 quando o Imperador Filipe I (244–249) foi assassinado por seu cônsul Décio (249–251), e este assumiu para si o império. Em janeiro do ano seguinte, Décio decretou que todo o império oferecesse sacrifício aos ídolos para o bem-estar do imperador.
  
Santa Ágata era filha de ricos e respeitados pais cristãos da cidade de Palermo, na Sicília. Durante a perseguição sob o imperador Décio, o prefeito de Catânia, Quinciano, ouvindo sobre a riqueza e a beleza de Ágata, enviou seus soldados para trazê-la em julgamento por ser cristã. Na época, a santa tinha 15 anos de idade.
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A sábia Ágata, ainda em seus quinze anos de idade, negou-se a comparecer perante o prefeito de Catânia, Quinciano, e logo foi levada pelos soldados até ele. Em julgamento, Ágata corajosamente confessou-se cristã, e negou-se a oferecer sacrifício aos ídolos. Devido à beleza que a jovem trazia consigo e a condição de sua família como nobres, Quinciano negou quaisquer condenações, propondo a virgem em casamento para obter a si ainda mais possessões.
  
Em Catânia, a santa foi hospedada numa casa de uma rica mulher, que tinha cinco filhas. Todas elas tentaram Santa Ágata com elegantes roupas, distrações e entretenimento, insistindo que ela oferecesse sacrifício aos deuses pagãos, mas a santa desprezou todas essas coisas. Quanto mais elas tentavam propô-la, mais a santa ficava resoluta de sua escolha. Ela orava para que pudesse sofrer o martírio em breve.
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Ela negou, respondendo que já havia sido noivada e não trairia ao seu Noivo no Céu. O prefeito insistiu, e decidiu somente enviá-la à casa de Afrodísia, uma rica mulher pagã que tinha cinco filhas. Todas elas tentaram Ágata com elegantes roupas, distrações e entretenimento, insistindo que ela oferecesse sacrifício aos deuses pagãos, mas a confessora desprezou todas essas coisas. Quanto mais tentavam propô-la, mais ela tornava-se resoluta de sua escolha. Ágata orava incessantemente para que pudesse ser contada dentre as testemunhas de [[Jesus Cristo]] em breve.
  
Durante sua interrogação sob Quinciano, a santa mártir não se deixou influenciar nem pela lisonja, nem pelas ameaças, e foi submetida a cruelíssimas torturas. Tentaram arrancar partes de seu corpo, e, não conseguindo, a mutilaram com facas. O santo [[Apóstolo Pedro]] apareceu a ela na prisão, e curou seus ferimentos. Ao ser levada para a tortura novamente, Quinciano espantou-se por estar completamente curada, sem nem marcas de cortes. Mas isso não impediu que a santa continuasse a ser torturada.
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Após um mês de muito tentar e nada conseguir, Afrodísia voltou ao prefeito, relatando sua inabalável Fé em Cristo e argumentando que seria mais fácil transformar ferro em ouro do que fazê-la trair seu Senhor. Novamente levada à interrogação sob Quinciano, a santa confessora não se deixou influenciar nem pelas lisonjas oferecidas e nem pelas ameaças. O prefeito questionou: “Sendo tu da nobreza, por que te comportas como uma escrava?” E ela sabiamente respondeu-lhe: “Porque sou escrava de Cristo, e os escravos de Cristo são em verdade os mais livres de toda a criação, pois adquiriram o pleno domínio de si mesmos através de Sua graça.” Ela continuou, e zombou dos deuses a quem ele a incitava a adorar. Então, o prefeito esbofeteou seu rosto e ordenou que a virgem fosse levada à prisão.
  
Naquele momento, ocorreu um terremoto na cidade, e muitas construções desabaram. Entre os mortos, estavam dois dos conselheiros de Quinciano. Os habitantes, aterrorizados, correram a Quinciano, pedindo um fim às torturas em Ágata. Temendo uma revolta popular, Quinciano mandou-a de volta à prisão. Lá, a mártir, agradecendo a Deus, pacificamente entregou sua alma ao Senhor.
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No dia seguinte, Ágata voltou ao julgamento, e Quinciano ordenou que ela sacrificasse caso quisesse salvar sua vida. A isso, a jovem retrucou que somente através de Cristo, Filho do Deus Vivo, alguém poderia obter a salvação. Em fúria, o prefeito ordenou que amarrassem-na pelas mãos e pelos pés numa estaca, e que fosse espancada e açoitada sem misericórdia pelos carrascos. Quando começou a derramar seu sangue, os carrascos pegaram em garras de ferro e rasgaram seu corpo. Em seguida, queimaram seus cortes com tochas incandescentes.
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Mesmo banhada em sangue, a virgem exclamava à fúria do prefeito: “Grande alegria são para mim essas torturas! O milho não chega ao celeiro antes que seja ceifado e debulhado, e assim minha alma não alcançará a bem-aventurança eterna antes de ser separada pelos sofrimentos do meu corpo!” Então, os carrascos esfaquearam seu tórax até sua carne começar a cair no chão junto de seu sangue. Quando já estava sem forças e quase sem vida, foi jogada na prisão.
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Naquela noite, o santo [[Apóstolos Pedro e Paulo|Apóstolo Pedro]] milagrosamente apareceu a ela junto de seu Anjo da Guarda em sua cela, e curou completamente seus ferimentos, deixando-a exatamente como estava antes das torturas. Então, ascendeu aos Céus. Isso fortaleceu ainda mais seu desejo por Cristo, e a jovem falava com Ele e com seus santos através de suas orações o tempo todo. Quando foi levada novamente em julgamento, Quinciano espantou-se pela virgem estar completamente curada, sem nem marcas de cortes, e sua ilusão fê-lo acreditar que haviam invocado um feitiço sobre ela.
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Santa Ágata, então, foi jogada numa fogueira de tijolos e cacos. Não tardou, porém, até que um grande terremoto atingisse a cidade, e muitas construções desabaram. Entre os mortos, estavam dois dos conselheiros de Quinciano. Os habitantes, aterrorizados, invadiram o pretório e ameaçaram por fogo em Quinciano caso não libertasse Ágata de suas torturas. Sem ter para onde ir, o prefeito a tirou das chamas e pôs a virgem de volta à prisão. Lá, a mártir, dando graças a Deus, implorou ao Senhor, que havia lhe concedido a graça da perseverança sob as torturas, que agora lhe concedesse ver a glória de Seu Rosto. Foi assim que, em 5 de fevereiro de 250, aos quinze anos de idade, Santa Ágata rendeu sua alma ao Senhor, e por seu Noivo foi coroada no Reino dos Céus.
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Quando souberam da notícia, todos os cristãos da cidade correram até a prisão com mirra e perfumes para seu enterro. Assim que depositaram o corpo de Santa Ágata no sarcófago púrpura, seu Anjo da Guarda tomou a forma de uma radiante criança e correu ao túmulo com uma placa, que dizia: “Santa e devota alma. Honra de Deus. Proteção da terra.” Por toda a cidade, podia-se ver crianças em vestes brancas. Logo em seguida, o anjo e as centenas de crianças desapareceram perante todos. Quanto ao perverso prefeito, ele continuou governando por algumas semanas, até ser jogado de sua carruagem em um rio pelos seu cavalos e morrer afogado, à espera da condenação eterna.
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== Pós-vida ==
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[[File:Church of Saint Agatha la Vetere.jpg|miniatura|Catedral de Santa Ágata em Catânia.]]
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No 5 de fevereiro do ano seguinte, o maior vulcão de toda a Itália insular, o Monte Etna em Catânia, irrompeu, e a cidade estava à beira de ser engolida pela lava. Todos, inclusive os pagãos, correram ao túmulo da santa e levantaram o manto de seda que o cobria, levando-o em procissão como se fosse um escudo. Milagrosamente, quando o rio de lava estava a poucos metros das casas, uma barreira invisível conteve o magma até o fim da erupção. Com isso, toda a cidade foi salva, e muitos pagãos renunciaram a idolatria. Esse milagre repetiu-se várias vezes nos séculos que se seguiram, e por isso Santa Ágata é fervorosamente venerada em Catânia como padroeira da cidade.
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Na década seguinte, durante a era de São Dionísio, Papa de Roma (259–268), um pequeno santuário foi erguido em honra a Santa Ágata sobre as ruínas do pretório de Catânia, onde Ágata fora torturada. No século seguinte, sob São Dâmaso I, Papa de Roma (366–384), deu-se início à construção de uma catedral para a então Diocese de Catânia nas proximidades do santuário, que só foi concluída no século V sob São Sisto III, Papa de Roma (432–440). Foi nesse santuário em que residiram as relíquias incorruptas de Santa Ágata e a placa entregue pelo anjo. Até hoje seu sarcófago está guardado no santuário, e a placa na Lombardia. Nos séculos seguintes, novas reformas tornaram a catedral ainda maior.
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Após a reconquista da Itália das mãos dos godos, cuja vitória na Sicília fora atribuída às orações de Santa Ágata, na era de São Gregório, o Grande, Papa de Roma (590–604), uma porção das relíquias da santa foram transladadas à Igreja de Santa Ágata dos Godos em Roma, resgatada pelo próprio papa das mãos dos heréticos antitrinitários arianos e consagrada por ele com as relíquias da santa. Tamanha foi a purificação daquela igreja que pôde-se ouvir os espíritos imundos gritando durante toda a liturgia. São Gregório também presenteou um mosteiro na ilha de Cápri na Campânia com algumas das relíquias. Posteriormente, aquela igreja em Roma abrigou um mosteiro beneditino.
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No século IX, sob o iconoclasta Imperador Miguel II (820–829), uma grande conspiração surgiu ao redor de Eufêmio, eparca do tema, que aparentemente haveria forçado uma monja a casar-se com ele. Quando o imperador publicou seu mandato de prisão, Eufêmio navegou ao Emirado da Ifríquia (atual Tunísia) e ajudou os islâmicos a conquistarem toda a ilha da Sicília, tornando-a num emirado muçulmano. Foi somente no século XI, sob o Imperador Miguel IV (1034–1041), que as relíquias de Santa Ágata puderam ser resgatadas dos islâmicos, e foram transferidas para a Basílica de Santa Sofia, em Constantinopla. Cabe dizer que Constantinopla já possuía algumas relíquias da santa doadas por Roma no século X.
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Após o Grande Cisma, dois soldados italianos invadiram a Basílica de Santa Sofia, esquartejaram o corpo de Santa Ágata em cinco pedaços e levaram-no de volta à Sicília. De lá, seu corpo foi partido em diversos outros pedaços, e enviados para toda a Europa, desde a Alemanha até a Espanha. Felizmente, o crânio de Santa Ágata conseguiu ser salvo no Mosteiro de São Paulo na Montanha Santa. Outros mosteiros na Grécia, onde sua devoção é bem grande, possuem algumas de suas relíquias também. Além de igrejas por todas as terras helênicas, a baía de Caraci na ilha de Rodes, uma das praias mais límpidas da Grécia, é consagrada a Santa Ágata. Lá, o vilarejo de pescadores recebe milagres da santa desde o século XIV, onde ela é venerada numa igreja na caverna.
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== Hinos ==
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=== Tropário ===
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''(Tradução livre)''
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: Tua cordeira Ágata, ó Jesus, /
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: clama por Ti em alta voz: /
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: “Eu Te amo, meu Noivo, /
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: “e buscando a Ti, suportei o sofrimento. /
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: “No Batismo fui crucificada para que pudesse reinar em Ti, /
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: “e padeci para que pudesse viver junta de Ti. /
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: “Aceita-me como um sacrifício puro, /
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: “pois ofereci-me em amor.” /
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: Por suas orações, ó Senhor misericordioso, /
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: tem piedade de nós e salva-nos.
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=== Outro tropário ===
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''(Tradução livre)''
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: Tu foste como uma flor perfumada de virgindade, /
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: e uma noiva sem mácula perante o Salvador de todos. /
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: Desejando a Fonte de todo o bem, tu excedeste o martírio. /
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: Ó gloriosa Ágata, intercede com tuas santas orações /
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: por todos os que afetuosamente honram a tua vitória.
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=== Condáquio ===
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''(Tradução livre)''
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: Nós, fiéis, vistamo-nos hoje da gloriosa púrpura, /
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: tingida com o puro sangue da santa Mártir Ágata. /
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: E a ela clamemos: “Alegra-te, ó orgulho de Catânia!”
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=== Louvor ===
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''(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)''
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: Sombria é a masmorra, mas radiante é a mártir. /
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: Em meio às trevas, Ágata, a santa, resplandece. /
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: Sobre o pátio da masmorra, repleto de luz, /
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: ali vive o algoz, encoberto pela vergonha.
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: Planejando novas torturas para a virgem Ágata, /
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: ele atormenta-se e contempla, cego em meio à luz. /
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: Radiante é a masmorra para aquela que noiva-se com Cristo, /
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: mas desesperador é o palácio para o adversário da justiça!
  
 
== Referências ==
 
== Referências ==
* São Nicodemos, o Hagiorita (1819). ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo I.  
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* Santo Ado, Arcebispo de Viena na Alobrógia (1745). ''Martirológio''. Parte I.
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* São Nicodemos, o Hagiorita (1819). ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo I.
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* Santo Usuardo de Paris (1852). ''Martirológio''. Tomo I.
 
* São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). ''A vida dos santos.'' Livro VI.
 
* São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). ''A vida dos santos.'' Livro VI.
 
* São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). ''O prólogo de Ócrida.'' Volume I.
 
* São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). ''O prólogo de Ócrida.'' Volume I.

Revisão das 04h01min de 28 de outubro de 2020

Santa Ágata de Catânia

A Santa Virgem e Mártir Ágata de Catânia (ou de Palermo, ou ainda da Sicília; séc. III) foi uma jovem cristã torturada e martirizada durante a Perseguição de Décio aos quinze anos de idade, comemorada pela Igreja no dia 5 de fevereiro. Santa Ágata é padroeira de toda a Sicília e São Marino, além de ser invocada contra desastres naturais, erupções vulcânicas e fogo.

Vida

Ágata nasceu no século III, no final do reinado do Imperador Severo Alexandre (222–235), filha de ricos e ilustres pais cristãos na cidade de Palermo na Sicília, mas em sua infância mudou-se com sua família para o outro lado da ilha, em Catânia. A jovem garota era dotada de uma beleza ímpar e de uma irrepreensível virgindade, além de uma piedosa alma voluntariamente consagrada ao Senhor. Era 249 quando o Imperador Filipe I (244–249) foi assassinado por seu cônsul Décio (249–251), e este assumiu para si o império. Em janeiro do ano seguinte, Décio decretou que todo o império oferecesse sacrifício aos ídolos para o bem-estar do imperador.

A sábia Ágata, ainda em seus quinze anos de idade, negou-se a comparecer perante o prefeito de Catânia, Quinciano, e logo foi levada pelos soldados até ele. Em julgamento, Ágata corajosamente confessou-se cristã, e negou-se a oferecer sacrifício aos ídolos. Devido à beleza que a jovem trazia consigo e a condição de sua família como nobres, Quinciano negou quaisquer condenações, propondo a virgem em casamento para obter a si ainda mais possessões.

Ela negou, respondendo que já havia sido noivada e não trairia ao seu Noivo no Céu. O prefeito insistiu, e decidiu somente enviá-la à casa de Afrodísia, uma rica mulher pagã que tinha cinco filhas. Todas elas tentaram Ágata com elegantes roupas, distrações e entretenimento, insistindo que ela oferecesse sacrifício aos deuses pagãos, mas a confessora desprezou todas essas coisas. Quanto mais tentavam propô-la, mais ela tornava-se resoluta de sua escolha. Ágata orava incessantemente para que pudesse ser contada dentre as testemunhas de Jesus Cristo em breve.

Após um mês de muito tentar e nada conseguir, Afrodísia voltou ao prefeito, relatando sua inabalável Fé em Cristo e argumentando que seria mais fácil transformar ferro em ouro do que fazê-la trair seu Senhor. Novamente levada à interrogação sob Quinciano, a santa confessora não se deixou influenciar nem pelas lisonjas oferecidas e nem pelas ameaças. O prefeito questionou: “Sendo tu da nobreza, por que te comportas como uma escrava?” E ela sabiamente respondeu-lhe: “Porque sou escrava de Cristo, e os escravos de Cristo são em verdade os mais livres de toda a criação, pois adquiriram o pleno domínio de si mesmos através de Sua graça.” Ela continuou, e zombou dos deuses a quem ele a incitava a adorar. Então, o prefeito esbofeteou seu rosto e ordenou que a virgem fosse levada à prisão.

No dia seguinte, Ágata voltou ao julgamento, e Quinciano ordenou que ela sacrificasse caso quisesse salvar sua vida. A isso, a jovem retrucou que somente através de Cristo, Filho do Deus Vivo, alguém poderia obter a salvação. Em fúria, o prefeito ordenou que amarrassem-na pelas mãos e pelos pés numa estaca, e que fosse espancada e açoitada sem misericórdia pelos carrascos. Quando começou a derramar seu sangue, os carrascos pegaram em garras de ferro e rasgaram seu corpo. Em seguida, queimaram seus cortes com tochas incandescentes.

Mesmo banhada em sangue, a virgem exclamava à fúria do prefeito: “Grande alegria são para mim essas torturas! O milho não chega ao celeiro antes que seja ceifado e debulhado, e assim minha alma não alcançará a bem-aventurança eterna antes de ser separada pelos sofrimentos do meu corpo!” Então, os carrascos esfaquearam seu tórax até sua carne começar a cair no chão junto de seu sangue. Quando já estava sem forças e quase sem vida, foi jogada na prisão.

Naquela noite, o santo Apóstolo Pedro milagrosamente apareceu a ela junto de seu Anjo da Guarda em sua cela, e curou completamente seus ferimentos, deixando-a exatamente como estava antes das torturas. Então, ascendeu aos Céus. Isso fortaleceu ainda mais seu desejo por Cristo, e a jovem falava com Ele e com seus santos através de suas orações o tempo todo. Quando foi levada novamente em julgamento, Quinciano espantou-se pela virgem estar completamente curada, sem nem marcas de cortes, e sua ilusão fê-lo acreditar que haviam invocado um feitiço sobre ela.

Santa Ágata, então, foi jogada numa fogueira de tijolos e cacos. Não tardou, porém, até que um grande terremoto atingisse a cidade, e muitas construções desabaram. Entre os mortos, estavam dois dos conselheiros de Quinciano. Os habitantes, aterrorizados, invadiram o pretório e ameaçaram por fogo em Quinciano caso não libertasse Ágata de suas torturas. Sem ter para onde ir, o prefeito a tirou das chamas e pôs a virgem de volta à prisão. Lá, a mártir, dando graças a Deus, implorou ao Senhor, que havia lhe concedido a graça da perseverança sob as torturas, que agora lhe concedesse ver a glória de Seu Rosto. Foi assim que, em 5 de fevereiro de 250, aos quinze anos de idade, Santa Ágata rendeu sua alma ao Senhor, e por seu Noivo foi coroada no Reino dos Céus.

Quando souberam da notícia, todos os cristãos da cidade correram até a prisão com mirra e perfumes para seu enterro. Assim que depositaram o corpo de Santa Ágata no sarcófago púrpura, seu Anjo da Guarda tomou a forma de uma radiante criança e correu ao túmulo com uma placa, que dizia: “Santa e devota alma. Honra de Deus. Proteção da terra.” Por toda a cidade, podia-se ver crianças em vestes brancas. Logo em seguida, o anjo e as centenas de crianças desapareceram perante todos. Quanto ao perverso prefeito, ele continuou governando por algumas semanas, até ser jogado de sua carruagem em um rio pelos seu cavalos e morrer afogado, à espera da condenação eterna.

Pós-vida

Catedral de Santa Ágata em Catânia.

No 5 de fevereiro do ano seguinte, o maior vulcão de toda a Itália insular, o Monte Etna em Catânia, irrompeu, e a cidade estava à beira de ser engolida pela lava. Todos, inclusive os pagãos, correram ao túmulo da santa e levantaram o manto de seda que o cobria, levando-o em procissão como se fosse um escudo. Milagrosamente, quando o rio de lava estava a poucos metros das casas, uma barreira invisível conteve o magma até o fim da erupção. Com isso, toda a cidade foi salva, e muitos pagãos renunciaram a idolatria. Esse milagre repetiu-se várias vezes nos séculos que se seguiram, e por isso Santa Ágata é fervorosamente venerada em Catânia como padroeira da cidade.

Na década seguinte, durante a era de São Dionísio, Papa de Roma (259–268), um pequeno santuário foi erguido em honra a Santa Ágata sobre as ruínas do pretório de Catânia, onde Ágata fora torturada. No século seguinte, sob São Dâmaso I, Papa de Roma (366–384), deu-se início à construção de uma catedral para a então Diocese de Catânia nas proximidades do santuário, que só foi concluída no século V sob São Sisto III, Papa de Roma (432–440). Foi nesse santuário em que residiram as relíquias incorruptas de Santa Ágata e a placa entregue pelo anjo. Até hoje seu sarcófago está guardado no santuário, e a placa na Lombardia. Nos séculos seguintes, novas reformas tornaram a catedral ainda maior.

Após a reconquista da Itália das mãos dos godos, cuja vitória na Sicília fora atribuída às orações de Santa Ágata, na era de São Gregório, o Grande, Papa de Roma (590–604), uma porção das relíquias da santa foram transladadas à Igreja de Santa Ágata dos Godos em Roma, resgatada pelo próprio papa das mãos dos heréticos antitrinitários arianos e consagrada por ele com as relíquias da santa. Tamanha foi a purificação daquela igreja que pôde-se ouvir os espíritos imundos gritando durante toda a liturgia. São Gregório também presenteou um mosteiro na ilha de Cápri na Campânia com algumas das relíquias. Posteriormente, aquela igreja em Roma abrigou um mosteiro beneditino.

No século IX, sob o iconoclasta Imperador Miguel II (820–829), uma grande conspiração surgiu ao redor de Eufêmio, eparca do tema, que aparentemente haveria forçado uma monja a casar-se com ele. Quando o imperador publicou seu mandato de prisão, Eufêmio navegou ao Emirado da Ifríquia (atual Tunísia) e ajudou os islâmicos a conquistarem toda a ilha da Sicília, tornando-a num emirado muçulmano. Foi somente no século XI, sob o Imperador Miguel IV (1034–1041), que as relíquias de Santa Ágata puderam ser resgatadas dos islâmicos, e foram transferidas para a Basílica de Santa Sofia, em Constantinopla. Cabe dizer que Constantinopla já possuía algumas relíquias da santa doadas por Roma no século X.

Após o Grande Cisma, dois soldados italianos invadiram a Basílica de Santa Sofia, esquartejaram o corpo de Santa Ágata em cinco pedaços e levaram-no de volta à Sicília. De lá, seu corpo foi partido em diversos outros pedaços, e enviados para toda a Europa, desde a Alemanha até a Espanha. Felizmente, o crânio de Santa Ágata conseguiu ser salvo no Mosteiro de São Paulo na Montanha Santa. Outros mosteiros na Grécia, onde sua devoção é bem grande, possuem algumas de suas relíquias também. Além de igrejas por todas as terras helênicas, a baía de Caraci na ilha de Rodes, uma das praias mais límpidas da Grécia, é consagrada a Santa Ágata. Lá, o vilarejo de pescadores recebe milagres da santa desde o século XIV, onde ela é venerada numa igreja na caverna.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Tua cordeira Ágata, ó Jesus, /
clama por Ti em alta voz: /
“Eu Te amo, meu Noivo, /
“e buscando a Ti, suportei o sofrimento. /
“No Batismo fui crucificada para que pudesse reinar em Ti, /
“e padeci para que pudesse viver junta de Ti. /
“Aceita-me como um sacrifício puro, /
“pois ofereci-me em amor.” /
Por suas orações, ó Senhor misericordioso, /
tem piedade de nós e salva-nos.

Outro tropário

(Tradução livre)

Tu foste como uma flor perfumada de virgindade, /
e uma noiva sem mácula perante o Salvador de todos. /
Desejando a Fonte de todo o bem, tu excedeste o martírio. /
Ó gloriosa Ágata, intercede com tuas santas orações /
por todos os que afetuosamente honram a tua vitória.

Condáquio

(Tradução livre)

Nós, fiéis, vistamo-nos hoje da gloriosa púrpura, /
tingida com o puro sangue da santa Mártir Ágata. /
E a ela clamemos: “Alegra-te, ó orgulho de Catânia!”

Louvor

(Por São Nicolau, Bispo de Ócrida, em tradução livre)

Sombria é a masmorra, mas radiante é a mártir. /
Em meio às trevas, Ágata, a santa, resplandece. /
Sobre o pátio da masmorra, repleto de luz, /
ali vive o algoz, encoberto pela vergonha.
Planejando novas torturas para a virgem Ágata, /
ele atormenta-se e contempla, cego em meio à luz. /
Radiante é a masmorra para aquela que noiva-se com Cristo, /
mas desesperador é o palácio para o adversário da justiça!

Referências

  • Santo Ado, Arcebispo de Viena na Alobrógia (1745). Martirológio. Parte I.
  • São Nicodemos, o Hagiorita (1819). Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo I.
  • Santo Usuardo de Paris (1852). Martirológio. Tomo I.
  • São Demétrio, Arcebispo de Rostóvia (1906). A vida dos santos. Livro VI.
  • São Nicolau, Bispo de Ócrida (2002). O prólogo de Ócrida. Volume I.

Ligações externas