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Xenofonte de Constantinopla

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Tendo dado um último abraço e beijo, clamaram mais uma vez a Deus: “Ó Rei e Mestre de todos, uma morte cruel nos espera! Se nossas vidas hão de se terminar nas profundezas, pelo menos não nos separes. Que uma só onda nos cubra, e que as entranhas de um monstro do mar sejam o nosso túmulo comum.” E, aos escravos que os acompanhavam: “Salvai-vos, bons irmãos e amigos, e perdoai-nos!”
Depois disso, o navio naufragou, salvos tendo agarrado nas tábuas no navio, cada um chegou em terra em lugares diferentes: Arcádio em Tetrapírgia na Ásia (atual Antália na Turquia), João em Malmefetânia (lugar desconhecido) e os escravos predominantemente em Tiro, na Fenícia. Cada irmão pensou que o outro havia se afogado, e sofreram mais pela perda do que se regozijaram com sua própria libertação. João, chegando em terra, perguntou-se:
: “E agora? Não posso aparecer nu numa cidade. É melhor que eu encontre um mosteiro onde seus piedosos ascetas trabalham na pobreza e na obscuridade para Deus, meu salvador. De que servem as riquezas deste mundo? Talvez o Senhor não nos tenha ouvido quando orávamos no barco pois nossos pais tinham planos para casarmos e herdarmos grandes riquezas e bens. Teríamos perecido com a vaidade do mundo da mesma forma que pereceríamos com o mar. Sabendo o que é bom para nós, o onipotente Deus que tudo vê apartou a tempestade de nós. Não podemos prever o futuro, mas nosso divino Benfeitor faz e ordena os eventos sempre tendo em vista nossa salvação.”
: “Ai de mim! Que terrível foi o vosso destino, meus mestres! Que sofrimento! Que horrível maneira de morrer! Como poderei eu informar vossos pais disso e suportar as lágrimas de vosso pai e as dores de vossa mãe, isso sem contar seus gritos de lamentação? Ai de mim, meus bondosos mestres; convosco, minhas esperanças pareceram! Pensava eu que herdaríeis tudo o que pertence aos vossos pais, e nós, os escravos, ansiávamos por um futuro feliz. Os pobres aguardavam pelas esmolas, os estrangeiros pela hospitalidade, as igrejas pelos adornos, os mosteiros pelas provisões, mas tudo foi em vão; que farei eu? Como poderei enfrentar meu amo Xenofonte com a notícia de que seus filhos morreram no mar? Ambos expirarão ao ouvir isso. É melhor que eu abandone minha missão e fuja, a ser responsável pelas suas mortes!
Por muito tempo O escravo continuava insistindo em retornar para Constantinopla, e os viajantes que os ouviam da pousada começaram a dizer: “Deves dizer a verdade aos teus mestres, pior será se eles invocarem o castigo divino sobre ti! A morte súbita pode cair sobre ti, e poderás perder tua salvação.” Vencido, o servo pôs-se a caminho novamente para Constantinopla. Entrando na casa, sentou-se em silêncio, abatido e com a cabeça baixa. Quando Maria viu-o, foi até ele e perguntou-o como estavam seus pais não tiveram notícias filhos. O servo disse-a que estavam bem. Quando foi perguntado sobre suas cartas, apenas respondeu que as havia perdido no caminho. Perturbada, Maria exclamou: “Pelo amor de Deus, diz-me a verdade! Minha alma está se debatendo e minhas forças estão se extinguindo!” O servo começou a chorar, e contou-a tudo. “Ai de mim, minha senhora, as luzes de tua vida se expiraram no mar… A embarcação que levava teus filhos naufragou, e todos afogaram-se!” Maria, que tinha uma firme confiança em Deus, permaneceu sob controle. Não desmaiou e nem gritou, mas somente disse: “Bendito seja nosso Deus, pois isso foi feito segunda a Sua Vontade. Bendito seja o Nome do Senhor agora e sempre. Não contes isso a mais ninguém. O Senhor deu, e o Senhor tirou. Ele sabe o que é melhor para nós.” Três horas depois, Xenofonte retornou do palácio imperial, acompanhado de uma enorme comitiva. Após dispensar seus assistentes, cortou uma fatia de pão para o jantar. Isso porque Xenofonte comia uma só vez por dia, depois do pôr do sol. Maria juntou-se a ele na mesa e anunciou: “O escravo voltou de Beirute.” Xenofonte disse: “Deus seja louvado. Onde ele está?” Maria contou-o que o escravo estava descansando, pois havia ficado enfermo. Ao ser questionada sobre as cartas, Maria respondeu-o: “Descansa agora e come. Amanhã verás as cartas. O servo tem muito a dizer sobre nossos filhos.” “Traz-me as cartas! Quero saber como estão os nossos filhos. Posso falar com o escravo amanhã.” Então, Maria, incapaz de se conter, irrompeu-se em lágrimas. Xenofonte ficou apreensivo, e presumiram perguntou: “O que é, meu amor? Por que estás a chorar? Eles ficaram doentes?” Maria, engasgando-se em lágrimas, respondeu: “Quem dera que eles estivessem mortosdoentes! Nossos queridos filhos pereceram no mar!” Lágrimas começaram a escorrer do rosto de Xenofonte, e este gemeu-se: “Bendito seja o Nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Agora, sempre, e pelos séculos dos séculos, amém. Não entristeçais, meu amor, pois Deus não destruiria nossos filhos. Nunca ousei ofender ao bom Deus, e recusei-me a acreditar que Ele me traria tristeza em minha velhice. Façamos vigília esta noite, suplicando a Deus que mostre Sua Misericórdia. Ele nos revelará se nossos filhos estão vivos ou não.” Com isso eles se levantaram e trancaram-se na capela até o amanhecer, orando, derramando lágrimas e confiando que o Senhor atenderia ao seu pedido. Ao amanhecer, adormeceram. Ambos, então, sonharam que seus filhos estavam gloriosamente de pé diante de [[Jesus Cristo]]. Um trono havia sido preparado para João, e ele segurava um cetro e usava uma coroa ricamente ornamentada com pérolas e joias. Outro trono radiante havia sido preparado para Arcádio, que segurava uma cruz em sua mão destra e usava um diadema de estrelas. Ao despertarem, cada um contou ao outro sobre o sonho, e entenderam que seus filhos estavam vivos e sob a proteção da misericórdia de Deus. Consolado, Xenofonte disse: “Meu amor Maria, de alguma forma, acredito que nossos filhos estão em Jerusalém. Deveríamos descer até lá e venerar os lugares santos. Talvez nós também encontremos nossos filhos.  Xenofonte, no entanto, já bastante idoso, manteve uma firme esperança no Senhor e consolou sua esposa Maria, dizendo-lhe para não ficar triste, mas para acreditar que seus filhos estavam sendo cuidados pelo Senhor. Depois de vários anos, o casal fez uma peregrinação aos lugares santos, e, em Jerusalém, encontraram seus filhos vivendo como ascetas em diferentes monastérios. Os pais, consolados, deram graças ao Senhor pelo reencontro.
Os santos Xenofonte e Maria foram para monastérios separados e dedicaram-se a Deus. Os monges Arcádio e João, tendo se despedido de seus pais, saíram para o deserto, onde, depois de muito tempo de trabalho ascético, foram glorificados pelos dons da taumaturgia e do discernimento. Seus santos pais, trabalhando em silêncio e em estrito jejum, também receberam de Deus o dom da taumaturgia.
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