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* São Nicodemos, o Hagiorita. ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo I.
 
* São Nicodemos, o Hagiorita. ''Sinaxário dos doze meses do ano.'' Tomo I.
 
* São Demétrio, Metropolita de Rostóvia. ''A vida dos santos.'' Livro VI.
 
* São Demétrio, Metropolita de Rostóvia. ''A vida dos santos.'' Livro VI.
* São Nicolau, Bispo de Ócrida. ''O prólogo de Ócrida.'' Volume I.
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* [[Nikolai (Velimirovich)|São Nikolai (Velimirovich) Bispo de Ócrida]]. ''O prólogo de Ócrida.'' Volume I.
  
 
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Revisão das 04h54min de 11 de julho de 2023

Santa Imperatriz Theodora, a Augusta e Protetora da Ortodoxia

A Santa Imperatriz Theodora, a Augusta e Protetora da Ortodoxia (séc. IX) foi imperatriz nos tempos da heresia iconoclasta. É conhecida por ter posto fim à iconoclastia, permitindo que os ícones fossem novamente venerados e, assim, restaurou a Ortodoxia em todo o império. Finalizou seus dias pacificamente em um mosteiro. Sua memória é comemorada pela Igreja em 11 de fevereiro, data de seu repouso. É também lembrada no primeiro domingo da Grande Quaresma, o chamado Domingo da Ortodoxia.

Vida

Santa Theodora nasceu em 815 numa pequena vila da Paflagônia, na costa norte da Ásia Menor (atual Turquia), vinda de uma ilustre família de oficiais armênios da corte imperial. Essa vila, não localizada porém conhecida como “Ebissa”, provavelmente correspondia à propriedade rural dessa família, próxima às florestas dos Montes Paríadres e à estrada que levava a Claudiópolis na Honória e, de lá, a Constantinopla, visto que os armênios eram conhecidos naquele tempo como comerciantes navais do Mar Negro. Outra hipótese é a vila de Evessa, próxima à antiga diocese de Terma na Capadócia, o que explicaria a ascendência armênia de Theodora, porém geograficamente incompatível com a Paflagônia.

Dotada de grande beleza física e espiritual, Theodora foi catequizada desde a infância por sua piedosa mãe Florina, que a teve como um presente de Deus no mesmo ano em que o herético Imperador Leão V (813–820) reinstituiu a iconoclastia e a perseguição aos cristãos ortodoxos. Naquele mesmo ano, Leão depôs São Nicéforo I, Patriarca de Constantinopla (806–815), e substituiu-o pelo seu fantoche, Teódoto I (815–821), que revogou as atas do Sétimo Concílio Ecumênico e autorizou a tortura dos clérigos que se recusassem a aderir à heresia. Theodora era possivelmente a quarta de seus cinco irmãos — Bardas, Petronas, Sofia, Maria e Irene —, mas os superou na piedade e na Fé inabalável herdada de sua mãe, que se tornou viúva ainda na infância de Theodora e aceitou o monasticismo sob o nome de Teoctista.

Em 829, com a morte do Imperador Miguel II (820–829), sucessor de Leão, seu filho Teófilo (829–842) sucedeu-o como imperador. No ano seguinte, quando Teófilo completou dezoito anos, sua madrasta e imperatriz emérita Eufrosina (823–829) organizou um concurso para escolher quem dentre a corte a sucederia como imperatriz e esposa de Teófilo. Jovens de toda a nobreza foram convocadas e apenas seis foram as finalistas, dentre as quais Theodora e Cassiana. Postas as seis diante de Teófilo, Eufrosina deu-lhe uma maçã dourada para que a desse à escolhida. A maçã dourada era um raro fruto, hoje desconhecido, possivelmente vindo de uma distante parte do Mediterrâneo a qual alguns acreditam ser a Mauritânia, dado como presente nupcial desde os tempos antigos.

Teófilo foi até Cassiana, a escolhida, e deu-lhe a maçã, dizendo cinicamente: “Da mulher veio a corrupção”, ao que ela respondeu: “E da mulher veio a salvação”. Impressionado pela ousadia e pela sabedoria de Cassiana, que acentuara o “sim” da Mãe de Deus — a nova Eva — em detrimento do pecado da velha Eva, Teófilo afastou-se dela e deu o fruto a Theodora, que o recebeu em silêncio. Assim, Theodora foi proclamada a nova Imperatriz de Roma em 5 de junho de 830 na Igreja de Santo Estêvão, ao passo que Cassiana renunciou o mundo e partiu para as colinas das Muralhas de São Constantino, onde viveu pelo seu verdadeiro Esposo e mais tarde alcançou a vida eterna como Santa Cassiana, a Melodista.

Após a cerimônia de casamento na Catedral de Santa Sofia, Theodora cumpriu fielmente seus deveres como esposa e imperatriz desde os quinze anos de idade. Através de suas orações e seu exemplo de gentileza e paciência, a jovem tentava afastar a crueldade e as blasfêmias cometidas por Teófilo contra os cristãos ortodoxos. Seus rogos, entretanto, não eram ouvidos pelo imperador, que provou ser mais cruel que seus dois antecessores, como no caso dos dois santos irmãos Teófanes e Teodoro que, ao retornarem do exílio para o tribunal de Teófilo, tiveram suas testas marcadas com ferro quente com doze versos que satirizavam a Fé dos confessores e foram novamente entregues para morrer no exílio.

Império sob Teófilo

Em 831, aos dezesseis anos de idade, Theodora deu a luz a Tecla, cujo nome herdou da mãe de Teófilo. Até 834, as gêmeas Ana e Anastácia e Constantino já haviam nascido, nessa ordem. Até 840, o casal teve Pulquéria, Maria e Miguel. Provavelmente sob influência do círculo iconoclasta, Constantino teve seu nome escolhido por Teófilo para honrar o ímpio Imperador Constantino V (741–775), que para Teófilo era um exemplo de governante. Herdeiro do trono imperial, o recém-nascido Constantino morreu antes mesmo de completar um ano, afogado após cair numa cisterna em 835. Como Teófilo não cria na Divina Providência e temia morrer nas mãos dos búlgaros pagãos sem um sucessor, confiou a mão de Maria, sua filha recém-nascida, ao patrício Aleixo, velho o suficiente para já naquela época comandar um batalhão de soldados.

O temor de Teófilo contra os búlgaros justificava-se porque o tratado de paz entre os dois povos, firmado ainda na era de Leão V, acabaria naquele ano. Além dos recorrentes saques dos islâmicos na Capadócia e na Armênia, agora os búlgaros, que já haviam anexado a Mésia para si e detinham partes da Trácia e do Hemimonto até cidades vizinhas a Constantinopla (nas quais a população búlgara fora protegida pelo tratado), poderiam insurgir-se contra o império a qualquer momento. Somava-se a isso o martírio dois anos antes de Santo Enravota, herdeiro do trono búlgaro, por seu irmão Malamir por ter se convertido ao cristianismo. Naquele mesmo ano, Teófilo sofrera uma perda da frota de batalha imperial contra os muçulmanos na Sicília, ilha pela qual seus esforços para mantê-la sob seu domínio envolveram até propor sua filha Tecla em casamento com o jovem Luís II, o primogênito do Imperador Lotário I da França (817–855), que também detinha a Itália peninsular.

Em 836, Teófilo declarou guerra contra os búlgaros e enviou Aleixo para comandar as tropas. Nessa missão, as terras costeiras do Ródope e da Macedônia Oriental foram retornadas para o império, enquanto que diversas insurreições levaram à anexação búlgara das grandes cidades de Filipópolis na Trácia e Adrianópolis no Hemimonte. Sob temores de que Tessalônica também cairia na mão dos rebeldes, Teófilo pôs um fim à guerra e buscou um acordo com os pagãos em 837. Entretanto, quando navios imperiais foram vistos resgatando prisioneiros de guerra no Danúbio, próximos a Plisca na Mésia, a capital dos búlgaros, o Cã Presiano I (836–852) lançou uma ofensiva às terras capturadas pelo império, anexando até a costa de Filipos na Macedônia e bloqueando a ligação terrestre direta entre o Ródope e toda a parte ocidental do império.

No ano seguinte, uma grande investida islâmica chegou a Tarso na Cilícia e, atacando as grandes Portas da Cilícia, adentrou pelos Montes Tauro, passou pela Capadócia, Galácia e finalmente capturou Ancira na Galácia e Amório na Frígia, a grande capital da Anatólia. Outra frente, partindo da Armênia, passou pelo Helenoponto e reuniu-se com a primeira em Ancira. Isso foi em resposta a uma incursão de Teófilo nas cidades armênias de Arsamósata, Sozopetra e Melitene, possessões dos islâmicos. Somente nessa cidade, registram-se as mortes de mais de setenta mil cristãos, incluindo os Santos Quarenta e Dois Mártires de Amório. De longe, o Saque de Amório foi a mais vergonhosa perda de Teófilo, já que Amório era não somente uma das cidades mais populosas e consideravelmente próxima da província imperial como também o berço da dinastia amoriana, iniciada com seu ímpio pai Miguel.

O Califa Almotácime, líder do Califado Abássida, passou por Amório e cavalgou pessoalmente até Dorileão, distante apenas duzentos quilômetros de Constantinopla na fronteira da Frígia com a Bitínia, para uma missão de reconhecimento. Como não haviam sinais de novas tropas em sua direção, Almotácime cogitou seguir com suas tropas até Constantinopla, algo que não seria tão difícil levando-se em consideração as habilidades de Teófilo. Pela Providência de Deus, uma conspiração envolvendo seu sobrinho Alabas fê-lo retornar com suas tropas e prisioneiros de guerra à Garameia (atual Iraque), poupando centenas de milhares de vidas entre os cristãos. Ainda assim, milhares de prisioneiros morreram no caminho devido à aridez da Capadócia. Cinco anos mais tarde, uma invasão marítima pela Lícia resultou no naufrágio e na morte de todos os guerreiros de Almotácime, que morreria enfermo em 842.

Somada à vergonha pela queda de Amório foi a morte de sua filha Maria em 839, à época com quatro anos de idade e caçula da família. Os prantos de Santa Theodora pela perda da filha eram ignorados por Teófilo, preocupando-se apenas com a possível deterioração que ele teria na relação com o patrício Aleixo, a quem pretendia elevar a herdeiro do trono. Teófilo não estava ao todo enganado: Aleixo, que já possuía o título de “César” — inferior em honra apenas ao imperador —, estava defendendo a Sicília dos ataques dos islâmicos e, assim que soube que sua “prometida” havia morrido e suas chances de assumir o império haviam diminuído, passou a negociar com os muçulmanos em busca de apoio para uma conspiração para matar a família imperial.

Os sicilianos, por sua vez, indignaram-se com o apoio oferecido pelo patrício aos piratas, e seu clamor chegou ao Arcebispo Theodoro de Siracusa, autoridade máxima da Igreja na Sicília. Retornando à sede do Patriarcado, Theodoro reuniu-se com Teófilo na Igreja da Mãe de Deus em Blaquerna e aceitou mediar a extradição pacífica de Aleixo para ser julgado em Constantinopla, articulando com os oficiais da província a prisão de Aleixo e seu deslocamento para Constantinopla. Perante o furioso Teófilo, Aleixo foi privado de todas as suas honrarias, espancado com varas pelos carrascos do imperador e trancado numa prisão.

O ato de violência levou à quebra da confiança no imperador por parte do Arcebispo Theodoro, que havia-o feito jurar que não empregaria castigos físicos ao envolver a Igreja na extradição do desertor. Após criticar o imperador, Theodoro foi igualmente preso sob ordens de Teófilo, espancado pelos carrascos, deposto da Sé de Siracusa e exilado, assim como acontecia com os confessores. Isso levou à ira do próprio Patriarca João VII (837–843), outro fantoche iconoclasta, que repreendeu Teófilo publicamente pela sua covardia. Cedendo à pressão, Teófilo ultimamente restaurou os direitos a Theodoro e Aleixo.[nota 1]

Enquanto Teófilo passava seu tempo exilando cristãos ortodoxos e acumulando fracassos em cada guerra iniciada, Santa Theodora permanecia firme na verdadeira Fé. O pretexto de cuidar de seus filhos permitia-lhe isolar-se nos aposentos imperiais, longe do esposo. Sua mãe Teoctista havia sido honrada com o título de patrícia pela mãe de Teófilo, e isso permitiu à monja comprar um terreno no porto de Psamátheia na costa sul de Constantinopla, próximo às muralhas erguidas por São Constantino (306–337) para delimitar a cidade no século IV. Esse terreno era conhecido como Gastríon, plural grego para “vasos”, uma vez que, ainda no século IV, Santa Helena havia descarregado naquele lugar vários vasos contendo os aromas e manjericões encontrados no Calvário de Cristo. Eles haviam sido depositados lá após Santa Helena retornar de sua expedição em Jerusalém, e era de seu desejo que um mosteiro fosse erguido no terreno perfumado. Cinquenta anos após seu repouso, o terreno finalmente passou a abrigar um mosteiro, porém não resistindo até os tempos de Santa Theodora, quando uma casa já havia sido construída sobre suas ruínas.

Após comprar a casa, Teoctista transformou-a de novo num mosteiro feminino ainda na década de 830, e lá era visitada por sua filha, Santa Theodora, acompanhada pelas netas. A imperatriz frequentemente deixava suas filhas com a avó, pois sabia que naquele mosteiro elas seriam educadas na Fé verdadeira e na veneração secreta dos santos ícones, amparadas pelas intercessões de Santa Helena — a quem Santa Theodora buscava como exemplo de imperatriz — e pela fragrância espiritual da Santa e Vivificante Cruz do Senhor. Eufrosina, a madrasta de Teófilo que organizara o concurso vencido por Santa Theodora, também aceitou a tonsura monástica, e provavelmente viveu no mosteiro de Teoctista, terminando os seus dias visitando os confessores aprisionados por Teófilo, servindo-lhes com roupas e alimentos (como foi o caso de São Miguel da Palestina, pai espiritual dos Santos Teófanes e Theodoro, exilado num mosteiro em Constantinopla sob ordens de Teófilo por defender os santos ícones). Poucos anos depois, Teoctista e Eufrosina repousaram no Senhor, e Santa Theodora ordenou que fossem enterradas naquele mesmo mosteiro. Seguindo o exemplo das grandes igrejas de Constantinopla onde as famílias reais desejavam ser sepultadas, Theodora permitiu que toda a sua família íntima pudesse ser enterrada naquele mosteiro, pequeno em tamanho mas grande em agrado a Deus.

Se as visitas suspeitas de Santa Theodora e suas filha à avó enfureciam a Teófilo, quanto mais as suas habilidades como governante que, diferente das de Teófilo, logravam sucesso. Descendendo de uma família de comerciantes navais, Santa Theodora tinha a confiança dos marinheiros, e fomentou o comércio entre as províncias, garantindo a melhora da economia das cidades mais distantes. Certa vez, por inveja, Teófilo ordenou que um navio e sua embarcação fossem incendiados após descobrir que ele pertencia a Santa Theodora, dizendo: “Por acaso fizeste de mim, que sou imperador, um comerciante?” Hoje, os achados arqueológicos apontam que a quantidade de moedas com o rosto de Santa Theodora, Teófilo ou seus filhos encontrados nas províncias mais distantes de Constantinopla é maior do que as de qualquer outro governante anterior a eles, provando que a imperatriz ampliou o contato entre as províncias e a capital.

Ícone do Triunfo da Ortodoxia

Tropário

Tropário de Santa Theodora

Ἀπολυτίκιον (Ἦχος πλ. α’. Τὸν συνάναρχον Λόγον)

Δωρεῶν τῶν ἐνθέων οὖσα ἐπώνυμος, τὴν Ἐκκλησίαν φαιδρύνεις βασιλικαὶς δωρεαίς, ὡς θεόγλυπτος εἰκὼν θείας φρονήσεως, τῶν γὰρ Εἰκόνων τῶν σεπτῶν, τὴν τιμὴν ὡς σχετικήν, ἐτράνωσας Θεοδώρα, τῶν Βασιλίδων ἄκρατης, τῶν Ὀρθοδόξων ἐγκαλλώπισμα

Notas

  1. Não se sabe se Theodoro retornou a Siracusa após o exílio; o próximo Arcebispo de Siracusa de quem se tem registro é Gregório, eleito em 844, após o Triunfo da Ortodoxia. Quanto a Aleixo, terminou os seus dias em arrependimento, aceitando o monasticismo e fundando um mosteiro nas margens orientais do Estreito do Bósforo, ao norte de Calcedônia. Nada mais se soube sobre seu paradeiro após isso.

Referências

  • São Nicodemos, o Hagiorita. Sinaxário dos doze meses do ano. Tomo I.
  • São Demétrio, Metropolita de Rostóvia. A vida dos santos. Livro VI.
  • São Nikolai (Velimirovich) Bispo de Ócrida. O prólogo de Ócrida. Volume I.