Alexis de Wilkes-Barre

Da wiki OrthodoxWiki
Ir para: navegação, pesquisa
Alexis de Wilkes-Barre
miniatura
'

Esse artigo faz parte de uma série sobre os
Santos contemporâneos
Século XVIII
Kosmas da EtóliaNicodemos do Monte AthosPaisius VelichkovskyTikhon de Zadonsk
Século XIX
Ambrósio de OptinaJosé de DamascoSerafim de SarovXênia de Petersburgo
Século XX
Ânthimos de ChiosAlexis de Wilkes-BarreAmphilochios de PatmosArsênios da CapadóciaDaniel de KatounakiaEfraim de KatounakiaEumênios, o NovoFilomeno do Poço de JacóGerásimos (Mikragiannanitis), o HinógrafoIakovos de EviaJosé, o HesicastaJoão de KronstadtJoão de Xangai e São FranciscoMatrona de MoscouNektários de EginaNicéforo, o LeprosoNikolai (Velimirovich)Paísios do Monte AthosPorfírios de KafsokalíviaSérgio da EstôniaSilouan do Monte AthosSofia de KastóriaSofrônio de Essex

Santo Alexis de Wilkes-Barre (séc. XX) foi um arcipreste cárpato-ruteno convertido do uniatismo à Ortodoxia após ter renunciado sua posição como padre greco-uniata ruteno e ingressado na Igreja Ortodoxa Russa. Se tornou responsável por cerca de 20 mil conversões de uniatas, contribuindo para o crescimento da Ortodoxia nos Estados Unidos e o eventual estabelecimento da Igreja Ortodoxa na América. É considerado um dos maiores missionários ortodoxos americanos. Sua memória é celebrada pela Igreja no dia 7 de maio.

Vida

Alexis Georgievich Toth nasceu em 14 de março de 1853 perto de Presóvia na Eslováquia (que era então parte do Império Austríaco). Era de origem sacerdotal uniata, sendo filho do Padre Jorge Toth e sua esposa, Cecília Toth. Depois de completar a educação primária, ingressou em um seminário latino por um ano, seguido de três anos em um seminário greco-uniata em Uzorodo na Transcarpácia. Depois, foi à Chéquia e ingressou na Universidade de Praga, graduando-se em Licenciatura em Teologia.

Após se casar com Rosália Mihaluk em 18 de abril de 1878, foi ordenado sacerdote pelo Bispo Nicolau de Presóvia (1876–1882), seu parente. Poucos anos depois, sua esposa Rosália, cujo pai também era um padre uniata, e seu único filho faleceram. Após isso, Alexis atuou em paróquias locais como chanceler da diocese, até que em 1881 foi apontado pelo seu bispo como diretor do seminário greco-uniata de Presóvia e professor de Direito Canônico e História da Igreja na mesma instituição. Padre Alexis continuou nesta posição sob o Bispo João (1883–1911), sucessor do hierarca anterior.

Mais tarde, Alexandre, um padre uniata que havia estudado com Alexis no seminário, escreveu uma petição ao Bispo João pedindo para que Padre Alexis fosse mandado aos Estados Unidos. O bispo concordou e enviou Alexis como um “missionário”. Ele chegou à América em 15 de novembro de 1889 e, em 27 de novembro, no dia de ação de graças, conduziu seu primeiro serviço litúrgico na Igreja de Santa Maria em Mineápolis, como o primeiro sacerdote residente a servir oficialmente nessa igreja. No entanto, o edifício não estava completo; não havia mobília e nem paramentos, apenas uma dívida enorme. Ao longo do ano seguinte, Alexis trabalhou com sua comunidade e conseguiu o que era preciso, tornando a paróquia uma instituição organizada e estável, tudo isso sem receber qualquer salário.

Como uniata, Padre Alexis entendeu que deveria visitar o bispo latino da região, já que não havia nenhum bispo uniata nos Estados Unidos naquela época. O então hierarca da Arquidiocese de São Paulo e Mineápolis era o Arcebispo João, um forte defensor do movimento de americanização (ou seja, de assimilação da cultura estadunidense) dos imigrantes latinos nos Estados Unidos, principalmente dos alemães. Ele era hostil com as paróquias étnicas tal como a que o Padre Alexis servia, não vendo uma capacidade ou o desejo de se encaixarem em seus planos. Na frente do padre, o arcebispo irritou-se e jogou suas credenciais sacerdotais na mesa, enquanto ardentemente protestava contra sua presença na cidade. João não reconheceu nem ele nem seu bispo como verdadeiros cristãos. Uma biografia do arcebispo, intitulada “João Ireland e a Igreja Católica na América”, confirma este acontecimento:

“O sacerdote apresentou ao arcebispo suas credenciais. Ao lê-las, as mãos de João tremeram. Então, ele olhou para cima e disse abruptamente em latim: ‘Tu tens uma mulher?’ Alexis negou, na mesma língua. ‘Mas tivestes uma?’ — ‘Sim, eu sou viúvo.’ João jogou os documentos sobre a mesa na frente dele. ‘Já escrevi a Roma protestando contra esses tipos de padres que me enviam!’ — ‘Mas de que tipos de padres falas?’ — ‘Do seu tipo.’ — ‘Eu sou um sacerdote uniata católico de rito grego, e fui ordenado por um bispo católico regular.’ — ‘Eu não considero que tu ou esse bispo de vocês sejam católicos, além de eu não precisar de quaisquer sacerdotes gregos aqui, um padre polonês em Mineápolis é o suficiente, os gregos também podem tê-lo como seu sacerdote.’”

A conversa estava tornando-se mais problemática a cada minuto. João se recusou a dar permissão para Alexis servir como sacerdote em Mineápolis e ordenou que todos os sacerdotes latinos e seus rebanhos não tivessem relações com Alexis e seu povo. João citava um decreto que dizia que os padres casados ​​das igrejas uniatas não eram autorizados a servir nos Estados Unidos. Mas não foi só isso: a forma que se referiu a Alexis e como tratou a jurisdição da qual ele fazia parte o entristeceu muito. Padre Alexis, por sua vez, enviou um relatório ao seu bispo em Presóvia sobre a sua recepção pelo Arcebispo João, mas nunca obteve resposta. Outros sacerdotes uniatas nos Estados Unidos enviaram cartas a Padre Alexis relatando haverem tido confrontos similares. Segundo a biografia do arcebispo, “a visão de João contra os uniatas não era de forma alguma única; seus colegas de episcopado, americanistas assim como anti-americanistas, compartilhavam esta visão ou pelo menos eram condolentes com ela.”

Em outubro de 1890, houve na Pensilvânia uma reunião de 8 dos 10 sacerdotes uniatas na América, sob a presidência de Alexis. Nessa altura, os hierarcas estadunidenses, incluindo João, haviam escrito a Roma exigindo a retirada de todos os sacerdotes uniatas dos Estados Unidos, temendo que os padres e paróquias uniatas fossem dificultar a assimilação dos imigrantes na cultura americana. Padre Alexis e outros sacerdotes uniatas passaram a acreditar que seriam deportados à Europa e que seus fiéis seriam, no final das contas, anexados às paróquias de rito romano em suas respectivas cidades.

Reunificação

Santo Alexis quando sacerdote.

Inicialmente, Padre Alexis pensou que seria melhor retornar à Europa. Seus paroquianos, entretanto, fizeram oposição a essa ideia e mostraram-se favoráveis a buscar um hierarca da Igreja Ortodoxa. Alexis refletiu sobre todo o acontecimento e aceitou iniciar um diálogo. Em 8 de dezembro de 1890, seus paroquianos entraram em contato com o cônsul da Rússia na Califórnia, pedido para que ele pudesse colocá-los em contato com um bispo ortodoxo russo.

Em fevereiro de 1891, Alexis e o diretor leigo da igreja viajaram à Califórnia para fazer o contato inicial com o Bispo Vladimir das Ilhas Aleutas e Alasca (1888–1891). Após um diálogo muito frutífero, Padre Alexis tomou a decisão de ser recebido pela Igreja Ortodoxa Russa. O Bispo Vladimir, então, realizou uma viagem até Mineápolis para receber os fiéis. Em 25 de marco de 1891, na Festa da Anunciação, Alexis e os 361 paroquianos da Igreja de Santa Maria foram recebidos de volta ao seio da Igreja, cujos antepassados haviam abandonado três séculos antes. Os fiéis consideraram esse evento como um novo triunfo da Ortodoxia, gritando com alegria: “Glória a Deus por Sua grande misericórdia!” É importante lembrar que essa iniciativa partiu do próprio povo, e não foi resultado de qualquer coerção. A Igreja Russa não tinha sequer conhecimento da existência desses imigrantes eslavos uniatas em terras americanas, mas respondeu de forma positiva a sua petição para reunir-se à Igreja.

Por esta ação, Padre Alexis ganhou a peculiaridade de ser o primeiro padre greco-uniata nos Estados Unidos a levar seus fiéis de volta à Igreja Ortodoxa. Tendo sido originalmente enviado para a América para ser um missionário aos imigrantes, ele, em sua nova função, cumpriu seu destino como o missionário que levou o seu povo de volta à Santa Igreja. Em dezembro de 1892, evangelizou os imigrantes da Pensilvânia, pregando e iluminando-os sobre o seu futuro social e religioso na América. Em 1902, recebeu a Igreja de São João, o Batista, também na Pensilvânia, para o rebanho ortodoxo.

O exemplo de Santo Alexis e de sua paróquia no retorno à Ortodoxia foi um estímulo para centenas de outros uniatas. Através de sua pregação destemida, ele arrancou o joio que surgiu no trigo da verdadeira Doutrina, e expôs os falsos ensinamentos que levaram seu povo ao erro. Embora não hesitasse em apontar os erros doutrinais das outras denominações, Padre Alexis teve o cuidado de advertir seu rebanho contra a intolerância. Seus escritos e sermões eram preenchidos com admoestações para respeitar as outras pessoas e de se abster de atacar sua fé.

Embora seja verdade que ele tenha feito alguns comentários fortes, especialmente em sua correspondência privada com a administração da igreja, deve-se lembrar que isso foi feito defendendo a Igreja Ortodoxa e a missão americana de acusações infundadas por pessoas que usavam uma linguagem muito mais dura do que ele. Seus oponentes puderam ser caracterizados pela intolerância, comportamento rude, métodos antiéticos e ameaças contra ele e seus paroquianos. No entanto, quando Santo Alexis se sentia ofendido ou enganado por outras pessoas, ele as perdoava, e muitas vezes pedia ao seu bispo para perdoar suas omissões e erros.

No meio de grandes dificuldades, esse arauto da piedosa Teologia e da sã Doutrina derramou um fluxo inesgotável de escritos ortodoxos para novos convertidos, e deu conselhos práticos sobre como viver de uma forma ortodoxa. Por meio de seus folhetos paroquiais, Santo Alexis enfatizava a importância da educação, da clareza, da sobriedade, e da presença das crianças nas igrejas aos domingos e nos dias santos.

Provações

Embora a paróquia de Mineápolis tenha sido recebida na Igreja Ortodoxa em março de 1891, apenas em julho de 1892 o Santo Sínodo da Rússia reconheceu e aceitou a paróquia na Diocese das Ilhas Aleutas e Alasca. Essa resolução, por sua vez, chegou à América apenas em outubro de 1892. Durante esse tempo, houve um clima de hostilidade religiosa e étnica contra os novos convertidos por parte do clero e fiéis latinos. Padre Alexis foi acusado de vender seu próprio povo cárpato-ruteno e sua religião para os “moscovitas” afim de receber “ganhos financeiros”. A verdade é que ele não recebeu qualquer apoio por muito tempo, pois sua paróquia era muito pobre. Até começar a receber um salário, teve que trabalhar em uma padaria para se sustentar. Mesmo sendo seus recursos escassos, nunca deixou de dar esmolas aos pobres e aos necessitados. Ele compartilhava seu dinheiro com outros clérigos em situações piores do que a dele, e contribuiu para a construção de igrejas e na formação de seminaristas em Mineápolis.

Santo Alexis não estava preocupado com a sua vida, o que ele iria comer, beber ou vestir. Confiando que Deus cuidaria dele, seguiu a admoestação do Senhor Jesus Cristo de “buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Assim, ele suportou a tribulação, calúnias, lutas espirituais e ataques físicos com paciência e alegria, lembrando-nos que “a piedade é mais forte do que tudo” (Sabedoria 10:12). Ele sempre orava em segredo, com toda a sua modéstia, contrição e lágrimas interiores.

Bispo Vladimir e seus sucessores, Nicolau (1891–1898), São Tikhon (1898–1907, antes de ser eleito Patriarca de Moscou) e Platão (1907–1914), reconheceram os dons do Padre Alexis, e frequentemente enviavam-no para pregar e ensinar onde quer que houvessem imigrantes eslavos. Sempre obediente às instruções dos hierarcas, Santo Alexis visitou muitas paróquias uniatas, sempre ensinando sobre a diferença entre a Ortodoxia e o protestantismo, o catolicismo latino e a unia.

Os esforços de Padre Alexis não passaram despercebidos. Alguns anos antes de seu repouso, foi elevado ao grau de arcipreste, recebendo uma mitra de joias enviada pelo Santo Sínodo da Rússia. Também foi condecorado com a Ordem de São Vladimir e a Ordem de Sant'Ana por São Nicolau II, Imperador da Rússia (1894–1917), pelo seu distinto serviço e devoção a Deus e ao Seu povo. Em 1907, foi considerado candidato ao cargo episcopal, mas recusou esta honra. Humildemente, apontou que essa responsabilidade deveria ser dada a um homem mais jovem e saudável.

Ele continuou liderando o processo de recebimento de uniatas. Ao todo, 65 comunidades uniatas com cerca de 20 mil paroquianos foram recebidas até seu repouso, graças aos esforços e diálogos por ele realizados. No final de 1908, Arcipreste Alexis precisou diminuir suas atividades devido a complicação de sua doença. Chegou a ir para o litoral sul de Nova Jérsia, em uma tentativa de recuperar sua saúde, mas voltou à Pensilvânia em março do ano seguinte, onde foi confinado a uma cama por dois meses.

Em 7 de maio de 1909, na Festa dos Santos Savas e Alexis de Kiev, Arcipreste Alexis repousou no Senhor e foi sepultado em um santuário especial no Mosteiro de São Tikhon, em Canaã do Sul na Pensilvânia. Em seu testamento, o arcipreste encomendou sua alma à misericórdia de Deus, perdoando a todos e implorando para que o perdoassem por tudo.

Pós-vida

Túmulo de Santo Alexis no Mosteiro de São Tikhon.

Pelos anos em que se seguiram, diversos milagres aconteceram pelas intercessões do santo, e sua veneração popularizou-se pelos Estados Unidos. Em 1993, um certo homem depositou toda a sua fé em Santo Alexis, e orou para que pudesse obter informações sobre seu filho, o qual havia se separado do pai há quase três décadas. No dia seguinte, o telefone tocou: era seu próprio filho, dizendo que estava numa igreja quando um desejo avassalador de entrar em contato com seu pai adentrou o seu coração. Ele havia sido levado para outro estado pela mãe, e teve seu nome trocado na infância para que não pudesse ser encontrado por sua família paterna. Quando perguntou à mãe sobre o pai e soube que ele era um cristão ortodoxo, obteve o número de telefone de seu pai com a ajuda de um padre. Como resultado, o jovem visitou mais tarde seu pai, que se alegrou ao ver que tipo de homem seu filho havia se tornado. Ambos deram graças a Deus por tê-los reunido pelas intercessões de Santo Alexis. Por conta desse e vários outros milagres, em 29 de maio de 1994, Santo Alexis foi glorificado pela Igreja Ortodoxa na América, cujo estabelecimento e número de fiéis foi em grande parte devido a ele.

Hinos

Tropário

(Tradução livre)

Ó justo Padre Alexis, /
nosso celeste intercessor e professor, /
divino adorno da Igreja de Cristo, /
roga ao Mestre de todos /
para fortalecer a Fé ortodoxa na América, /
para garantir a paz ao mundo, /
e para as nossas almas, a grande misericórdia!

Condáquio

(Tradução livre)

Nós, fiéis, louvemos o sacerdote Alexis, /
um farol luminoso da Ortodoxia na América, /
um modelo de paciência e humildade, /
um pastor digno do rebanho de Cristo. /
Ele chamou de volta as ovelhas perdidas /
e trouxe-as, pela sua pregação, /
ao Reino dos Céus!

Notas

Para o leitor interessado, é possível se ter uma noção da quantidade de igrejas que foram necessárias para abarcar esses vinte mil neófitos e o número ainda maior de filhos, netos e bisnetos no nordeste da Pensilvânia, onde Santo Alexis pregou, e no resto do país fazendo uma simples busca: (ver mapa) O Mosteiro de São Tikhon, onde Santo Alexis foi enterrado, e a Igreja de Santa Maria também possuem fotografias: (fotos do mosteiro) (fotos da igreja)

Ligações externas